Eduardo
Viveiros de Castro, antropólogo e professor do Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, concedeu à jornalista Stela Maris uma polêmica
entrevista em que demonstra toda a sua desilusão com a noção ultrapassada de
progresso adotada pelo Brasil.
Diz
ele que a sociedade brasileira está profundamente dividida quanto a sua visão
do país e do futuro.
Teme
que a maioria da sociedade brasileira goste e fique muito satisfeita sob um
regime autoritário.
Fala
que o Brasil permanece uma sociedade visceralmente escravocrata, racista e
covarde.
Para
mudar esse quadro só existe uma via, que é a educação - hoje uma terra
devastada, um deserto.
Universidades
sem a mínima estrutura física, um ensino médio e fundamental inadequados,
professores recebendo uma miséria, as greves de docentes sendo reprimidas, como
se eles fossem bandidos.
A
“sociedade brasileira” está possuída por um orgulho besta, como se o mundo se
curvasse ao Brasil.
O
Estado se aliou ao mercado contra a natureza e a cultura.
Enquanto
acharmos que melhorar a vida das pessoas é dar-lhes mais dinheiro para comprar
uma televisão em vez de melhorar o saneamento, o abastecimento de água, a
saúde, a educação fundamental, nada vai mudar.
Um
governo que não se cansa de arrotar grandeza sobre a quantidade de veículos
produzidos por ano como indicador de prosperidade econômica, é um governo
podre, com visão tacanha, um projeto burro para um país capitalista periférico.
Temos
um governo comandado por uma pessoa perseguida e torturada pela ditadura realizando
um projeto de sociedade encarregado e implementado por essa mesma ditadura:
destruição da Amazônia, mecanização, transgenização e agrotoxificação da
“lavoura”, migração induzida para as cidades.
Na
década de 60 a juventude tinha ideias confusas, mas ideais claros: acreditava e
sabia o que queria para o mundo. No geral, os horizontes utópicos se retraíram
enormemente.
No
Brasil atual apenas dois movimentos chamam atenção. A aceleração da cultura
agro-sulista pelo interior do país e a consolidação de uma cultura popular
ligada ao movimento evangélico.
A
grande novidade na sociedade brasileira foi o surgimento das redes sociais,
produzindo o enfraquecimento das mídias por cinco ou seis grupos.
Se
alguma grande mudança no cenário político vier a acontecer, creio que vai
passar por essa mobilização das redes.
Com
relação a um novo modelo político no Brasil, o entrevistado acha indesculpável
a falta de inventividade da sociedade brasileira, pelo menos das elites
políticas e intelectuais, que perderam várias ocasiões de se inspirarem nas
soluções socioculturais que os povos brasileiros historicamente ofereceram e,
assim, articular as condições de uma civilização brasileira minimamente
diferente dos comerciais de TV.
Está
na hora de iniciarmos uma relação nova com o consumo, menos ansiosa e mais
realista diante da situação de crise atual.
A
felicidade tem muitos caminhos.
Gabriel
Novis Neves
27-10-2013
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