segunda-feira, 30 de junho de 2014

Repetição

Houve época em que cronistas famosos escreviam sobre o dia a dia das cidades. Sempre contavam uma história curiosa e divertida.
Carlinhos de Oliveira, um dos melhores nessa arte, tinha seu escritório em um bar. Antônio Maria preferia o Hotel Plaza. Carlos Drummond de Andrade, o seu Gabinete no Ministério da Educação no Rio de Janeiro, Rubem Braga na sua famosa cobertura de Ipanema.
Poetas, compositores e músicos preferiam as mesas de um boteco nas madrugadas, quando eram inspirados para suas poesias.
Como tinham assuntos! Sempre recheados de poesias e belezas da vida! Rubem Braga via um beija-flor em seu jardim suspenso e, no dia seguinte, nos presenteava com um texto inesquecível.
Sergio Porto conversava com garagistas do seu edifício. Foi em uma dessas conversas que descobriu e projetou ao mundo das artes o imortal Cartola.
Escrever hoje sobre o cotidiano das nossas cidades está mais para correspondente de guerra do que para  a saudosa leveza de um  cotidiano trivial.
A natureza, suas belezas, fantasias, foram substituídas pelo terror e pelo medo.
Acabei de ler em uma revista de circulação nacional que a família do craque Cristiano Ronaldo da Seleção Portuguesa não virá ao Brasil assistir à Copa do Mundo por causa da violência existente nas cidades.
Uma das irmãs do atual melhor jogador do mundo esteve em Fortaleza e não deseja repetir a experiência.
E os cronistas do dia a dia estão desaparecendo ou com as suas horas contadas.
Não temos novidades.  É sempre a repetição de violências e atos de corrupção desse nosso atual dia a dia.
Com a repetição, claro, os fatos deixam de ser novidades.
Triste final das cidades, centros inspiradores das mais belas páginas da nossa literatura e vivência neste Planeta.

Gabriel Novis Neves
20-06-2014

OCASO DA VIDA

Neste período do nosso ciclo vital procuramos fazer um balancete do caminho percorrido. Por pura curiosidade e um tanto de ociosidade.
Para que nos vale a esta altura saber se tudo nessa vida aconteceu como planejamos?
No final ficamos sempre com a dúvida – vale a pena continuar vivendo?
Todos os valores de vida que acumulamos nas caixinhas dos nossos sentimentos perderam seu sentido e foram substituídos por novos modelos que não nos dizem nada.
Perdemos a pureza do encantamento que a natureza diariamente nos premia. Nada disso ganha interesse neste mundo materialista, onde tudo tem seu preço, inclusive a beleza.
Tornamo-nos brutalizados pelo avanço extraordinário da tecnologia onde, de minuto a minuto, somos surpreendidos com novas verdades. Estamos mais para aplicativos que para seres humanos.
Senhas, e-mails, ajustes, mensagens, Skypes, WhatsApp, Facebook, Twitter. E os incríveis e modernos aparelhos surgidos agora, da televisão que se interage conosco. A maior novidade é a TV K4, cujo preço é de cerca de oitenta mil reais, e ainda não comercializada no Brasil.
Grandes investimentos em educação proporcionaram aos países ditos desenvolvidos este tipo de retorno.
Administrar novas tecnologias de comunicação, com certeza, será transformado brevemente em mais um curso de graduação.
O importante é a cadeia de serviços que deverá surgir para dar sustentação às inúmeras inovações.
Esse é o melhor momento de ser criança...
Dificilmente os idosos conseguirão acompanhar essa verdadeira arrancada de novidades que logo será incorporada ao nosso dia a dia.

Gabriel Novis Neves
04-06-2014

Cansativo

Como os noticiários das nossas televisões estão cansativos!
Martelam vinte e quatro horas por dia sobre futebol! É repetição da repetição e dose de futilidades.
Nos comentários plastificados apenas o nome das seleções e o dos jogadores são o que mudam - que representam a companhia aérea que os transportaram - e o local onde a maioria se esconderá.
Chama a atenção o fato de nenhuma delegação estrangeira ter escolhido Cuiabá como a sua casa para preparação aos jogos da Copa, em número de quatro.
Teremos aqui oito nações e nenhuma delas, após pesquisas, se interessou pelo nosso Pantanal. Este foi vendido ao mundo como uma das últimas belezas da natureza.
Nem mesmo a nossa Chapada dos Guimarães com clima andino e situada a sessenta quilômetros de Cuiabá, foi atrativa.
Também não viram beleza na Salgadeira, no Véu da Noiva e nas maravilhas da Lagoa Azul em Nobres.
Não despertaram também nenhum interesse o nosso Centro Histórico, os nossos Museus, Teatros e o Centro Geodésico da América do Sul.
A Copa tinha como legado divulgar ao mundo nosso turismo, mas fracassou. Foi totalmente ignorado. O que aconteceu? Por que não quiseram ficar aqui para se adaptarem, pelo menos, ao nosso clima tórrido?
A impressão que fica é que esta cidade-sede só possui de útil o campo de futebol.
Uma tremenda saia justa está ocorrendo por aqui. Onde hospedar a Presidente do Chile que irá assistir ao jogo do seu país? Será que não temos hotéis padrão FIFA?
As alternativas foram logo negadas pela Embaixada Chilena, por motivos óbvios.
As delegações estrangeiras não terão campo para treinamento, e por uma noite ficarão no hotel disponível - que não é padrão FIFA.
Após o jogo partirão para suas concentrações em outras cidades do Brasil.
O tão esperado fluxo de estrangeiros será decepcionante.
Teremos sim, jornalistas, que ficarão aqui trabalhando com toda a sua equipe.
Receberemos turistas do interior de Mato Grosso e Estados vizinhos. São fanáticos por futebol que não conseguiram nem lotar as hospedagens chamadas “de cama e café".
A ausência dessas delegações estrangeiras em nossa cidade foi o pior legado deixado para nosso incipiente turismo internacional.
Como propaganda, a Copa foi um fiasco para a nossa região.
Escrever esse assunto é muito ruim, especialmente para quem ama esta terra, mas é a mais pura das verdades.
A Copa foi bola fora no nosso turismo.

Gabriel Novis Neves
08-06-2014

sexta-feira, 27 de junho de 2014

ANO DIFÍCIL

Para o comentarista do cotidiano este ano não está sendo dos melhores. Deixar de escrever sobre os eventos da Copa em Cuiabá é sinal de grave alienação.
O pior é o que vem depois. As convenções partidárias, período de campanha eleitoral, eleições e o inacreditável loteamento do poder para governar.
Essa enfadonha tarefa pós-Copa termina no último dia do ano. Esperamos que o resultado seja um maior comprometimento dos nossos futuros governantes.
É difícil transformar este ambiente político que escolhemos.
Aquilo que foi chamado recentemente pelo programa Fantástico da Rede Globo, de novidade e escândalo, não passou de um discreto furo que não era segredo para ninguém. Todo eleitor sabe como funcionam os poderes no Brasil.
O Executivo é o mais exposto, exatamente pela promiscuidade com o que atua com os outros.
A nossa gente está desanimada e perdeu as esperanças.
As eleições estão se aproximando. Dos candidatos até agora apresentados, nenhum representa a transformação tão desejada pelos eleitores.
Esse fato gravíssimo está refletindo nas pesquisas de intenção de votos, onde nulos e brancos traduzem a vontade do brasileiro em repúdio. Velhas e novas lideranças em vestimentas contemporâneas não enganam mais nossa gente.
Ela está segura que só com o voto secreto e consciente poderá dar uma chance a um novo país dentro das regras de uma democracia plena.
Estamos sendo passados para trás por Nações que há pouco tempo não faziam parte nem dos países emergentes.
Estamos perdendo pontos e, sem pessimismo, a área de rebaixamento nos preocupa.
Vamos exercer livremente a nossa cidadania em outubro e nos mantermos vigilantes nas ações daqueles que elegemos.
Do jeito que está é que não podemos continuar!

Gabriel Novis Neves
09-06-2014

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Outra Visão

Eu e um grupo de amigos fizemos um movimento inverso. Fomos observar, in loco, a reação dos argentinos, nossos maiores rivais no futebol, aos primeiros jogos da Copa Mundial.
Em tempos não tão remotos, entre outros imortais gênios do futebol, tínhamos o Pelé e eles o Maradona.
Até hoje se discute apaixonadamente quem foi o melhor.
Agora temos o Neymar e eles o Messi. Outra controvérsia, já que o argentino, poucos anos mais velho que o craque brasileiro, já acumula vários títulos de melhor do mundo, ao contrário do nosso ídolo que ainda é virgem nesse quesito.
Para nós foi muito triste encontrar a bela cidade do tango mergulhada em profunda crise econômica e a população cabisbaixa com toda a atenção voltada para o que irá acontecer nos próximos dias.
Notamos poucos sinais externos de otimismo com relação aos jogos da Copa. Parece-me que o povo não mais se importa com uma possível conquista do troféu da FIFA.
Poucas manifestações populares, representadas apenas pela visão de uma ou outra bandeira da pátria na fachada de algum apartamento.
Dada à profunda crise econômica, ruas vazias, comércio fraco e semblantes pessimistas.
Nada que lembrasse que a poucos quilômetros dali seus compatriotas disputavam o título de melhores do mundo no seu esporte predileto.
Desencanto geral com o futebol atual, onde não mais existem jogadores dos clubes, e sim, um negócio de altos ganhos empresariais?
A visão que tivemos é que a Copa do Mundo - assim como outros grandes eventos esportivos - é fabricada e manipulada por grandes interesses comerciais, e com o apoio das mídias compromissadas com as principais redes de comunicação.
Essa é a opinião de motoristas de táxis, garçons, trabalhadores no comércio. Não notamos neles nenhum sinal de entusiasmo pelos seus conterrâneos.
A TVP (Televisão Pública local) transmite todas as partidas. Nos intervalos entre primeiro e segundo tempo, notícias oficiais da Presidência da República.
Dia desses, logo após um jogo importante, a TVP entrou no ar em horário diferenciado e, em vez dos famosos comentários sobre a partida, o Ministro da Economia fez um longo e detalhado pronunciamento sobre a séria crise econômica que assola o seu país e o prognóstico nada favorável à nação Argentina.
A falta de entusiasmo da gente simples portenha é explicada em grande parte pelo aumento das dificuldades financeiras pelas quais ela passa em função dos sucessivos desgovernos.
Apesar de tudo, a bela metrópole continua exuberante, lutando freneticamente para exibir suas tradições culturais numa cidade com cheiro de decadência.

Gabriel Novis Neves
16-06-2014

quarta-feira, 25 de junho de 2014

MEDO

Situações-limite em qualquer nível são sempre acompanhadas por muito medo.
Esse talvez seja o sentimento que mais altera o funcionamento da máquina humana.
Nosso sistema nervoso não foi preparado  para o excesso de estresse  a que estamos sendo submetidos no mundo atual.
A queda do padrão de qualidade de vida, aliada à insegurança que passou a fazer parte do nosso dia a dia, são as grandes responsáveis pelo aumento das doenças, principalmente as psicossomáticas.
Estas são apenas sinais de alerta, através de distúrbios funcionais, que as doenças no seu estágio definitivo estariam se instalando.
A sensação generalizada de medo nas grandes cidades já é uma constatação, e se dissemina pelas anteriormente pacatas cidades interioranas.
Metrópoles como  o Rio de Janeiro, por exemplo, já têm os seus melhores restaurantes, serviços  médicos e dentários, boutiques, cabeleireiros, trabalhando a portas fechadas, e apenas abrem-nas mediante a identificação de seus clientes.
As ruas repletas de mendicância lembram as fotos dos centros mais pobres do planeta.
As autoridades policiais constituídas já se mostram reticentes na sua capacidade de manutenção  da ordem pública. O aumento do contingente não tem sido suficiente para a demanda  do crescimento da violência.
Ruas desertas, imediatamente após o anoitecer, lembram cidades sitiadas e contrastam com a imagem da alegria que reinava nas mesmas até alguns anos atrás.
A população, outrora considerada uma das mais descontraídas, mostra-se tensa e atenta aos menores movimentos de qualquer pessoa que se aproxime.
O outro virou  o grande  perigo.
Que saudade dos nossos medos infantis! Medo do escuro, das bruxas, dos fantasmas, dos duendes, dos animais ferozes, das tempestades ruidosas, de ficar sozinho no quarto. Medos esses que se dissipavam ao simples aconchego de nossos familiares.
Tornamo-nos adultos perplexos diante do medo dos nossos semelhantes, coisa até então inimaginável.
Vivemos literalmente cercados em nossos condomínios. Estamos perdendo progressivamente  a nossa capacidade de ir e vir, ou seja, incapazes de usufruir a liberdade sem a qual a vida perde o seu sentido.
Difícil imaginar que cidades com esse perfil tenham se comprometido a sediar uma Copa do Mundo, ou qualquer outro evento de maior porte.
Acresce a esse medo que nos invade, a frustração de saber o  mau uso do erário público. Este, que deveria prioritariamente  estar sendo usado em benfeitorias sociais é despejado  em orgia de obras  esportivas faraônicas.
O fato é que nos transformamos num bando de pessoas tristes e preocupadas com o rumo que vem tomando, não só o nosso bem estar pessoal, mas, principalmente, o do nosso país.
Atentem as autoridades que a “carneirada” já não está tão interessada em “pão e circo” como há alguns anos atrás.
Ou será que na sua onipotência eles já não frequentam as ruas, o grande termômetro do bem estar social de uma cidade?
Futebol e samba não é mais o ópio do povo, já bem mais esclarecido e ciente das suas prioridades.
A hora é essa! Providências urgentes devem ser tomadas antes  que nos transformemos num dos maiores celeiros de pobreza da humanidade.

Gabriel Novis Neves
07-05-2014

terça-feira, 24 de junho de 2014

Preocupações

Durante os jogos da Copa do Mundo, a natural alegria que deveria existir pela realização deste evento foi substituída por um mar de inquietudes.
As mais diversas e justas preocupações tomaram conta deste país. Atingiram milhares de turistas estrangeiros que deveriam acompanhar as suas seleções, e não o fizeram.
Há meses jornalistas do mundo todo vasculham nossa terra. Os materiais coletados em entrevistas com a população, assim como os vídeos produzidos da cidade, são divulgados nos mais variados meios de comunicação, com efeitos negativos na nossa imagem.
Os trabalhadores brasileiros e a imensa maioria de excluídos sociais aproveitam o momento de exposição mundial para demonstrarem todo o seu descontentamento com o rumo que o país está tomando.
Corrupção desenfreada no poder público, impunidade para os grandes e, principalmente, ausência de políticas públicas sociais.
Os movimentos de rua se mostram incontroláveis e a autoridade do poder público está seriamente comprometida.
Arrastões, depredações do patrimônio público e privado, agressões e sequestros atormentam o mais pacato dos cidadãos.
As manifestações estão fora do controle dos órgãos de repressão, gerando mais violência e terminando, às vezes, com o sacrifício de inocentes.
Como pano de fundo o comércio ilegal de armas e o tráfico sempre crescente de drogas ilícitas.
Nossa população está com medo. Medo de sair de casa. Medo de ficar em casa. Medo do medo.
Quem pode tem carros blindados, segurança pessoal e casa transformada em trincheira. Apartamentos da orla marítima com grades de proteção.
É a banalização da vida.
A imprensa inglesa cobrou das nossas autoridades mais  segurança aos turistas que pretendem assistir aos jogos aqui, mas, estão temerosos, quase desistindo.
Nosso ministro dos Esportes, responsável pela Copa da FIFA no Brasil, tentou tranquilizar os ingleses dizendo que o Rio de Janeiro oferece mais segurança que o Iraque.
Foi uma ducha de água fria no entusiasmo dos súditos da Rainha. Os americanos produziram um vídeo mostrando a “vida como ela é no país da copa”. É um verdadeiro espantalho para os fanáticos do futebol.
Na França jornais divulgam que a população do Brasil é contrária aos gastos exorbitantes com a Copa. Totalmente desfocada das prioridades da nação - educação, saúde, segurança. 
As preocupações dos turistas começam nos inacabados e desconfortáveis aeroportos. Depois trafegam pelas inconclusas obras de mobilidade urbana. Hotelaria, restaurantes, hospitais, pontos de lazer, deixam muito a desejar.
Mas, a preocupação maior é com a violência, fora do controle do Estado.
Mas, nada é impossível para melhorarmos esse quadro sombrio do momento atual. Temos de ter fé.
A imensa fé do povo brasileiro vai operar o milagre de remover as nossas montanhas de preocupações.
Afinal, Deus não é brasileiro?

Gabriel Novis Neves
03-06-2014

FUTEBOL OU GUERRA?

Ancelmo Góis informa em sua coluna no jornal “O Globo” que para a “Copa das Copas” estão sendo mobilizados cinquenta e sete mil homens das Forças Armadas, cem mil policiais e quinze mil seguranças, num total de cento e setenta e duas mil pessoas.
Como dizia aquele inesquecível Presidente, “nunca na História deste país” se mobilizou tanto soldado em tempo de paz e, principalmente, para “proteger” apenas doze subsedes onde serão realizados os jogos.
Não contando com militares de países estrangeiros, especialmente aqueles que virão trabalhar no Serviço de Inteligência.
Armamentos de última geração tecnológica foram adquiridos para “abrilhantar” o maior evento popular do mundo.
Vejam abaixo alguns dados onde houve guerras com países estrangeiros e lutas internas.
Na Guerra do Paraguai foram mobilizados cento e trinta mil militares no período de 1865-1870.
No conflito de Canudos (1896-1897), no interior baiano, vindo de dezessete Estados, o efetivo foi de doze mil homens.
Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, Getúlio Vargas conseguiu mobilizar cem mil soldados, enquanto o lado paulista tinha uns trinta e cinco mil homens.
O número de brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi de vinte e cinco mil homens.
Para ocupar o conjunto de favelas da Maré no Rio de Janeiro são empregados dois mil e quinhentos soldados das forças militares.
Durante a Conferência Mundial no Rio-92, que reuniu Chefes de Estado, dezessete mil soldados cuidaram da segurança.
Não imagino o custo desse projeto para proteger apenas uma dúzia de cidades por pouco mais de um mês.
A criminalidade deverá aumentar no interior. Os indicadores que hoje nos atormentam tendem a apresentar números mais cruéis.
A “Copa das Copas” é prioridade em um país onde a cada dia ficam mais gritantes as desigualdades sociais?
Turistas, e principalmente jornalistas que vieram de todas as partes do mundo, não estão preocupados com esse superaparato militar, tampouco, com os gastos da “Copa das Copas” e, muito menos, com as obras superfaturadas e inconclusas.
O que está chamando mesmo a atenção dos nossos visitantes é o nosso atraso social, traduzido por esse fosso da desigualdade social.
Depois da “Copa das Copas” haverá desmobilização da nossa segurança e continuaremos a frequentar as estatísticas dos países mais violentos.
Enfim, o povo vive de pão e circo, e este último, com certeza não nos faltará.

Gabriel Novis Neves
11-06-2014

Riqueza

Diz um ditado popular que “não se pode agradar a gregos e troianos”.
Quem não gostaria de ser muito rico neste mundo capitalista e usufruir dos prazeres materiais que o dinheiro propicia?
Mesmo assim, há pessoas que sofrem com o esbanjamento do chamado “vil metal”, especialmente quando passam a empregá-lo em futilidades inexplicáveis.
Não que elas repudiem o bom, o confortável e o glamour que o dinheiro fácil é capaz de produzir. Muito pelo contrário, mas, não suportando o torrar  inconsequente e, principalmente, a  agressividade social da ostentação, eles ficam acabrunhados e sofrem.
Rasgar ou queimar dinheiro é coisa de doido, diz o povo. Gastar apenas por gastar porque tem, a explicação científica encontra-se nos bons compêndios médicos. Beira à insanidade. Ao contrário de ser um ato de despojamento material é um desrespeito a si mesmo e aos outros.
Preocupações sociológicas surgem aos observadores serenos. Não é fácil abordar sem traumas o assunto riqueza. Mesmo no mundo do consumismo desenfreado e da irresponsabilidade social, certos milionários, geralmente os pertencentes à categoria dos novos ricos, portadores de cacoetes egoístas como filosofia de vida, nos causam  um enorme repúdio.
Sim, porque os grandes herdeiros, os nascidos em berço de ouro ou os que conheceram situações de pobreza, dificilmente se tornam exibicionistas.
A sociedade desordenada necessita de parâmetros consistentes  para ser um instrumento de paz. Com o advento da Internet todas as manifestações faraônicas de poder são imediatamente compartilhadas  pela grande massa que trabalha para sobreviver. Não há como negar o recrudescimento da tão histórica luta de classes.
Com essa alienação social dos milionários caminhamos para a catástrofe. O resultado se vê diariamente em nossos noticiários jornalísticos, e as vítimas são, na sua maioria, inocentes trabalhadores.
Assistindo a uma entrevista de um haitiano fugitivo da sua pátria por total possibilidade de sobrevivência, ele relatou que mesmo em seu miserável território existem milionários.
Indagado pelo jornalista quem eram eles, respondeu com um sorriso maroto e com aquele gesto rotatório da mão esquerda sobre a palma da mão direita, que era o pessoal do governo.
A praga da corrupção é universal, não respeita nem o povo em fuga da morte por inanição.
Admiro e torço pelo vencedor que com seu trabalho honesto construiu fortuna, não devendo explicações a ninguém e, muito menos, como irá usá-la.
Esses heróis do capitalismo devem respeitar seus semelhantes que muitas vezes não tiveram oportunidades.
Até para ser milionário e gastar milhões há necessidade de humildade e um mínimo de educação social, que não se aprende nos bancos escolares e, sim, em casa e nos laboratórios de ética.

Gabriel Novis Neves
10-05-2014

sábado, 21 de junho de 2014

VESTIBULAR

Ao sair de casa no horário comercial, a impressão que tive é que a nossa cidade não se preparou para receber os jogos da Copa do Mundo padrão FIFA.
Um aluno só fica habilitado a enfrentar os competitivos e difíceis exames do vestibular ao ensino superior após oito ou nove anos de estudos. Também tivemos esse tempo para nos adequar a receber o maior evento de futebol do mundo.
Na verdade, não foi uma impressão, foi a constatação de um fato. Todas as obras estão em um ritmo frenético de construção, causando muito reboliço na cidade.
Mas, a esperança de que tudo fique de acordo com o planejado não existe. Só estão maquiando a cidade - no melhor estilo padrão Brasil.
Trabalhos que seriam realizados normalmente à noite para não prejudicar tanto a população, como recapeamento asfáltico das ruas, estão sendo executadas agora, durante vinte e quatro horas.
A cidade está toda engarrafada e seus moradores submetidos ao teste do controle emocional.
Filas intermináveis de automóveis em ruas estreitas e com as inevitáveis batidas produzidas pelos adeptos da “Lei do Gerson”- aquele que sempre quer levar vantagem.
Os velhos mestres recomendavam aos vestibulandos que na semana que antecedia ao vestibular, fizessem repouso, uma alimentação branda, assistissem a um bom filme e a terem muita confiança nos anos estudados. Nada de virar a noite revendo livros, apostilhas e macetes, pois a sorte estava lançada.
Nesta capital a ordem é executar, em uma semana, todas as obras que estavam acertadas e programadas com a FIFA e com o próprio governo brasileiro.
E, pasmem, até algumas leis do país são passíveis de transformação por exigência dessa organização privada. São estabelecidas as chamadas leis temporárias, que se enquadram à organização do evento.
Cronograma das obras não cumpridas é o mesmo que lições não feitas.
Neste momento há um pânico entre as obras concluídas e as compromissadas, ocultando um terrível mau humor entre nossos dirigentes, mais preocupados neste instante com outras ações realizadas pela Polícia Federal.
A população descrente perdeu o entusiasmo pelo seu esporte maior, e faz cara de paisagem.
Embora o exame vestibular seja uma experiência traumática para a maioria dos estudantes, especialmente os egressos das nossas escolas públicas - onde está a população de jovens mais carentes e necessitados de uma vaga no ensino superior público - não há como não se lembrar do gostoso samba “Vestibular” do Martinho da Villa para nos ajudar a viajar no tempo da travessia para o desconhecido.
Foi sugerido, diante do caos que reina em nossa cidade, que recebamos os turistas com uma expressão bem cuiabana – “a casa é sua, desculpe a bagunça”.

Gabriel Novis Neves
06-06-2014

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Patriotismo

Antes do início dos jogos da Copa o que mais se vê são manifestações de rua transformando a vida das cidades.
São Paulo, com transtornos dos metroviários em greve pacífica por melhores salários e condições de trabalho. O Rio, com o insolúvel problema de violência com as mortes na Favela do Alemão. Recife, Salvador, Brasília, e até a nossa pacata Cuiabá, estão em clima de insatisfação com o Governo.
Para dar um basta nesta desagradável e desconfortável situação para o Governo que cedeu seu território à FIFA, uma forte publicidade nos ataca diariamente apelando, não para nossa conhecida hospitalidade, e sim, para o nosso espírito patriótico.
Alguns poucos comerciantes, timidamente, temendo represália popular, estão colocando alguns enfeites em seus estabelecimentos empresariais. Outros, mais previdentes, se mostram omissos.
Da parte da população, o patriotismo outrora exibido através de bandeiras nos carros, pinturas nos muros residenciais e faixas nos edifícios, é motivo de pesquisa para encontrá-los.
Também pudera! Dos vinte e três jogadores selecionados para defenderem o Brasil na Copa do Mundo, apenas uns três ainda atuam nos nossos gramados.
Os outros são “estrangeiros”, e muitos deles não conhecem nem o Maracanã, Morumbi, Mineirão e outros grandes estádios brasileiros.
Saudades tenho das seleções em que todos os jogadores titulares e reservas jogavam em times brasileiros.
O clube de futebol é a base da paixão pela seleção. Esses que entrarão em campo para nos defender são atletas de times de fora.
Meu patriotismo pela seleção chegou ao auge quando no time principal - campeão do mundo no Chile em 1962 - tínhamos como titulares: Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo e Zagalo.
Eram cinco jogadores do Botafogo.
Ficava fácil naquela época torcer pela seleção canarinho, pois conhecíamos e nos identificávamos com todos os seus jogadores.
Hoje, patriotismo para torcer pela “legião estrangeira” de milionários que defenderão o Brasil, nem com marketing ocupando todos os espaços na mídia.

Gabriel Novis Neves
06-06-2014

TEMPO PERDIDO

Há meses que os nossos políticos não fazem outra coisa a não ser montar o tabuleiro do xadrez visando a conquista do poder.
Tudo é válido nessa arrumação. Só não vale botar mãe no meio, recomenda o velho Oráculo do Porto.
Interessante que, tanto governistas como oposicionistas, reservam sempre um lugar de destaque aos militantes proeminentes do Partido da Soja.
Estão infiltrados em todas as legendas partidárias. Impossível ficarem de fora de uma composição majoritária e, de preferência, que não precisem disputar votos como vices ou suplentes.
As chapas que serão oferecidas aos eleitores parecem sopa de legumes – tem de tudo um pouco, não podendo faltar o representante dos fazendeiros.
Afinal, são eles os principais financiadores das campanhas políticas, e seus currículos são encontrados na Revista Forbes.
Ideologias ou propostas para melhorar as condições de vida da nossa gente e do nosso país ficam para depois, e não são sequer discutidas nessas intermináveis reuniões de acordos e acertos pré-eleitorais.
O filho desse matrimônio é um ser difícil de ser identificado quanto a sua paternidade pela complexidade genética que apresenta.
Observo pelos jornais os personagens das enormes mesas de reunião.
Haja terapia e antidepressivo para suportar aquele ambiente de falsidade e hipocrisia, cujo prato principal é  feito pelos interesses pessoais.
Antes do cafezinho um prato de sapos é servido. Nesses momentos é importante engolir sapos para facilitar a digestão.
O poder precisa ser mais estudado pelos especialistas em problemas sociais para que explicações sejam dadas, tendo em vista o encantamento desmedido que causa a tanta gente.
Carentes de notoriedade constituem maioria nessas reuniões.
Enquanto isso, o tempo vai passando e sentimos o grande desperdício e mau exemplo que os homens públicos dão ao trabalhador que, para exercer a sua função, enfrenta greves de transportes públicos, manifestações de rua  e confrontos com a polícia, além da ausência absoluta dos principais equipamentos sociais a que faz jus.
Estamos nos tornando também campeões em tempo perdido com remunerações de marajás.
Tempo perdido é a perda mais lamentável para o futuro de um país que deseja ser desenvolvido e competitivo.
Essa é a nossa realidade.

Gabriel Novis Neves
16-05-2014

Briga de casal

Jamais poderia imaginar que o grupo político que há doze anos veio para renovar o nosso Estado tivesse cometido nesse espaço de tempo tantas infrações éticas.
O crime organizado comandado pelo iniciante “Comendador” foi extinto por ação do Ministério Público Federal através da conhecida operação Arca de Noé em fins de 2002.
Em compensação, os homens da botina, que substituíram os do tênis, montaram um sistema mais eficiente e poderoso, e que somente agora foi desbaratado pela Polícia Federal.
Segundo o que foi apurado, o objetivo maior, além do enriquecimento do grupo, era a perpetuação da turma no poder.
A  grande meta moralizadora dos novos governantes era abrir as “malas pretas” da administração passada numa explícita alusão à corrupção que diziam existir, coisa possível de acontecer no nosso modelo republicano de governar.
O jovem governador acusado morreu amargurado com as humilhações sofridas pelas crueldades dos estadistas fazendeiros.
E a tal da mala preta que era o símbolo da corrupção passada jamais foi encontrada.
Desculpas tardias não curam defuntos morais, tampouco físicos.
Com a sequência das Operações Ararath a “mala preta” foi encontrada e seus personagens expostos à sociedade.
Muitos se surpreenderam com a audácia e voracidade dos donos da verdade ao avançarem com tanto apetite e organização no erário público, única e exclusivamente em benefício pessoal e de seus asseclas.
Todo tipo de crime contra o sistema financeiro foi cometido, envolvendo outros poderes do Estado.
Foi realmente  uma mega e bem formatada quadrilha de assaltos ao Tesouro Estadual.
O antigo Comendador recusou delatar seus sócios, pagando no presídio de segurança máxima pelos seus  crimes e, dos seus graduados companheiros.
O bem estruturado técnico e politicamente grupo que o substituiu no comando do crime organizado, jamais poderia imaginar que uma simples briga de casal fosse desvendar, com provas contundentes, aquilo que todo mundo já sabia.
Assim como a soja, brotavam também em nossas terras férteis grandes fortunas inexplicáveis.
O período da colheita do péssimo comportamento com a coisa pública não poderia ser em momento tão inoportuno.
Estamos sediando jogos da Copa em nossa cidade e, sabiamente, sua Excelência, o digno Juiz Federal, acabou com o sigilo do processo, deixando as falcatruas cometidas ao alcance de todos - para a satisfação da sociedade e alegria dos jornalistas nacionais e internacionais que abundam por aqui.
Todo o planeta ficará sabendo como vivem os homens na terra do agronegócio.
Não merecíamos tamanha humilhação! A verdade está nos autos do processo criminal e na riqueza externa desse pessoal, incompatível com seus rendimentos de funcionários públicos.
Esperamos que a justiça dos homens cumpra com o seu dever constitucional punindo os responsáveis pelo maior escândalo político do nosso Estado, com vistas grossas das instituições que deveriam zelar pelo bem público.
Nossa gente trabalhadora não suporta mais conviver com marginais das leis.
Acreditamos na justiça e na reconstrução deste Estado de gloriosas tradições, com trabalho, ética e educação para todos.
Precisamos formar cidadãos e expulsar os fariseus do nosso território sagrado. Tchau, aproveitadores! Vão ser felizes e viver tranquilos nas suas terras de origem.
Basta! Vocês já nos fizeram muito mal!

Gabriel Novis Neves
09-06-2014

FIASCO

O Governo do Estado de Mato Grosso gastou milhões de reais em publicidade para convencer a população que a solução para os nossos históricos problemas no setor da saúde pública desapareceriam com a contratação das Organizações Sociais da Saúde (OSS).
Maquiou uma empresa fraquinha de Pernambuco, com passado não muito recomendado, e entregou dois de seus raros Hospitais Regionais, de Várzea Grande e de Colíder, além da Farmácia de Alto Custo, para que fossem por ela gerenciados.
Quem trabalha em saúde teve a oportunidade, em inúmeras Audiências Públicas promovidas pelo Poder Legislativo, de manifestar a sua total desaprovação por essa aventura. O resultado, na visão dos trabalhadores da saúde, seria desastroso para o nosso combalido sistema carente de investimentos, e não, de gestão.
Seria a desmoralização do próprio SUS, que funcionava tão bem que nosso ex-presidente aconselhou o seu colega Obama para implantá-lo nos Estados Unidos da América do Norte.
Os departamentos ligados à saúde da nossa Universidade Federal, convidados a opinar sobre a proposta, votaram unanimemente pela recusa.
Entretanto, foi exatamente pelo voto de Minerva da ex-Universidade da Selva que a proposta autoritária de chapa branca foi a vencedora no Conselho Estadual de Saúde.
Interpelado pelos docentes e alunos inconformados com a falta de transparência da antiga casa de ensino, a justificativa foi que esta instituição federal agora pertencia à base de sustentação do Governo e votou politicamente, mandando às favas os pareceres técnicos.
Até alguns lúcidos e independentes jornalistas, ao que parece , foram iludidos pela propaganda oficial.
Como o tempo é o senhor da razão, no silêncio dos covardes o Governo do Estado rescindiu, com o aconselhamento do Ministério Público, os contratos feitos com o tal instituto pernambucano, após os incalculáveis prejuízos morais e materiais produzidos à nossa população pobre.
Este é o grande legado que o Governo da Copa irá nos deixar na área da saúde, além de uns cem números de promessas que nem saíram do papel, ficando esquecidas nos programas eleitorais do Governo.
Começamos a colheita dos desmandos administrativos logo pela área da saúde, a mais carente de todas na área social.

Gabriel Novis Neves
13-05-2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

Justiça

Refleti muito antes de escrever este artigo. Tenho certeza que será mais um jogado no lixo do esquecimento, com a insuportável desculpa que desde que o mundo é mundo essa é a lei maior, aquela cuja balança pende para o lado dos mais abonados.
Mas, o assunto me comoveu. Constatei que o Brasil continua a ser um Estado injusto e muito confuso.         
Uma pobre mulher de quarenta e três anos de idade, sem a mínima condição de alimentar seus três filhos, gestante no oitavo mês, foi ao tal “Centro de Ressocialização” de Cuiabá, nome de um promíscuo depósito de presos, para visitar o seu companheiro.
Escondia em sua vagina cerca de quatrocentos e cinquenta gramas de pasta-base de cocaína, que foi detectada na revista.
Como a pobre mulher é reincidente, aliás, caso único em nosso país, sofreu as penas da lei, que nega o pedido de soltura da gestante acima de seis meses por ficar “evidente seu descaso com as decisões judiciais”.
Após dormir três noites em alojamentos incompatíveis com a sua gestação por desumanidade do governo, tão zeloso com os direitos humanos dos bandidos, entrou em trabalho de parto e foi então autorizada (ainda bem) a sua remoção para uma maternidade universitária.
Foi submetida a um parto operatório (cesariana). Pariu um menino pesando três quilos e novecentos gramas.
Obteve alta hospitalar após quarenta e oito horas do procedimento cirúrgico, retornando à “penitenciária”, não apropriada para cuidar dessa situação e com o seu filho de dois meses preso.
A mãe se diz arrependida pelo que fez, mas continua na prisão com o seu filho recém-nascido.
Lamentável é saber que muitos infratores da lei, com o agravante de serem agentes públicos responsáveis pela situação dessa mulher e de seu filho, e que tiveram oportunidade de estudar, são alojados em cadeias de luxo.
Isto depois de terem sido julgados e condenados pela mais alta corte desta nação.
Ficam em regime semiaberto, passando o dia na rua. Quando com problemas médicos ficam em residências particulares.
Esta pobre mulher não foi julgada, muito menos condenada, e o que fez o seu filho para ficar preso?
Vítima da incompetência do governo e do desinteresse da nossa sociedade.
O preço do “contrabando” da pobre mulher foi avaliado em cinquenta reais.
Os rombos dos cofres públicos de recursos que deveriam ser investidos em áreas sociais como educação, saúde e segurança pública são de alguns milhões de reais.
Ou alguém elimina essa “apartheid” social existente, ou em breve teremos uma guerra, já iniciada com os justiceiros.
Políticos com centenas de atos ilícitos contra o patrimônio público brincam e cheiram pó nos melhores lugares públicos do Brasil e ainda recebem aplausos e homenagens de nossa sociedade.
O pobre menino que nasceu no Hospital Geral passou seu primeiro carnaval na cela de um presídio inadequado.

Gabriel Novis Neves
05/03/2014