terça-feira, 17 de junho de 2014

Justiça

Refleti muito antes de escrever este artigo. Tenho certeza que será mais um jogado no lixo do esquecimento, com a insuportável desculpa que desde que o mundo é mundo essa é a lei maior, aquela cuja balança pende para o lado dos mais abonados.
Mas, o assunto me comoveu. Constatei que o Brasil continua a ser um Estado injusto e muito confuso.         
Uma pobre mulher de quarenta e três anos de idade, sem a mínima condição de alimentar seus três filhos, gestante no oitavo mês, foi ao tal “Centro de Ressocialização” de Cuiabá, nome de um promíscuo depósito de presos, para visitar o seu companheiro.
Escondia em sua vagina cerca de quatrocentos e cinquenta gramas de pasta-base de cocaína, que foi detectada na revista.
Como a pobre mulher é reincidente, aliás, caso único em nosso país, sofreu as penas da lei, que nega o pedido de soltura da gestante acima de seis meses por ficar “evidente seu descaso com as decisões judiciais”.
Após dormir três noites em alojamentos incompatíveis com a sua gestação por desumanidade do governo, tão zeloso com os direitos humanos dos bandidos, entrou em trabalho de parto e foi então autorizada (ainda bem) a sua remoção para uma maternidade universitária.
Foi submetida a um parto operatório (cesariana). Pariu um menino pesando três quilos e novecentos gramas.
Obteve alta hospitalar após quarenta e oito horas do procedimento cirúrgico, retornando à “penitenciária”, não apropriada para cuidar dessa situação e com o seu filho de dois meses preso.
A mãe se diz arrependida pelo que fez, mas continua na prisão com o seu filho recém-nascido.
Lamentável é saber que muitos infratores da lei, com o agravante de serem agentes públicos responsáveis pela situação dessa mulher e de seu filho, e que tiveram oportunidade de estudar, são alojados em cadeias de luxo.
Isto depois de terem sido julgados e condenados pela mais alta corte desta nação.
Ficam em regime semiaberto, passando o dia na rua. Quando com problemas médicos ficam em residências particulares.
Esta pobre mulher não foi julgada, muito menos condenada, e o que fez o seu filho para ficar preso?
Vítima da incompetência do governo e do desinteresse da nossa sociedade.
O preço do “contrabando” da pobre mulher foi avaliado em cinquenta reais.
Os rombos dos cofres públicos de recursos que deveriam ser investidos em áreas sociais como educação, saúde e segurança pública são de alguns milhões de reais.
Ou alguém elimina essa “apartheid” social existente, ou em breve teremos uma guerra, já iniciada com os justiceiros.
Políticos com centenas de atos ilícitos contra o patrimônio público brincam e cheiram pó nos melhores lugares públicos do Brasil e ainda recebem aplausos e homenagens de nossa sociedade.
O pobre menino que nasceu no Hospital Geral passou seu primeiro carnaval na cela de um presídio inadequado.

Gabriel Novis Neves
05/03/2014

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