Refleti
muito antes de escrever este artigo. Tenho certeza que será mais um jogado no
lixo do esquecimento, com a insuportável desculpa que desde que o mundo é mundo
essa é a lei maior, aquela cuja balança pende para o lado dos mais abonados.
Mas,
o assunto me comoveu. Constatei que o Brasil continua a ser um Estado injusto e
muito confuso.
Uma
pobre mulher de quarenta e três anos de idade, sem a mínima condição de
alimentar seus três filhos, gestante no oitavo mês, foi ao tal “Centro de
Ressocialização” de Cuiabá, nome de um promíscuo depósito de presos, para
visitar o seu companheiro.
Escondia
em sua vagina cerca de quatrocentos e cinquenta gramas de pasta-base de
cocaína, que foi detectada na revista.
Como
a pobre mulher é reincidente, aliás, caso único em nosso país, sofreu as penas
da lei, que nega o pedido de soltura da gestante acima de seis meses por ficar
“evidente seu descaso com as decisões judiciais”.
Após
dormir três noites em alojamentos incompatíveis com a sua gestação por
desumanidade do governo, tão zeloso com os direitos humanos dos bandidos,
entrou em trabalho de parto e foi então autorizada (ainda bem) a sua remoção
para uma maternidade universitária.
Foi
submetida a um parto operatório (cesariana). Pariu um menino pesando três
quilos e novecentos gramas.
Obteve
alta hospitalar após quarenta e oito horas do procedimento cirúrgico,
retornando à “penitenciária”, não apropriada para cuidar dessa situação e com o
seu filho de dois meses preso.
A
mãe se diz arrependida pelo que fez, mas continua na prisão com o seu filho
recém-nascido.
Lamentável
é saber que muitos infratores da lei, com o agravante de serem agentes públicos
responsáveis pela situação dessa mulher e de seu filho, e que tiveram
oportunidade de estudar, são alojados em cadeias de luxo.
Isto
depois de terem sido julgados e condenados pela mais alta corte desta nação.
Ficam
em regime semiaberto, passando o dia na rua. Quando com problemas médicos ficam
em residências particulares.
Esta
pobre mulher não foi julgada, muito menos condenada, e o que fez o seu filho
para ficar preso?
Vítima
da incompetência do governo e do desinteresse da nossa sociedade.
O
preço do “contrabando” da pobre mulher foi avaliado em cinquenta reais.
Os
rombos dos cofres públicos de recursos que deveriam ser investidos em áreas
sociais como educação, saúde e segurança pública são de alguns milhões de
reais.
Ou
alguém elimina essa “apartheid” social existente, ou em breve teremos uma
guerra, já iniciada com os justiceiros.
Políticos
com centenas de atos ilícitos contra o patrimônio público brincam e cheiram pó
nos melhores lugares públicos do Brasil e ainda recebem aplausos e homenagens
de nossa sociedade.
O
pobre menino que nasceu no Hospital Geral passou seu primeiro carnaval na cela
de um presídio inadequado.
Gabriel
Novis Neves
05/03/2014
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