sábado, 30 de abril de 2011

Tudo resolvido

Graças a Deus está tudo resolvido com relação à Copa do Mundo em Cuiabá. As notícias sobre os aeroportos fornecidas pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) - órgão do Ministério de Planejamento do governo federal que presta assessoria à presidente -, dizem, não passaram de um ato de leviandade.

O IPEA é muito confundido com o IBOPE, aquele instituto de pesquisa (!) que prevê resultados eleitorais. Os erros do IBOPE são cada vez mais frequentes e o instituto exerce a grande função de distorcer resultados.

Já o IPEA é um órgão de credibilidade internacional e possui em seus quadros profissionais super qualificados. Ali a moeda é o mérito.

Quando o IPEA entregou à presidente o relatório sobre a situação do nosso aeroporto, por aqui foi um Deus nos acuda. O Instituto fez a previsão para o término das obras: 2018.

Claro, houve grande revolta das nossas autoridades. Afinal, temos tantos órgãos – uns criados recentemente e outros já existentes – para cuidar especificamente da Copa em Cuiabá que logo brotou uma onda de desmentidos oficiais.

Tentaram-se todas as possíveis e impossíveis fórmulas para desqualificar o Instituto. Mas, logo o IPEA?

O almoço, no palácio Paiaguás, entre o nosso governador e o senador presidente da Subcomissão de Acompanhamento da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, parece-me que foi frutífero. Uma luz de esperança acendeu-se para nós, mato- grossenses, diante de algumas declarações:

“O nosso senador reafirmou seu compromisso, que não era apenas com o Estado que o elegeu”.

“Todos os esforços serão feitos no sentido de que parcerias sejam formalizadas para a execução das obras".

Foi dito ainda que o atual chefe da Casa Civil do governo do Estado terá a missão de resgatar a complicada situação da diretoria que ele escolheu e nomeou na Agecopa, num grande estímulo para a diretoria atual.

Continuando, o senador disse que tem o aval da presidente do Brasil, e a ordem expressa dada aos ministros era para que todos fornecessem o suporte necessário aos Estados e Capitais para cumprirem os compromissos assumidos com a FIFA e CBF para a realização da Copa do Mundo - e com o Comitê Olímpico Internacional (COI).

“As coisas vão se encaminhar nos próximos meses", concluiu o senador.

Senti-me aliviado com as tranquilizadoras declarações do nosso senador, porém com duas dúvidas.

Essas parcerias citadas serão com as OSs, que estão chegando em massa ao nosso Estado?

Será que o pessoal de Brasília entregou as chaves do Tesouro Nacional ao nosso senador para tudo ficar resolvido?

Gabriel Novis Neves

16-03-2014

quinta-feira, 28 de abril de 2011

NOBREZA

As Casas dos Nobres são instituições tão antigas quanto a própria humanidade.

Em pleno século XXI temos inúmeros países que adotam a monarquia e a mais tradicional e respeitável é a britânica.

Títulos de príncipes, princesas, condes, condessas, marqueses e inúmeros outros, conferem um poder de sedução aos homenageados, como ao cantor Elton John e ao jogador Beckham, e encantam o mundo.

Com os séculos, algumas alterações foram introduzidas ao rigoroso ritual da realeza, prontamente aceitas pelos mais conservadores de seus súditos, e pelos nem tanto assim.

O casamento somente entre nobres cedeu lugar à união de nobres com maravilhosas artistas de cinema, plebéias lindas, e outras que, só o mundo fantasioso das quatro paredes de um dormitório, poderão nos explicar.

Geneticamente essa abertura fez um bem aos novos produtos humanos reais.

Os velhos embaixadores classificavam a Casa dos Nobres, como um verdadeiro centro de patologias médicas. Na Europa Velha a sífilis dizimava gerações de nobres, com as sequelas das suas lesões.

A sexualidade dos nobres era democratizada com os sentimentos de todos os povos, pois produtos da natureza e glândulas, não são monárquicos, e sim endócrinos.

Ouvi muita conversa sobre esse assunto. O Brasil colônia teve uma Rainha louca e um Rei que proclamou a nossa Independência graças a uma fuga da capital paulista para encontrar a sua amante numa cidade praiana, mais conhecida como a terra do Clube de Futebol do Rei Pelé.

Para um governante, especialmente do terceiro mundo, o fato mais importante na sua administração é desfilar na carruagem, ao lado da rainha.

É a sua inesquecível passagem pelo poder!

Há um mês as maiores redes de televisão, jornais, revistas, rádio e internet, só falam no casamento do príncipe-herdeiro da coroa da Inglaterra com a sua antiga namorada plebéia.

Essa moça é linda, especialmente em pose fotográfica com lingerie.

A outrora privacidade da realeza foi derrotada pela tecnologia.

Todo mundo sabe que os noivos foram colegas de universidade, moraram juntos por dois anos, brigaram, separaram, voltaram, e agora estão teatralizando um casamento de faz de conta, para não quebrar uma tradição.

Todos estão felizes no Reino Unido pelo feriadão, aumento de vendas no comércio e subprodutos de uma festa, que parece uma mistura de Natal e Copa do Mundo, segundo depoimento de uma brasileira que foi assistir ao casamento do século.

Mais de 2 bilhões de pessoas acompanharão pela televisão ao evento, que, com toda a certeza, terá reprises diversas, além dos célebres comentaristas especializados em festas de casamentos reais.

Corre até um boato por aqui - acredito mesmo em brincadeira - que uma comitiva do Governo chegará ao feriadão em Londres para verificar o problema da mobilidade urbana...



Gabriel Novis Neves

28-04-2011

Nunca, jamais, em tempo algum, pensei que um mito fabricado durante mais de trinta anos, pudesse ser destruído em cem dias.

Sempre escrevo e comento que certas coisas, só acontecem em Cuiabá.

Cuiabá é Brasil, e na nossa nação aconteceu um fenômeno típico das coisas que só acontecem aqui.

Os antigos moradores do Arraial do Senhor Bom Jesus de Cuiabá interpretavam esses acontecimentos dizendo que esses mitos criados, eram iguais santos de pés de barro. Não tinham a mínima durabilidade, e seus pés eram destruídos, e transformados em pó, danificando toda a escultura, que representava o santo.

O diretor editorial da revista ISTOÉ Dinheiro, conta a peregrinação da Presidente na China.

“Foi uma das mais rentáveis excursões de negócios já conduzidas por um presidente brasileiro mundo afora.

Dilma fez um verdadeiro “arrasta quarteirão” comercial com resultados inéditos junto ao parceiro chinês.

Na estréia como mascate do produto “Made in Brazil", Dilma conseguiu vender de tudo: aviões, manufaturados, carne e derivados, além de seduzir portentos empresariais para investir pesado no País.

A sinalização da gigante Foxconn de que injetará aqui cerca de R$ 20 bilhões para produzir os tablets da Apple serviu como grande apoteose de um show que incluiu inúmeros outros acordos na área de tecnológica.

As chinesas ZTE e Huawei, por exemplo, aproveitaram a oportunidade da visita, anunciaram investimentos de R$ 316,1 milhões e R$ 553,2 milhões, respectivamente, em projetos no interior de São Paulo.

O governo da China ainda se comprometeu a estimular o aumento de importação de manufaturados brasileiros.

A Embraer, que há anos mantinha uma fábrica naquele país, com baixo rendimento e poucas encomendas locais - chegando inclusive em cogitar o fechamento da unidade -, recebeu de uma só vez mais de U$1,5 bilhão em pedidos de compra de jatos. Serão 35 aviões do modelo E-190 comercializados ao preço de U$ 43,2 milhões cada um para dois grupos empresariais chineses.

Soja, minério, carnes - a lista de mercadorias negociadas é extensa e variada.

Nesse contexto não se pode diminuir a importância da gestão diplomática realizada por Dilma.

Ela levou uma gigantesca comitiva, com 300 empresários, para tratar de negócios.

Era a pauta número 1 dos encontros. Lá, ela destravou transações comerciais que estavam emperradas havia anos, cobrou reciprocidade nas relações bilaterais e saiu com um saldo de contratos de fazer inveja a qualquer chefe de nação do planeta.”

Com a sabedoria milenar dos chineses, apesar das inúmeras visitas recebidas nos últimos oito anos, com toda a certeza sabiam que, antes, estavam diante de um santo de pés de barro.

É a única explicação para em 100 dias de um novo governo, a China escancarar as suas portas comerciais, tudo na maior discrição possível.

Alguém deve estar temendo pela próxima viagem da nova presidente, que não será para pedir bênçãos ao moribundo ditador do Caribe, nem levar a nossa seleção de futebol ao Haiti, ou alugar para guerrilheiros a nossa embaixada em Honduras, ou pedir conselhos na Venezuela. Nunca pensar numa viagem da presidente, para acalmar o cocaleiro que privatizou a nossa Petrobrás, visitar o bispo de Assunção e discutir moda em Buenos Aires.

Aquelas célebres viagens pela África, com shows do ministro da Cultura a países famintos e há anos comandados por sanguinários ditadores e promessas de ajuda que nunca saíram do papel estão com o seu ciclo encerrado.

Acho que a nova rota presencial de viagens deve incluir o Japão, Coréia do Sul, Índia, Inglaterra e Estados Unidos da América do Norte, isso se o Itamarati negociar com a CIA, o perdão para o pessoal que não pode pisar em solo americano.

Ia me esquecendo: a presidente informou ao Itamarati, que como Chefe de Estado, não receberia presentes.

O nosso mito não conseguiu passar pelo teste internacional da 1ª viagem da presidente, e virou pó.

Gabriel Novis Neves

23-04-2011

quarta-feira, 27 de abril de 2011

BURACO

Estava no meu sobradinho, quando de surpresa apareceu o nosso prefeito para uma visita - isso no início do ano passado.

Era um sábado, por volta do meio-dia. As cadeiras de balanço já estavam ocupadas pelos seus titulares, o pastelzinho rolando e a redondinha descendo.

Gosto de receber amigos aos sábados e aos domingos pela manhã para longos e agradáveis bate-papos. Mas não os convido. Convite para mim soa como uma intimação, e os meus íntimos sabem disso.

Eles vão aparecendo. Uns de surpresa, outros, mais precavidos, avisam antes.

Pois bem, nesse histórico sábado nosso prefeito, que à época só tomava refrigerante e vinho na Chapada, me convidou a descer para me mostrar uma obra que, segundo ele, acabaria definitivamente com os inúmeros buracos no asfalto da minha rua.

Fui. Confesso que fiquei impressionado com a espessura do asfalto - quase meio-metro!

Eufórico com a minha satisfação, ele não se conteve e disse: - Estou fazendo esse asfalto especial para impressionar o poderoso Diretor Geral do DNIT que mora na esquina. Ele viu a obra e me disse que esta era a melhor pavimentação urbana do Brasil.

De volta ao sobradinho - ninguém tinha arredado pé, nem deixado de molhar a garganta, muito menos de saborear os pasteizinhos -, relatei o que vi, e as palavras do prefeito: - "os moradores dessa rua jamais terão problemas com o asfalto¨.

Um pessimista, ou do contra - não consigo fazer esse diagnóstico diferencial, ouviu em silêncio as opiniões sobre a grande conquista que tantos transtornos causavam aos seus moradores.

Depois de um gole duplo da redondinha sentenciou: - Não vai aguentar a primeira chuva!

“Hummm!” Foi o murmúrio coletivo e severo que recebeu dos presentes. E estava implícito: - lá vem ele de novo com o seu pessimismo!

A conversa debandou para assuntos mais amenos, e a reunião foi encerrada, indo cada um para a sua casa. Não. Eles não ficam para almoçar.

As chuvas de março chegaram. Logo apareceu uma área de afundamento no grosso asfalto. Nenhuma providência foi tomada.

O afundamento não era nada desprezível. Ainda mais numa pista de movimento muito intenso de caminhões, ônibus, carros e motos. Era um orifício no centro do asfalto lesionado, e sem assistência - semelhante aquele produzido por sondas para perfuração de poços artesianos.

O orifício foi se transformando, sucessivamente, em buraco, buracão e cratera. Nada de providências. O risco de acidentes era evidente, e o total desabamento era questão de horas.

Os funcionários do edifício em frente ao fenômeno da incompetência governamental resolvem, por conta própria, sinalizar o perigo colocando pequenas folhas mortas de palmeiras no buraco. Depois colocaram um cavalete pequeno em cima. Aquele tradicional de “carga e descarga” que todo edifício tem.

Diante das mensagens fotográficas do site que ninguém lê, e em Cuiabá abandonada, os governos estaduais e municipais tomaram providências.

Convocaram o famoso caminhão tapa buracos para a missão.

Os trabalhadores oficiais, diante da gravidade do problema e na iminência de um grande desabamento, colocaram uma enorme placa oficial, que quase interrompe o trânsito da rua, com os seguintes dizeres: ”Cuiabá. Todos contra a dengue!”

Santa ironia! A placa foi colocada exatamente na porta da casa do mosquitinho que pica e mata!

O problema da ex-Cidade Verde é a falta de saneamento básico – o crônico problema das obras enterradas. Isto sim iria resolver em definitivo o problema, e não uma grossa camada de asfalto.

Lembrei-me da previsão da boquinha maldita do ano passado: “não vai aguentar a primeira chuva”.


Gabriel Novis Neves

21-03-2004

terça-feira, 26 de abril de 2011

Eu que pensava

Histórias de gambiarras me fazem lembrar os meus tempos de estudante no Rio de Janeiro. Diariamente lia, nas páginas policiais dos jornais especializados em crimes e sangue, a história das gambiarras nas favelas e nos bairros mais carentes da cidade grande.

A Light batia forte, através de seus informes publicitários, sobre o prejuízo que essa tecnologia bem brasileira representava para a empresa americana.

Afinal, todos somos filhos de Deus, e um fiozinho roubando um ponto de luz para, pelo menos, assistir a uma novela, acreditava-se não ser pecado.

Essa praga alastrou-se tanto pela ex-Capital Federal que logo teve seguidores em todo o Brasil.

O preço da nossa energia elétrica chega a ser proibitivo. Quando foi implantado esse sistema de gambiarras para se ter energia elétrica grátis, ninguém pensou em infringir a lei, e sim naquele velho ditado popular: “Ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão.”

Houve um vendaval em Cuiabá. Ventos com mais de cinquenta quilômetros por hora, segundo informações oficiais.

Estava em casa almoçando no momento do tsunami cuiabano. O primeiro sinal da gravidade da ação da natureza foi o corte da energia elétrica. Foi feito fechamento de janelas e portas para tentar deixar a fúria do vento do lado de fora. Pensei no pior, pois moro no vigésimo andar de um edifício construído há vinte anos - o último da firma, que faliu.

Tive a sensação de que a qualquer momento o teto de onde moro iria despregar e eu partiria para a minha última viagem aérea, para um destino ignorado e de difícil pouso.

A fase aguda da tempestade passou e no final da tarde pude ver do meu apartamento a beleza incomparável do por-do-sol.

Mais tarde consultei a internet para saber o resultado daqueles momentos de terror.

Uma altíssima torre de televisão, encomendada e projetada há cinco anos para sustentar uma antena de TV, ganhou (!) duas irmãzinhas.

A indústria responsável pela fabricação da torre não foi consultada para o implante das gambiarras.

Não sei se esse equipamento com três antenas tinha autorização dos órgãos competentes ou se tinha uma manutenção sistemática.

A estrutura metálica da torre balançou fortemente com o vendaval e caiu. Caiu no asfalto, atingiu um caminhão e fez uma vítima fatal. A estrutura básica da torre permaneceu intacta.

Um episódio com morte, especialmente de inocentes, é doloroso.

Lembrei-me das primeiras gambiarras de roubo de energia elétrica, assim como de água; não sabia da existência de gambiarras em torres de televisão no centro de Cuiabá.

Gabriel Novis Neves

16-04-2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

PARALISAÇÃO DOS MÉDICOS E HOSPITAIS SUS

Documento dos conselhos de medicina de todo o país que traz o posicionamento das entidades com relação às mudanças no modelo de gestão no Sistema Único de Saúde (SUS) foi aprovado durante o I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina 2011 (I ENCOM 2011).

No texto, os conselhos de medicina manifestam compromisso com os princípios do SUS, a importância de seu controle social, a defesa da gestão pública e a prevalência da moralidade e eficiência no setor.

Entre os dias 16 e 18 de março, esse documento foi aprovado por aclamação em Goiânia.

“Considero este resultado uma vitória para o movimento médico,” afirmou o presidente do Conselho Federal de Medicina.

A decisão foi tomada pelo plenário após ouvir críticas e elogios aos diferentes modelos em funcionamento em vários Estados.

O tema é considerado polêmico. Há os que afirmam ver na adoção de modelos como as Organizações Sociais, por exemplo, um caminho para melhorar a gestão e o funcionamento da rede pública de saúde, desde que balizada pela ética e responsabilidade.

Outros, por sua vez, enxergam no processo de transferência na responsabilidade pelo gerenciamento das unidades de saúde a possibilidade de aumento de problemas, como a desvalorização do trabalho médico.

No entanto, há pontos de convergência. Entre eles, a percepção de que qualquer proposta de mudança na gestão dos serviços de saúde deve levar em conta aspectos como o financiamento do setor, a qualidade do atendimento à população, o respeito ao trabalho médico e às peculiaridades de cada região.

Para não dizer que não falei das flores, transmito à nossa sociedade o posicionamento dos conselhos de todo o Brasil que vivenciam o caos da saúde pública.

Representa esse documento a posição de milhares de médicos brasileiros, que atendem mais de 155 milhões de brasileiros e brasileirinhos pelo SUS.

Os planos de saúde atendem cerca de 45 milhões de usuários com cerca de 160 mil profissionais, e traços desprezíveis de uma classe social que conseguem ainda ser atendida por profissionais liberais, uma categoria profissional em extinção, como eram chamados antigamente os médicos. Nossas peculiaridades são muito semelhantes aos demais Estados brasileiros.

A nossa saúde pública está sub-financiada, há má distribuição de médicos no nosso Estado, por falta de políticas públicas visando a sua fixação. Ausência de especialistas no interior e rede física sem estrutura mínima para procedimento médico de baixa complexidade.

Os pólos regionais de saúde, com os seus hospitais regionais sendo repassados a “OSS” de um Estado com problemas de saúde pública pior que os nossos.

Finalmente a capital, guardiã de um título de ser a única capital de Estado a não possuir um Hospital de Clínicas para média e alta complexidade.

Não há falta de médicos em um país que possui 346 mil médicos - dos quais 72% estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste.

Esse caos na saúde publica brasileira, está cheirando grave incompetência dos governos Federal, Estadual e Municipal.

Para resolver e reverter esse triste quadro só as Organizações Sociais???

Gabriel Novis Neves

21-04-2011

domingo, 24 de abril de 2011

Estevão de Mendonça

Vou tentar atender a um antigo pedido do meu professor, ídolo, vizinho e amigo da Rua do Campo - Estevão de Mendonça.

Coincidência ou não, moro na rua que lembra a sua passagem por terras cuiabanas.

Estevão de Mendonça, que me ensinou muito da nossa história, juntamente com o seu filho Rubinho (Rubens de Mendonça), profetizou que quem morre em Cuiabá é esquecido.

Tinha toda razão o nosso maior historiador!

Os nossos verdadeiros mitos são totalmente esquecidos, substituídos pelos oportunistas de plantão - especializados em descobrir o descoberto.

No aniversário dos 292 anos de Cuiabá, tantos falsos mitos foram idolatrados, e os verdadeiros, esquecidos.

O Hino de Cuiabá foi muito executado, a nossa bandeira reverenciada e o brasão beijado.

Quem foram os autores dessas peças históricas?

A letra do nosso hino é do professor, poeta, filólogo e poliglota, Ezequiel Pompeo Ribeiro Siqueira.

Ezequiel foi colega de turma de José Barnabé de Mesquita e Dom Aquino Corrêa.

Lecionou na rede pública de ensino, e dava aulas particulares aos filhos de famílias ilustres da nossa sociedade.

Entre outros foram seus alunos: Filinto Muller, João Ponce de Arruda e Fernando Corrêa da Costa.

Idolatrado pelas crianças e famílias daquela época, era convidado especial dos aniversários da petizada. Deixava inesquecíveis mensagens e dizia sempre uma poesia musical.

A melodia do hino é do 1º Sargento do antigo 16º Batalhão de Caçadores (16BC), o músico, Luiz Cândido da Silva.

Este hino foi oficializado pela Lei nº633 de 10 de abril de 1962, pelo então prefeito, Hélio Palma de Arruda.

O Brasão de Cuiabá foi instituído em Portugal em 1727, e oficializado em 1961.

No dia 12 de agosto de 1972 foi criada a bandeira de Cuiabá, através de um concurso público.

O prefeito de Cuiabá era José Villanova Torres.

O vencedor foi Nilson Benedito de Siqueira, que ao ter a sua proposta aceita, faturou um prêmio de CR$ 1.000,00 (um mil cruzeiros).

Todos esses personagens, verdadeiros mitos da nossa história, foram esquecidos nas festas de comemoração.

Estevão de Mendonça! Este seu vizinho está fazendo a sua vontade, recuperando os verdadeiros mitos esquecidos.

Os mortos não falam, os vivos incomodam. Porque não lembrar os nossos heróis silenciosos?

Espero que não tenha que explicar quem foi Estevão de Mendonça.

Gabriel Novis Neves

10-04-2011

sábado, 23 de abril de 2011

ESPARADRAPO PRETO

Percorrendo as principais ruas e avenidas da ex- Cidade-Verde, tive a impressão de que o famoso projeto tapa-buracos, consórcio da nossa prefeitura com o governo do Estado, resultou em múltiplos esparadrapos pretos no pouco do asfalto ainda íntegro.

O politraumatizado asfalto não terá uma recuperação desejada.

Precisaria de repouso por alguns dias, pois os esparadrapos, ou remendos, como chamam os engenheiros, não suportarão o pesado trânsito que continuará a lhe esmagar, ainda mais quando não se fez nada para combater as causas das feridas no asfalto.

Cuiabá não possui rede de esgoto, a principal causa dos buracos, e cada qual faz a sua gambiarra embaixo do asfalto.

Há pouco tempo acompanhei a transformação de uma leve depressão no asfalto em buraco e, depois, em uma cratera - facilitando o diagnóstico do rio aberto que nasceu por falta de fiscalização.

Motivo: um edifício granfino jogava o seu esgoto debaixo do asfalto.

Com o tempo houve uma infiltração do subsolo e o bom asfalto veio a falecer.

É triste para um cuiabano verificar como as coisas são tratadas por aqui.

Do contribuinte está se jogando pelo ralo, até as próximas chuvas, no mínimo quarenta milhões de reais numa operação engana-otário.

Tudo por aqui é assim: tratado com desdém. Não sou contra essa operação de emergência tapa-buracos ou engana-trouxa, pois Cuiabá está intransitável, mas gostaria de ouvir dos nossos administradores uma solução definitiva para uma cidade quase tricentenária.

Até a Copa do Mundo, haverá sempre a resposta de que tudo será resolvido pelos PACs.

O primeiro PAC não prestou para nós, e o segundo é uma grande incógnita.

Poder político o nosso Estado não tem. O cargo federal mais importante é ocupado por um representante de um representante nosso no Congresso Nacional, e até agora não fez nada, a não ser coordenar as duas derrotas da Presidente em Mato Grosso!

Os nossos agentes públicos não conseguiram tirar os buracos do nosso asfalto e colocaram esparadrapos pretos. Não conseguiram resolver um dos problemas crônicos da nossa cidade - falta de saneamento básico. Obra debaixo da terra, que ninguém vê, nunca interessou às nossas autoridades. Remendo, que todo mundo vê, sim.

Gabriel Novis Neves

11-04-2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O parto da montanha

O governo do Estado anunciou, há cerca de um ano, ao meio de uma fanfarrice, mudanças radicais na política de saúde. Dentre elas: o Programa do Fila Zero e a inauguração do Hospital da Criança. Que não deu em nada. Agora é a vez do salvador programa de privatização da saúde e hospitais públicos.

O milagre acontecerá com a entrega da gerência da nossa saúde pública às Organizações Sociais de Saúde (OSS).

Isso está me parecendo o parto da montanha. Deus queira estar equivocado.

Em vez de investir prioritariamente na área da nossa saúde pública, o governo Federal afirma que o Sistema Único de Saúde (SUS) atingiu quase a perfeição.

O nosso Estado tem pavor de discutir saúde pública, especialmente políticas para aumentar o insuficiente número de leitos hospitalares em todos os nossos 141 municípios.

Fica pior ainda quando o assunto é a construção de um hospital de Clínicas na cidade de quase 300 anos.

A bomba acaba caindo na cabeça das prefeituras sendo, a mais atingida, a de Cuiabá.

Os governos Federal, Estadual e Municipal, continuam tratando o setor privado da saúde como vilão, ao mesmo tempo em que o tem como referência única de eficiência e qualidade para recebê-los como pacientes.

Os recursos federais e estaduais transferidos, apesar de ridículos, não são executados em benefício da nossa saúde pública, e sim, trabalhados pela engenharia contábil-jurídica, diminuindo ainda mais os seus percentuais constitucionais, produzindo com isso inúmeras vítimas inocentes.

A proposta do governo com as OSS tem tudo para terminar como o parto da montanha.

Um belo dia a montanha tremeu após um barulho fortíssimo, e depois rachou num rugido de arrepiar os cabelos.

As pessoas nem respiravam de medo. De repente, do meio do pó e do barulho, apareceu... um rato.

Gabriel Novis Neves

17-04-2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

SEXTA-FEIRA SANTA

No mundo cristão duas datas se destacam no calendário: a do nascimento e a da morte de Jesus Cristo.

No Natal, comemora-se o nascimento do grande missionário, do generoso rabino que veio pregar o amor e revelar aos homens a Lei de Deus.

Na Sexta-Feira da Paixão, relembra-se o suplício da crucificação - a morte de Jesus.

Lembro-me do Natal e da Sexta-Feira Santa dos meus tempos de criança.

O Natal era a festa da magia. Festa de celebração pela vida.

Época das cartas para o Papai Noel, presépios e férias escolares. Da missa do Galo, com telefonema do meu pai à meia-noite, para cumprimentar a minha mãe que em casa preparava a colocação dos pedidos do velhinho de barba branca, nos sapatos e debaixo da cama, da filharada dormindo.

Ao clarear do dia 25 de dezembro, a correria e a algazarra incontrolável dos meus irmãos, para conferir os seus pedidos. Até hoje guardo o ruído produzido pelo rasgar dos embrulhos dos presentes recebidos.

A Sexta-Feira Santa, ou da Paixão, era dia de recolhimento. A Catedral tinha um aspecto fúnebre, com as imagens dos seus santos encobertos por tecido roxo.

Na Quinta-Feira Santa, a minha mãe nos orientava para limpar bem a nossa casa e tomar banho antes de dormir. Na sexta-feira tudo era proibido, inclusive falar alto. Só era permitido arrumar a cama com cuidado. Fazíamos jejum e o prato do dia era a canjica.

Nas casas, ruas e igrejas, o ambiente era de desolação. Luto sentido e respeitado por aquele que morreu na cruz, aos poucos, condenado somente porque amou demais a humanidade.

Na sexta-feira da crucificação, as crianças não brincavam, as mulheres usavam trajes e véus pretos nas igrejas, os homens igualmente, se vestiam de luto. Todos oravam diante do caixão com o corpo de Cristo.

À noite, a procissão do enterro, uma das manifestações mais comoventes da nossa cultura religiosa.

Após todas as manifestações de pesar e tristeza, restavam, às crianças do meu tempo, a expectativa da chegada do sábado, quando a cidadezinha amanhecia cheia de Judas de pano, feito pelos artesões de Cuiabá, e pregados nos postes de energia elétrica e telefônica.

Esses Judas retratavam os malfeitores da sociedade, onde a predominância era de políticos.

A meninada saía de casa com os bolsos da calça cheio de limões colhidos nos quintais das antigas casas da minha cidade, além de pedaços de varas de bambu.

O início do ritual era a malhação do boneco no poste até a sua caída, onde todos participavam da brincadeira da chutação para a destruição total da peça artesanal.

Tinha início, então, a guerra dos limões entre os meninos, até acabar a munição, ou por ordem superior de um dos pais.

Hoje, a Sexta-Feira Santa faz parte, na maioria das vezes, de um pacote turístico, que se inicia oficialmente na quarta-feira das trevas, e termina no domingo da Páscoa.

Semana Santa significa mais um feriadão, no nosso rico calendário de enforcação dos dias úteis.

Existe até uma importante cidade no Brasil, onde a semana começa na terça-feira à tarde, e termina quinta-feira à noite da semana seguinte!

Notícias da Semana Santa na televisão são avisos que não há mais vagas em vôos e ônibus para qualquer parte do Brasil.

Ninguém mais se lembra da morte de Cristo. A triste Sexta-Feira Santa da minha infância foi transformada em festas nas chácaras, resorts, barcos, bacalhau, vinhos e pagode com muita comida e cerveja.

Será que é a isto que se chama progresso? Será que os valores reais da vida – que deveriam ser eternos – estão sendo substituídos pelos valores mundanos?

Seja como for, resta um consolo para a humanidade. Jesus, no auge do holocausto de sua própria vida falou: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem!”


Gabriel Novis Neves
16-04-2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Só acontece aqui

Existe no nosso folclore uma passagem bem humorada sobre a cidade onde nasci - Cuiabá. A velha geração já a conhece. Vou contá-la para reavivar a memória dos mais antigos e dar conhecimento aos mais novos.

Um antigo morador desta abençoada cidade há anos mudara-se para o Rio de Janeiro.

Notícias da terrinha só mesmo através de cartas de familiares ou quando, casualmente, encontrava um patrício na cidade grande.

O encantamento do encontro não programado era a oportunidade para o nosso exilado desfazer e entender certas informações que recebia da ex-Cidade Verde.

Logo uma mesa de bar brotava, para matar as saudades e também esclarecer sobre recentes notícias difíceis de acreditar.

A Cuiabá daquela época não tinha chope, novidade e paixão para os habituais usuários da geladinha cerveja Teutonia.

Conversa vai, chope vem, e as dúvidas a esclarecer:

- Meu irmão: é verdade que o único médico otorrino de Cuiabá é totalmente surdo?

- É.

- E que o arcebispo é agiota?

- É.

- Que o dono do Cartório de Registro de Imóveis é cego?

- É.

- E o Presidente da Associação Católica é separado da mulher?

- É.

Mais um chopinho e o encontro com o cuiabano distante é encerrado.

Essa lista antiga poderia ser facilmente aumentada, pois tenho um farto material para editar. Mas não é o meu ramo elaborar uma enciclopédia de coisas que só acontecem em Cuiabá.

Sem querer ofender o brioso povo paraguaio, essas coisas até no Paraguai dão cadeia, segundo o nosso Oráculo do Porto.

Pela televisão o público de Mato Grosso é informado por um dos responsáveis pelo Hospital do Câncer de Cuiabá de que há cinco anos o hospital está sem o aparelho de Mamografia.

Não se trata de fazer humor ofensivo, mas é a realidade de uma cidade que trouxe artistas e modelos de fora para a encenação da morte do filho de Deus, acontecida há dois mil anos.

Deus mandou o seu filho à Terra para nos salvar. Quantos filhos de Deus morrem diariamente no nosso Estado por descaso das nossas autoridades?

Sei que os exames complementares para o diagnóstico e tratamento dessa doença que cada vez mata mais pessoas, não respeitando idade, classe social, credo ou raça, são importantíssimos, ainda mais em um hospital de câncer.

Faltam aparelhos e especialistas para atender à demanda de broncoscopia e ultrassonografia. Para a realização desses exames, é necessária a colaboração e a boa vontade de médicos da rede privada.

Esses mesmos médicos são chamados pelo governo de mafiosos, preguiçosos e mercenários, além de incompetentes para administrar um hospital público, e até para resolver a grave situação da saúde pública de Cuiabá.

O hospital do Câncer de Cuiabá é o único nessa especialidade que atende pacientes do SUS. É filantrópico, e recebe apoio da sociedade mato- grossense - que paga impostos aviltantes e as extravagâncias dos nossos governantes.

É doloroso abordar esse assunto, ainda mais para um médico vítima indireta dessa doença.

As cicatrizes da morte anunciada jamais fecharão para o acompanhante dessa verdadeira tragédia, onde nunca faltaram os recursos mais modernos da medicina.

Talvez, após assistirem à peça teatral do suplício de Cristo na cruz, as nossas autoridades se comovam com o destino de centenas de cancerosos que morrem crucificados nas desumanas filas de espera para consultas e exames laboratoriais. Isto, quando não morrem nas portas e nos corredores dos nossos hospitais.

Que a Semana Santa seja o momento propício para revermos valores e escolhermos o caminho da salvação, que é a atenção para com os pobres e doentes.

Vamos quebrar a corrente de que certas coisas só acontecem em Cuiabá, terra de gente boa e solidária, vítima principal dos desmandos dos poderosos.

Gabriel Novis Neves

14-04-2011