quarta-feira, 30 de abril de 2014

COISIFICAÇÃO

Estava folheando um belo livro de arte e deparei-me com um dos últimos trabalhos do artista alemão Pieter Pauwel Rubens (1577-1640) - “As Três Graças”.
A tela foi inspirada na mitologia grega, onde as Graças eram as deusas do banquete, concórdia, encanto, gratidão, prosperidade familiar e sorte, ou seja, as graças.
As Três Graças de Rubens foram retratadas por três mulheres fartas em carne, símbolo da beleza na época.
Hoje o que se vê são mulheres esqueléticas, presas à ditadura da estética corporal.
Rostos esquálidos e corpos que lembram os torturados nos campos de concentração, apenas, tais como cabides de luxo, emolduradas para destacar as roupas vestidas.
Para a indústria da moda a coisificação da modelo é da maior importância, uma vez que todo o foco deve ser dirigido ao verdadeiro objeto de consumo a ser vendido, a roupa.
Essa sacada da indústria é perfeita em termos comerciais, e desastrosa em termos humanos.
Claro, os nus de Rubens, quando vestidos, nada tinham a impingir ao mercado da época, ainda não industrializado.
Assim, o modelo de beleza era o reflexo do que a fêmea tinha de real, as suas formas curvilíneas exuberantes e a sua sensualidade nata.
Mas, o pior de tudo, é que essa cruel indústria da moda tratou de estabelecer a ditadura do anoréxico e, com isso, massificar a juventude mundial em termos estéticos, tornando-a presa fácil para inúmeras doenças carências e psicossomáticas.
Nunca a humanidade precisou de tantos acessórios e de tantos químicos para exercitar livremente o seu erotismo.
Com essa ditadura vieram os cabelos alisados, os corpos siliconados, as panturrilhas masculamente torneadas, os cílios postiços, os rostos botoxados e, o mais triste, a banalização das ideias em prol da exacerbação das atividades atléticas sexuais, impulsionadas pelas substâncias químicas e pelos brinquedos eróticos.
Fácil entender como novos comportamentos vão trazendo altos lucros  a outros setores, tal como numa cadeia cujos elos vão se formando de uma maneira lenta e progressiva, passando despercebidos pela grande maioria das pessoas.
Após tantas queimas públicas do soutien pelas feministas dos anos 60, as mulheres continuam massacradas pelos ditames da sociedade. Apesar das inúmeras conquistas através dos séculos, elas não conseguiram ainda a liberdade para usar os seus próprios corpos de uma maneira fisiológica, despida de imposições estéticas.
No reino animal, a fêmea é sempre respeitada e jamais invadida contra a sua vontade. Apenas na ocasião do cio existe a plena aceitação do macho.
A  fêmea mulher, banalizada como coisa, continua invadida e desrespeitada pelo homem e, principalmente, pelo sistema que, dia-a-dia, mais a “coisifica”.
Estatísticas mostram que os estupros crescem de maneira inversamente proporcional à liberalização dos comportamentos sexuais vigentes e, mais ainda, à coisificação feminina logo após a primeira infância.
A excessiva erotização vinculada pelas mídias e pela indústria crescente da pornografia tem sido o caldo de cultura perfeito para que jovens e adultos mais desavisados, entrem nessa verdadeira maratona em busca dos ideais de beleza apregoados a qualquer preço.

Gabriel Novis Neves
24-03-2013

terça-feira, 29 de abril de 2014

Mágoa

O ser humano, por sua fragilidade e imperfeição, experimenta todo tipo de conflito e de comportamento. É normal. Impactamos sentimentos, positivos e negativos.
Dentre aqueles que nos acarretam grandes sofrimentos, sem dúvida, a mágoa é um dos mais presentes na vida de todos.
Magoar-se ou magoar alguém, pode até ser considerado como um aspecto normal no nosso relacionamento com as pessoas. Entretanto, não podemos, e não devemos achar que o seu cultivo seja saudável.
Ao longo da vida defrontamo-nos com inúmeros pequenos desconfortos que vão se acumulando e ficam na nossa memória como objetos não identificados - só acessíveis aos analistas.
O acúmulo, em longo prazo, produz sintomas, alguns bem graves. Produtos farmacêuticos atuam nesses casos apenas como paliativos.
Existem, porém, aquelas mágoas bem nutridas e pontuais. Essas são as piores e de mais difícil esquecimento. Ficam presentes no nosso consciente deixando-nos amargurados, além de interferirem em todos os nossos outros sentimentos.
Muitas vezes o agente causador nem percebe a extensão do estrago ocasionado, mas o escolhido para recebê-la custa a esquecer, ou até mesmo, jamais esquecerá.
O interessante é que as pesquisas indicam que a incidência da mágoa é mais comum entre pessoas amigas.
Muitas acontecem em brincadeiras ou em pequenas discussões sem grandes importâncias.
Futebol e política, por exemplo. São duas áreas muito suscetíveis à possibilidade de nascerem mágoas.
Dois assuntos que hoje estão sendo gerenciados apenas por procuradores de jogadores de futebol ou financiadores de campanhas políticas.
Vejam a facilidade com que os nossos políticos, financiados com recursos do povo, mudam de ideologia. Ficamos por aqui magoados.
Quando a banheira emocional está cheia, basta uma pequena gota de água para o seu esvaziamento trazer à tona todo o lodo acomodado no fundo.
Sabemos que devemos sempre procurar respostas, e, se possível, soluções para as nossas mágoas.
Quem nunca foi magoado ou magoou alguém? Mas, a vida, esta grande mestra, nos ensina que ela não é perfeita, mas que podemos viver em harmonia.
Para vivê-la plenamente é preciso aceitar o que ela nos dá, e estar preparado para não deixar que sentimentos conflituosos se enraízem no nosso psiquismo.
A mágoa é do universo incompreensível dessa criatura tão perfeita e complexa que é o ser humano.

Gabriel Novis Neves
27-03-2014

CAPRICHOS

Fora da medicina não uso o termo científico de doença ou falha genética para os recém-nascidos com alguma deformação física ou funcional.
Insisto em banir essa expressão por uma mais humana e que nos lembre de que somos produtos da mesma natureza, tão pródiga nesses caprichos, principalmente com plantas, árvores e animais.
Esse tipo de comunicação não faz parte de nenhuma terapia ou processo de autoestima, mas, simplesmente, na preocupação de humanizar a relação médico-paciente.
Só a natureza consegue a perfeição de fazer com que uma célula masculina unida a uma feminina se fertilize e, como resultado, produza um embrião, um futuro ser humano perfeito.
Na imensa maioria das vezes isso é conseguido com absoluto sucesso para a alegria e felicidade de todos.
Entretanto, existem as exceções da natureza deste mundo tão difícil de ser compreendido.
É esperado que em gestações de gemelares nasçam fetos perfeitos anatomicamente, embora, em raras oportunidades, surjam os caprichos não esperados.
Em sessenta anos de atividade médica como aparador de crianças, achava que já tinha visto o suficiente em surpresas morfológicas.
Mas, este universo do inusitado, me reservou, em um centro cirúrgico de um hospital de referência em tratamento de olhos em Cuiabá, um contato não programado que abalou as emoções do velho parteiro.
Uma bela criança de cinco anos esperava a sua vez de ser operada.  Ao celular falava com alguém da sua intimidade.
Demonstrando um bom humor e tranquilidade não comuns para a sua idade, informou que a operação estava atrasada, pois, com certeza, havia muita gente para ser atendida.
Tudo bem, se a mesma não fosse portadora de agenesia biocular. Ela nunca enxergou, mas como sabia que havia muita gente para ser atendida?
Cumprimentei a sua jovem e simpática mãe pela bela educação que dera a sua filha e me interessei em saber a sua profissão,  tudo em função da habilidade com que lidava com uma filha portadora de deficiência visual.
Passou a me relatar que, após  o nascimento da filha, ao invés de se desesperar, como seria normal, passou a se especializar em técnicas que minimizassem o crescimento de uma criança carente e problemática.
Sabendo da minha profissão, sem ressentimentos em ter uma filha cega, revelou que ela foi gemelar e seu irmãozinho não apresentou nenhuma alteração anatômica.
Conversei com essa criança diferenciada, demonstrando um coeficiente intelectual bem acima da média para a sua idade. Chamei-a pelo nome pedindo um abraço. Ela deixou o colo da mãe e  veio me abraçar demorada e calorosamente.
Segurei a sua mãozinha e a fiz deslizar várias vezes pelo meu rosto, braços e cabeça. Queria que ela tocasse no desconhecido corpo de um idoso e sentisse  o cheiro do carinho que dele emanava.
Seria a forma pela qual  eu passaria a pertencer ao seu universo.
Essa criança veio para  mudar muitos dos nossos conceitos. Ela e a mãe sabiam disso. Eu passei, a saber, a partir daquele momento tão especial e inesquecível...

Gabriel Novis Neves
26-03-2014

Odores

Converso muito com um colega de formação médica holística. O médico direcionado na sua formação acadêmica para uma especialidade de fins lucrativos no mercado do consumo, jamais irá se interessar por temas dessa natureza.
Discutimos, ou melhor, trocamos ideias sem fim sobre esse tema tão sério e que atormenta muita gente.
Traçamos um paralelo entre os animais, as antigas civilizações e as atuais, sobre o cheiro e chegamos a um consenso: os odores têm influência sobre o nosso organismo. Pessoas que pensam assim são consideradas, no mínimo, utópicas.
O mercado, que é o órgão regulador das “vocações médicas modernas”, jamais pensou em orientar um médico a abrir "uma clínica experimental" de cheiros.
Já existem clínicas para internar e tratar apaixonados, o que demonstra que muita gente sofre desse mal.
Tenho certeza que o SUS não tomaria conhecimento desses profissionais e, muito menos, os planos de saúde.
Dos nossos órgãos sensoriais, o olfato, talvez, seja o mais complexo, sendo, inclusive, fator preponderante na reprodução das espécies.
Existem cheiros que jamais esquecemos e que nos trazem boas recordações.
O cheiro das crianças recém-nascidas é especial. Das flores. Da chuva na terra. Das frutas. Do bolo saindo do forno. Da comida do almoço do domingo. Da camisa usada. Do perfume predileto. Do quarto fechado. Do café da manhã.
Existe um cheiro que acho agradável e é muito comum para mim - o do Centro Cirúrgico.
Mas, existem cheiros que não gostaríamos nunca de sentir.
O cheiro das velas de um velório. De uma criança abandonada na rua. O cheiro do choro sentido. Da manhã traiçoeira.
Há cheiros que não dependem do nosso olfato, mas nos causam repugnância. O cheiro da prepotência. Do autoritarismo. Da violência. Da ignorância. Da impunidade e corrupção. E, o maior de todos os cheiros, o da injustiça social.
Ainda existem os cheiros que são bons nos lugares em que são produzidos, como o cheiro do amor.
Os feromônios produzidos no nosso cérebro são os responsáveis pelas lembranças amorosas eternas, explicando os encontros muito importantes na maturidade.
Cheiros culturais eu não discuto. Respeito-os, em homenagem às civilizações que os praticam.
Na verdade, cada um de nós tem o seu cheiro inesquecível.

Gabriel Novis Neves
19-03-2014

IDOSAS ADOLESCENTES

Nessas minhas andanças pelo Brasil, tive, mais uma vez, uma das minhas muitas e agradáveis surpresas.
Emocionante o pulsar da força da vida que, apesar da idade avançada, leva pessoas destemidas aos mais distantes rincões da terra.
Sentaram-se ao meu lado no avião duas lindas e entusiasmadas senhorinhas, uma de 85 e outra de 92 anos de idade.
Portavam-se como jovens adolescentes, não só pelo brilho do olhar, mas, principalmente, pelo preparo físico, mental e emocional que aparentavam. Eufóricas com o início de uma nova aventura.
Imediatamente fiquei fascinado por aquelas duas figuras. Puxei conversa e, simpaticamente, começaram a conversar comigo como se amigos fôssemos há muito tempo.
Contaram-me então que adoram jogar em máquinas eletrônicas e que, em virtude de não termos mais esse divertimento no Brasil, passaram a viajar mensalmente para cassinos próximos, onde podiam dar vazão aos seus desejos.
Dessa feita, rumavam para a Foz do Iguaçu onde se hospedariam no hotel cassino, junto à fronteira com a Argentina. O motivo da euforia – pensei comigo.
Falaram-me de suas experiências em todos os paraísos de jogatina próximos  ao nosso país, tais como: os de Buenos Aires, Mar Del Plata, Chile e, com maior frequência,  o mais badalado da América Latina, o de Punta Del Este.
O que mais me impressionou nessas meninas foi a beleza do olhar, coisa rara nessa faixa etária.
Ajudavam-se mutuamente. A mais jovem – menina de 82 anos - estava sempre atenta a todo e qualquer movimento da mais idosa, inclusive, acompanhando-a ao toalete sempre que necessário.
Fiquei imaginando o quanto somos capazes de rejuvenescer dependendo dos estímulos que nos movem.
Detectei que, não só o amor físico é o grande motivador da vida, mas também um intenso interesse por qualquer outra atividade, seja ela qual for, pode ser o elo que desmistifica as tão faladas agruras da velhice.
Enfim, foi uma viagem inesquecível para mim. Inesquecível por perceber que ainda consigo me encantar com o encantamento alheio.
Que maravilha o mundo se todos descobrissem a tempo como a vida é bela se vivida sem medos!
O medo da morte iminente é o grande estagnador da pulsão de vida.
Einstein tinha razão quando dizia “que a vida não se apieda, não dá nem empresta, apenas nos devolve o que damos a ela”.

Gabriel Novis Neves
06-03-2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Conceito

“A vida não nos penaliza. Devolve-nos tudo que damos a ela”.
A luta de classes sociais sempre existiu - desde os primórdios da civilização - moldada na cultura religiosa e na educação.
Por este prisma entendemos as permanentes guerras religiosas que até hoje afligem o Oriente, de origem judaico-cristã, e o grande avanço de países portadores de cultura anglicana, que prioriza a educação, despertando sua população para a solidariedade humana.
Disseminaram ideologicamente entre nós que rico não gosta de pobre, ante a nossa insensibilidade social de ajuda aos necessitados.
Mas, esses ricos não são os grandes portadores de fortunas, como banqueiros, grandes industriais e empresários, a turma do agronegócio e políticos com “sorte”...
Esses ricos que dizem não gostar dos pobres são segmentos da classe média, tendo na cabeça os “insensíveis” médicos.
O Brasil, que foi construído nessa última década, é um país com religiosidade, mas sem religião, e onde a educação nunca foi considerada uma política prioritária de governo.
Chego ao consultório no penúltimo dia do ano para trabalhar e, apesar de avisar a minha secretária no dia anterior, não a encontrei.
Estranhei a ausência de uma comunição da sua decisão de faltar ao serviço para, quem sabe, se preparar para as festas do Ano Novo.
Logo me lembrei de que estamos em um país sem educação, onde falta a solidariedade humana.
Médico é considerado rico porque estudou muito e conseguiu vencer em um competitivo mercado de trabalho.
Se fosse funcionário público seria considerado “insensível socialmente”, e colocado em dúvida os seus conhecimentos.
Perdemos definitivamente a luta pela educação e todos os seus subprodutos, que só conseguimos através dela, sendo a maior, a humanização no trato com as pessoas.
Enquanto isso, centenas de leis são fabricadas anualmente objetivando respeito e compreensão aos idosos, solidariedade aos que sofrem, engajamento em programas sociais não oficiais, pois estes não costumam sair do papel.
Como, por exemplo, o Ministério da Saúde, que foi o que teve o maior volume de recursos destinados à área social. No entanto, eles foram desviados para outras ações menos nobres, porém de maior retorno eleitoral.
Falta humanização nesta nação e, repito: “A vida não nos penaliza. Devolve-nos tudo que damos a ela”.

Gabriel Novis Neves
16-03-20143

AMIZADE

Sentimento totalmente diferente do amor em termos de intensidade e qualidade.
O término de um grande amor é sempre acompanhado de uma grande tristeza. A amizade não sofre nenhuma finitude, mesmo quando acompanhada de longos afastamentos.
O amor é uma reação química abrupta, fruto dos chamados da natureza para a procriação, enquanto a amizade é uma descoberta lenta e irreversível de afinidades que o tempo só faz sedimentar.
Hoje fui agraciado com  o telefonema de um grande amigo, de trinta anos atrás. Seguimos rumos diferentes na vida. Ele foi morar fora do Brasil, e nos perdemos de vista durante longos anos. Mas, o simples reconhecimento de sua voz trouxe um brilho todo especial ao meu dia.
Éramos jovens, belos, bem sucedidos nas nossas profissões, descompromissados com os problemas materiais. Os encontros com todos os outros amigos,  unidos pelos mesmos interesses, eram sempre muito festivos.
Aliás, nunca damos muita importância à voz de alguém, que é absolutamente única - tal como as impressões digitais.
Conversamos com a mesma verdade e com a mesma leveza de  outrora, como se período tão longo de afastamento em nada tivesse interferido na confiança que sempre nutrimos mutuamente.
A nossa conversa transcorreu com o mesmo companheirismo alegre e cúmplice de antigamente. Falamos sobre nossa vida atual. Ele, assim como eu, foi bafejado pela sorte nessa fase atual de nossas vidas. Fomos presenteados com alegrias e realizações profissionais, coisa rara nesta idade.
Percebi também que ele não tinha perdido aquela alegria de vida que tanto nos uniu no passado, e que é o motivo que nos une ainda hoje.
Costumo me referir a essa nossa fase atual como “linha de tiro”, uma vez que, vislumbrando o término do período de validade, estamos sempre sujeitos a chuvas e trovoadas e sempre na mira de um poderoso fuzil. Isso, em vez de se tornar um fator desestimulante, passa a funcionar como um grande desafio.
O desafio de termos de estar constantemente nos abrigando das intempéries e nos desviando do tiroteio eminente.
Voltando às diferenças da amizade e o amor. Por exemplo: não sei se algum dos meus amores do passado teria me feito tão feliz com um simples telefonema.
A diferença é que  a amizade verdadeira não deixa cicatrizes, apenas boas lembranças.
Já o amor, com toda a posse que geralmente o acompanha, faz com que pingos d’água do passado voltem às nossas lembranças como grandes tempestades.
A amizade esquece e perdoa. O amor cobra e aprisiona.
Não por acaso é tão difícil amar, e tão mais fácil fazer amigos!

Gabriel Novis Neves
12-03-2014

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Leis de Murphy

Com tantos acontecimentos e boatos terroristas circulando pela internet, o melhor é se precaver e conhecer algumas das Leis de Murphy.
De acordo com a nossa cultura tupiniquim, “os culpados são sempre os outros”. Então, os últimos apagões que ocorreram neste país de economia consolidada como uma das mais fortes do mundo, não é culpa do governo.
A culpa foi imputada às tempestades e raios que se abateram sobre a região, aliada à falta de manutenção dos para-raios – segundo declarações governamentais.
Da falta de investimentos públicos neste setor tão importante pra a nossa economia e que é, na verdade, a única responsável pelo apagão, ninguém disse nada,
 A necessidade de médicos no país vice-campeão mundial de escolas médicas, não foi a ausência de políticas públicas - como a criação da carreira do médico para atendimento na área básica da saúde e sua fixação no interior.
Foi a privação de aluguel por prazo determinado dos médicos escravos cubanos.
A nossa inflação não pode mais ser escondida atrás da desculpa dos males gerenciais dos países desenvolvidos. A culpa é o nosso desequilíbrio fiscal e incompetência de gestão.
A Copa do Mundo é investimento, e não, gastança inoportuna em momento inoportuno.
A reforma ministerial não está sendo feita para melhorar o nosso fraco desempenho administrativo e, sim, visando facilitar a reeleição do continuísmo.
Então, diante desse quadro nada animador, o melhor é rever algumas leis de Murphy e nos consolar, pois a nossa situação ainda não é das piores.
Vamos nos desligar com essa filosofia simples e cheia de ensinamentos úteis para suportar o que nos está reservado.
“Quando você acha que as coisas começam a melhorar, é porque algo te passou despercebido”.
“Sempre que as coisas parecem fáceis, é porque não entendemos todas as instruções”.
“Os problemas não se criam, nem se resolvem, só se transformam”.
“Quando, depois de anos sem usar, você decide jogar alguma coisa fora, vai precisar dela na semana seguinte”.
“Sempre que você chegar pontualmente a um encontro não haverá ninguém lá para comprovar e, se ao contrário, você se atrasar, todo mundo terá chegado antes de você”.
Para concluir este momento de profunda reflexão sobre os destinos do mundo, seria interessante recordar das “Leis Básicas da Ciência Moderna”.
01. Se mexer, pertence á Biologia.
02. Se feder, pertence à Química.
03. Se não funciona, pertence á Física.
04. Se ninguém entende, é Matemática. 
Bom aproveitamento a todos que tiveram paciência para concluir a leitura deste textículo.

Gabriel Novis Neves
07-02-2014

TARDE DE DOMINGO

Existe coisa mais triste que final de tarde de domingo? Não sei explicar o porquê, mas tenho esse sentimento de melancolia desde a infância.
Tinha de quatro para cinco anos de idade quando mamãe nos levava - eu meus irmãos - para passar as tardes de domingo na casa do vô Alberto. Enquanto isso, meu pai ia trabalhar no Bar do Bugre para cobrir o descanso semanal do tio Tinô, e só retornava para casa quando terminava a retreta na Praça Alencastro, às 21 horas.
Antes do anoitecer, mamãe nos levava de volta para casa. Íamos a pé, e até hoje me recordo da tristeza que se abatia sobre mim ao ver o sol se pondo, apesar da tarde agradável que sempre passávamos na casa de meu avô.
Fazia um rápido lanche de leite com achocolatado e procurava a cama para dormir. Nessa época não frequentava a escola e, ao acordar, tinha o dia todo para brincar no enorme quintal da minha casa.
Minha imaginação nessa hora corria solta. Brincava de tudo que minha mente infantil fabricava: construção de estradas no chão, surgimento de rios, armação de pontes.
Quando a fome chegava, o quintal me abastecia, principalmente  com mangas de várias espécies e suculentas jabuticabas.
Cresci neste ambiente até alcançar a idade para ir para escola primária estadual, onde tudo era novidade para mim, pois ingressei analfabeto e nunca tinha visto uma carteira escolar.
Mas, o final das tardes de domingo, apesar de todas as novidades, continuava  sempre muito melancólico para mim.
Aos 17 anos deixo Cuiabá para continuar meus estudos no Rio de Janeiro. A minha tristeza nesse período aumentou diante da beleza do mar. Senti com maior profundidade esse desconforto olhando o sol mergulhar no fundo do oceano.
Nunca procurei ou encontrei alguém que me desse uma explicação convincente, que julgo ser psicológica, para esse fato.
Sou da geração em que os adultos, quando provocados sobre tais assuntos, com rispidez respondiam: “Pare com essas besteiras menino! Vá estudar!” Crianças nunca eram levadas a sério nas suas angústias existenciais.
Muitos jogam a culpa na pobre da segunda-feira, o dia da semana menos desejado.
Confesso que não participo dessa corrente, pois considero a segunda-feira o meu dia de sorte.
Recentemente, lendo uma estatística de neurociências, tomei conhecimento que muitos passam pelas minhas sensações de humor no final da tarde de domingo.
O tratamento proposto pelos neurocientistas é o da substituição. Nesse período você desvia a sua atenção para qualquer outra atividade, um filme por exemplo.
Para agravar o meu desespero, no sentido de encontrar a cura da doença do final da tarde de domingo, a neurociência explica que escrever não é substituição, pois, quem escreve, escreve por não ser feliz.
Enfim, o inconsciente tem razões que a neurociência ainda não explica.
Continuo achando que os finais das tardes de domingo são muito melancólicos.
Consola-me tomar conhecimento que essa mesma sensação é compartilhada por  muitos, principalmente por aqueles que, assim como eu, atrevem-se a questionar as suas angústias.

Gabriel Novis Neves
20-03-2014

terça-feira, 22 de abril de 2014

Corte de luz

Não adianta esse governo do Lobão esconder o sério problema da falta de energia elétrica no Brasil.
Suas consequências já chegaram ao pequeno consumidor, causando-lhe inúmeros prejuízos e aborrecimentos.
Os cortes de energia elétrica são diários e repetidos várias vezes, atingindo todo o território nacional.
São Paulo, a maior cidade da América Latina, vive às escuras, e esta quase tricentenária cidade de Cuiabá sofre vários cortes de luz ao dia.
Tempo e trabalho são perdidos para aumentar a autoestima deste brioso povo que assiste impávido a destruição da nossa Petrobrás.
A sensação que temos é que somos roubados de todos os lados pelo governo dos grandes escândalos.
Nem marketing político, nem ampla base de sustentação política no Congresso Nacional, conseguem resolver nossos problemas estruturais, e sim, investimentos.
Coincidência ou não, tirando a revolta generalizada da população contra a corrupção e impunidade, os dois setores mais críticos, Energia e Petrobrás, durante os últimos doze anos estiveram sob o comando de uma eficiente técnica, hoje candidata à reeleição para à Presidência da República.
Como tudo está certo, teremos no poder a continuidade do grupo de extermínio das nossas Instituições por mais quatro anos.
Com o apoio dos banqueiros, das grandes empreiteiras e da turma endinheirada do agronegócio, nada é impossível neste país onde ninguém sabe nada de nada.
Enquanto isso, estamos construindo uma nação do terceiro mundo, onde nossos grandes parceiros são países atrasados da América latina, Caribe, África e ditaduras sanguinolentas de países em guerra no Oriente Médio.
Nosso mais recente parceiro é a parte da Ucrânia que não participou do plebiscito.
Que país é este da irresponsabilidade social, da mentira e impunidade?
E salve a Copa do Mundo na terra dos palhaços.

Gabriel Novis Neves
21-03-2014

TREINAMENTO

A aviação provoca fascínio entre as pessoas, especialmente nas crianças. Desde cedo elas recebem como presentes pequenos aviões, cada dia mais sofisticados pela indústria de brinquedos.
Toda criança pensou um dia em ser aviador.
Sempre achei linda a profissão de piloto. Em poder voar, penetrar nas nuvens e ver a terra sem as suas misérias.
E o medo como  fica? Histórias contadas por aviadores só são superadas pelas dos pescadores, pois estes são imbatíveis no campo da imaginação humana.
Tenho o privilégio de morar em um edifício no mais alto dos andares, onde vejo o campo de futebol da instituição militar que serve de pouso a helicópteros, que são aquelas pequenas e exóticas caixas de material mais pesado que o ar, com hélices na sua cabeça e parte traseira.
Pela falta de um heliponto, local para pouso e saída de helicópteros, sobem e descem na vertical no campo de futebol e se mantém no ar com hélices horizontais.
Não possuem rodas, e sim, pés de barra de ferro.
São barulhentos, e quando atingem certa altura vertical, produzem lindas manobras em direção ao seu destino.
Não tendo asas, e sendo semelhantes a uma caixa voadora, não são chamados de avião.
Tem uma trinca dessas joias hospedadas em frente ao meu escritório. Fazem inúmeras manobras, sempre juntos na saída e na chegada, dia e noite.
Soube que pertencem à Força Nacional de Segurança e que estão em treinamento para prevenção de atos terroristas durante os jogos da Copa.
Temos a segunda maior faixa de fronteira de estados brasileiros com vizinhos estrangeiros.
A nossa, por acaso, é de alto risco para a segurança nacional, pois funciona como um eficiente corredor de exportação de drogas ilícitas que, chegando facilmente no Brasil, é exportada para o mundo.
Essas varreduras preventivas na região servem também para combater o crime organizado que comanda essa imensa região.
Enquanto isso, eu fico me deleitando com a beleza da caravana dos helicópteros voando em fila, lembrando pássaros do nosso pantanal.
Que terminem os quatro jogos do torneio, mas que permaneçam esses pequenos instrumentos da paz.

Gabriel Novis Neves
22-03-2014

Os olhos da mente

Existem referências constantes que procura vincular os olhos à janela da alma.
Na verdade, o grande olhar que a todos fascina, é o olhar da mente que nos posiciona, verdadeiramente, em relação ao mundo.
O exercício do múltiplo olhar seria um passo na evolução da humanidade.
 “Olhar” nem sempre significa “Ver”. As nuances entre os dois são as responsáveis pelas enormes diferenciações entre os seres humanos.
Não raro, nos vemos olhando determinadas situações, mas, na verdade, estamos nos recusando a ver a totalidade do que está acontecendo, despidos de falsas vaidades.
Isso é muito comum na classe política nos dias atuais, que parece  de olhos vendados com relação ao momento crítico pelo qual passa o país, despencando, a passos rápidos, para uma deterioração de todos os seus sistemas, principalmente os de segurança.
O que vemos são as autoridades que detêm o poder, em todos os seus setores, absolutamente despreocupadas com o panorama caótico do país, voltadas apenas que estão para as paisagens que terminam nos seus próprios umbigos.
Já há muito se foram os grandes estadistas cujos olhos da mente ultrapassavam, e muito, os olhos da mesquinharia e da política pequena.
No âmbito pessoal, nos pegamos inúmeras vezes incapazes de ver o que nos rodeia, causa maior da distorção de tantas realidades que nos afligem.
Os nossos mecanismos de defesa costumam nos enganar para que nos mantenhamos  em aparentes zonas de conforto.
Dependendo das nossas disponibilidades culturais e, principalmente, financeiras, com frequência somos obrigados a buscar apoio em terapias diversas, sempre com a finalidade de metabolizar a realidade que nos cerca, e não, a que distorcemos pelo nosso olhar avesso ao sofrimento provocado pela verdade.
Um bom exercício seria se nos acostumássemos sempre a um segundo olhar sobre tudo, esse sim, da mente.
Dessa maneira, estaríamos neutralizando diversos vilões que nos perseguem, tais como: preconceitos, falsos moralismos e, principalmente, comportamentos hipócritas.

Gabriel Novis Neves
21-03-2014

O PRECARIADO

Acaba de surgir no mundo uma nova classe trabalhadora – a do precariado.
Como o nome sugere, é um mercado, geralmente de jovens, que desfrutam apenas de um trabalho precário, sem as leis trabalhistas que configuram a estabilidade de um emprego.
Cresce no mundo o número de pessoas que vem se afastando dos mercados de trabalho  na profissão  em que foram formados.
A crise mundial de desemprego, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, vem obrigando esses jovens a aceitarem trabalhos esporádicos e temporários, menos remunerados e, geralmente, distantes de suas ambições.
Isso também vem ocorrendo no Brasil, numa proporção bem menor, já que as nossas taxas de desemprego também são bem inferiores às americanas e europeias.
Como era de se esperar, o que se tem observado é toda uma geração desencantada e apática, numa época da vida em que tudo costuma vir coberto de otimismo.
Isso já é uma constatação mundial.
Além disso, toda uma programação futura de vida é descartada, surgindo assim a filosofia imediatista do viver o aqui e o agora, isenta de planos em longo prazo, meta das gerações que nos antecederam.
Num passado recente vivíamos sempre em função do acúmulo de bens, do sonho da casa própria, da poupança familiar, da aposentadoria segura, enfim, do amanhã tranquilo em termos econômicos.
Profissões extintas, ou em extinção, já nos assustam, como por exemplo: taquígrafos, datilógrafos, alfaiates, costureiras, chapeleiros, sapateiro. Existem muitas outras que nem mais são cogitadas.
Na medicina, robôs cirúrgicos já vêm substituindo  técnicas de cirurgia tradicional. Os médicos cada vez mais distantes emocionalmente de seus pacientes, já vêm substituindo suas longas anamnese por baterias de exames  tecnológicos cada vez mais sofisticados.
Chegarão as máquinas a nos substituírem em todos os níveis?
Que mundo nos espera?
Enquanto isso... haja precariado.

Gabriel Novis Neves
13-03-2014

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Linha do horizonte

Quando criança, na minha cidadezinha um dos cenários que mais me encantava e estimulava à fantasia, era a falsa ilusão do encontro do céu com a terra. Ficava horas olhando aquela beleza e, pensando aquilo que crianças pensam.
Fiz um juramento secreto que quando crescesse, iria caminhar até o encontro desejado da terra com o céu.
Entraria com facilidade na casa de São Pedro e conversaria com anjos, santos e arcanjos. Talvez pudesse encontrar com Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo.
Uma certeza tinha: jamais encontraria no céu, com o demônio.
Nessa época não tinha ainda entrado na escola pública formal. A minha educação era caseira.
Continuava observando, encantado com o que via e interpretava. Aprendi o que representava esse cenário, na escola. Fiquei até sabendo que possuía um nome e era uma ilusão ótica produzida pela distância. Seu nome me decepcionou: linha do horizonte.
Ensinou a escola que é uma linha imaginária que todos veem e cada qual a interpreta motivado pelos seus sentimentos. Apenas, era o máximo da distância da capacidade da visão humana em captar imagens.
O pior, quanto mais você caminha em sua direção ela mais se distancia. Nesse momento me arrependi de ter entrado para a escola, centro destruidor de sonhos.
Nenhuma outra explicação além dessa; é uma linha imaginária e só.
Anos depois, lendo" utopia" escrita pelo filósofo uruguaio Galeano, ele dizia que utopia era como a linha do horizonte. É uma beleza e tão difícil de encontra-la, porém, há necessidade de sermos utópicos para conquistas até então inimagináveis para a nossa população.
Não é coisa de sonhadores, ingênuos, delirantes, mas de pensadores em criarem de fatos incompreendidos da natureza, soluções para tantos problemas nossos.
Os utópicos são vistos com desdém pelos pragmáticos e objetivos do ter.
É um misto de visionário, poeta no sentido pejorativo e sonhador, provavelmente morador no mundo da lua.
Pobres rapazes não sabem, que sem o sonho não há vida saudável.
São os utópicos que transformam sonhos em realidade.
O mundo precisa de mais utópicos e menos baderneiros.
Enfim, a linha do horizonte e a utopia servem para nos fazer caminhar descobrindo e distribuindo os nossos achados.
Caminhar é preciso.

Gabriel Novis Neves
25-02-2014

DISCUTIR A RELAÇÃO

Mais conhecida como “DR”. É o terror dos homens e o sonho de quase toda mulher.
Nos dias atuais, em que a mulher já se mostra bem menos reprimida que outrora, é como se ela precisasse  de seu parceiro uma intimidade  bem maior que aquela somente física.
Os homens, ao contrário, mais lineares e menos falantes, condicionados pela cultura machista, apenas começam a se habituar ao convívio com essa nova mulher, mais exigente nas suas demandas. Chegando sempre despreparados, temerosos, são surpreendidos por parceiras que já tem pronto todo um discurso muito bem preparado e fartamente discutido anteriormente com amigas.
Dessa defasagem surgem, às vezes, situações desconfortáveis para ambos.
A preparação do homem para essa nova companheira cônscia de  sua posição na sociedade moderna tem sido lenta e dolorosa.
Imagino, porém, que só assim poderão surgir os verdadeiros encontros entre os sexos, já que as gerações passadas estavam habituadas a conviver num clima de muita  hipocrisia e pouca intimidade. Isso acabava contaminando a prole, que era criada como se tudo à volta fosse um mundo de sonhos, totalmente dissociado da realidade  dos sentimentos que emanavam daquele clã.
Com a percepção da distância entre os pais, esses filhos cresciam sem que ninguém  se permitisse conhecimento mútuo e, portanto, num clima de pouco amor e muito falso respeito. Isso foi o que norteou a organização familiar durante muitos séculos.
Uma relação praticamente de amo e senhor, que transformava a prole em simples herdeiros.
No mundo moderno a “DR” veio trazer  uma tentativa de um maior conhecimento de quem nos cerca, ainda que algumas vezes com consequências que exigem  a saída de uma zona de conforto, aparentemente boa.
As pessoas são estimuladas a discutir os seus desencontros, as suas fraquezas, os seus desencantos, tudo visando uma relação mais verdadeira de todas as partes.
Com a fragilidade da instituição  casamento difícil de ser administrada era imperioso que se tentassem novas fórmulas para uma convivência mais prazerosa e menos formal, principalmente para a mulher, até então omissa como figura.
As habilidades da chamada “rainha do lar” já não se mostram mais necessárias nesse mundo de alta tecnologia, onde certamente até os empregados domésticos já estão sendo substituídos por robôs. A atual rainha do lar tem uma jornada de trabalho inserida no mercado às vezes até maior que o homem, além das atividades caseiras.
Finalmente, os machos reprodutores começam a se preocupar com as fêmeas companheiras, ansiosas por trocas afetivas de melhor qualidade.

Gabriel Novis Neves
11-03-2014