No
final dos anos quarenta e início dos cinquenta - antes do advento da televisão
- existia um programa de rádio de audiência nacional chamado “Nada além de dois
minutos”.
Era
levado ao ar em horário nobre aos domingos à noite.
Produzido
e apresentado pelo médico Dr. Paulo Roberto, direto, do auditório da Rádio
Nacional na Praça Mauá, no edifício do jornal “A Noite”. Ele era um médico
muito conhecido no Rio de Janeiro.
O
programa tinha cunho educativo e social. O apresentador procurava chamar a
atenção das autoridades para os problemas das pequenas cidades do nosso
interior, ainda pertencentes a um Brasil Rural e abandonado.
Quando
criança, aqui em Cuiabá, enquanto esperava meu pai chegar do bar, não perdia um
programa. Escutava a todos, com muita atenção.
Aprendi
muitas coisas com o curso à distância do “Nada além de dois minutos”.
O
nosso vizinho e amigo da Rua do Campo, “seo” Mário Vidal, com a criação do
município de Alto Paraguai, antigo garimpo conhecido com o nome de “Gatinho”,
foi eleito o seu primeiro prefeito.
Assim
que assumiu o cargo foi à antiga capital federal, que ficava na ex-Cidade
Maravilhosa, em busca de recursos financeiros.
Como
chegou domingo, para iniciar cedo a sua peregrinação aos ministérios, telefonou
à tarde para o seu filho José Vidal, que tinha um quarto na pensão onde eu
morava, avisando da sua chegada e convidando-o para o jantar, no também simples
local onde estava hospedado.
Zéca
conhecia pouco a cidade e pediu que eu o acompanhasse. O trajeto foi feito por
bonde, de acordo com o costume da época.
Para
nossa surpresa, o homenzarrão disse que precisava ir à Rádio Nacional pedir o
apoio do famoso apresentador do “Nada além de dois minutos” para a situação
caótica do recém-criado município do qual era prefeito.
Claro
que aceitamos com alegria o convite e, em poucos minutos, estávamos no camarim
do doutor.
Uma
lista previamente datilografada das necessidades lhe foi entregue, com o
clássico pedido: “ajude o Brasil Rural doutor, tão esquecido e abandonado por
nossas autoridades”.
Gentilmente
ele prometeu encaminhar as reivindicações aos órgãos competentes e essas
prioridades seriam assuntos do seu programa. Foi assim que o Brasil conheceu o
município de Alto Paraguai.
Toda
essa introdução se fez necessária para demonstrar a importância de dois minutos
no rádio e, agora também, na televisão.
Nas
próximas eleições, que estão programadas para depois da Copa, os chamados
partidos políticos estão preocupados em formar alianças com outros partidos
visando os minutos da mídia a que têm direito. Tanto mais minutos, mais
importantes para o arco de alianças, que beneficiará o candidato da agremiação.
Nesse
momento, ideologia, ética, programa de governo, antecedentes dos grupos, não
têm nenhum valor.
O
importante são os senhores minutos. Aqui no nosso Estado as alianças formadas
parecem o “Samba do Crioulo Doido”, do inesquecível Stanislaw Ponte Preta, e
prato predileto para os humoristas.
O
ícone do PSDB aqui é um falecido deputado, prefeito de Cuiabá (2 vezes) e
governador do Estado (2 vezes).
Pois
bem, o seu espólio político de dois minutos foi “cedido” ao candidato que, na
Procuradoria Geral da República em Mato Grosso, mandou invadir a residência e
escritório político do líder prestes a falecer.
Dá
para entender?
Esses
dois minutos precisam ser explicados por seus negociadores para acabar com os
comentários das ruas de Cuiabá.
Gabriel
Novis Neves
03-03-2014
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