terça-feira, 15 de abril de 2014

2 MINUTOS

No final dos anos quarenta e início dos cinquenta - antes do advento da televisão - existia um programa de rádio de audiência nacional chamado “Nada além de dois minutos”.
Era levado ao ar em horário nobre aos domingos à noite.
Produzido e apresentado pelo médico Dr. Paulo Roberto, direto, do auditório da Rádio Nacional na Praça Mauá, no edifício do jornal “A Noite”. Ele era um médico muito conhecido no Rio de Janeiro.
O programa tinha cunho educativo e social. O apresentador procurava chamar a atenção das autoridades para os problemas das pequenas cidades do nosso interior, ainda pertencentes a um Brasil Rural e abandonado.
Quando criança, aqui em Cuiabá, enquanto esperava meu pai chegar do bar, não perdia um programa. Escutava a todos, com muita atenção.
Aprendi muitas coisas com o curso à distância do “Nada além de dois minutos”.
O nosso vizinho e amigo da Rua do Campo, “seo” Mário Vidal, com a criação do município de Alto Paraguai, antigo garimpo conhecido com o nome de “Gatinho”, foi eleito o seu primeiro prefeito.
Assim que assumiu o cargo foi à antiga capital federal, que ficava na ex-Cidade Maravilhosa, em busca de recursos financeiros.
Como chegou domingo, para iniciar cedo a sua peregrinação aos ministérios, telefonou à tarde para o seu filho José Vidal, que tinha um quarto na pensão onde eu morava, avisando da sua chegada e convidando-o para o jantar, no também simples local onde estava hospedado.
Zéca conhecia pouco a cidade e pediu que eu o acompanhasse. O trajeto foi feito por bonde, de acordo com o costume da época.
Para nossa surpresa, o homenzarrão disse que precisava ir à Rádio Nacional pedir o apoio do famoso apresentador do “Nada além de dois minutos” para a situação caótica do recém-criado município do qual era prefeito.
Claro que aceitamos com alegria o convite e, em poucos minutos, estávamos no camarim do doutor.
Uma lista previamente datilografada das necessidades lhe foi entregue, com o clássico pedido: “ajude o Brasil Rural doutor, tão esquecido e abandonado por nossas autoridades”.
Gentilmente ele prometeu encaminhar as reivindicações aos órgãos competentes e essas prioridades seriam assuntos do seu programa. Foi assim que o Brasil conheceu o município de Alto Paraguai.
Toda essa introdução se fez necessária para demonstrar a importância de dois minutos no rádio e, agora também, na televisão.
Nas próximas eleições, que estão programadas para depois da Copa, os chamados partidos políticos estão preocupados em formar alianças com outros partidos visando os minutos da mídia a que têm direito. Tanto mais minutos, mais importantes para o arco de alianças, que beneficiará o candidato da agremiação.
Nesse momento, ideologia, ética, programa de governo, antecedentes dos grupos, não têm nenhum valor.
O importante são os senhores minutos. Aqui no nosso Estado as alianças formadas parecem o “Samba do Crioulo Doido”, do inesquecível Stanislaw Ponte Preta, e prato predileto para os humoristas.
O ícone do PSDB aqui é um falecido deputado, prefeito de Cuiabá (2 vezes) e governador do Estado (2 vezes).
Pois bem, o seu espólio político de dois minutos foi “cedido” ao candidato que, na Procuradoria Geral da República em Mato Grosso, mandou invadir a residência e escritório político do líder prestes a falecer.
Dá para entender?
Esses dois minutos precisam ser explicados por seus negociadores para acabar com os comentários das ruas de Cuiabá.

Gabriel Novis Neves
03-03-2014

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