sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Pós-carnaval


Há uma crescente preocupação da população brasileira com o que poderá acontecer no próximo mês, produto de anunciados movimentos sociais reivindicatórios que ocuparão as ruas substituindo as fantasias de Momo.
Torço para que o serviço de meteorologia política esteja errado.
Jornalistas, cientistas sociais, professores, empresários, políticos e órgãos de classe diariamente registram nas mídias suas opiniões desfavoráveis ao momento atual.
O Brasil parou envolvido pelo estrondoso escândalo do petrolão e outros de quase igual porte, afugentando investidores internacionais e nacionais, freando nossa economia e, por tabela, o crescimento.
Seria cansativo repetir que a inflação voltou, os salários da maioria da nossa gente estão achatados, nossa moeda desvalorizou e importamos mais que exportamos.
Como dizia Aristóteles, uma democracia degenerada nos leva a um governo demagógico. Este sistema é uma forma de atuação política com o objetivo de manipular ou agradar a massa popular, incluindo promessas que dificilmente serão cumpridas.
A demagogia visa apenas à conquista do poder político ou outras vantagens correlacionadas.
Na verdade é uma estratégia de condução político-ideológico muito apreciada em nosso país.
Argumentos apelativos, emocionais ou irracionais, são utilizados em troca de racionalidade, tudo para proveito próprio.
A demagogia manipula a maioria pelo uso de aparentes provas  de senso comum mesclados com separações enganosas. Esta prática, que remonta à antiga Grécia, não tinha conotação negativa a princípio.
Atualmente a demagogia é interpretada como ofensa de caráter pessoal aos seus seguidores, embora seja uma característica do político ocidental.
Aristóteles sempre chamou de democracia o que denominavam de demagogia, pois tinha para si a profunda corrupção do governo popular no tempo que escreveu.
Atolados em um governo que se diz popular, temos tudo para, infelizmente, acreditar nas previsões feitas para o pós-carnaval.
Reza fez chover no Rio de Janeiro.
Talvez pelas orações consigamos sair desse mato sem cachorro em que nos metemos.

Gabriel Novis Neves
18-02-2015

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

FILME ANTIGO


Há anos assistimos cenas policiais de prisões de marginais das leis muito semelhantes às atuais, porém, com algumas diferenças.
Antigamente essas operações policiais produziam uma comoção na cidade com seus “heróis” se autoproclamando como únicos defensores intransigentes da ética e da moral, pensando em benefícios próprios em um breve futuro.
Atualmente as cinematográficas prisões de alguns não mexem com o emocional nem com a autoestima das pessoas, pois todas acreditam na impunidade, hoje marca nacional.
Outro fato importante era que todo o mal ficava centrado oficialmente em apenas um cidadão, na época paparicado por políticos, autoridades e grande parte do café society tupiniquim pela grandiosidade das suas generosidades.
No caso em discussão, fica explícito a promiscuidade entre corruptores (agentes públicos) e corruptos (os executivos da malandragem).
A população, descrente pelas duras penas jurídicas somente concedidas aos pobres, a tudo assiste indiferente.
Não existe mais discrição para atos ilícitos, pois a rede de beneficiários é extensa e com ramificações em todos os segmentos do poder.
Quando a mais poderosa rede de televisão do Brasil anuncia que vai denunciar casos crônicos de corrupção, o poder constituído resolve tomar alguma providência para amortecer o impacto da notícia no cenário nacional. 
O pagador de impostos, o maior prejudicado pelos atos de vandalismo ao erário público, continua acreditando na impunidade dos grandes.
Esse antigo mal, que atingiu a maior empresa brasileira de petróleo, espalhou os seus métodos de conquista do poder pelo dinheiro sujo da corrupção a todos os Estados.
As providências tomadas contra essas indignidades são como fogos de artifício na passagem do ano, efêmeras.
Mesmo sob investigação, o roubo continua institucionalizado em todos os segmentos da nossa sociedade.
Enquanto isso, nossos presídios continuam superlotados, funcionando em condições sub-humanas e encarcerando apenas pobres, negros e ladrões de galinha.
Queremos assistir filmes onde no final o bem vença o mal, e não, onde os "heróis" dos grandes assaltos às nossas instituições são libertados.
Com essa política de governo vigente seremos sempre um país do futuro.
Cadeia para corruptores e corruptos, ou permaneceremos para sempre no rol das nações mais atrasadas do mundo!
Filme novo, minha gente!

Gabriel Novis Neves
24-02-2015

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Ditadura do corpo


O grande pintor belga Rubens mal poderia imaginar em 1639, que uma de suas maiores obras, “As Três Graças”, quatro séculos depois, viria a ser criticada pela imperfeição das formas.
Os três belos nus eram a representação das virtudes, como a Beleza, a Caridade e o Amor.
Na mitologia grega “as Três Graças” representavam as deusas da Beleza, da Sedução, da Fertilidade, da Natureza e da Dança.
Nos dias atuais - em que as pessoas não mais se permitem ser o que são - seus nus, venerado pela antiguidade, são  a visão que aterroriza as mulheres, a da celulite.
Outros pintores da época fizeram quadros semelhantes, sempre focados na emoção que eles causavam pela simples contemplação.
Pessoas absolutamente individualizadas exibiam,  despreocupadas, suas formas, quer nas alcovas, quer nos lugares públicos, totalmente livres de qualquer patrulhamento.
Com o aparecimento da sociedade de consumo, logo a estética foi vista como um grande filão para altos lucros.
Práticas paradoxais de comportamento foram rapidamente absorvidas pela sociedade e a humanidade foi se transformando num grande objeto a ser consumido.
Primeiro passo seria estabelecer padrões estéticos únicos, uniformizando a coletividade.
Surgiu assim a proliferação intensa das academias, prometendo a todos, em todas as idades, corpos esculturais, ainda que, em muitas vezes, em detrimento da capacidade articular  de cada um.
Lucros astronômicos, levando consigo a indústria dos acessórios esportivos.
Simultaneamente, aumento do número de programas televisivos de culinária, incentivando  o gosto por alimentação requintada  e a frequência a restaurantes grifados dirigidos por grandes chefes.
Exacerba-se, não mais a alimentação saudável, mas sim o requinte no comer e no beber.
Por outro lado, a obesidade apresenta níveis crescentes em todo mundo, principalmente nas classes menos abastadas que, por falta de tempo e dinheiro, fazem uso mais frequente da chamada “fast food”.
Festas são o que há de melhor para a constatação desse exército de pessoas - se mulheres, com cabelos longos lisos, cílios postiços, seios siliconados e corpos anoréxicos vestidos cada vez mais sumariamente.
A singularidade não mais existe nesse cardápio.
Pelo contrário, o ser diferente passa a ser estigmatizado.
Quem não se submete ao mercado é descriminado e vítima de preconceitos. Isso inclusive se reflete nas oportunidades de trabalho e nos meios sociais que rejeitam os que não pertencem aos padrões pré-estabelecidos.
A velhice tonou-se inaceitável, já que o mercado dirigido a essa faixa percebeu que esse nicho só faz aumentar, tendo em vista os avanços tecnológicos.
A ânsia de nos tornarmos clones de nós mesmos através de plásticas e tratamentos dermatológicos inovadores, tem sido a parte melancólica dessa nova cultura que vem transformando velhos, e outros nem tanto, em deformados pela obsessão da juventude eterna.
O fato é que a humanidade foi se anestesiando com o tempo no tocante a valores, permanecendo apenas o que dela pode ser contabilizado em termos de lucro.
As leis do capitalismo selvagem não vieram para brincar, e fabricar mentes programadas é uma das metas a ser alcançada.
Técnicas subliminares de propaganda lavam em pouco tempo mentes até razoavelmente esclarecidas.
Esses são os nossos tempos.

Gabriel Novis Neves
22-02-2015

AS OBRAS


O governo estadual passado, motivado pelos jogos da Copa em Cuiabá, extrapolou todos os limites de segurança orçamentária para em, apenas quatro anos, tentar mudar a cara da nossa quase tricentenária capital.
Obras arrojadas foram colocadas em execução, muitas delas além das exigidas pela FIFA e não condizentes com o orçamento do Estado.
Os poucos compromissos do governo federal com recursos, como os destinados à reforma e modernização do Aeroporto Marechal Rondon e às obras de mobilidade urbana, não foram cumpridos.
A tão falada parceria com a iniciativa privada objetivando a construção da Arena Pantanal não saiu do discurso, onerando os cofres públicos em torno de seiscentos milhões de reais.
É bom frisar que essa obra ainda não foi terminada por falta de pagamento do Estado.
Durante os quatro jogos da Copa foram realizados esforços plásticos provisórios que encantaram a todos: público e imprensa.
O governo do Estado, protegido pelas leis especiais estaduais e federais, foi fundo aos bancos privados e oficiais atrás de empréstimos, complicando ainda mais o futuro do desenvolvimento do Estado, tudo isso “dentro da legalidade” que a Copa permitia.
Afinal, era o nome e o prestígio do Brasil que estavam em jogo, repetindo a situação da África do Sul que ficou em extrema penúria após a Copa tendo de demolir milionárias Arenas para evitar gastos maiores.
Até hoje muitas obras não foram terminadas por atrasos do pagamento das medições em serviços realizados, cofres vazios, além da falação dos preços das mesmas e da qualidade dos projetos feitos às pressas.
A verdade é que a minha cidadezinha está irreconhecível, com aspecto de metrópole.
A grande Cuiabá ficará maior e melhor após a conclusão das obras – o que constatei em manhã calma de clima ameno durante três horas de andaço de carro.
Como a política atual é de conclusão de obras inacabadas, está nisso incluído o esqueleto do hospital do CPA iniciado em 1984, batizado agora como Centro Médico Materno-Infantil.
Terá duzentos leitos, serviço de apoio, ambulatórios, e isso já consegue me deixar animado com essa nova visão de concluir as chamadas obras inacabadas da Copa 7X1.
Essa decisão política representa quebra de paradigmas, onde governo novo não reconhece dívidas passadas e nem conclui obras herdadas dos seus antecessores, salvo raríssimas exceções.
O término dessas obras proporcionará um choque de desenvolvimento e um grande presente para Cuiabá.
O mérito das melhorias urbanas ficará com dupla paternidade e a nossa população jamais se esquecerá dos seus verdadeiros benfeitores.

Gabriel Novis Neves
25-01-2015

Rico pobre


Personalidade anal retentiva costuma ser o que há de mais repugnante na dita espécie humana.
Segundo Freud, o pai da psicanálise, conflitos importantes ocorridos durante a primeira infância seriam os grandes responsáveis pela formação desse tipo de personalidade, conhecida popularmente como avarenta.
É muito frequente encontrarmos pessoas superabastadas que vivem e se comportam muito abaixo do seu poder aquisitivo, ensimesmados numa vida precária e sem brilho.
Por desconhecer a capacidade de doação, oferecem a amigos e parentes uma vida de privações, sempre visando o aumento de sua riqueza.
Enclausurados na sua miséria mental os avaros afastam gradativamente todos os circunstantes, que apenas se beneficiarão quando a lei da natureza decidir pelo seu desaparecimento.
Impossibilitados, em vida, de qualquer tipo de grandeza, encaramujam-se na sua fortuna, incapazes de propiciar qualquer tipo de alegria e conforto ao outro, e principalmente a si mesmo.
Acumuladores que são, passam a vida adorando o “deus Dinheiro”, e não as infindas benesses que esse dinheiro pode comprar.
Esses pobres de alma, assim como os psicopatas, são despidos de sentimento de culpa e não percebem o desencanto que provocam à sua volta.
Muito pelo contrário, costumam se afogar nas suas próprias mesquinharias, daí não saindo para desfrutar da alegria da doação, frequentemente muito maior para quem a faz do que para quem a recebe.
Encontramos esse tipo de gente por toda parte que, de tão miseráveis no seu modo de viver, se boicotam até em pequenos mimos, tais como: viagens confortáveis, restaurantes de boa qualidade, boas bebidas, casas aconchegantes, muitos amigos com os quais possam desfrutar a sua qualidade de vida e mais um sem número de coisas que um bom poder aquisitivo permite.
Optam, entretanto, para serem os defuntos mais ricos e menos amados do cemitério e, por isso mesmo, muito comemorado em sua viagem final rumo ao nada...
Felizmente, em contrapartida, existem os pobres ricos que, pela sua grandeza, generosidade e sabedoria, fazem da vida uma festa, usufruindo da verdadeira dádiva do existir.

Gabriel Novis Neves
20-02-2015

CULTURA


Certa ocasião, uma jovem jornalista,  impressionada com a conquista da Universidade Federal de Mato Grasso (UFMT) ao implantar no curto espaço de dez anos um sólido programa cultural, me provocou para que definisse o que é cultura.
Museu Rondon, Museu de Arte e Cultura Popular, Atelier Livre, Teatro, Biblioteca, Editora, Gráfica, TV, Coral, Orquestra Sinfônica, Escola de Samba, Núcleo de Documentação Histórica e Informação Regional, Zoológico, foram atividades culturais materializadas por um grupo de jovens sonhadores.
Respondi a pergunta com a definição de um pensador inglês: “Cultura é grosseiramente qualquer coisa que nós fazemos e os macacos não fazem”.
Desde que nascemos, vivemos a cultura da nossa casa, do ambiente em que somos educados, adquirindo e desenvolvendo valores que nos acompanharão pelo resto da nossa vida.
Cultura também é vida.
O mais importante é entendê-la nas suas mais diversas formas.
Esperamos da cultura sempre mais benefícios para a qualidade da nossa vida e esquecemos o quanto ela é importante no processo de formação dos cidadãos.
Relacionar-se com outras culturas faz bem à nossa saúde emocional e orgânica.
A curiosidade, que é um bem cultural, jamais poderá nos abandonar. Quando isso acontecer, segundo Paulo Freire, chegaremos à velhice sem a nossa identidade.
O mundo da cultura ainda é pouco explorado por nós. Não temos intimidade com esse bem que deveria ser de todos.
A cultura do belo, raramente cultivada, está presente quando nos encantamos com a natureza e seus habitantes pássaros, flores, rios, cachoeiras, sol e lua.
Entretanto, ficamos presas fáceis do consumismo, da violência, da grosseria, dos maus tratos e principalmente da burrice.
Felizes os povos que preservam a sua cultura!

Gabriel Novis Neves
16-02-2015

Atração


Acredito na “lei da atração”, aquela que incorpora em determinadas pessoas sofrimentos evitáveis.
Na prática da medicina verificamos que essa patologia é de difícil tratamento, por apresentar sintomas menos explícitos.
Os orientais sabem muito bem distinguir seus avanços tecnológicos, científicos, educacionais, na saúde e até na conquista de prêmios Nobel, dos desconfortos emocionais.
Nos países de baixa escolaridade, quando o médico, após ouvir atentamente as queixas do seu paciente e examiná-lo clinicamente, disser que ele está “incorporando sentimentos desnecessários” na sua vida, aumentando uma dor banal, por exemplo, está arriscado a cair em descrédito profissional.
Exercer eticamente a medicina nessas situações complicou mais ainda com a massificação da Internet e do seu doutor Google.
Os pacientes chegam à consulta exigindo do médico apenas a validação do diagnóstico que acham que fizeram através da internet.
Mal sabem que a medicina não é uma ciência exata e que cada caso médico é um caso diferente.
Confiança no médico e tempo disponível para um bom atendimento são ingredientes importantes para a prevenção da “lei da atração”.
Helen Keller definiu muito bem sobre o que tentei passar neste artigo.
 “Atraímos sobre nós sofrimentos desnecessários quando exageramos a extensão da nossa dor”.
Quantas vezes não utilizamos, inconscientemente, este recurso para fazer uma chantagem emocional ou mesmo para agredir as pessoas que nos são queridas?
Não usemos o desnecessário para o sofrimento inútil! - mesmo se for para tirar certas vantagens.
A vida é tão boa quanto mais vivida na verdade e na simplicidade.
Mas, “às vezes é preciso recolher-se”, Lia Luft.

Gabriel Novis Neves
18-02-2015

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A VOLTA


Neste início de ano, em que procuramos nos afastar do lugar de trabalho para um descondicionamento das árduas tarefas do cotidiano, em geral escolhemos a distância como refúgio.
É uma tentativa de “recarregar as baterias” para enfrentar novos desafios.
A volta para a rotina transmite a alguns seres viventes a estranha sensação de uma batalha perdida.
O sabor é mesmo que o de uma derrota ao lembrar que teremos de trabalhar os primeiros quatro meses do Ano Novo para encher o caixa do governo pagando impostos, taxas e uma enormidade de obrigações.
Essa perspectiva não é condizente com os poucos dias de lazer, transformando o retorno das férias em um imenso pesadelo de compromissos financeiros inadiáveis.
Se a rotina faz mal a nossa saúde física e mental, a volta à realidade às vezes é um desastre.
Como funciona o reflexo condicionado observado pioneiramente pelo russo Pavlov!
Fico a pensar que deixar a rotina, mesmo por alguns dias, não seria uma temeridade, por nos colocar fora da habitual zona de conforto criada por nós.
Mesmo usufruindo dias maravilhosos sob todos os aspectos, a volta é capaz de apagar em segundos essa alegria de um tempo bem vivido.
Volta é regressão e toda regressão é dolorosa emocionalmente.
Tenho dúvidas se esse descanso de longas viagens acrescenta mais mudanças nos nossos hábitos que pequenos deslocamentos pelas cercanias em que moramos.
Férias atuais têm conceitos nem sempre entendidos por muitos.
Conhecer novos destinos, pessoas, culturas, sem a rubrica imposta pela moda é um investimento humano prazeroso e rico em ensinamentos.
Etiquetas estragam qualquer tipo de divertimento, além de neurotizar o planejamento e execução de uma viagem de férias sob a ditadura de horários e programas.
Nesses casos a volta é tediosa, embora seja o melhor momento desse modelo de férias tabeladas.
“Férias é não ter nada que fazer e ter todo o dia para fazer isso”. Robert Orben, humorista, roteirista, editor.

Gabriel Novis Neves
15-02-2015

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Várias idades


Do alto dos meus setenta e nove anos, finalmente, consegui me visualizar tendo tantas idades quanto os meus diferentes momentos de vida.
Depois, lendo sobre o assunto, aprendi que a modernidade não mais valoriza somente a idade cronológica, mas também a emocional, a mental, a sexual e, até, a de estar em boa forma física, dependendo da disponibilidade de cada momento nosso de vida.
Encantei-me com essa descoberta, já que em algumas vezes senti-me pouco a vontade em exteriorizar esses sentimentos eufóricos.
Como o cérebro é a grande caixa de ressonância das nossas emoções, vivenciamos todos os estágios de juventude, maturidade ou senilidade, alternadamente.
Algumas vezes até infantis, para o meu maior deleite.
Claro que quando ainda não temos segurança suficiente para validar esses estágios, procuramos escondê-los, como se pecados fossem.
Jovens somos quando nos sentimos aptos a novos desafios, sejam eles profissionais, literários, musicais ou amorosos.
E somos velhos quando nada mais nos interessa Quando falta o essencial brilho nos olhos e a vida se nos apresenta como um imenso fardo.
Infantis, quando vivemos intensamente a pureza e o deslumbramento das fantasias do dia a dia.
O grande Einstein chegava a dizer que “a imaginação é muito mais importante que o conhecimento”. “O pensamento lógico, leva você de A a B”. “A imaginação leva você a qualquer lugar que você queira”.
Foi estabelecido como regra que adultos deverão sempre ter um pensamento lógico, chamando-se a isso de maturidade. A prática mostra que nem sempre isso é o que nos traz mais felicidade.
Dentro desse raciocínio, orgulho-me das minhas várias idades, não permitindo que as mazelas físicas me impeçam de experimentar novas emoções.
Nesse momento, por exemplo, resolvi aprender a tocar violão, sonho de toda uma vida. Talvez somente agora eu possa ter serenidade e tempo para me dedicar aos meus verdadeiros prazeres.
Essa é uma das grandes descobertas da velhice, a de usar o seu próprio eu em toda a sua plenitude, sem vínculos com o que pensam os outros, sem as vaidades de se tornar o melhor, mas com a disposição absoluta e total para o prazer.
 “Não paramos de nos divertir para ficarmos velhos. Envelhecemos porque paramos de nos divertir”. Anônimo.

Gabriel Novis Neves
23-01-2014

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A BARATA VOADORA


O dia 31 de Julho de 1964 marcou o meu retorno à Cuiabá após 12 anos no Rio de Janeiro.
Fui para a Cidade Maravilhosa levando na minha mala de papelão algumas roupas e muita esperança. Tentaria o difícil vestibular para a Faculdade Nacional de Medicina.
A famosa Medicina da Praia Vermelha, logomarca de excelência no Ensino Médico.
Passei no vestibular, me formei, fiz estágios em hospitais e, quando me senti pronto para o exercício da profissão, retornei à minha cidade.
Mas, não retornei sozinho. Levava comigo duas preciosas bagagens – a minha Regininha, naquela época com vinte anos - e minha filha Mônica, no aconchego do útero materno.
Deixei a mala de papelão no Rio. O passado eu deixei no lugar dele, no passado. O meu presente era composto por sonhos e desafios.
Regininha, minha saudosa mulher, era nobre de nascimento e sentimentos. Era argentina - brasileira. Possuía uma educação sofisticada, requintada, com grande vivência urbana.
Eu sabia que nos primeiros dias em Cuiabá todo cuidado seria necessário para evitar o choque de culturas.
Longe de mim, entretanto, imaginar que esse choque aconteceria na nossa primeira noite em Cuiabá.
Nossa casa era muito modesta. Não tínhamos ar refrigerado e o calor era impiedoso.
Regininha preparou-se para dormir. Deitado na cama eu fiquei observando-a fazer suas orações. Percebi algumas lágrimas silenciosas escorrem pelo seu rosto.
Sugeri que abríssemos as janelas para refrescar o quarto. Ela assim o fez. Depois apagou a luz, me abraçou forte e me beijou.
Considerei-me um vencedor na condução da nossa chegada. Amanhã seria outro dia e outros cuidados estavam planejados para a sua adaptação.
A escuridão tomou conta do nosso quarto em companhia da calma noturna. Notei que a Regininha estava com dificuldade para dormir.
Era mais que natural! Fingi que dormia. Logo o silêncio do quarto foi quebrado com um estranho barulho. Regininha imediatamente sentou-se na cama e acendeu a luz.
Com extremo pavor perguntou-me o que estava acontecendo. Levantei-me da cama para procurar o motivo, mas sabia que era de um inseto.
Muito ansiosa ela ficou aguardando enquanto eu vasculhava o quarto.
Depois de algum tempinho digo que não é nada, apenas uma barata voadora que tinha entrado pela janela.
Assustada, olhos arregalados, choramingando, trêmula, demonstrando muito sofrimento, perguntou-me meio incrédula: “Aqui, barata voa?”.
Com tranquilidade terapêutica respondi que sim. O choro tornou-se incontrolável.
Veio então o diálogo maior da nossa vida!
- Regininha, nós não mexemos nas malas. O avião que nos trouxe do Rio está no aeroporto e vai decolar para o Rio às seis horas da manhã – falei com carinho.
Ela escutou quieta e não disse nada. Perguntei-lhe então se queria voltar. Iria com ela. Neste momento Regininha toma a decisão definitiva:
- Eu fico aqui com você. Vou me acostumar - disse resoluta.
No dia 07 de Setembro nasceu minha filha Mônica. Depois o Ricardo e o Fernando. Três filhos cuiabanos, por decisão dela.
A barata voadora foi a nossa grande recepcionista em Cuiabá, e acho que a grande responsável pela família que formamos em terras cuiabanas.
Isto porque, depois de uma barata voadora, o que mais poderia assustar a minha Regininha?
Hoje a minha corajosa esposa dorme o sono eterno em Cuiabá.
Partiu cedo a minha Regininha!
Mas, com toda certeza, da morada espiritual em se encontra, está velando, protegendo e iluminando os caminhos de seus filhos e netos.
Obrigado, barata voadora!

Gabriel Novis Neves

Descalabro


Constato que o velho ditado “cada povo tem o governo que merece”, é de uma verdade assustadora.
Num aparte absolutamente surreal, um parlamentar recém-reeleito com uma votação expressiva, teve o despudor de agredir de forma cruel, não só uma colega de trabalho, mas toda a população feminina do Brasil.
Seu descalabro foi de tal ordem que, com microfone aberto para todo o país, declarou não estuprar a colega em questão por ela não merecer essa intenção.
Tudo porque a deputada em questão criticava práticas violentas ocorridas durante a ditadura no Brasil.
Além da grosseria inominável, mostrou ainda uma enorme burrice ao descriminalizar uma prática repulsiva.
Até nas piores casas de detenção, estupradores, geralmente, são vistos como monstros e, não raro, lá mesmo são eliminados.
Como pôde um elemento desta categoria ter conseguido a maior votação em um estado como o Rio de Janeiro, antes considerado o mais politizado do país?
Fatos como esse faz com que me sinta envergonhado diante de comportamentos machistas, como se na Idade Média ainda estivéssemos.
Parlamentares não podem confundir o Congresso Nacional com um reles bordel, onde baixezas de toda ordem podem ser proferidas impunemente.
Que as autoridades competentes tomem as medidas necessárias para que pessoas desse nível não continuem constrangendo, não só os seus pares, mas toda a população brasileira.
Se nada for feito, estaremos legitimando a falta de decoro parlamentar, impensável e repugnante em uma democracia séria.
Com a palavra, os senhores parlamentares!

Gabriel Novis Neves
10-02-2015

FÁBRICA AMBULANTE


Até há pouco tempo somente poucos privilegiados tinham acesso às novas tecnologias.
O desenvolvimento desse setor é tão acentuado e rápido, que precisamos estar constantemente nos atualizando.
As conquistas de quarenta anos atrás hoje são peças de museus.
A massificação de novos conhecimentos tecnológicos tornou a nossa vida, até certo ponto, complicada. Surgiu, por exemplo, o analfabeto digital.
Para desmistificar essa nova conquista de vocabulário próprio surgiu no Rio de Janeiro um grupo de jovens engenheiros e desenhistas de projetos industriais que criaram uma fábrica ambulante em cima de um simples triciclo.
Antes de comprar um produto eles oferecem ao interessado as imagens que podem ser fabricadas através de um álbum visual em três dimensões.
Você escolhe aquilo do seu agrado e acompanha a feitura da encomenda, que é realizada na pequena fábrica ambulante.
“Brinquedos” para facilitar a compreensão da matemática, da física, da química e da biologia são os preferidos das crianças do ensino fundamental.
A fábrica percorre praças e pátios escolares, sempre despertando atenção e fazendo crer que a tecnologia não é um bicho tão apavorante.
Esse é o objetivo maior dos autores do projeto - desmistificar a tecnologia.
Seus produtos são verdadeiros “abre cabeças”, acessíveis a todas as classes sociais.
Em uma cabeça aberta é fácil colocar conteúdos úteis à nossa vida.
Temos muito a percorrer, principalmente nesse modelo arcaico de ensino fundamental que ofertamos às nossas crianças.
Bons exemplos existem, mas a burocracia sufoca toda inovação.
Estamos ainda na época de valorizar carimbos e as inutilidades responsáveis pelo nosso futuro.
Precisamos de mentes saudáveis, abertas, comprometidas com o desenvolvimento social deste país.
Este é o melhor caminho para aliviar as desigualdades tão gritantes entre nós.

Gabriel Novis Neves

13-02-2015

Rolou


Muitas vezes saímos de casa para determinada tarefa e somos enriquecidos gratuitamente com valiosos depoimentos espontâneos sobre figuras em grande evidência na sociedade.
Não sei se existe explicação científica para este fato, que não é fofoca, mas, um desabafo de fonte de grande credibilidade.
O mais interessante é que isso acontece com pessoas cujo relacionamento social é o mais distante possível.
Recentemente, fui lisonjeado ao ser escolhido para uma catarse surpresa sobre um assunto que apaixona o país: honestidade.
Ouvi atentamente a longa ladainha reservada e jamais imaginei que a situação fosse tão desmoralizante assim.
Deixei o local do encontro com a certeza que por mais otimista que eu seja não é possível ter esperança em mudanças comportamentais para novos caminhos.
Está tudo dominado pela cegueira de interesses pessoais dos responsáveis pelo destino da nossa nação.
Falta o mínimo de pudor para aqueles que flanam pelos salões agradáveis do poder.
Sinal dos tempos? Nem tanto.
Conheço relíquias de honradez em nosso meio.
A situação de privilégios e farsas é tão assustadora que demoramos a metabolizar confidências que rolam em certas camadas bem informadas da nossa sociedade.
A minoria, com apoio de segmentos estratégicos, detém o poder para usufruir de suas benesses até saciar a fome imensurável com mimos oficiais.
Este artigo parece escrito em linguagem cifrada, no entanto, nasceu inspirado no adágio popular “para bom entendedor meia palavra basta”.
A audiência não programada terminou levando de roldão o sonho das transformações sociais.

Gabriel Novis Neves
21-01-2015

MINORIAS ERÓTICAS


Após séculos de hipocrisia e repressão a humanidade, de um modo geral, conseguiu admitir a diversidade dos gêneros e, portanto, conviver mais tranquilamente com as diferenças.
Graças a uma extenuada exposição nas mídias, especialmente a televisiva, finalmente estão acabando as imagens estereotipadas de homo, bi, transexuais  e gays.
Finalmente uma luz no fim do túnel começa a despontar. Esperamos que ela clareie as mentes mais conservadoras para que possamos eliminar este e outros preconceitos que afligem a humanidade desde tempos imemoriais.
Temos de ter a liberdade de viver conforme nossas crenças. Simples assim. Viver: pura e simplesmente.
Crianças já estão sendo condicionadas a se orgulharem por terem dois pais ou duas mães. Casamentos homoafetivos já são comemorados como em qualquer outro tipo de ritual.
A classe dominante sempre deu vazão aos seus desejos e às suas estereotipias de uma maneira velada, somente acessível aos participantes de seus pequenos reinados.
Os menos abastados, por nada terem a perder, nunca se interessaram em respeitar códigos morais preestabelecidos.
O sofrimento em manter as aparências ficava apenas na classe média, esta sim, dependente da obediência das normas vigentes para sua sobrevivência.
Agora que estão indo para o brejo todas as hipocrisias no que tange à sexualidade, casamentos gays já são comemorados em alto estilo, com a participação da ala mais hipócrita e arcaica da chamada “elite branca”, sempre atraída pelos modismos e possibilidade de novos negócios.
Com a igualdade de códigos, grandes decoradores, grandes costureiros, grandes cabelereiros, grandes promotores de arte, enfim, todos que de alguma forma lidam com beleza, são sempre muito bem vindos ao mundo fútil e recheado de abastados incultos.
Afinal, sociedades de consumo são sempre reservatórios tentadores para a burguesia mercantil.
Metas são sempre grandes negócios que esses eventos costumam trazer.
O que me causa espanto é que em pleno século XXI homofóbicos ainda consigam eleger representantes para a Câmara dos Deputados.
Ainda bem que a grande maioria das pessoas começa a comemorar a convivência natural com as chamadas, até pouco tempo atrás, de “minorias eróticas”.
O erotismo é algo ainda muito pouco estudado e só agora as suas inúmeras manifestações começam a caminhar no campo da ciência.
Que todos esses preconceitos ridículos que afetam as pessoas na sua raça, gênero, idade, cor, gordura, beleza, sejam enterrados para sempre como sinal de mais um passo na cadeia evolutiva que um dia tornará o homem, verdadeiramente “HOMEM”.

Gabriel Novis Neves
19-01-2015

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O ano promete


O ano de 2015 promete grandes emoções ao povo brasileiro.
A crise energética aumentou, a água acabou, a inflação disparou, nossa moeda se desvalorizou, o desemprego na indústria é preocupante e o comércio, em desespero, espera pelo pior.
O poder estabelecido, totalmente atordoado, aumentou sem piedade os inúmeros impostos e taxas, e está a ponto de paralisar o país.
A vergonhosa e interminável crise na nossa maior empresa, a Petrobras, teve parte de seu desfecho esperado há tempos - a renúncia de toda a sua suspeita diretoria. Mas, sem maiores explicações à nação.
Finalmente apareceu no quadro do próprio governo um nome para tentar lidar com tantas incongruências.
Os escândalos não param de pipocar nas mídias, ocupando quase o tempo integral de todos os noticiários.
O governo, com essa primeira indicação, não conseguiu agradar ao mercado financeiro, não impediu a queda de ações e só aumentou o descrédito generalizado.
Sua intenção era apenas blindar o partido que lhe dá sustentação e os seus líderes.
Segundo os cientistas políticos mais eminentes, o cenário desenhado caminha para soluções, se não traumáticas, pelo menos muito preocupantes.
É torcer pra que não se confirme a reprise de antigos filmes sul-americanos de conquista do poder.
A situação nos Estados é um pouco mais complicada.
Os atuais governadores, para aparecerem sempre na mídia, anunciam diariamente demissões de servidores comissionados alegando economia para que possam investir em seus programas sociais.
Entretanto, a verdade é que esses valores pouco representam diante dos enormes juros bancários com os quais terão de arcar, para saldar compromissos assumidos.
As greves anunciadas por melhores salários e condições de trabalho já se espalham, principalmente nas áreas prioritárias, tais como saúde, educação, segurança e transporte.
Apesar de toda essa balbúrdia, as mídias se esforçam para mostrar ao mundo que a nossa alegria carnavalesca é muito maior que qualquer crise político-financeiras que possa ameaçar a confiança no país do futuro que continuamos a ser.
Isso servirá para confundir ainda mais os nossos investidores estrangeiros que preocupadamente acompanham o nosso fiasco gerencial.
Chuvas, e essas de comissões de inquérito, são esperadas como as esperadas águas de março.
A rigor, os prognósticos não são nada favoráveis a curto e médio prazos, conforme os nossos desejos de ver uma nação livre e desenvolvida para as próximas gerações.
A incompetência, a falta de ética e a ausência de compromissos republicanos foram decisivas para esse estado caótico em que nos encontramos.
Respeitando uma lei da cibernética anima-nos saber que “as coisas se organizam no caos”.
O ano promete!

Gabriel Novis Neves
11-02-2015