segunda-feira, 31 de maio de 2010

LINHA DURA

Um coronel, após sete anos como assessor direto do governador, assumiu agora o comando de uma secretaria ultra- estratégica para o desenvolvimento sustentável do estado. Jovem, no posto mais alto da hierarquia da polícia militar, adotou “o estilo linha dura à frente da pasta.” Ele criou uma comissão permanente para apurar a conduta funcional dos servidores.

Esta matéria li nos jornais e fiquei imaginando qual seria a motivação para tal conduta. Por se tratar de um Secretário que conhece o mundo, e fala o inglês, imagino que já viu e conhece o sucesso desse modelo de linha dura, agora implantada na antiga secretaria do passarinho, agora de Meio Ambiente. Nada a ver com os recentes acontecimentos divulgados pela imprensa com relação à compra de caminhões e equipamentos pelo programa “MT 100% Equipado.” Na época desses acontecimentos ele tinha o auxílio de outro colega militar, e não detectaram nenhum ato desabonador com relação à conduta dos servidores, responsáveis pela monstruosa aquisição de milhões de reais.

Fico imaginando o ambiente taciturno na Secretaria do Meio Ambiente ante a linha dura anunciada. Para começar uma Alvorada - uma hora antes das atividades burocráticas. Uso de uniformes, com crachás de identificação - com o grupo sanguíneo e fator Rh. Boinas verdes, coturnos, mochila, cantil, formação militar para adentrar a repartição - depois de passar por uma porta especial para detecção de qualquer material suspeito. Esse trajeto até os seus locais de trabalho é realizado com os servidores cantando hinos militares. Durante o expediente é expressamente proibido sair do seu lugar de trabalho sem um BO fornecendo e justificando todos os detalhes da operação deslocamento. A ida ao banheiro tem que ser comunicada ao superior imediato, para autorização e a designação de um ou uma agente de fiscalização, para acompanhamento.

Como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, a linha dura implantada é só para apurar a conduta funcional dos servidores dos escalões mais baixos. Esta delicada operação que visa proteger o Estado contra assaltos aos cofres públicos coloca sob suspeita todos os servidores da secretaria. Acontece que esses assaltos noticiados diariamente pela televisão, e classificadas como bandalheiras, não passam pelos humildes servidores. Geralmente são acertadas pelos maiorais, longe do local de trabalho. Para que humilhar os pequenos? Os seus salários mal cobrem as suas necessidades básicas, muito menos possuem empresas para fornecer material ou serviços ao estado, e não participam de pregões.

Acho um total descontrole emocional, para não dizer sórdida, esta atitude de fiscalização em cima de servidores dos escalões mais baixos. Enquanto isto os crimes cometidos pelos escalões mais altos do governo são ignorados, ou não fiscalizados.

Chego a acreditar, que “Deus deve amar os homens medíocres. Fez muito deles.”

Gabriel Novis Neves
01/05/2010

domingo, 30 de maio de 2010

Cães bravos

Os andarilhos da cidade verde sabem muito bem dos inúmeros riscos que esta cidade oferece. Antes do nascer do sol os mosquitinhos da dengue ainda estão passeando pela cidade à procura de vítimas para aumentar as estatísticas da doença - totalmente erradicada nos países do primeiro mundo. Bala perdida, ou direcionada de brincadeira em cima dos transeuntes só para treinamento básico. Assaltos armados, ou não, para roubar tênis, bonés, cordões de ouro e dinheiro. Seqüestro relâmpago para honrar uma dívida com o fornecedor de drogas. Atropelamentos na calçada por um carro desgovernado – geralmente o motorista é menor ou está bêbado. Todos esses fatos são desprezíveis, mas acontecem.

Entretanto, existe outro grande perigo que ronda o andarilho atualmente: são os cães bravos. Eles são uma verdadeira ameaça para o transeunte, que volta e meia se vê frente a várias situações: a primeira é quando o dono leva o seu cão para a rua para que ele possa fazer as suas necessidades fisiológicas e o deixa solto sem coleira, confiando no treinamento do cachorro para obedecer às palavras de comando que, na maioria das vezes, se mostram ineficazes. A segunda situação é quando o dono conduz a fera com uma coleira tão frágil que não suporta um safanão do bicho – ele avança para cima do caminhante arrastando o dono consigo, quando não rompe a frágil coleira. A terceira situação então é a pior, pois pega o andarilho desprevenido. Já repararam naquelas casas que possuem coleções de cães bravos e placa no muro anunciando as suas presenças com o “Cuidado! Animal Bravo”? Repararam também que essas casas não possuem muros e sim grades? Pois bem. Muitas vezes essas grades de ferro são tão espaçosas que o melhor amigo do homem com facilidade foge por ali, colocando em risco a vida dos pedestres. E vocês já toparam com aquele cãozinho pequenininho, qual um ratinho, que adora morder o nosso calcanhar, latindo todo esganiçado? Ele é terrível, apesar de não oferecer muito perigo, mas são insuportáveis de chatos. E quando o zeloso pai abre o portão da garagem para levar os filhos na escola e o cão escapa? Esta é de doer!

O pior é que certos donos mostram indignação quando apresentamos qualquer sinal de medo. Somos repreendidos, muitas vezes até com extrema virulência. Temos que fingir naturalidade quando cruzamos com os perigos que esses cães ferozes nos oferecem. Certo dia ao ver se aproximando de mim um desses cães sem a devida, e obrigatória coleira e focinheira, atravessei a rua para evitar o confronto. Não deu outra. Escutei um desaforado comentário: “O senhor, colocou tudo a perder. O meu cão está em tratamento analítico e com essa sua atitude, provavelmente ficará mais agressivo.” Cara emburrada é o DNA dos condutores dos cães, para os que estão cuidando da sua integridade física. A calçada que é, a princípio, do pedestre, poderia também ser compartilhada com os cães, mas com o cumprimento da lei para esses casos: coleira e focinheira.

Faço um apelo a quem de direito: que zele pela segurança física dos andarilhos das vias públicas. E que tal a construção de uma arena multiuso para os cães bravos? Embora saiba que terrível é não ter nada que esperar, mesmo assim espero ser atendido.

Gabriel Novis Neves
02/05/2010

CUIABANIA

Cuiabanos são os que nascem em Cuiabá. Os descendentes dos fundadores da cidade receberam posteriormente o carinhoso tratamento de cuiabano de tchapa e cruz. Até hoje esse termo é utilizado, não como troféu, mas como arma para se defender dos migrantes, que acredito ser maioria neste estado e também na nossa capital. Nesta próxima eleição os três candidatos ao governo do estado são chamados pelos descendentes dos bandeirantes, de pau rodado - numa referência que não nasceram em Cuiabá.

Tanto cuiabania como pau rodado são expressões usadas incorretamente. Só o espírito bem humorado da nossa gente para idolatrar o uso das expressões tchapa e cruz e pau rodado. Discordo deste conceito cultural. Os verdadeiros cuiabanos são oriundos de uma civilização milenar pré-colombiana, portuguesa e africana. fantasiados de bandeirantes. Esses são realmente os cuiabanos.

Pau rodado é uma metáfora que traduz a origem incerta daqueles que ficaram enganchados por aqui. Fica evidente nessas designações uma ponta de preconceito com aqueles que chegam, além do equívoco histórico. Tenho como provar o que escrevo. Sou considerado um cuiabano de tchapa e cruz, o que seria um orgulho para mim, mas não, não sou cuiabano de tchapa de cruz para desilusão de muitos.

Filho do Bugre do Bar foi uma forte referência para me incluírem no rol da cuiabania, pois foram os índios e os bugres os primeiros cuiabanos. A mãe do Bugre do Bar, entretanto, era carioca, e descansa no cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. A avó materna do Bugre do Bar era uruguaia e o seu avô gaúcho. Logo o Bugre do Bar não pode ser considerado um cuiabano de chapa e cruz e sim filho de pau rodado. Considero, portanto inadequado o título que recebi da minha gente. Se existisse esta tão falada cuiabania, o cuiabano Eurico Gaspar Dutra, não seria derrotado por um carioca em sua cidade nas eleições para Presidente da República de 1945, pelos cuiabanos de tchapa e cruz!

A cuiabania é um movimento cultural para preservar as nossas tradições e valorizar os nascidos aqui. Será? A cuiabania existe? Tenho lá minhas dúvidas. Acho que é utilizada como produto de marketing para intimidar aqueles que vieram para cá e venceram. Pau rodado deve ser retirado do nosso dicionário. Todos os que aqui nasceram são um pouco pau rodado. Agora, a expressão tchapa e cruz, tão bem imortalizada pelo saudoso carioca Liu Arruda, esta sim, deve permanecer como preservação da memória das nossas mais profundas raízes!

Gabriel Novis Neves
20/05/2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

PLANTAR ESPINHOS

Não acredito que o cargo de Secretário de Saúde do Estado, volte a ser ocupado por um médico. Nos últimos oito anos esta pasta, eminentemente técnica e complexa, foi ocupada por três médicos - de perfis diferentes. A soma do tempo de permanência deles no cargo não ultrapassou dez meses – muito estranho. Seriam esses ex-secretários, corruptos, ladrões, mafiosos, incompetentes e fracassados na vida privada? Eu mesmo respondo: não, não eram. Pelo contrário, o passado desse grupo é inversamente proporcional ao seu período no governo. A sociedade sabe disso e exige explicações.

Os resultados dos remendos estão expostos - para o sofrimento da população de Mato Grosso, especialmente para a mais pobre. A população que vota cobrará dos falsos gestores por mais essa irresponsabilidade com a saúde pública. A verdade é que todos desejam saber por que o médico não tem competência para trabalhar pela saúde no governo, mesmo sabendo que eles só fazem isso em suas vidas privadas com resultados de excelência reconhecidos.

Aí tem! É o que mais ouço nas ruas - e realmente tem. E tem muita coisa que os trabalhadores de saúde sabem, e os supergestores escolhidos a dedo, não sabem e tampouco entendem.

Deprimente! Deprimente saber que a mais social das secretarias é ocupada por pessoas especializadas em máquinas de calcular. A humilhação sofrida em silêncio pelos que trabalham com saúde, aos poucos está sendo substituída pela luta em busca da verdade. E como a verdade está brotando! Virulentamente!

O que está acontecendo em Mato Grosso, com a divulgação dos seus escândalos éticos, contraria inclusive uma das teorias do Brizola. “Mingau quente no prato, comece comendo-o pelas beiradas. Quando chegares ao centro, ele estará frio, e fácil de, com uma colherada, engoli-lo.” Com os últimos acontecimentos – e futuros – a opinião pública fez com que o governo comesse o mingau pelo centro. Finalizando o triste caso da saúde. Acredito que jamais um médico com uma história a preservar, aceitará a submissão de ser secretário-robô. “Quem anda descalço não deve plantar espinhos.”

Gabriel Novis Neves
04/05/2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Parece que foi ontem

Estive presente na inauguração do Grupo Gazeta de Comunicação, há vinte anos. Compareci ao evento movido pela sincera amizade ao jovem superintendente e sócio João Dorilêo Leal. Também queria levar meu abraço a um modesto funcionário da nova Empresa – o Piito. Desde então sou assinante-fundador do carro chefe do Grupo – o jornal “A GAZETA”.

Dorilêo veio para Cuiabá aos dezoito anos de idade. Deixou a sua pequena e simpática cidade de Arenápolis para estudar. Paralelamente aos estudos curtia a sua grande paixão – o futebol. Integrou-se a um grupo de jovens cuiabanos, mas todos péssimos jogadores de futebol. Procurou então através do rádio esportivo a curtição da sua paixão. Fez parte de um grupo competente em transmissões e programas esportivos. Da sua equipe de radialistas esportivos, saíram prefeito, vereadores, deputados estaduais, federais, senador e empresários.

Tempos depois, o menino de Arenápolis se transformou no jornalista de esportes do extinto Jornal Diário de Mato-Grosso. Esse jornal tinha sua sede no Coxipó, e foi fundado pelo saudoso jornalista Archimedes Pereira Lima e pelo nosso professor-fundador da Universidade Federal de Mato-Grosso, Lenine de Campos Povoas. No jornal do Coxipó, meus laços de amizade com Dorilêo se estreitaram ainda mais. Na época trabalhava na UFMT, e ao sair do trabalho, às vezes dava uma passadinha pelo jornal. Encontrava um grupo unido e idealista de profissionais. Meu cunhado, Archimedes Júnior, era o chefe de operações daquela parafernália. Passava vinte e quatro horas por dia, arrumando aquela caquerada para editar o jornal. Cada jornal concluído era comemorado como se fora um gol do Brasil. Até hoje me lembro do entusiasmo do Dorilêo mostrando-me as manchetes esportivas da próxima edição. Foi o primeiro emprego em jornal do hoje poderoso Dorilêo Leal. Uns trocados era o seu salário, mas do primeiro emprego, ninguém se esquece...

Hoje, é proprietário do Grupo Gazeta, e após vinte anos de árdua e notável dedicação, fez o milagre da multiplicação. Nunca frequentei sua casa, nem a sua maravilhosa chácara da Guia - e a recíproca é verdadeira. Para mim este é o conceito que tenho de amizade. Quando eventualmente nos encontramos, é como se acabássemos de nos ver. Amizade é liberdade e não obrigação.

A Empresa comandada pelo Dorilêo é um exemplo em todos os sentidos. Modernização, visão empresarial, e, acima de tudo, a valorização e qualificação dos seus funcionários que foram os grandes responsáveis por esse sucesso. O mercado sempre exigiu qualidade e isso nunca faltou “A GAZETA”.

O outro responsável pelo meu comparecimento à inauguração do Grupo Gazeta de Comunicação – foi o Piito. A história do atual Diretor Comercial da Gazeta, Carlos Eduardo Dorilêo Leal (Piito), é para mim repleta de prazerosas recordações. Nasceu em Cuiabá no Hospital Geral, mudou-se para o Alto – Paraguai onde cresceu. Aos doze anos retorna à Cuiabá. Tornou-se amigo-irmão do meu filho caçula, e esta amizade perdura até hoje. Relembro esses fatos com emoção.

Continue assim Dorilêo! Renovando sempre, pois vivemos no século da pós-modernidade, e temos que aprender trabalhar com eficiência, em um mundo altamente competitivo e que, a cada segundo, recebemos milhares de novas informações. Como para o idoso o tempo passa mais rápido, parece que tudo isso aconteceu ontem.

Gabriel Novis Neves
21/05/2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Sílvio Santos

O período pré-eleitoral parece um Programa dominical do Sílvio Santos. Todo mundo já assistiu a cena de Sílvio Santos em que ele pergunta ao seu público: “- Quem quer dinheiro??? Se conseguir pegar pode levar!” Mete a mão no bolso do paletó e retira uma nota novinha, novinha, recém saída do caixa do banco, faz um aviãozinho e joga para a platéia em delírio.

O candidato que se acomodar e permanecer sentado em seu escritório político durante o período pré-eleitoral será derrotado e estará falido. Terá, portanto que participar de caminhadas e carreatas. Algumas vezes participará do estradeiro e terá que comparecer em muitas, muitas festas do interior. Mesmo assediado pelos pedidos pessoais, às vezes impossíveis de serem atendidos, resta uma saída técnica para o candidato - muito conhecida e manjada por sinal. Trata-se daquele velho truquinho de mandar o seu secretário de campanha agendar um encontro com o pedinte em seu escritório político. Lógico que o coitado do pedinte dificilmente encontrará o candidato por lá!

Sempre aparecem pessoas que vão aos escritórios dos candidatos levando projetos importantes, dizem, para o desenvolvimento do estado, com um único objetivo de colaborar. O custo do projeto é sempre zero, e o tempo de explanação é longo. No final há sempre um, porém. O idealizador do projeto não sendo atendido em suas reivindicações, deixa o escritório aborrecido e falando mal do candidato. O pior é quando após horas de espera, não consegue a audiência salvadora para solucionar os seus problemas, digo do estado. Irá então perambular pelas salas de espera dos outros candidatos, sempre falando mal do antecessor.

Assim como o Sílvio Santos tem o seu bordão “– Quem quer dinheiro?”, o povo, mais do que depressa criou o seu slogan: “se agora que ele precisa do meu voto, nem me recebe que dirá depois de eleito... to fora!”

Participei como Secretário de Estado de três governos, todos eleitos pelo voto direto. Lembro-me do primeiro governador para o qual trabalhei. Não tinha nenhuma experiência política e era muito jovem. O primeiro cargo político que disputou pelo voto, foi logo o de governador, e ganhou. Iniciou o seu mandato no melhor estilo burocrático. Quando não estava em viagens, despachava no Palácio de terno e gravata. Ao final dos dois primeiros anos de governo, tudo ia de mal a pior. Um verdadeiro desastre! Naquela época o mandato do governador era de cinco anos, sem direito a indecente re-eleição com o candidato no cargo.

Para disputar uma eleição para o Congresso Nacional, o Governador ou o Presidente da República são obrigados a se afastarem dos cargos. Para ser re-eleito não - o que é uma covardia. Nesse período em que os novos postulantes, teoricamente sem mandatos, se afastam, lá vem o pessoal da limpeza! E resolve fazer uma boa faxina - o resultado às vezes inviabiliza uma candidatura invencível. Assim nos demonstra a história. O momento que vivemos representa muito bem o erro de abandonar um cargo, antes do seu final.

Leio diariamente as notícias dos jornais. Vejo televisão. Navego na Internet. O que presencio é uma avalanche de notícias. E não posso deixar de fazer uma associação, meio macabra: parece-me que estou em uma sala de autópsia, onde o corpo tem suas vísceras mostradas, examinadas, pesquisadas - totalmente vulnerável a essa invasão. Em Direito chama-se isto de provas.

São tantas as informações que correm pelos meios de comunicação! E as conversas paralelas sobre a Operação da Polícia Federal? Muitas! Acho até que perdi o interesse em acompanhar os capítulos desta novela. Vou aguardar o último capítulo para saber direitinho o final da história. Pela disposição dos protagonistas, acredito que vá ser tenebroso! Impróprio para menores! Mas quem não deve não teme, nos ensina o sábio ditado popular.

É com você Lombardi!

Gabriel Novis Neves
24/05/2010

POLÍTICA

Só é suportável aos freqüentadores das seitas que pregam o venham a nós os vossos reino$, ou para aqueles que praticam o aqui se faz, aqui se paga. Todo ser humano passa longe da política, a não ser esses devotos. É lamentável essa colocação radical, pois no balaio da política também existem os bons. Na memória popular, entretanto, a imagem é essa.

Muitos entram e saem da política levando mágoas e ingratidões. O pior é que, com a descrença dos bons, ficamos nas mãos dos incapazes. E quem decide o futuro de um país não são as filhas de Maria, nem os membros da Congregação Mariana. São os políticos: aqueles das ambulâncias, dos caminhões, dos tratores, do dinheiro na cueca, dos pregões viciados, das obras inoportunas, das marmitas, da farra na Dinamarca, do mensalão, mensalinho, dos paraísos fiscais e outras brincadeiras com o nosso dinheiro.

A descrença de um modo geral é tão grande nos nossos políticos que aquele que não possuir uma fábrica de dinheiro, não se elege. Lembro-me da grana em espécie que correu aqui em Cuiabá, nas eleições de 1950! Não sei nem porque me contaram este fato. Mas, o que sei é que certo candidato a Deputado Federal ficava hospedado em minha casa e os seus “fãs” iam visitá-lo atrás do pacote milagroso... De lá para cá o modelo foi sendo aperfeiçoado, e nesta época pré-eleitoral os cabos eleitorais estão super valorizados. Dou toda razão aos desempregados e sem votos, por tentarem arrumar um dinheirinho até a próxima eleição. Para provar que você é líder as exigências são mínimas. Basta mostrar uma carteirinha: de fiel de uma igreja, de uma associação qualquer, de filiação em um micro partido. Como esse pessoal tem votos!

Estamos praticando a política de 1950, para pior. Pelo menos aquele pessoal não era arrogante e prepotente. Eram homens ricos e de bem, que compravam votos atrás de um título, muitas vezes para esconder o que na época era vergonha: a falta de estudo. Com que tristeza eu ouço o nosso Prêmio da Paz, dizer que nunca estudou nem trabalhou, e hoje manda nos homens que perderam o seu tempo estudando. Conheci por aqui o caminhoneiro sortudo, chefe de invasões de terras que virou empresário, o empresário que comprou a nossa bancada federal e estadual. Ainda há pouco éramos comandados por um Comendador. Nesse quesito da nobreza melhoramos o nosso padrão. E o discurso arrogante é de transparência e ética! Tudo farinha do mesmo saco.

O que fazer diante desta triste realidade? Estamos discutindo o futuro dos nossos filhos e netos, e é só bate-boca, xingamento e desculpa que nos oferecem como plano de governo. “Ela é terrorista e você é seqüestrador”, disse a Martha Suplicy para o Gabeira. “Ninguém sabe de nada” é o nosso hino nacional. Quando sai na mídia, o que todo mundo sabe, entra em cena o grande espetáculo que não tem público para a peça: Desculpas! A desculpa para justificar o injustificável. Aqui se faz aqui se paga é a maldição implacável que recebem os agressores. Ficam zangados, justificam, mas essa praga não desbota nem com ameaças. Chegou o momento dos candidatos provarem do seu próprio veneno. Como a política é insuportável até para os seus próprios atletas. E o jogo nem começou ainda!

Gabriel Novis Neves
17/05/2010

domingo, 23 de maio de 2010

Balança

Nos dias atuais, quando quero ter a sensação de que ganhei alguma coisa, subo na balança para me pesar. Sempre ganho uns quilinhos. Como de grão em grão a galinha enche o papo, estou nesse caminho. Já começa a me preocupar esta situação, que predispõe ao agravamento de doenças crônicas que a vida longa nos cobra.

Faço tudo o que é recomendado para preservar a saúde. Não que eu goste de tudo o que faço, mas faço. Caminho diariamente e freqüento academia de ginástica três vezes por semana. Tenho cuidados com a alimentação, não freqüento badalações - onde se come e bebe-se muito - e durmo e acordo cedo. Apenas no Clube do Sábado abro uma exceção e faço companhia aos associados matando a sede com inocentes latinhas da redondinha.

Mas estou assustado, não por vaidade, e sim por saber dos riscos da minha circunferência abdominal. Para mim esta morfologia é novidade. Talvez por falta de hábito em conviver com tanta banha, esteja assim tão preocupado. Com 1.85m de altura pesava 60k. Agora cheguei aos 100! Houve uma época em que a minha magreza me preocupava tanto que acordava de madrugada para comer doces, mesmo sem fome só para cobrir o gradil costal. Na praia não tirava a camiseta, para ninguém pensar que estava diante de um jovem tuberculoso. A minha magreza era tanta, que o meu umbigo parecia colado a uma vértebra lombar.

Este ano já fiz os meus exames preventivos, e só recebo elogios. Coração ainda agüenta tranco, pulmões têm oxigênio para exportação, o pâncreas está controlando o açúcar. Os exames bioquímicos são de dar invejam, dizem. De todos ouço a mesma orientação - cuidado com o peso. Estou pensando em ir a uma determinada Igreja, que além de curar na hora, ressuscita morto. Estou até disposto a fazer uma simpatia que me ensinaram: comprar uma toalhinha e passar três dias na minha barriga, e eliminar 30k! Acho que a minha barriga é obra do satanás, e a toalhinha terá o poder de expulsá-lo. Depois irei à Igreja para receber a benção, com a rosa branca da saúde, e responder pela televisão as perguntas e respostas combinadas. Quando a Medicina não dá jeito, a Igreja resolve.

Ainda há gente que acredita que o idoso está na melhor idade! O melhor do idoso é que ele sente alegria em brincar com as suas fraquezas, e muita gente aproveita para ver a vida por esse ângulo.

Gabriel Novis Neves
11/05/2010

SOMBRINHA

É como chamamos o guarda-sol ou guarda-chuva pequeno. Tenho uma sombrinha, ou melhor, um guarda chuva pequeno guardado no meu carro. Nos dias de chuva me protege daquela chuvinha chata – que na minha idade é um perigo - no percurso entre o estacionamento e o hospital. Quando a chuva é de vento, o nosso instinto é colocar o guarda-chuva pra proteger o nosso corpo. Não raro as hastes de sustentação da sua cobertura ficam envergadas. Ao alcançar um lugar seguro e seco, com simples manobra conseguimos reverter a brincadeira do vento.

Caminhando na calçada do antigo 16º BC, quase chegando ao ponto de ônibus ali existente, deparo-me com uma sombrinha abandonada, nem aberta nem fechada, em perfeito estado de uso, jogada em um canto da calçada. Em uma cidade que, nos últimos anos ficou conhecida pelos assaltos, roubos, violência, ausência de policiamento, aquela sombrinha abandonada e em bom estado de conservação, me levou a pensar. De imediato considerei um fenômeno estranho, de difícil explicação. Se a sombrinha estivesse fechada, a investigação seria mais fácil. Alguém a esquecera esperando o ônibus, ou fora usada como arma de alcance médio contra algum agressor. O diabo é que ela não estava fechada. Porque ninguém se aventurou a levá-la para casa? Alguma lenda que desconheço? Sinal de má-sorte? Quando encontramos nas caminhadas uma moedinha de dez centavos, esquecemos as nossas hérnias de disco e nos agachamos, mesmo sentindo dores, para capturá-la e logo colocá-la no bolso. Esta ação significa sorte. E a sombrinha? Por que foi recusada por todos que por ali passavam? São os mistérios que existem entre o céu e a terra. Incompreensíveis para mim, mas de um imenso simbolismo, que nos ensina que nem sempre o útil é desejável, e por isso merece o nosso abandono.

Gabriel Novis Neves
03/04/2010

A expulsão da Adriana

Menina de sorte essa Adriana Vandoni! Fez Administração e pós - graduação na Fundação Getúlio Vargas. Iniciou sua carreira profissional escrevendo artigos em jornais, como jornalista café com leite – aquele que não possui o curso de jornalista. Trabalhou como assessora da administração pública. Lecionou na Universidade. Criou um blog político, que nessa categoria é um dos mais visitados. Atua também como consultora política.

Nesse curto espaço de tempo na mídia conseguiu conquistar vários troféus e adversários. Trabalha sob censura da justiça. Vaiou o Presidente da República quando ele esteve em visita à Cuiabá, em sinal de protesto, e repetiu a dose dos jogos pan-americanos no Rio de Janeiro. Foi no período da tragédia da TAM em São Paulo, com o inesquecível espetáculo do toc- toc – toc. Foi chamada na ocasião de mulher mal amada pelo Recepcionista do evento, numa péssima demonstração de falta de respeito e puxa-saquismo ao Presidente, que não entendeu aquela reação.

O Presidente construiu a sua carreira política vaiando e xingando. Ingressou no partido do Brizola. Com pouco tempo de militância é pedido o seu afastamento pelo Presidente da Juventude Trabalhista Democrática. O motivo alegado não foi o comprometimento da ética ou ficha suja. Simplesmente o jovem desconhecia que nem todos os que militam na política, são obrigados, em troca de pequenos favores, a rasgarem o seu direito de julgar. A famosa máquina governamental, que não é nada mais que uma máquina abastecida com o dinheiro do povo, melhor seria chamada de máquina da corrupção, parece que funcionou na ameaça de punição.

Essa menina de sorte é diariamente defendida no Senado Federal por dois senadores dos mais importantes. O curioso é que eles não pertencem ao seu atual partido político. A bancada federal e estadual de Mato Grosso, diante da censura ao seu blog, comporta-se como os três macacos: não vejo, não ouço e não falo. Esteve para ser presa, por contrariar uma personalidade do 4º escalão de uma repartição pública de Brasília. Está sendo processada por não aceitar e não saber escrever em outro estilo! Esta semana ela foi editorial do Estadão. Se continuar acrescentando em seu currículo, troféus como até agora conquistados, ninguém segura mais essa menina. Breve, breve, terá faixa em Cuiabá exigindo Adriana lá.

Gabriel Novis Neves
18/05/2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

FIDELIDADE

Com este título, muitos leitores irão pensar que vou abordar o tema traição, produto muito comercializado atualmente - principalmente neste período eleitoral. Outros com certeza esperarão a narração de uma traição carnal Rodrigueana, ou talvez a consagrada definição de Aurélien Scholi, jornalista e romancista francês: ”Fidelidade é uma forte coceira que não se pode coçar”.

A história de fidelidade que deixarei aqui registrada é a de um médico com seu Hospital! Uma verdadeira fidelidade canina! Estou falando do médico Carlos Eduardo Epaminondas. Há exatos cinquenta anos esse médico iniciava os seus trabalhos profissionais no antigo Hospital Geral de Cuiabá, hoje Hospital Geral Universitário (HGU). Está completando Bodas de Ouro no HGU! Neste meio século de trabalho foi de uma fidelidade comovente ao Hospital que o abrigou. Não me recordo de nenhuma infidelidade do Carlos Eduardo - dando uma escapadinha para atender seus pacientes fora do HGU. Nunca fiquei sabendo de nenhum fato relativo a isso. Essa fidelidade do meu colega não é conseqüência de privilégios monetários. Pelo contrário. Aquele Hospital sempre teve como característica a doação médica: servir aos pobres. O seu atestado de nascimento diz ser uma instituição filantrópica. Muitos que entraram com o Carlos Eduardo, inclusive eu, não mantiveram essa fidelidade, e até certo ponto competiram com a matriz.

“Amor é um não-sei-quê, que surge não sei de onde, e acaba não sei como” – Madeleine de Scudéry. Pronto! Descobri o motivo das Bodas de Ouro do Carlos Eduardo com o Hospital Geral! É um caso de amor! Inexplicável, misterioso e incondicional! 50 anos diariamente no mesmo local de trabalho, como “um bebê que nasce com necessidade de ser amado, e nunca supera isso”.

Parabéns Dr. Carlos Eduardo Epaminondas!

Gabriel Novis Neves
14/05/2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

SÍNDROME DO PÂNICO

“Desculpa é a mais danosa doença do fracasso.” Cuiabá nos últimos anos tornou-se uma cidade violenta. Os números dessa tragédia são surpreendentes e assustadores. Os assaltos recorrentes a bancos, comércios, residências, repartições públicas, ônibus, posto policial, igrejas, fez com que a população andarilha chegasse ao seu limite.

A falta evidente de medidas mais severas para combater essa violência e garantir a segurança material e física da população, causa desalento e desesperança ao povo. Como se isto não bastasse o estado aprovou uma indecente lei: a de proteção policial vinte e quatro horas por dia para os ex-governadores. Essa lei é uma desprezível prova de insensibilidade pelo drama da população. Essa lei é o reconhecimento oficial da violência. Todas as autoridades deste estado têm garantida a sua segurança pública. Agora, o que não dá para compreender e aceitar é que, mesmo após deixarem os seus cargos, os ex-governadores continuem a se beneficiar desse privilégio – pago, evidentemente, com o nosso dinheiro. A maioria dos empresários e homens de dinheiro possui segurança privada.

O pato do contribuinte continua arcando com as despesas das mordomias dos grandes, e sofrendo todo tipo de violência, às vezes pagando com a própria vida pelo descaso dos nossos governantes. É difícil encontrar nesta cidade alguém que não tenha sofrido alguma espécie de violência, ou que não tenha um caso para contar.

Eu tenho um caso: certo dia minha mulher estava em um banco quando uma quadrilha de bandido, fortemente armada, tomou de assalto o local obrigando os clientes lá presentes a se deitarem no chão e não se mexerem. Daquele dia, até o seu falecimento, sofreu com esta agressão que foi vítima. E a polícia prendeu alguém? Não. O meu filho, a minha filha, a minha neta, o meu irmão, a minha cunhada e o meu sobrinho, sem contar inúmeros amigos e conhecidos, já passaram por situações de igual violência.

O medo generalizou-se. A insegurança tomou conta de todos. A população está perturbada diante de tanta ameaça e perigo. Enfim, instalou-se a Síndrome do Pânico. Essa síndrome ataca crianças, jovens e idosos de todas as raças, credos e classes sociais. Mesmo profissionais de saúde, e no meu caso, em terapia analítica, somos vencidos pelo reflexo condicionado ocasionado pela violência. Esta doença do pânico termina produzindo, como subproduto, uma doença muito mais séria que é o preconceito.

O preconceito nos leva a estereotipar o bandido. Quem de nós não se assusta e pensa no pior quando nos defrontamos com jovens humildes? Logo associamos a pobreza dos mesmos, e o seu precário aspecto físico, ao assaltante. Estamos cultuando este preconceito de difícil erradicação. Temos o exemplo dos resquícios preconceituosos da Guerra do Paraguai. Na nossa fronteira tudo de ruim que acontece no Brasil é causado pelos bandidos paraguaios. Do outro lado da fronteira a bandidagem é coisa de brasileiro.

Temos que acabar, ou tentar diminuir drasticamente a violência na nossa cidade. E isto é possível – Nova Iorque está aí como exemplo. Agora, que o governo tampão no seu primeiro dia de atuação identificou o relapso da nossa segurança pública, isto lá é verdade - especialmente com a desmontagem da Rotam. Frente a esta situação o governo lançou um estupendo plano publicitário, divulgando novas ações de combate à violência. Vamos aguardar esperançosos os resultados. Só um pequeno detalhe vem anuviar as nossas esperanças: o prometido pelo governo é tanto, tão estupendo, que está sendo difícil acreditar que se cumpra o prometido. Mas, vamos confiar!

Gabriel Novis Neves
16/05/2010

Agora são as marmitas

Aquisição suspeita de máquinas; compra de ônibus para alunos especiais sob investigação; problemas incontáveis na aquisição de viaturas; revisão de certos contratos duvidosos nas secretarias; mega concurso fiasco e agora, a situação difícil com as marmitas.

O governo findo quis se distinguir pela ausência de escândalos. Quando porventura surgia alguma fumacinha, logo o fogo era apagado exemplarmente - com a punição dos incendiários. Sou testemunha do cuidado do ex-governador em fazer as coisas de maneira republicana. Antes de assumir o governo, reuniu o secretariado e profeticamente fez um apelo: - “tenham o máximo cuidado em suas pastas, pois não quero deixar o governo, e passar o resto da minha vida sendo chamado para prestar esclarecimentos sobre falhas administrativas.”

O governador sempre agiu corretamente, mas para governar montou uma base de sustentação tão ampla, que não teve oposição. A fatura dessa decisão política está chegando agora, com juros e correção monetária. Com apenas um mês de afastamento do governo, já pipocaram incontáveis escândalos que, infelizmente, tem um responsável: o chefe do governo.

Homem religioso, o nosso ex acusou o golpe da traição. Lembre-se governador! Sofrer uma injustiça é menos doloroso do que praticá-la. A tristeza nesses casos é a nossa única companheira, após anos de trabalho dedicado ao desenvolvimento do estado. Apesar de bem avaliado pela população, de uma hora para outra se viu na vala comum daqueles que deixam um cargo público. Até parece que os seus “amigos” o traiam durante o dia, e à noite escondiam a sujeira para debaixo dos tapetes do Palácio. A blindagem em volta do chefe do poder é eficiente, ainda mais quando comandada por profissionais especializados. Mas, não somos infalíveis e sempre cometemos erros, mesmo quando queremos acertar.

Na política, assim como na Medicina, para chegarmos a um diagnóstico preciso, temos que interpretar sinais e sintomas. Um dos sinais mais graves acenados durante governo, com fortes sintomas de falta de ética, foi o loteamento dos cargos públicos, com ocupantes geralmente sem a necessária qualificação para o cargo. E o pior - estes funcionários, estrategicamente colocados na administração, davam satisfações de seus atos somente aos seus donos, e não demonstravam o mínimo compromisso com o governo. Este é um sinal gravíssimo de dor de cabeça!

Pedro Simon anunciou a sua aposentadoria da vida pública. Desmotivação e desencanto com a classe política. Quem ficará “ad-eternum”: Sarney, Collor, Jader, Renan, Dirceu e outros monstros sagrados deste “jeito diferente de governar.” Nossa Senadora já recebeu o cartão vermelho pelos anos de dedicação a um então pequeno partido vermelho. Sem a mínima consideração, ou uma carta de agradecimento, foi literalmente expulsa por boa conduta. Pode?

Leio nos jornais: “três mil refeições sem destino”. Por que não avisaram o governador? Por que esperaram a sua saída do governo para o escândalo vir à tona? O responsável por essa ação foi designado pelo governador, mas ele tinha dono. Quem paga o desgaste? Quem saiu. Enquanto isso, empresários que não aceitaram as regras de vencedores antes dos pregões, e enfrentaram o desafio, trabalharam corretamente, e ao se recusarem a pagar o tal do custo político - que o governador nem sabe da sua existência - não recebem o que lhe é devido.

Enfim, quem escolhe os nossos governantes somos nós, e na “política é difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo.”

Gabriel Novis Neves
13/05/2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

AUTO-AJUDA

Não sinto a menor motivação para a leitura de livros de auto-ajuda. Também não me interessa aprender técnicas para me abrir para o mundo, ou saber por que os homens amam as mulheres poderosas. Falar com os espíritos não é minha vocação, muito menos desvendar os segredos da linguagem corporal. Aos 75 anos vou querer respostas que vão mudar a minha vida, que já foi toda mudada?

Ah! Vou aprender com o meu xará e amigo Chalita, a escrever cartas para os meus amigos, que jamais me pediram uma carta? Considero essa literatura uma blindagem para os sérios problemas do nosso dia a dia. Os fãs dessas leituras procuram um ópio para as suas desventuras em momentos de dificuldades. Os pobres praticam diariamente a própria ajuda, para vencer apenas o dia presente. Não tem sequer o direito de pensar no futuro.

Imagine o meu estado de ânimo para suportar 24 horas por dia o auto-elogio! Não sei se entramos na estação do auto-elogio ou se essa estação já faz parte dos hábitos novos da cidade. Em todo lugar existem pessoas que perderam o freio do ridículo, e passam horas falando dos seus feitos, que na maioria das vezes, só eles enxergam. Nestes momentos, sinto saudades do Fernando Pessoa, que cedo nos deixou por vontade própria, a procura de seres humanos. Aqueles que erram, sofrem por amor e pelo sofrimento humano.

Assisti a fala de um Deus, o infalível, o certo o correto, o honesto. O homem que terceirizou os erros, e vive hoje em paz com a sua consciência. O porta estandarte dos detentores da moral ilibada. Nada contra essas virtudes que admiro, e procuro pagar os meus pecados para ser aceito no Reino dos Céus. O que peço aos do auto-elogio, é moderação, pois essa praga pega e não temos vacina. Bastam as pandemias dos mosquitinhos e as insanidades dos nossos governantes. Ser filho de Deus deixou de ser um privilégio. Existem tantos falsos na cidade, que só com o DNA para esclarecer. Tanto a auto-ajuda como o auto-elogio é uma grande ilusão, em que “acreditamos que somos o que pensamos ser”.

Gabriel Novis Neves
07/05/2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Feijoada

Sábado é dia de feijoada, assim reza a tradição. Na nossa Cuiabá esse costume só ganha do churrasco no inverno – inverno cuiabano claro. Neste início de semana como a temperatura ficou mais amena, a nossa cozinheira programou para sábado a comida de inverno, para delírio dos meus filhos, noras, genro, netos e irmãos. Entretanto... Entretanto o friozinho cuiabano, assim sem mais nem menos, foi embora. Mas a feijoada foi mantida, e o almoço só foi confortável devido à tecnologia da refrigeração do ambiente.

Enquanto todos se aloitavam com pés de porco, orelhas, rabo, costelinha de porco salgada, charque, paio, lingüiça calabresa, lingüiça portuguesa, feijão preto, couve, laranja, pimenta, farinha e arroz branco, eu fazia estoicamente a minha dieta: um prato fundo de sopa de legumes. Após saborearem a farta feijoada, meus convidados se deliciaram com as sobremesas. Inabalável no meu propósito, eu resisti, e me contentei com uma pequena xícara de café preto, com duas gotas de adoçante. Estou agora sonhando com o meu jantar: uma batata cozida. Ah, com salsinha picadinha, que ninguém é de ferro.

Resolvi eliminar o excesso de líquidos e gordura do meu organismo. Pretendo em duas semanas atingir a minha meta. Esta dieta que estou seguindo é utilizada no Hospital das Clínicas de São Paulo para preparar os pacientes com obesidade mórbida para cirurgia. Não estou ainda neste estágio, mas como acredito em prevenção, decidi colocar o meu organismo em condições ideais, pois a minha ambição é completar um século com saúde.

Tenho muita força de vontade. Graças a ela consegui pular várias barreiras que a vida colocou na minha frente. Fui fumante de três maços de nicotina por dia. Parei subitamente há trinta anos. Hoje, sinto-me mal até com o cheiro do cigarro. Aprendi a não depender de terceiros para tentar ser feliz. Nada de terceirizar a nossa felicidade.

Não é tarefa fácil participar de uma suculenta feijoada tomando um simples prato de sopa de legumes. Não é fácil não! Eu que o diga. É preciso estar muito apaixonado pela vida para encarar este desafio, e eu sou um eterno apaixonado!

Gabriel Novis Neves
15/05/2010

domingo, 16 de maio de 2010

ANIVERSÁRIO DE MATO GROSSO

É o tipo de aniversário que pouca gente comemora simplesmente por desconhecer que o Estado de Mato Grosso nasceu no dia 9 de maio de 1748.

Cuiabá foi fundada em 8 de abril de 1719, e pertencia a capitania de São Paulo. Com o desligamento de São Paulo, surge Mato Grosso, e Cuiabá, então com 29 anos, adota o futuro grande estado. Semelhante fato aconteceu no sul. A cidade de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, e suas irmãs, são bem mais velhas que o Estado. Lá é feriado estadual o dia do nascimento de Mato Grosso do Sul. Aqui não.

Graças aos eventos oficiais, culminando com a inauguração de uns aparelhos para exercícios físicos e show da Orquestra Viola de Cocho no Parque Mãe Bonifácia, a data de hoje seria dedicada apenas às Mães. Com o nosso calendário acumulando datas dificilmente no ano que vem, esta data será recordada. Depois que o 5 de maio foi amplamente comemorado por ser o Dia da Parteira, e o Dia Nacional das Comunicações em homenagem ao Marechal Rondon, foi totalmente esquecido... O que nos resta a falar?

Em ano de eleições tudo é válido para reunir eleitores, comemorar e até trocar os sem votos – caso do Rondon, pela numerosa e simpática classe dos /das parteiras, da qual com muita honra faço parte.

Aldir Blanc médico e compositor definiu festas, sejam de aniversário, objeto deste artigo, ou outras como: “A festa é fantasia que é um troço que o cara tira no carnaval.”

Gabriel Novis Neves
09/05/2010

sábado, 15 de maio de 2010

UFMT - 40 anos

UFMT CHEGA AOS 40 ANOS
ENTREVISTA: GABRIEL NOVIS NEVES
POR KEKA WERNECK

Como o senhor ingressou e quando aposentou na UFMT?
-
Não ingressei na UFMT, ela que ingressou em mim. Em 1966, eu era professor de Medicina Legal da Faculdade Federal de Direito. E, por tempo de serviço, fui para a inatividade em 1995. Mas ainda trabalho como médico.

O que tinha no local onde hoje funciona o campus de Cuiabá da UFMT?
- A chácara do Dr. Melo.

Quando e como começaram as conversas sobre a necessidade de fundar uma Universidade Federal em Mato Grosso?
- Em 1808, em Vila Bela da Santíssima Trindade.

A sociedade mato-grossense foi para as ruas cobrar a criação da UFMT?
- A sociedade tinha receios. Os pobres sim.

Qual era a idéia central sobre o modelo desta instituição?
- Respeito ao meio ambiente. Pesquisar para ensinar. Ser uma cada de cultura e pólo de desenvolvimento para o Estado de Mato Grosso.

O projeto se consolidou? Ou mudou de caráter?
- Em parte sim. Com 12 anos de propostas arrojadas, implantamos o Campus de Cuiabá, que até hoje é uma cidade moderna. Iniciamos também e deixamos funcionando os Campi de Rondonópolis e Pontal do Araguaia. Com os anos perdemos as nossas principais características.

Na época da ditadura, como era a intervenção do governo na UFMT? O senhor se lembra de algum fato que simboliza a censura na Universidade?
- Aqui não houve ditadura, e o governo federal nunca interferiu na UFMT. Concedemos anistia para dois professores de Direito, punidos em 1964, seis anos antes da criação da UFMT, antes da anistia concedida pelo Governo Federal. Único professor cassado da UFMT fui eu – o Reitor. Era uma imposição das forças políticas locais. Consegui a revisão do ato.

A Universidade é hoje um espaço democrático?
- Estou totalmente afastado da nossa UFMT. Sei que, como outras Universidades Públicas, perdeu totalmente a sua autonomia. Essa castração leva a esterilidade da criatividade e do pensamento democrático.

Qual a importância da UFMT para a sociedade mato-grossense?
- É o “Arrimo” da sociedade mato-grossense.

O tripé ensino, pesquisa e extensão funcionam?
- O tripé não existe mais. Ficamos só com um pé: ensino.

40 anos depois de fundada, quais os paradigmas que a UFMT deve perseguir?
- Tentar recuperar a UTOPIA da sua origem.

* Entrevista publicada no Jornal da ADUFMAT – Abril 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A LEI ÁUREA

Lei Imperial nº 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888. Foi a lei que extinguiu a escravidão no Brasil. Assinada por Dona Isabel, princesa imperial do Brasil, e pelo ministro da Agricultura da época, conselheiro Rodrigo Augusto da Silva. O Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir completamente a escravatura. O último país do mundo a abolir a escravatura foi a Mauritânia em 9 de novembro de 1891.

Aqui no Brasil o dia 13 de maio é considerado um dia cívico. Por força da ironia esta lei foi assinada pelo ministro da Agricultura da época, e é exatamente na área dos trabalhadores rurais que até hoje existe o maior índice de escravatura. As denúncias, com provas, são diariamente noticiadas pela mídia. O trabalho escravo rural até hoje não foi extinto do Brasil. O Sinhozinho foi substituído pelo Doutorzinho, mas o sofrimento dessa gente, que não veio da África, continua. O que escrevo não é nenhum segredo, todo mundo sabe. Os relatos a que temos acesso remetem-nos aos tempos dos navios negreiros - agora substituídos por caminhões transportadores de gado.

Mas existem outras modalidades de escravatura que ainda não foram abolidas no Brasil. Muitas crianças são escravas do trabalho infantil, caminho para um mundo sem esperanças. Os velhos e os doentes, para o pão e remédio de cada dia, são obrigados a se submeterem ao trabalho escravo.

Mas existe um tipo de escravidão velada, e por isso, aceita pela sociedade. São os milhares de servidores públicos espalhados por este país, nas esferas federais, estaduais e municipais. Esses brasileiros, ocupantes dos cargos comissionados do governo, chamados de DAS, tem donos! Não reclamam da tortura em que vivem - num mundo de incertezas e humilhações. Nunca sabem do dia de amanhã, e na escravidão em que vivem são obrigados às vezes a praticarem crimes para não perderem o seu empreguinho. Para sustentar suas famílias atendem aos seus donos e assumem as conseqüências. É a escravidão moral, desagregadora, irreparável. As suas famílias são destruídas pela escravidão dos donos dos DAS. É um sofrimento silencioso que todos sabem, e para esse tipo de escravidão, não há solidariedade.

Ao comemorarmos 122 anos da Abolição da Escravidão no Brasil, façamos alguma coisa para libertar os brasileiros menos, ou mais favorecidos, da escravidão em que vivem.

Gabriel Novis Neves
13/05/2010

Se for verdade...

Durante o percurso entre minha casa e o hospital que trabalho, ouvi pelo rádio uma entrevista do José Serra no programa de notícias do jornalista Heródoto Barbeiro. Se o que o candidato afirmou for para valer, começo a acreditar em mudanças. É o que todo brasileiro independente deseja. Nada de continuidade, que não é credencial para melhores dias. Todos os “menos ruins” governos que tivemos, surgiram da quebra da continuidade.

Exemplos que continuidade conduz ao atraso é o Maranhão que, em cinqüenta anos de continuidade, possui o pior Índice de Desenvolvimento Humano, e a nossa próspera Cuba. Serra conhece a descrença do brasileiro com relação aos nossos políticos. Promessas de campanha jamais foram cumpridas e até hoje não entendemos porque os candidatos confeccionam os seus mirabolantes planos de governo. O eleitor aprendeu a interpretar esses planos. Quando o candidato diz que não vai fazer aquilo que o seu antecessor está realizando, entenda-se que vai continuar tudo da mesma maneira. A maior parte dos compromissos assumidos fica mesmo só no papel.

Ao falar do seu plano de governo, Serra trouxe o documento assinado por avalistas. O povo brasileiro deseja um governante que não vá lotear os cargos públicos, especialmente os mais estratégicos para o nosso desenvolvimento. É contra o aparelhamento da máquina governamental pelo partido do governo. Defende a qualificação dos seus auxiliares. Serra na sua fala lembrou-se da sua passagem pelo Ministério da Saúde, quando os ocupantes dos cargos mais importantes, não eram do seu partido, porém pessoas competentes. O mesmo fez como Prefeito e Governador de São Paulo. Afirmou que nunca negociou cargos de chefia com senadores, deputados ou vereadores, e quando os recebia em seu gabinete estimulava-os a apresentarem emendas parlamentares.

Este é o modelo de governo que sempre achei o mais indicado. No atual, todos os funcionários DAS tem donos. São indicados pelos partidos de sustentação do governo. Quanto mais ampla a base, mais heterogênea e ineficiente é a máquina governamental. Ainda temos indicações de partidos personalizados. Vou citar alguns: temos o partido do Sarney, o partido do Collor, o partido do Aécio, o partido do Roberto Jeferson, o partido do Roberto Freire, o partido da Heloisa Helena, o partido da Marina, e uns partidinhos regionais sem expressão nacional. Desconfiava que o Brasil não estivesse bem na nossa equivocada política externa de veneração aos ditadores e tiranos. Serra disse que vamos muito mal, especialmente com relação ao MERCOSUL, que classificou de reuniões festivas e improdutivas. Todo mundo vai, fala o que quer e após o almoço com muito vinho, aquela foto do grupo abraçado e sorrisos compreensíveis. O Brasil se ofereceu para pacificar o conflito secular entre árabes e judeus, para surpresa mundial.

Chego ao hospital, desligo o rádio e vou trabalhar. No trajeto do estacionamento ao consultório, reflito sobre a fala do Serra e chego à conclusão que é o candidato mais equilibrado emocionalmente, mais preparado, e pronto para pilotar este imenso e diferenciado país. Esta foi a impressão deixada pelo candidato. Se for verdade, tomara que eu tenha acertado no diagnóstico feito à distância.

Gabriel Novis Neves
10/05/2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

MÁQUINAS

Ibraim Sued foi um marco na história do colunismo social brasileiro. Foi fotógrafo, jornalista e publicou sua coluna social ao longo de 45 anos na imprensa carioca. Mandou e desmandou na Cidade Maravilhosa nas décadas de 50 e 60. Dono de um estilo todo próprio, às vezes até um tanto agressivo, criou o seu próprio idioma. Depois os intelectuais editaram um dicionário, que foi um sucesso de vendas, para as pessoas traduzirem o que liam e ouviam do turco.

Ele escrevia no mais famoso jornal do país – e se apresentava no mais importante canal de televisão. Naquela época o Rio de Janeiro era o paraíso sonhado por todos nós. Ser citado em uma pequena notinha de rodapé na coluna do Ibraim era motivo de orgulho para toda a família. A notícia era recortada e colada no álbum de recordações. Vivíamos o apogeu do colunismo social – todas as camadas sociais liam Ibraim. As lindas mulheres eram chamadas de máquinas ou locomotivas. E como tinha mulher bonita! Natural, sem silicone, botox ou lipoaspirada! As mais badaladas, sem dúvida alguma, eram Leila Diniz e Danuza Leão. Duas máquinas que dispensam maiores apresentações.

O Rio era o centro cultural do Brasil, e as novidades se espalhavam pelo país com o selo de qualidade da Cidade Maravilhosa. A Praça Tiradentes, com os dois mais tradicionais teatros cariocas, sempre superlotados, era o ponto que melhor acolhia toda a efervescência cultural da época. Os famosos espetáculos montados por Walter Pinto brilharam por longos anos naqueles palcos. Desde os tempos do Noel Rosa, eram muito comuns as “brigas” musicais, várias das quais pertencem hoje à nossa cultura. Quem nunca ouviu a resposta do Noel quando se sentiu ofendido pelo Wilson Batista? – “Quem é você que não sabe o que diz meu Deus do céu que PALPITE INFELIZ...”. Nesta época ocorreu o fim do casamento da cantora Dalva de Oliveira com o compositor Herivelto Martins. O Herivelto começa a briga musical com CABELOS BRANCOS... - “Respeitem ao menos meus cabelos brancos...”. Dalva retruca com QUE SERÁ, - “... da minha vida sem o teu amor...” E emendando com o TUDO ACABADO, “...entre nós hoje de madrugada....”

As máquinas, (Leila Diniz e Danuza Leão) de última hora resolveram assistir ao sucesso do momento, um espetáculo da Dalva, num teatro da Praça Tiradentes. O bilheteiro informa: “- lugar só no segundo pavimento do teatro, e na última fila.” Elas topam. O show - “ERREI SIM”, inicia. Cada música cantada era um delírio total do público. A Danuza, a certa altura da peça, faz um comentário para a Leila: “- você reparou que lá na frente só tem bichas? ” Leila responde sem respirar: “- e aqui no fundo só putas?”

Por aqui atualmente também temos os nossos espetáculos. O último foi a compra de certas máquinas – no sentido literal da palavra - que por longos dias estiveram expostas ao público numa conhecida avenida da cidade. Foi um show amplamente divulgado pela imprensa local e nacional. Os responsáveis pelo patrocínio do espetáculo lembram muito os expectadores da última fila do teatro, na visão da Leila. Prostituem-se simplesmente pelo prazer que o dinheiro propicia. É transitório o show? É. Mas a beleza também é. Então a ordem é aproveitar ao máximo enquanto há condições para isto. Para Danuza, pular em frente à artista famosa era ser bicha, no sentido mais preconceituoso e inaceitável. Para o governo que veio para quebrar paradigmas o povo que aplaudia a beleza de um espetáculo, era logo jogado na vala da desqualificação moral. Assim como a resposta da Leila foi fulminante assumindo ser prostituta como a Danuza, em um mês do governo tampão, mesmo chamando-o governo de continuidade - para desespero do governador-candidato - as máquinas estão aí, com todo o seu simbolismo, difícil de tão cedo ser esquecido pelo povo. A ofensa, principalmente a preconceituosa, é de difícil cicatrização.

Outros espetáculos-escândalos estão aparecendo, e incomodando os freqüentadores da última fila do teatro da vida. Oh, Vida! Enquanto isso os mafiosos, preguiçosos, incompetentes e ladrões, apelidados um dia pelos poderosos, na frente do palco do noticiário continuam pulando e aplaudindo, não a voz maravilhosa da Dalva, no seu espetáculo ERREI SIM, mas a Polícia e a Justiça.

Gabriel Novis Neves
05/05/2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ficha limpa

Escutei pelo rádio uma entrevista do Presidente da Câmara dos Deputados que me surpreendeu. Disse o candidato à vice - na chapa da candidata do Planalto ao Planalto - que mesmo que não haja tempo para vigorar de imediato a proibição de candidatos de ficha não limpa, assim que a lei entrar em vigor, os seus efeitos serão retroativos. E mais. Falou que o seu partido, que é o maior do Brasil, evitará o registro desses candidatos já nas próximas eleições.

Acho difícil surgir um candidato, ciente desse risco, investir milhões de reais para uma eleição contaminada. Resta-me a curiosidade de saber quem serão os nossos candidatos se a lei for cumprida, como disse o vice da moça. Que a lei está aprovada, não tenho dúvidas. A minha dúvida é se ela pegará. A notícia é muito séria para ser levada a sério. Em todo caso... Estou registrando esta informação prestada por uma das maiores autoridades deste país.

A esperança adormecida por dias mais éticos ressurge no comatoso povo brasileiro. Os mineiros sabiamente dizem que política é igual nuvem. Você olha está de um jeito, daqui a pouco tudo muda. É possível que no Senado arrumem um parágrafo em um artigo qualquer, e a tão desejada lei desaparece como nuvem do mineiro.

Enquanto esperamos o final deste imbróglio, é bom cantarmos a música da Cidade Maravilhosa, com letra atualizada de Nelson Mota e arranjo de Liminha.

Ficha limpa

É hora
De por prá fora
Nossa opinião
Bandido é prá cadeia
Não é no Congresso não ( bis )

Ficha no lixo
Se lixa para nós
Suja a democracia
Rouba do povo e compra eleição
Pra não ir para a prisão não

É hora
De por pra fora
Nossa opinião
Bandido é na cadeia
Não é pro Congresso não

Gabriel Novis Neves
07/05/2010

domingo, 9 de maio de 2010

GANHEI !

Com a divulgação antecipada pelo IBOPE do resultado das eleições de outubro, sinto-me desobrigado de comparecer voluntariamente às urnas para votar. Ganhei um domingo de outubro e, a preocupação cívica de conhecer os nossos futuros representantes, desapareceu. Ah, que alívio! Também ficarei desobrigado de acompanhar o horário político obrigatório, cheio de falsas promessas e as intermináveis e desconfortáveis conversinhas políticas.

A televisão que patrocinou a pesquisa deu um verdadeiro presente às mães e aos pais, com a divulgação do resultado das eleições no dia anterior ao Dia das Mães. Agora que o nosso futuro político está decidido, enfrentaremos mais um problema social. Milhares de pessoas que vivem dos produtos e subprodutos das eleições, como ficarão? Marqueteiros caríssimos e suas equipes perderão contratos de trabalho, numa extensa rede que agrega outros serviços. Os cabos eleitorais desaparecerão dos pontos estratégicos das cidades. Temo pelo colapso das empresas de aviões de pequeno porte. A rede hoteleira, principalmente as do interior, terá taxas baixíssimas de ocupação. E os famosos acertos dos líderes? A crise será de impossível avaliação a seis meses das eleições. Com certeza teremos repercussões na bolsa de valores.

Mesmo consciente de todas as repercussões sociais negativas, acho que ganhamos. Especialmente tempo. Tempo para nos prepararmos para a Copa de 2014. A partir de hoje encerram-se as discussões políticas, e todos irão trabalhar e arrumar dinheiro para a Copa. Uma eleição com pesquisa custa milhões de dólares, agora que já conhecemos os resultados, vamos investir na demolição do Verdão e a sua transformação em uma ARENA multiuso.

Vou aproveitar este período para tentar me ocupar de coisas mais salutares - apesar de achar que mesmo distante dos fatos políticos, ficamos envolvidos na guerrilha de baixo nível que a TV nos apresenta. Vou seguir o conselho de uma colega de academia de ginástica e comprar os livros da Glória Kalil sobre etiquetas. Consigo seguir conselhos, pois são cortesias, não custam nada e este foi muito simpático. Fugir de coisas sérias e curtir um pouquinho a futilidade!

Como é bom saber com antecedência das coisas que irão acontecer! Ganhei com a divulgação antecipada dos resultados das eleições de outubro.

Parabéns e boa sorte aos vencedores!

Gabriel Novis Neves
08/05/2010

sábado, 8 de maio de 2010

Dia das Mães

Senhores editores, Pedro Novis Neves, é meu irmão. Foi professor fundador da UFMT. Economista, sempre lecionou estatística e matemática. Está aposentado. Moramos no mesmo apartamento e ele é especialista no tema "Mãe". Espírita, é autor de vários livros publicados. Estou indicando-lhe para ocupar a minha coluna do "Domingo das Mães". Obrigado. Volto na 2ª feira. Gabriel Novis Neves.



Dia das Mães

No Dia das Mães, Deus realiza um milagre no Seu Palácio Azul do infinito! Ordena ao sol que brilhe mais intensamente, ordena à lua que se torne mais branca e luminosa, manda que o mar acalme as suas ondas e que a aragem seja mais leve e perfumada.

O Dia das Mães é celebrado em todo o Universo, porque resume em si a Homenagem mais justa e dignificante à Mulher, a quem foi concedida a graça de ter um filho. Aroma, flor, ave canora, tudo isso ela é através dos dias.

Canta e chora. Sofre quando o filho sofre e ri quando o contentamento o anima e o torna feliz.

O Dia das Mães é um interregno de paz e amor durante vinte e quatro horas! É um hino entoado pelo Universo afora, repercutindo em todos os cantos da Terra, enchendo vales e montanhas, atravessando rios, revolvendo-se por fim, no coração da Humanidade a consagrar-lhe o sacrifício, a luta e a renúncia.

Abençoada seja a Mulher que já acalentou um filho nos braços, que já chorou sobre um berço vazio, que já sofreu todas as dores que a maternidade traz, no seu afã de preencher os vácuos do Mundo!

Dia das Mães! Glorificado seja neste Brasil imenso onde tudo é gigante, como é gigante esse afeto que se aproxima tanto do Céu, que até chega a parecer uma estrela.

Pedro Novis Neves
05-05-2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SIMPATIA

Eu sou do mês de Julho, mas tenho uma especial simpatia pelo mês de Maio.

Logo no seu primeiro dia é feriado mundial – Dia do Trabalho. São programadas festas monstruosas para os trabalhadores. Geralmente são apresentados shows com artistas caríssimos, sorteios de carros, e em ano eleitoral, aquele empurra – empurra de candidatos. Nesse dia alguns dos nossos algozes querem demonstrar que são nossos amigos, e também são trabalhadores. Concordo. Mas esclareço que são trabalhadores com carga horária diferenciada, em uma semana inventada por eles - de terça à quinta - feira. É um dia embalado pelas cervejas e promessas.

Na seqüência vem o dia de Santa-Cruz. Tradicionalmente neste dia chove. Uma pequena chuva para marcar o início da seca. A meteorologia em Mato Grosso nos aponta duas estações: calor com chuva - período que é finalizado em maio -, e calor sem chuva.

Dia cinco é dedicado ao Marechal Rondon. Assim é conhecido por estas terras o militar sertanista, e nosso ícone, Cândido Mariano da Silva Rondon. Para saber quem foi esse mimoseano, recomendo uma visita ao Google. Vale à pena, sua história é riquíssima de exemplos e dedicação à pátria.

Oito de Maio. Uma data importante para a humanidade, mas não é feriado universal. Este dia é conhecido como o Dia da Vitória e marca o fim da 2ª Guerra Mundial. O sacrifício de milhares de pessoas, não serviu de exemplo à humanidade. De lá para cá não se fez outra coisa a não ser guerrear: Vietnã, Coréia, União Soviética, Malvinas (loucura das loucuras), Iraque, Afeganistão, Irã. As guerras intermináveis no continente Africano, Nicarágua, Haiti, e a imbecil matança de cinqüenta anos em Cuba. A eterna luta armada entre os muçulmanos e judeus. A guerra continua em todo o universo, com ou sem armas e bombas atômicas, porém semeando ódios, discórdias e mortes, colocando a Humanidade inteira em estado de insegurança.

No segundo domingo de maio comemoramos o Dia das Mães. Infelizmente se transformou, salvo raras exceções, numa data muito explorada comercialmente.

Mas, a par de tudo isto, o mês de Maio é também o mês devocionalmente dedicado à Maria – Mãe de Cristo, Mãe da Igreja e Mãe dos Homens. O mês inteiro é dedicado à Maria pelo mundo cristão – uma tradição secular. Daí talvez a razão da minha grande simpatia por este mês especial.

De todas as festividades reverenciando Maria, o ato da coroação da Santa é a que mais me emociona. O encontro das crianças com este ritual da fé católica é comovedor. É realmente comovente assistir a inocência subir a escadinha com a pequena coroa de rosas para coroar Nossa Senhora. Acompanham o ritual os cânticos religiosos entoados ao som de um órgão de sons melodiosos e límpidos. Até o mais ateu dos ateus, tenho certeza, se comove diante da singeleza que envolve este ato. As crianças são símbolos universais da pureza e inocência, não conhecem ainda a extensão da maldade humana.

Ao longo da minha vida profissional quase todos os grandes aborrecimentos ocorriam no mês de Maio. Tinha até receio da aproximação deste mês. Hoje, gosto de pensar que aqueles aborrecimentos foram insignificantes e que o mês de Maio foi, e continua sendo, um ponto luminoso na minha vida.

Gabriel Novis Neves
04/05/2010

Fui Eu

Quando, após vinte e três dias como Secretário Estadual de Saúde, senti que “quem sabe faz a hora não espera acontecer”, pulei fora. Recebi pouquíssimos telefonemas de solidariedade - não consigo me lembrar de dez. Também pudera! Era início de um governo de oito anos, e vários colegas mandaram os seus escrúpulos às favas, e continuaram tocando as suas vidas. O problema era meu, e não deles. Correta a conduta. Ninguém teve a curiosidade, ou coragem, de pelo menos saber o motivo da minha saída naquelas condições. Também não fiquei me lamentando pela imprensa e esquinas de Cuiabá. Simplesmente voltei ao meu consultório e à Universidade.

Fundei o “Clube do Sábado”, aqui mesmo em minha casa, para discutir e solucionar os problemas locais, nacionais e mundiais. No Clube impera uma única lei, com um artigo: não comentar lá fora o que se discute aqui. O não cumprimento da lei de artigo único implica no desligamento imediato do sócio. Durante o café do sábado, várias personagens políticas, empresariais e jornalistas passaram pelo Clube. A pauta nunca foi cumprida e o debate, em conseqüência, nunca finalizado - numa gostosa descontração!

Mas voltando ao assunto da minha passagem e saída meteórica pela Secretaria de Saúde, um dos telefonemas que recebi foi de um "graudão" do governo federal. Ele me disse o seguinte: “Parabéns pela sua atitude e coragem. O senhor demonstrou a todos nós que não exerce o poder pelo poder. Forte abraço e sorte”. Fiquei lisonjeado, pois a congratulação veio da oposição ferrenha ao governo vigente no Estado. Pensei: “Ufa! Não estou sozinho neste Estado silencioso.” Quanta inocência meu Deus! Mal sabia que aquelas palavras se assemelhavam muito às letras de boleros mexicanos - “Palavras são palavras, apenas palavras...”.

Ao chegar ao meu consultório encontro sobre a minha mesa um colorido Boletim Informativo político - por sinal muito bem feito. Quem eu vejo na capa abraçado aos seus eternos inimigos? Nada mais nada menos do que aquele “graudão” de Brasília e autor da frase - “você não exerce o poder só pelo poder”. O pior é que estavam fazendo farta distribuição de máquinas!

Muita água passou de lá para cá debaixo da ponte. As conveniências pessoais transformaram inimigos em amigos, amigos em inimigos. O maior grileiro de terras do Brasil, em cidadão não comum. Até o cuidado com as fotos coletivas desapareceram. Todos estão no céu dos seus privilégios. Alguma coisa mudou e muito de 2003 para 2010. Acho que fui eu.

Gabriel Novis Neves
06/05/2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SEGURO MORREU DE VELHO

Sou cliente antigo do posto de saúde da Lixeira. Todos os anos no mês de abril, munido da minha carteira de vacinação, ali compareço para tomar as vacinas que protegem a minha saúde.

Até agora a estratégia está dando certo. Neste ano inclui na minha carteira, uma vacina nova - a Gripe A (H1N1). Gentilmente a enfermeira informou-me que, se eu esperasse mais alguns dias, tomaria a nova – H1N1, e a já conhecida anti gripal dos idosos. Num primeiro momento titubeei frente à proposta, e quase volto para casa. Mas, como que em um sonho, lembro-me dos antigos de Cuiabá com a sua sabedoria expressa eu um dos seus ditados inesquecíveis: “Seguro morreu de velho.” Disse à enfermeira que tomaria a vacina Gripe A (H1N1) agora, e voltaria daqui a quinze dias para tomar a outra.

Chego em casa, e enquanto aguardo o almoço, ligo a televisão no noticiário nacional. Primeira notícia: o Ministério da Saúde informa que foi adiado o início da Campanha Nacional de Vacinação para a Gripe em idosos! Vivemos em um país em que todos os benefícios para a população são adiados, quando não são negados. Só conheço um programa nacional antecipado: a morte dos pacientes. As causas são por demais conhecidas de todos, portanto não irei citá-las.

Antigamente diziam que o ano no Brasil, iniciava-se após o carnaval. Esta sentença pertence ao arquivo morto da nossa história. Agora o que se diz é que tudo irá acontecer (já estão dando prazos), depois da Copa do Mundo em 2014.

Estava crente que a ferrovia do Vuolo já estava chegando à Cuiabá, e descubro pelos jornais que o contrato de concessão para a construção da ferrovia foi rompido, e inacreditavelmente de forma “amigável”. E pasmem! Os recursos sairão do PAC-2 (!), após enfrentar a burocracia para acertar o contrato “amigável.” Como a maioria das obras do PAC-1, não saiu da prancheta por falta de recursos, essa é mais uma história para boi dormir em período eleitoral. Quando venderem a Amazônia (já existe anúncio nos Estados Unidos) os descendentes daquele povinho que foi expulso do Maranhão (os holandeses), farão os trilhos chegarem à Cuiabá. Enquanto isso, diariamente festas são realizadas para assinaturas de papéis – com promessas que jamais serão cumpridas.

A verdade dolorosa é que Mato Grosso conquistou mais um título – é o estado brasileiro de “pior índice de vacinação contra a Gripe A”, aquela que está matando. Mato Grosso foi o único estado brasileiro que não participou no dia 10 de abril, do Dia D, responsável pela nossa última colocação, segundo fontes do Ministério da Saúde. Basta de enrolação! O que precisamos é de sinceridade para enfrentar os nossos problemas, e um mínimo de compromisso para resolvê-los. Falação e festança não enganam nem “besta quadrada”, se é que elas existam. Mostrem a seringuinha com a vacina na televisão, em vez de tomógrafos, aparelhos de ressonância magnética, e o xodó visual dos políticos – uma UTI, sem pacientes, só com os lindos aparelhos.

Seguro morreu de velho – já tomei a minha vacina.

Gabriel Novis Neves
20/04/2010

A morte

Fomos ensinados a encarar a morte como um fenômeno natural, mas lidamos com o falecimento de entes queridos com tristeza e pesar e discutimos exaustivamente o seu significado religioso, filosófico e social, Mas, não entendemos a morte. Só os poetas a entende. Através da poesia eles transcendem este sentimento de perda, e nos apropriamos de suas palavras com avidez para dar sentido às nossas próprias vidas.

Enquanto que para nós, meros seres viventes a morte é um ato incompreensível e doloroso, para “esses seres privilegiados” – os poetas -, a interpretação da morte é de uma invejável sinceridade com o futuro feliz daqueles que partem. Não freqüentam o lugar comum, da análise sempre favorável dos que nos deixam.

Perdi um velho e querido amigo. O respeito e admiração que tinha pelo homem simples e ético foi o nosso idioma. Morreu José Fragelli! Muitos falarão sobre a sua personalidade e virtudes. Convivi publicamente com o humilde e estudioso político e advogado. Tenho inúmeras e prazerosas recordações do nosso contato e convívio – consequências de longos anos de amizade. Narrarei apenas duas que exprime tão bem o homem simples humilde e reto que foi Fragelli.

Ao deixar o Governo do Estado e o Senado da República, quando em visita à Cuiabá, ficava hospedado com a sua esposa, em uma modesta casa ao lado do quartel da polícia militar no Porto. A dona da casa era uma amiga sincera do casal, e não do político famoso. Outro registro importante: após deixar o Governo, teve a coragem e a hombridade de prestar contas do seu período governamental, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para alunos, professores, funcionários e sociedade. Esse gesto é impossível de ser observado hoje em dia – todo mundo bem sabe por quê. Mas, logo, logo surgirá alguém para escrever a sua biografia.

Mario Quintana, com muita propriedade falava: – “Era um grande nome – ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.” Esta é a metamorfose que costumam fazer com os nossos ilustres, quando, após viverem em um mundo sem solidariedade humana, resolvem homenageá-los. Quintana com o encanto dos seus versos descobre compensação na morte: - “Não sabias? As nossas mortes são noticiadas como nascimentos pela imprensa do Outro Mundo.”

Dona Lourdes, Nelson, Ney e familiares, a visão poética de Quintana, nos releva o quão irrelevante é ser nome de rua; o grande homem que hoje partiu, com certeza já é manchete nos jornais do Outro Mundo.

Gabriel Novis Neves
30/04/2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

SUCESSO

“Um homem é um sucesso quando pula da cama de manhã e vai dormir à noite, e nesse meio tempo faz o que gosta” diz Bob Dylan. Talvez por ser americano, povo predominantemente protestante, o autor da frase procurou o sucesso, para ter dinheiro e comprar um pedacinho do céu para o descanso eterno. Os protestantes creem ser o trabalho a única via para “entrar nos céus”, ou, “só é bem-vindo no reino dos céus aqueles que são trabalhadores. Se a pessoa progride, ela é mais bem vista aos olhos da sociedade e aos olhos de Deus.”

O Brasil é um país majoritariamente de católicos. Não acreditamos que precisamos de dinheiro para morar no céu. Acreditamos que nossos pecados são tirados e vamos para o reino dos céus, através de doações de certa quantia à Igreja e aos necessitados. Que os pobres de dinheiro e os pobres de espírito terão gratuitamente o reino de Deus.

Acho que nasceu daí a nossa intolerância ante o sucesso. O brasileiro torce e vibra pelo insucesso e sofre intensamente diante do sucesso alheio. Nas palavras de Michael Korda, “Para ser bem sucedido, é necessário aceitar o mundo como ele é e subir acima dele”. Como é difícil para nós, aceitar esta verdade!

Temos o nosso mundo, fechado, blindado, onde a luz da salvação não consegue penetrar. O sucesso nos causa sentimentos de culpa, e o sucesso dos outros nos incomoda. Fazemos coisa que não gostamos inviabilizando a aceitação do sucesso. Quando chegamos naquele momento, ninguém pede a cura e sim tempo para realizar as coisas que gostamos e não fizemos. “O segredo do sucesso não é fazer o que se gosta, mas sim gostar do que se faz”, (Cecília Meireles).

Não podemos demonizar aqueles que fazem sucesso trabalhando honestamente. Não os confundamos com os ladrões, corruptos, bandidos, desonestos, mafiosos, chefes de quadrilhas especializadas em roubar dinheiro público, traficantes, e o pseudos surdo-mudo- cego – o pior de todos. Este ouve, vê, sabe de tudo e se cala.

Que tal aproveitar este período eleitoral, para examinarmos, com a razão, o sucesso? Tempo não perderemos, e poderemos evitar desastres para o nosso país, escolhendo dirigentes de sucesso e não fracassados.

Gabriel Novis Neves
10/04/2010

domingo, 2 de maio de 2010

Presentes virtuais

Após as minhas orações matinais, que faço da janela do meu quarto no vigésimo andar olhando para o nascente antes do aparecimento do Rei Sol, agradeço por ter vencido mais uma noite. Não há coisa mais traiçoeira que a noite - a grande responsável pela nossa última viagem. Peço proteção ao Criador, para enfrentar o novo dia que está nascendo. Procuro lembrar os pecados por mim cometidos no dia anterior, e aqueles que ficaram no meu esquecimento, e peço o perdão do Criador.

Lembrei-me de um pecado novo na minha longa carreira de pecador. São pecados veniais, originados da idade: o esquecimento. Estou constantemente me esquecendo das promessas que faço pelas minhas andanças por aí. Não são promessas políticas, mesmo porque estas são pecados mortais. São pecadinhos veniais os meus; alguns presentes prometidos e não dados, quase desaparecidos da minha memória, na poeira do tempo. Com esforço alguns submergiram do fundo do meu inconsciente: peixes do pantanal, pêra (abreviação de peraputanga, delicioso peixe da nossa região) sem espinho, arroz doce, pão de queijo, galinha caipira, farinha do Mimoso, queijo de fazenda, leitãozinho especial, pimenta malagueta, bolinho de polvilho, pão caseiro, frutas da ocasião, não contando as inúmeras amostras grátis de medicamentos para todos os males. Os pecados são veniais, repito, mas estou preocupado. A lista está tão longa, que temo que lá de cima o perdão não venha assim tão rapidinho não. Enfim, que fazer? A minha memória anda me pregando muitas peças! Mas Deus entende.

Confio na justiça divina. A justiça dos homens é outra coisa – muitas vezes nem justiça é. Os homens somam os pecados, anunciado o tempo de condenação em números alarmantes, chegando a alguns casos a ser centenária. Depois vem o desconto, e são tantos! A justiça divina julga pecado a pecado. Tenho certeza da absolvição desses meus pecadilhos, apenas não posso garantir que não irei mais cometê-los. Já os pecadões... - também estes já estão no tribunal de Deus.

Com o tempo avançando, vou me tornando cada vez mais presa fácil para a doença da repetição involuntária. Mas prometo – outra promessa, ai, ai, ai... –que daqui para frente, vou redobrar os meus esforços para não deixar acumular tanto as minhas faltas involuntárias. Também irei com certeza me lembrar de outras, para pedir perdão. “É muito mais fácil se arrepender dos pecados que cometemos, do que se arrepender daqueles que nós pretendemos cometer.”

Os presentes que prometi vão se transformar em presentes virtuais – acompanhando a modernidade. Por isso, caros amigos, não se espantem se começarem a receber imagens de peixe, bolo de queijo, galinha caipira, frutas, pão caseiro, etc., etc...

Gabriel Novis Neves
18/04/2010

CARTA AO VILA

"Caro amigo Vila,

Após mamar, mijar, defecar e um banhinho de assento básico, vou ao computador saber as novidades. Começo pelo site que ninguém lê. Qual não foi a minha surpresa ao ver ali uma foto minha, em nu frontal. Entre surpreso e indignado logo pensei: “isto é peraltagem do meu tio velho - que perdeu a compostura com a idade avançada -, e sem me consultar mandou a foto, e o Vila publicou”. Sacanagem dupla, imperdoável!

Amigo, se é que posso chamá-lo assim, a minha vida depois que deixei o útero da minha mãe (bonitona, hein?), tá uma merda. Não tenho tempo prá nada! Nem prá nadar, esporte que pratiquei durante nove meses em uma bolsa de água.

Vou resumir o meu dia a dia. Mamo no peito de três em três horas, com ou sem fome. Às vezes estou tranquilamente dormindo e sinto umas cosquinhas na sola dos meus pés. É a mamãe querendo me acordar. Como ainda não articulo bem as palavras, grito, franzo o rosto, sacudo os pés, agito as mãos, tudo em sinal de protesto, mas não consigo me fazer entender, ela acha que eu estou com fome. Tanto que a escuto exclamar feliz da vida ao meu pai: “Ele está com fome!” E dá-lhe bico de peito na boca! Acabo percebendo que para eles é importante mamar, e começo a sugar. Para que me indispor com mamãe né? Com mãe não se discute. Elas têm sempre razão, ou pensam que tem. Enfim... Nessas ocasiões sinto cólicas, que produzem eliminação de gases – que você chama de pum - então eu solto o pum. Depois volto a defecar, mijar e às vezes arroto.

Um dia desses dei um arrotão no peito da minha mãe enquanto mamava, levei uma carinhosa repreensão. Ela até riu, assim como ri dos meus puns. A coisa boa na minha idade é que você pode fazer tudo isto sem ser falta de educação – é até esperado. Vai fazer isto mais velho! É logo taxado de nojento e mal educado! Telefonaram até para o meu velho tio médico, para falar como eu era estrondoso. É Vila, pra aquele mesmo que mandou a foto!

Após a mamada vem aquele exercício para arrotar. Eu morrendo de sono, sou colocado no ombro do papai que de pé fica andando comigo pela casa e dando porradinhas nas minhas costas até eu não agüentar mais e liberar o ar do estômago. Satisfeitos, deitam-me na cama, e quando penso que vou continuar a soneca, sinto a mão da mamãe apalpando a minha fralda na região genital. Tudo bem. Logo depois ela tira a fralda, tomo um banho de gato com óleo e finalmente me deixam em paz.

Que ilusão seu Vila! Não demora nada, três horas são passadas, e começa tudo de novo. A única diferença é que desta vez o ritual começa com um banho dado pela vovó! Haja saco! Do quarto ouço a voz alta do meu avô, que não para de falar. Dizem que o seu apelido é eletrola. Quando penso que estou liberado... surgem as temíveis visitas. Chegam falando alto, querendo saber o que há para comer, e claro, vão me ver. Apalpam-me, fazem cosquinhas nas minhas bochechas, e todos querem ver o meu bilau para comentar depois... Antes da despedida, é do protocolo tirar uma foto comigo, também não sei por quê. Acho que é para me irritar com todos aqueles flashes na minha cara!

Dia e noite é essa a rotina que enfrento. O bom é que o meu tio velho não veio me visitar. Se ele aparecer, peço as contas e vou me esconder num motel de crianças, pois sei que lá adulto não vai, com medo de ser fichado com esse negócio de pedófobo.

Amigo, estou cansado! Vou mandar-lhe uma foto minha recente. Repare como estou abatido. Também pudera! Enfrentar essa vidinha fora do útero, não é para qualquer um.

Obrigado e abraços do Rafael – RAFA, para os amigos."

Gabriel Novis Neves
25/04/2010

sábado, 1 de maio de 2010

Cuidado!

Sou um escrevinhador do que ouço, vejo, leio, e que constitui o nosso cotidiano. Envio para alguns amigos os meus textos. A mídia publica por pura generosidade. Nunca parei para avaliar o valor literário desses textos – nem nunca me preocupei com isso. E, se brincar não possui nenhum. Mas escrevo assim mesmo, afinal não deixa de ser uma forma de comunicação. Afasto assim “a solidão, que é um bom lugar de visitar de vez em quando, mas ruim de adotar como morada”. Pertenço a um grupo de pessoas que escrevem por prazer, e tem como filosofia a interpretação da sabedoria popular, imortalizada pelos ditados populares. Às vezes, para não ofender sensibilidades, altero um pouquinho a originalidade da mensagem, mas não a sua essência. Farei isso neste artigo para me ver livre da censura, pois o assunto é importante.

Abro um site, leio a matéria e clico para assistir um vídeo do excelente jornalista Oliveira Júnior sobre a demolição do Verdão. Em três minutos, o experiente jornalista consegue massificar a justificativa oficial para a demolição do Verdão. Que coisa mais constrangedora foi a entrevista!

Indagado pelo jornalista, no gramado do Verdão, sobre a polêmica da destruição do estádio de futebol, o entrevistado respondeu mandando uma mensagem legalista, para os insatisfeitos com a sua decisão: “procurem a justiça”. Minutos antes, sem ele saber, o Presidente de Honra da FIFA condenou a demolição. A família do construtor do Verdão também. Várias pessoas anônimas nas ruas condenaram e justificaram o seu parecer. “O Verdão é patrimônio de Cuiabá”. “O Maracanã e o Morumbi sofrerão reformas que poderiam ser feitas no Verdão”. “É gastar dinheiro sem necessidade”. Foram alguns depoimentos que ouvi e guardei.

Após o conselho do mandatário da obra, imagino o constrangimento do Presidente de Honra da FIFA, procurando a justiça, assim como os anônimos cidadãos. Vai ser notícia de repercussão mundial - pelo prestígio do Havelange.

Enquanto isso... A violência em Cuiabá e Mato Grosso atingem índices insuportáveis. Caso típico de se procurar a justiça. Qual a atitude do defensor das leis? Passou longe da justiça, e foi procurar “justiça” requisitando um pelotão da polícia militar para a sua proteção. Agora, para explicar esta incoerência somente o ditado popular ligeiramente modificado: “quem não suja na entrada, suja na saída.” E que sujeira ficará na nossa memória!

Gabriel Novis Neves
21/04/2010