segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CRIATIVIDADE

Como são criativos os nossos políticos! Até para se elegerem muitos demonstram um extraordinário senso de criatividade. E depois de eleito a criatividade corre solta. Do Presidente da República ao Vereador o que não falta é criatividade – às vezes de uma inutilidade espantadora. Mas, o brasileiro é mesmo um povo criativo! Mesmo porque a criatividade faz parte do kit de sobrevivência de muitos brasileiros. Entretanto, entre os políticos é que presenciamos os maiores arroubos de criatividade! Somente a título de ilustração, e por uma questão de espaço, escolhi um projeto para demonstrar a preocupação dos nossos parlamentares com o bem estar social da nossa população.

Na nossa querida cidade (ainda capital do Estado) um parlamentar apresentou um projeto de lei para transformar a lagoa do Centro Político Administrativo de Cuiabá em um piscinão. Na sua erudita justificativa o nobre legislador cita como exemplo a ser seguido, o piscinão do Rio de Janeiro - a maior obra social do governo Garotinho: o Piscinão de Ramos. Com o apoio unânime dos seus companheiros, com certeza conseguirá a aprovação do projeto, para alegria da população de Cuiabá, tão carente nas suas necessidades básicas!

Inicialmente o projeto precisará de recursos para transformar a água poluída da “lagoa” artificial em água potável. Para isso já se pensou em recursos vindos de emendas federais e estaduais, e dos recursos do tesouro estadual e municipal. Forçoso lembrar que estamos com uma Copa do Mundo batendo na nossa porta, e o piscinão será um dos locais de turismo aos visitantes estrangeiros. O saneamento de toda a área ficará a cargo do PAC II. Para a criação artificial da praia será utilizada a areia que sobrou no fundo do rio Cuiabá. A construção de quiosques, com recursos do MT - Fomento. Ônibus de todos os bairros de Cuiabá (ainda capital) terão uma linha final no piscinão.

São iniciativas inovadoras como essas, com muita criatividade e poucos recursos, que precisamos para incentivar o turismo e acelerar o desenvolvimento do nosso estado. Na política precisamos de caras novas e de gente disposta ao sacrifício pessoal pelo bem estar do nosso povo.

Imagino a manchete do Jornal Nacional: “Cuiabá, em um criativo e arrojado projeto do parlamento, inaugura um moderno piscinão na área em que funcionam os poderes do estado.”

A piscina de água doce, com aquecimento natural, certamente servirá para o lazer dos sete mil novos servidores comissionados. Ah sim, durante a semana e no horário comercial - já que foram nomeados para não fazerem nada mesmo. Nos finais de semana servirá como local predileto para piqueniques e um bom mergulho da população de menor renda.

É pensando em projetos deste porte - de alto cunho social e que agregará benefícios à educação, à saúde, à segurança pública, enfim que promoverá efetivamente o desenvolvimento do estado - que nossos políticos profissionais, são merecedores dos nossos votos!


Gabriel Novis Neves (7.5 + 53)

28-08-2010

O professor

Com a chegada da televisão à Cuiabá (ainda capital do Estado), incorporei o hábito de tomar o café da manhã assistindo ao noticiário da TV. Saía para trabalhar sempre bem informado. Durante muitos anos recebi pela manhã as boas e as más notícias, do Brasil e do mundo. A pior de todas foi o atentado terrorista às torres gêmeas em Nova - York! Vi em tempo real.

Durante a minha caminhada matinal, também vou colhendo informações do que está acontecendo na minha cidade. Hoje, por exemplo, me deparei com a queda espontânea de um enorme painel de um shopping famoso, localizado no também famoso bairro Goiabeiras. Houve necessidade de um batalhão de bombeiros para a remoção dos entulhos que ocupavam a calçada e a avenida do “sonho de consumo.” Sorte a minha ter esquecido o dinheiro em casa para a compra do pãozinho integral. Do contrário estaria em baixo dos escombros!

Mas, assistir ao noticiário na televisão tomando meu saudável café da manhã - como falei - é um hábito tão enraizado e prazeroso que me é penoso desistir dele. Mas não é que, numa dessas irritantes coincidências da vida, o meu café da manhã é justamente no horário do Programa Eleitoral Gratuito? Que maçada! Que fazer? Então resolvi: já que não posso alterar o horário do tal programa, mudo eu o meu horário do café da manhã. Solicitei, portanto a minha ajudante doméstica, que até o término do horário político gratuito (!) passarei a fazer minha primeira refeição antes dos meus exercícios. Vou ter que acordar ainda mais cedo, mas prefiro isto a ter que agüentar a hipocrisia dos discursos dos políticos. A gota d’água foi uma entrevista que assisti no tal programa gratuito. Dei um basta!

O personagem que abrilhantou o programa em questão foi um professor. Muitos leitores podem questionar: “bolas! Por que ele não muda de canal?” Acontece que eu procuro ser otimista, e dei mais uma chance para o meu otimismo. Mas tá difícil! Voltando ao professor; iniciou a entrevista com uma empáfia! Nos melhores moldes dos mestres imperiais. Sua aula de sapiência demorou doze irritantes minutos. Doze minutos com aquela cara de fotografia: sem mexer um músculo. De uma inexpressividade patética. Empatia com os telespectadores? Nenhuma. E estava ali para pedir votos! Na visão dele, o professor, tem que manter-se em posição diferenciada, para não se nivelar aos alunos. Meu Deus! Acho que ele veio da Idade Média! E continuou a nos empurrar todos os seus infinitos conhecimentos.

Desconfiei também que o professor possuía um ponto eletrônico no ouvido, ligado a alguma central de inteligência para respostas “politicamente” corretas. Deu-se mal ao justificar que votou contra o aumento da aposentadoria dos velhinhos e a invasão de terras produtivas. Com relação ao aborto, a ordem recebida era para enrolar os ouvintes para não perder votos. Conseguiu – falou, falou e não disse nada. Converteu o nosso sofrível desempenho na educação como avanço e o SUS como um sistema próximo a perfeição! O provável ponto eletrônico assoprava, e ele repetia. Disse que a péssima lei da reforma agrária foi criada no governo passado e eles simplesmente a herdaram. Estavam apenas seguindo a legislação. E por aí foi. Desconfio que ele tenha muita confiança e segurança na garupa que pegou com um ex-adversário capitalista, para continuar a servir o Brasil.

Por estas e por outras, é que, a partir de amanhã, o meu café da manhã será às cinco horas, com pão dormido, manteiga Aviação e queijo branco de minas.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 52)

27-08-2010

domingo, 29 de agosto de 2010

ROSA ROXA

A rosa é uma das mais místicas dentre todas as flores. É a flor de maior simbolismo na cultura ocidental. Na mitologia, a rosa é uma flor dedicada a várias deusas. Símbolo de Afrodite e de Vênus, (deusa grega e romana do amor).

As rosas possuem cores várias, e cada cor, segundo reza a tradição, tem um significado. Mas, no geral, a rosa significa amor – seja espiritual, carnal, maternal ou virginal – é o símbolo da pureza, a que todos nós, seres viventes um dia alcançaremos.

A mitologia está fortemente presente na sociedade atual. Para Freud, os mitos seriam uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes insconscientes de um ser humano.

Consciente, ou inconscientemente, hoje recorri ao mito da rosa. Rosa, símbolo das deusas do amor. Uma linda rosa roxa! Onde encontrei minha rosa? Não a encontrei em um jardim, tampouco a encontrei enfeitando um vaso. Ela simplesmente passou por mim. O seu balançar possuía a graça e a leveza de uma rosa ao sabor da brisa. Vestida de pétalas roxas, a minha rosa era humana - ou seria uma deusa? Eu senti a rosa roxa!

Li certa vez, que a rosa roxa, pela sua cor, “tem um efeito de limpeza para os transtornos emocionais. Também nos conectam com os impulsos musicais e artísticos, o mistério, a sensibilidade, a beleza, a espiritualidade e a compaixão.”

Era tão linda a minha rosa roxa! O encanto daquela rosa roxa com facilidade e violência agrediu os meus sentidos, apagou a minha razão e chegou ao meu coração. Para mim, as suas pétalas, acompanhavam os caminhos perfeitos daquela bela escultura humana. A visão sensual daquilo que tenta esconder é um espetáculo que só as rosas produzem. Não consigo ignorar aquilo que sinto diante da rosa roxa. A minha imaginação me leva ao encontro da natureza. Aproximei-me daquela esplendorosa rosa roxa levado por uma atração irresistível.

Dou razão ao poeta da Mangueira. Essa rosa também exalava perfume. Nem queria saber se era artificial! Só sei que o meu olfato acusou o aroma delicioso da essência que vinha da rosa roxa.

De hoje em diante manterei sempre ao meu lado um copo de água para servir de morada a minha rosa roxa.

Como é bom viver de sonhos, mitos e fantasias!


Gabriel Novis Neves (7.5 + 48)

23-08-2010

sábado, 28 de agosto de 2010

Alegria curta

Pela primeira vez, em vinte e sete anos, chego ao hospital em que trabalho e encontro estacionado, próximo a entrada do nosso pronto-atendimento, uma minúscula viatura da polícia militar. Paro o meu carro, identifico-me e cumprimento a autoridade policial. Disse da minha satisfação ao vê-lo ali parado – fazendo, com certeza, prevenção de uma desgraça.

Para o leitor entender o caso: há tempos venho solicitando as nossas autoridades competentes providências no sentido de organizar o trânsito em frente do hospital, que fica ao lado de uma escola relativamente grande. O fluxo de carro é intenso. Por diversas vezes a ambulância encontrou dificuldades de chegar com a rapidez necessária ao pronto atendimento do hospital, sem falar dos motoristas irresponsáveis que estacionavam o carro bem em frente à entrada destinada à ambulância.

Pois bem. Exultante, ao ver que finalmente alguma atitude tinha sido tomada, continuo o diálogo com o jovem e educado policial. Acho que em sinal de respeito para com este idoso, ele retira os seus óculos escuros. Conversa olho no olho – assim entendi. Imploro que não deixe os carros estacionados irregularmente na porta do nosso pronto-atendimento, onde existe uma enorme placa avisando que é proibido estacionar. Também pondero com a autoridade que a rua é estreita, e os carros estacionam no lado direito (que é proibido), e no esquerdo, em cima da calçada. Numa clara demonstração de transgressão às leis de trânsito.

O policial a tudo ouvia e balançava a cabeça em sinal de concordância com o que eu estava falando. Muito simpático. Ele, apesar de não falar nada, parecia disposto a escutar tudo. Então questionei: “se você estivesse trazendo para este pronto-atendimento um filho em convulsão, ou a sua mulher grávida com sangramento, o que faria encontrando bloqueada a entrada do hospital?” Sem esperar a resposta emendo: “essa arma que você traz na cintura, continuaria ai?” Ele não respondeu nada, mas percebo sua expressão de solidariedade diante da minha indignação.

Despeço-me do bom e calado militar e fui para o meu consultório. Eufórico, telefono ao meu editor. Relato o fato e desabafo: “Alguém leu o meu artigo Prevenção da desgraça, e parece-me que finalmente os meus apelos estão sendo escutados.”

Após terminar o atendimento no consultório, resolvo passar pelo pronto atendimento para ver como as coisas estavam indo. Frustração total! Encontro o caos de sempre. Procuro pelo policial. Nem sinal dele e do carro! Não posso jurar, nem peço que acreditem, mas, súbito, me vem a suspeita: aquele carro da polícia transportava alguma criança à escola. Não seria a primeira vez que vejo carros oficiais servindo à família dos poderosos. Entendi também o porquê da mudez do policial.

Minha alegria durou pouco, muito pouco. Mas não desisto, vou continuar com meus apelos às autoridades para uma solução urgente para o tráfego diante do hospital.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 51)

26-08-2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ELA VEIO

A notícia de que o Brasil, e especialmente o estado de Mato Grosso, está literalmente pegando fogo, correu mundo. Aí ela veio. Veio verificar “in loco” o estrago ambiental das queimadas. Uma lástima! Essa tragédia foi anunciada pela senadora acreana quando Ministra do Meio-Ambiente. Mas ninguém deu bola para o que ela falava. Foi demitida pelo Governo Federal. Pelas bandas daqui, também desgostou profundamente o Palácio Paiaguás, que levantou suspeita sobre a credibilidade do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Ela aproveitou a viagem de condolências ao nosso Estado e tentou esclarecer ao povo aquele prêmio que os meninos do Pânico ofereceram ao nosso ex-capitão-mor. Infrutíferas as desculpas. O prêmio fica valendo.

A visita dela foi rápida. Eu compreendo. Ela não gosta de falar muito sobre o que não sabe. Até tenta, mas se torna tão inteligível que parece que nós é que somos alienados. E o tratamento por ela recebido pelos anfitriões? Gente! Amigos de infância com certeza, tal a intimidade demonstrada.

Primeira etapa da visita: Rondonópolis – com direito a usar um grande chapéu ao estilo botineiros. Carreata debaixo de um sol escaldante. Fumaça. Baixa umidade do ar. A pobre senhora passou mal - lógico. Desfile interrompido em carro aberto. Passou para um carro com ar refrigerado. Tá certo.

O próximo destino era desembarcar no aeroporto de Várzea-Grande, por falta de um moderno e amplo em Cuiabá (ainda capital do estado). Mal desembarcou já começou a pagar mico. Quase retorna à Ilha da Fantasia. Foi recebida por outro candidato a governador que a apóia. O rigoroso cerimonial não permitiu imagens com áudio. Bem feito! Não levaram nenhum companheiro daqueles tempos!

Liberada da alfândega das hipocrisias sobe em um mini-trio elétrico para o desfile. Naquela hora a fumaça produzida pelas queimadas limitava a visão a menos de duzentos metros. Não contando o calor de quase cinqüenta graus. Ao seu lado os matadores das florestas, responsáveis pelo incêndio no estado. O constrangimento no desfile era evidente, aumentando a revolta explícita da visitante. Soube-se depois que ela comentou no carro com assessores diretos: “não é assim que se recebe alguém.”

Depois de penar com o calor implacável e de quase sufocar com a fumaça, chegou a hora do seu pronunciamento. Com a pressa que o momento exigia, prometeu que se eleita o seu primeiro ato seria encaminhar ao Congresso Nacional uma mensagem criando a CPI do Incêndio. Jurou que todos os responsáveis seriam punidos dentro da lei. Foi uma ducha de água fria na comitiva que a acompanhava.

Encerrada a histórica visita, entrou no seu jatinho, e rapidinho colocou a máscara do oxigênio. Os que por aqui ficaram irão continuar exibindo a cara de sempre: mascarada. E no baile de fantasias continuaremos a escutar o velho refrão: “prometo fazer tudo pela saúde, educação, segurança, etc..., etc..., etc...”.

Gabriel Novis Neves (7.5 + 51)

25-08-2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Marcelândia

O Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou dados referentes aos focos de queimadas no país. No dia 12 de agosto, às 16h30, os satélites registraram em todo o país, 13.851 focos de queimadas. Segundo o INPE, “Mato Grosso tem o maior número de incêndios do Brasil. O Estado possui 4.285 focos de queimadas.

São dados oficiais de um Instituto respeitado no mundo acadêmico e científico. Para trabalhar no INPE o candidato tem que fazer um difícil vestibular. É um curso que exige muita dedicação dos seus alunos. Depois fazem a pós-graduação, muitas vezes com estágio no exterior. Portanto, não tenho porque duvidar desses dados do INPE.

Os dados do INPE são repassados aos governos dos Estados. Mas infelizmente parece-me que Mato Grosso não possui um programa de controle, repressão e prevenção dos focos de queimadas. Dificilmente por aqui há registro de alguma providência preventiva. O governo é alertado, mas como não há investimento de peso na Defesa Civil, pouco ou nada pode fazer frente a uma catástrofe anunciada. O resultado de tanta negligência? A destruição da cidade de Marcelândia pelo fogo. O governo do estado como sempre, se isenta da culpa. “Pura sabotagem política!” – é o que o governo diz. Fiquei sem entender se a sabotagem foi do INPE que alertou com antecedência sobre a tragédia, ou do governo pela sua omissão. A triste realidade é que Marcelândia foi levada pelo fogo. Mais triste ainda é saber que toda a tragédia poderia ter sido evitada, ou grandemente amenizada.

Marcelândia foi colonizada por idealistas brasileiros, que do sul chegaram para nos ajudar. Surgiu em plena selva amazônica. A sua principal riqueza eram as árvores, transformadas em madeira. Várias madeireiras foram ali instaladas. As serrarias funcionavam dia e noite. As toras de madeira eram transportadas e vendidas para o exterior e cidades industrializadas do Brasil. Marcelândia até então era conhecida como cidade madeireira. O lixo das serrarias são as serragens ou pó de serra. Acumulados, produzem verdadeiras montanhas de um material extremamente perigoso. Com a seca, calor amazônico e ventos fortes, tornam-se facilmente inflamáveis. O governo sabia de todos esses riscos, e nenhuma providência foi tomada para evitar a catástrofe anunciada.

Marcelândia é uma pequena cidade a 800 k de Cuiabá. Um pequeno hospital (!) com 23 leitos. Não possui corpo de bombeiros, e depois da queimada da cidade, foi criada a Defesa Civil. O governador sobrevoou a cidade onde contemplou a tragédia. Imediatamente determinou aos técnicos a elaboração de projetos, para a proteção de incêndios com recursos do BNDES. Encaminhou para as vítimas do fogo, 500 cobertores, 200 cestas básicas, quatro médicos da polícia militar e duas ambulâncias do SAMU para reboco terapia.

Há 40 anos esse desastre foi previsto pela UFMT através do Projeto Aripuanã, cuja proposta central era a “Ocupação Racional da Amazônia.” Realmente a ciência e a tecnologia não são aceitas pelo estado. Parece que essas conquistas de conhecimento não são aceitas por colonizadores.

Marcelândia é a mais recente vítima do progresso. Agora é cinza e sofrimento da sua gente humilde.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 28)

13-08-2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

VIOLÊNCIA

A Academia de Medicina de Mato-Grosso através do seu Centro de Estudos promoveu uma conferência sobre violência. O conferencista, e nosso confrade, foi o Professor MS Márcio Canavarros, da UFMT e da UNIC.

Márcio é cirurgião geral, estudioso em traumatologia causada pela violência. Acho que este interesse do mestre surgiu quando estudante de Medicina no Rio de Janeiro. Estagiou no Hospital Souza Aguiar, então considerado o maior hospital de emergência e urgência da América Latina. Assim como eu, acredito que todos os estagiários que passaram pelo Souza Aguiar, ficaram marcados com o lado médico-social deste mal da humanidade. No mundo sempre houve violência. No decorrer dos séculos, entretanto a violência parece que ficou aceitável pela banalidade como a vemos.

Vamos à fria realidade dos dados com relação à violência. A Etiópia há 600.000 anos pratica a violência. Hoje a faixa etária que mais pratica a violência está entre os 15 aos 30 anos de idade.

As principais causas de mortes por violência no Brasil: em primeiro lugar disparado, as vítimas dos acidentes de trânsito. O segundo lugar para mim foi surpreendente: suicídio! Dizem que Brasília com a vida de fantasia dos seus moradores, sem esquinas para o papo terapêutico e o estresse das maracutais, puxa a estatística do suicídio. Em terceiro lugar vem o assassinato, seguido de inúmeras outras causas. Mato-Grosso está muito bem posicionado no ranking nacional da violência, ocupando o décimo terceiro lugar!

Uma curiosidade: das 17 capitais brasileiras candidatas a sediar a Copa 2014, Cuiabá é a terceira em violência, e a FIFA sabe disso.

De 2003 para cá, aumentou o número de homicídios em Mato-Grosso, bem acima da média nacional. Na Grande Cuiabá temos um homicídio para cada 14 horas. Aumentou muito a violência por aqui, apesar das festivas distribuições de pequenos e impróprios veículos, para a nossa deficiente polícia em número de recursos humanos e falta de treinamento adequado.

E a violência contra a mulher e menores? A banalização da violência nos imobiliza. Há um medo generalizado na sociedade em denunciar esses fatos. Muitos sabem que a contra partida é a violência contra aquele que exerce a cidadania. E o medo é sinal de violência, gerando o silêncio, que é outra violência.

O palestrante enumerou cinco prioridades para minorar pelo menos a violência que domina o país e o nosso estado. Nada de novidade. Todo eleitor sabe o caminho para alívio deste câncer social, e os políticos que são escolhidos pela sociedade também. Basta alguém ter a coragem cívica de ouvir as propostas eleitoreiras, para verificar que todos os candidatos, sem exceção, juram de pés juntos que se eleitos irão lutar pela educação, saúde, transporte em estrada não assassina, meio ambiente e trabalho. Apurado os votos, essas promessas ou compromissos, como dizem alguns, caem no vazio, no esquecimento - que é uma violência ao eleitor. O momento agora, ou prioridade não é mais com a educação, saúde, meio ambiente, transporte e emprego para combater a violência. Entra a lei “Mateus, primeiro os teus.”

Como diz o personagem do Chico Anísio, quando um prometedor é cobrado, a resposta é invarialmente: “eu quero que o povo se exploda...”

O professor fez uma conferência riquíssima em dados oficiais. O “espetáculo” do combate a violência, coube ao estado do Rio de Janeiro com resultados sensacionais!

O governo conseguiu diminuir drasticamente o número de homicídios! Em compensação, o percentual da diminuição de homicídio foi folgadamente ultrapassado pelo número de “desaparecidos.”

A função da Academia de Medicina não é ficar em uma redoma de vidro discutindo as conquistas científicas. É função também da Academia discutir as grandes epidemias sociais, como a violência. Seria útil se os nossos candidatos deixassem por um minuto as cretinas visitas as feiras livres, os velhos arrastões e o oportunismo de vôos em cidades destruídas pela violência dos matadores das florestas.

Deixei a conferência com a preocupação voltada para o nosso futuro - que cheira mais violência.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 46)

21-08-2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Prevenção da Desgraça

Pronto-atendimento médico é um pronto socorro que atende certas especialidades.

Trabalho em um hospital focado no atendimento materno-infantil. Mantemos um pronto-atendimento, apenas nessas especialidades.

O pronto-socorro atende a todos os tipos de urgências e emergências. Em Cuiabá possuímos só um, que é do município.

Como temos pouquíssimos hospitais, com um decrescente número de leitos, pois a maioria faliu, alguns que insistem em não fechar as suas portas possuem o seu pronto-atendimento.

O número de atendimentos nesses minis pronto-socorros é alta. No pronto-atendimento do Hospital Materno Infantil a previsão é de chegarmos a dez mil atendimentos este mês.

Geograficamente estamos bem localizados. Possuímos um excelente corpo clínico. Somos referência no Estado.

Acontece que temos como vizinhos dois colégios importantes da cidade. Oferecem aos seus alunos educação infantil, ensino fundamental e médio. No período escolar, principalmente no início e final das aulas, o tráfego fica quase paralisado impedindo o acesso de ambulância ou veículo com pacientes em urgência e emergência ao pronto-atendimento.

Há cinco anos alerto as autoridades para a gravidade deste bloqueio. O então secretário municipal de Transporte, atendendo a nossa solicitação, esteve no local com a sua equipe técnica. Viu o absurdo cenário. Tomou algumas providências como aumentar o diâmetro da rotatória em frente ao hospital. Alterou a direção do fluxo dos veículos.

Na prática a situação continua de alto risco para os pacientes que necessitam chegar ao pronto-atendimento, pois as suas vidas correm risco. A imprensa já noticiou o fato, que é sério.

O problema caiu no esquecimento das nossas autoridades. Menos no nosso. Estou ressuscitando um crônico problema para evitar uma tragédia.

Imagine alguém com uma criança em convulsão ou uma gestante com hemorragia impedida de chegar ao pronto-atendimento do hospital. Sei perfeitamente o que iria acontecer.

Existem tantos lugares sem importância social alguma, com guardas de trânsito e a porta de um pronto-atendimento hospitalar bloqueada por insensibilidade ou desumanidade.

Cuiabá está se tornando uma cidade dos absurdos. A limpeza da entrada do nosso pronto atendimento é um problema que precisa de solução urgente.

Por favor, chamem os engenheiros da nossa UFMT!

E tem demagogo dizendo por aí que a chegada a arena azul para a Copa 2014 está resolvida!

Em seis anos não conseguiram, resolver o tráfego em frente a um hospital...

Juízo, deuses do poder!

Gabriel Novis Neves

21.08.2009

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

2ª FEIRA DE AGOSTO

O meu irmão que mora comigo foi passar uma temporada com as filhas no Rio de Janeiro. O seu cuidador aproveitou para tirar férias e eu voltei a minha rotina de anos.

Após os exercícios físicos da madrugada, passo na padaria para comprar um pão francês integral para mim, e dois franceses comuns para a minha ajudante doméstica. Hoje cheguei à padaria às 6:30h - horário em que toda a diretoria dos fuxiqueiros está reunida. O seu presidente-fundador era o único ausente, por motivo de doença. O pobrezinho está com coqueluche. Mesmo com a ausência do fundador, recebi um singelo presente do meu amigo espiquer Dirceu Carlino. Sendo assim vou dedicar hoje essa crônica para ele – em agradecimento.

Chegou à Cuiabá com seu amigo de infância, o jovem Miguel Sutil. Era o jornalista da expedição. O seu amigo retirou todo o ouro das redondezas e mandou para Portugal. O espiquer logo se enturmou com os boêmios, e ficou por aqui. Atualmente é empresário no setor de alimentação. São Pedro já o chamou várias vezes, mas como contraiu precocemente uma surdez incurável, não ouve a chamada. Acho que foi esquecido, ou está no final da longa fila.

Recentemente saiu de férias com a família. Procurou as praias contaminadas do nordeste para descansar. “O preço compensa” - diz o esperto espiquer. E lá foi ele feliz da vida com os bisnetos, digo, netos, ou serão filhos? Enfim, levou a criançada a tiracolo. Conhecido mão aberta, voltou carregado de pequenas lembranças para os amigos. É um bom velhinho esse Dirceu! Nesta segunda-feira de agosto, sem que eu soubesse de nada, foi programada a solenidade da entrega oficial do meu presente. Todos os fuxiqueiros foram convocados para solenizar o ato – menos o seu presidente como falei anteriormente. Teve discursos, aplausos, fotografias e muitos abraços - seguindo o ritual da diretoria dos fuxiqueiros. O presente foi-me entregue pelo próprio Dirceu. O mimo estava envolto num plástico colado com durex. Abri. Era um lindo chapéu pequeno! Na ponta da aba do chapéu uma etiqueta colada com goma arábica estampava os seguintes dizeres: “made in China” e o endereço da loja – “Rua 25 de Março, SP.” Mas isto não vem ao caso, faz de conta que ele comprou lá mesmo no Nordeste, o que vale é a intenção. Agradeci profundamente emocionado o presente e fui para casa.

Neste mesmo dia recebi um telefonema do tesoureiro do Clube dos Fuxiqueiros. Alertava-me que o presente era pura armação para me sensibilizar. “Como assim me sensibilizar?” – indaguei curioso. Então ele me explicou: “é que o nosso colega do Clube precisa de um avalista para um empréstimo bancário. Sabe como é. O seu restaurante está localizado numa praça pública que ele grilou e agora quer modernizá-lo para Copa de 2014.” Encurtando a conversa: nenhum banco sequer analisou o pedido do amigo de Miguel Sutil. Também pudera! Com a ampliação das vias aéreas, necessárias para se chegar à arena azul, o seu restaurante ficará exatamente debaixo delas. Que situação!

Mas querem saber de uma coisa? Com toda minha franqueza: isto tudo é puro fuxico! O Dirceu é um supermarajá e o tesoureiro-fotógrafo oficial dos fuxiqueiros tem um dos maiores salários do estado. Como ele diz: “eu tenho um salário-penduricalho de benefícios.”

O chapéu pequeno? Usarei nos grandes eventos sem ventos, senão ele voa de tão leve que é.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 41)

16-08-2010

domingo, 22 de agosto de 2010

Recuperação

O meu Botafogo há duas semanas freqüentava a área de rebaixamento do Campeonato Brasileiro de Futebol. Aborrecido com a situação do meu time, tirei uns dias de licença médica - proibindo-me de assistir as partidas de futebol do Botafogo.

Vencida a licença, volto ao futebol. Encontro o meu Bota no grupo dos G-4, que são aqueles times que no ano que vem disputarão a Taça Libertadora da América, e depois o título mundial de clubes! Barbada pura para o timaço da estrela solitária, campeão desde 1910!

Sinto-me como em um país oriental, rico com a Taça de Campeão do Mundo Inter Clubes. Passa-me pela cabeça a cena da chegada triunfal do meu Botafogo no Rio de Janeiro. Aeroporto Tom Jobim lotado às quatro horas da manhã. Jogadores saindo por caminhos estratégicos. O Somália, estrela do conjunto, concedendo entrevista exclusiva para o Bom-Dia Brasil. Finalmente o início do monstruoso desfile no carro do Corpo dos Bombeiros do aeroporto até General Severiano, sede do Botafogo. Um grupo de pagode do morro Santa Martha anima a festa. Discursos, beijos e abraços acompanhados de choro. Uma conquista inesquecível! E o mais fanático dos fanáticos torcedores do time de Garrincha (eu), com atestado médico que me impediu de acompanhar a parte mais vibrante e emocionante do espetáculo - a grande virada!

Como todo botafoguense, também sou supersticioso. E já decretei para mim mesmo: daqui para frente não assistirei mais aos jogos do Fogão, para dar sorte.

Espero que a recuperação do Fogão não seja como aquele verso do Vinícius de Morais: “... que seja infinito enquanto dure.”


Gabriel Novis Neves (7.5 + 42)

17-08-2000

sábado, 21 de agosto de 2010

SÓ EU?

O Jornal CIRCUITOMATOGROSSO chegou a sua 300ª edição. Nada mais apropriado do que um almoço de confraternização. Fui convidado para o evento. O convite era um cartão, muito criativo e bem humorado, preso a um delicado tubinho plástico verde. Dentro do tubinho uma camiseta preta. Na camiseta estava marcada a letra “G”. Ainda pensei com humor: será que “G” se refere a Gabriel, ou ao tamanho? Experimentei a camiseta e fui me olhar no espelho do meu quarto. Coube em mim, ou melhor, consegui entrar nela. Era toda confeccionada com Fio Penteado - Extra Macio, (li na etiqueta). Dei uma esticada na camiseta para baixo, para o lado, encolhi o que pude a barriga – e acho que ficou vestível – o bom é que a cor preta favorece aos mais avantajados. Chamei a minha auxiliar para dar uma desamassadinha clássica e deixá-la no cabide.

Pelo que entendi o uso da camiseta preta seria o ingresso para o sofisticado restaurante. Então vesti a camiseta e fui para o almoço. Na entrada o recepcionista estava com uma prancheta, igual àquela utilizada pelo Joel Santana, com uma folha de papel digitada para conferir os convidados. Depois que passei no teste da entrada, fui conduzido à mesa reservada - imaginando que todos os convidados estariam usando a camiseta preta. Mas, à medida que me aproximava da mesa, de imediato percebi que eu era o único convidado vestido com o “convite”. Como sempre eu dando os meus foras! Só eu! Só eu de camiseta preta! Estava meio destoando do resto do pessoal, mas enfim, já estava lá mesmo... E com a camiseta preta.

Sentei-me na lateral esquerda de quem entra, em frente ao Enock - responsável primeiro pela minha presença. Logo chegaram o Pérsio e a Flávia, e alguns dos antigos e novos amigos. Ninguém chegou de camisa preta. É. Já estava conformado que eu seria o único a estar usando esse acessório. O papo gostoso pousa no nosso pedaço, agora enriquecido com a presença da Malu. Enock me colocou para gravar um vídeo - a sua última mania. A editora vende competência e simpatia! Não me lembro do que gravei. Estou seguindo Kant: não se esqueça de esquecer. Dona Márcia, que além de fiscal dos “caracteres” dos meus textos, é também fotografa, resolveu virar também marqueteira. Como só eu usava a vanguardíssima camiseta preta, fui prato cheio para as suas poderosas lentes. A camiseta era bonita: na frente tinha a imagem de uma criança sentada no vaso sanitário do banheiro lendo um jornal. Nas costas estava escrito: “CIRCUITOMATOGROSSO - O seu jornal do fim da semana.” Para a Flávia virei velho, digo garoto propaganda, do até aqui, semanário. Como os extremos se tocam em um mundo redondo, estava selado pelas marqueteiras o destino do jornal - Experiência do garoto propaganda (para elas), e juventude do Circuito.

Felicidades aos proprietários do Circuito - 300. Desde já me sinto convidado para o almoço da Edição 30.000!

Como será o convite? Disseram-me que receberei um fraldão! Será que vou usar? Ou melhor, será que até lá eu terei consciência de que estarei usando? Vamos esperar para ver.


Gabriel Novis Neves (7.5 +37)

12-08-2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Prioridade

Tenho por hábito demonstrar gratidão por alguém que me presta um favor. Não costumo alardear esta atitude, mas sempre que possível cito em meus artigos o nome de alguns benfeitores. Existem pessoas assim – sempre prontas a nos ajudar nos momentos complicados da nossa vida. Acho que elas nasceram com essa missão, por sinal, bela missão.

Há dois meses enfrento um sério problema com o meu computador. Não entendo patavina dessa máquina, a não ser digitar com o dedo médio da mão direita. Falei desse problema com os fuxiqueiros da padaria e logo surgiu o nome de um associado que conhecia tudo da máquina. Perguntei por ele. Em coro os fuxiqueiros me responderam: “Dormindo”. Sim, claro! Era um sábado de manhã, mês de junho, clima fresquinho, e pelo que pude entender, tinha bebido todas na noite anterior. Pedi o número do seu celular. Esperei uma hora apropriada e telefonei. O assunto era prioritário para mim. Com dificuldade agendamos um horário para a sua visita – assim que a sua situação gasosa permitisse. Ele foi. Com a lua dentro do meu escritório, mas foi. Tinha acabado de acordar. Falei do problema. Ele fez algumas manobras no teclado e disse-me que no máximo em quarenta e oito horas o problema estaria resolvido. Satisfeito, ofereço-lhe alguns pastéis que haviam sobrado do almoço. Devorou todos. Ah, acompanhado de uma lata de refresco “redondinha” que ninguém é de ferro.

Entretanto, aquelas quarenta e oito horas prometidas se transformaram em dois meses. Minha paciência estava no limite. Aí telefonei outra vez. Escutei uma coisa que me deixou estarrecido. Não é que os fuxiqueiros armaram outra vez para mim? Disse-me ele que o problema era simples, muito simples, e que ele não tinha completado o serviço para testar minha tolerância. E ainda me deu parabéns! Agora sim, minha paciência se esgotou.

Apresentei queixa ao meu advogado de pequenas causas. Foi feito um “acerto amigável” entre eles – sem o meu conhecimento. O acerto era para que eu esquecesse todo aquele inconveniente, e levasse na esportiva a brincadeira. Sim claro, entendi. O meu advogado é amigão do técnico. “O que passou, passou, esqueça!” – assim me falou o advogado.

No outro dia o meu advogado apareceu na padaria com um carrão zero. Este fato não tem nada a ver com a história. O fato é que até o flanelinha que cuidava do carro estava sabendo da brincadeira. E disparou para mim: “Doutor não fica aborrecido, a vida é assim mesmo. A única prioridade para os homens é a morte.”


Gabriel Novis Neves (7.5 + 42)

17-08-2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

W. O.

Se as artísticas placas de propaganda política que encontrei espalhadas abundantemente pela cidade, votassem no primeiro domingo de outubro, não tenho a menor dúvida, que o tampão sem votos, seria reeleito por W.O. Quem visita Cuiabá tem a sensação que teremos eleições cubanas aqui, com candidato único. Que coisa gente!

Depois que a vida me obrigou a ser “dona de casa,” passei a conviver com os preços. Sei quanto custa uma cesta básica, o condomínio do apartamento onde moro, o custo do telefone e luz – assustadores. Quanto se gasta de carne branca e vermelha, as despesas do mercado na 5ª feira, o pão integral e francês, enfim tudo é muito caro por aqui.

Vendo o espetáculo das placas do candidato tampão, fiquei imaginando quanto dinheiro o pobre candidato está gastando, única e exclusivamente para nos ajudar. Ele está no grupo dos candidatos bilionários, mas essa gente não é de meter a mão no bolso. Então de onde está saindo, ou aparecendo, tanta grana para produzir o espetáculo do W.O?


Pensando nesse mistério cheguei à padaria para tomar água e um cafezinho. Senti necessidade de socializar as minhas preocupações com o aparecimento de tanto dinheiro jogado fora. Um amigo que trabalha na área fazendária estranhou a minha ingenuidade e perguntou-me se nunca tinha ouvido falar em precatórios. Disse que recentemente o governo do estado propôs pagar o que deve aos servidores do judiciário com cartas precatórias e que os funcionários não aceitaram, e continuaram em greve. “Pois é - continua o especialista - nesta eleição tem muito dinheiro de precatórios circulando no processo eleitoral.” Diante da minha ignorância, com paciência de Jó, explica-me com detalhes como funciona esse crime. Só lhe fiz uma pergunta: “então os homens estão envolvidos?” Ele balançou a cabeça afirmativamente. Quase entrei em choque quando um advogado afirmou, que só na compra de algumas máquinas, o governo reconheceu que pagou a mais quarenta e quatro milhões de reais! “Então essa cambada de ladrões do dinheiro público está na cadeia, já que confessaram o crime?” - perguntei. “Nada meu velho, todos são candidatos com direito a placas.” Já estava satisfeito com as explicações para o dinheiro das placas, quando um professor ambientalista joga mais informações. “O filé mignon nestes últimos anos foi a tal das licenças ambientais. Tinha gente especializada só em conseguir este documento e vender na praça. O dinheiro está aparecendo como placas, santinhos, adesivos, aviões, automóveis alugados e manutenção de um exército de abnegados militantes.”

Fiquei perturbado com o que ouvi. E isto tudo está na boca do povo. Sabia apenas dos sanguessugas, concorrências de cartas marcadas, compra de materiais desnecessários, os escândalos do maior concurso público do mundo, que até hoje ninguém sabe o seu custo real pois teve que ser realizado duas vezes, num evidente desperdício de dinheiro do contribuinte. Só sabia na verdade de desperdícios pequenos como a tal da oficina única, a farra na Dinamarca e a caríssima foto com todo o bando debaixo das garras das máquinas na Avenida do CPA. Um amigo que possui um dos melhores estúdios fotográficos do Brasil tem recebido inúmeros pedidos de pessoas que estavam na trágica foto, solicitando o uso de todos os recursos tecnológicos, independente de preços, para a retirada das suas imagens. Eles sempre dizem no estúdio fotográfico, que se arrependimento matasse, estariam mortos.

Retorno para casa. Arrasado e inconformado com a nossa situação política, e com a certeza de que eu sou um de milhares de trabalhadores que pagaram as placas.

Vamos continuar assim, ou tentar mudar? Eu já decidi - vou mudar.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 32)

07-08-2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Farinha do mesmo saco

Diz um ditado popular que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. Esta sabedoria popular é muito antiga e precisa ser atualizada. Com a maior facilidade posso acrescentar várias vírgulas no tradicional ditado, e enfileirar uma série de conceitos novos. Vivemos em época de propaganda eleitoral. Todo mundo dá o seu pitaco sobre o assunto mais discutido na cidade: as próximas eleições para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. E lá vêm as análises políticas! Passando pelos profissionais das ciências políticas, os tais marqueteiros, e pelo cidadão comum - todos com as suas opiniões bem abalizadas.

Sou médico e admito a loucura como forma de vida até hoje incompreendida. Vou também me aventurar, a conversar sobre este assunto, embora a contra gosto, só pelo prazer de dar uma mexida nesse angu. Em primeiro lugar essas eleições não mudarão em nada a vida do brasileiro de segunda classe. Continuará “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Ouviremos nos próximos meses barbaridades de mentiras. Sairão pela boca dos candidatos verdadeiras pérolas de auto-estima.

Agora, que legalmente está iniciando a propaganda, a gente escuta cada uma! Dia destes ouvi de um candidato, logo o menos preparado para a função, dizer que está muito bem preparado! Fiquei passado com a cara de pau. Pudor não existe mais para essa gente.

“Todos são farinha do mesmo saco”, é a voz corrente entre o povo. Forte e contundente, mas expressa a sabedoria do povo, que muitos políticos pensam que estão enganando. E os políticos, nem aí: falam, falam e falam, mesmo sabendo que estão sendo demagógicos e hipócritas

A morfologia do candidato é que é diferente. Ideologia? Simplesmente não existe. Todos, sem exceção, pulam mais de partido do que ladrão de galinha pula cercas. O comunismo no mundo acabou, porque virou o partido dos empresários! No Brasil foi criado pelos intelectuais o partido do trabalhador, comandado pelo símbolo do trabalhador brasileiro. Chegando ao poder virou o partido dos banqueiros e patrões. Ganhe quem ganhar as próximas eleições, e os nossos principais problemas como educação, ciência, tecnologia, inovações com transformações, saúde, segurança, infra-estrutura, continuarão do mesmo jeito, se não piorar.

O cargo conquistado com o voto do eleitor privado de informações verdadeiras servirá para os poderosos trabalharem como lobistas dos seus próprios negócios. Até hoje funcionou assim, e não mudará de uma hora para outra. O Estado Brasileiro continuará loteado entre os partidos políticos, onde o mérito das escolhas dos ocupantes desses cargos não é considerado. Todos já estão preocupados em eleger deputados e senadores comprometidos, não com o eleitor que os elegeu, e sim com a formação de uma ampla e sólida base de sustentação para o governo aprovar por WO as suas mensagens. Isto sai muito caro financeiramente, assim como a verba publicitária para trabalhar a imagem do governante.

Lendo um jornal de campanha de certo candidato a governador, não encontrei uma linha que falasse sobre educação, saúde e segurança. O candidato aparece lançando pedra fundamental, discursando para placas, defendendo a aposentadoria em dois minutos, e finalmente posando com os tratores. A história desses tratores de última geração demonstra bem a falta de respeito com o dinheiro do contribuinte. Compraram essas necessárias máquinas para os nossos carentes municípios e muitas festas foram realizadas. Esqueceram-se, porém do mais importante e imprescindível: treinar os operadores das máquinas. Muitas estão encostadas, pois até hoje ninguém conseguiu abrir a porta da cabine do trator. Debates de idéias foram substituídos por ofensas pessoais. Quando há oportunidade de um debate, discute-se o passado e o presente que daqui a pouco será passado. E o futuro desta nação e do seu povo?

Cuidado candidatos que se dizem preparados para o poder! O eleitor está preparado para votar, mesmo sendo todos os candidatos, farinha do mesmo saco com as raríssimas exceções, para confirmar a regra.


Gabriel Novis Neves

06/03/2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A MILITÂNCIA

Em países democráticos o eleitor vota nos programas dos partidos, e não em candidatos. Isto tem um nome: educação política. A militância é o integrante do partido. O custo de uma eleição nos Estados Unidos é caríssimo pelo show-business que representam e o farto material de propaganda.

Aqui no Brasil não temos partidos políticos. Muitos candidatos profissionais disputam cada eleição por um partido, às vezes antagonistas ideológicos. Mas nada causa constrangimento a essa gente, que só visa defender seus interesses pessoais, ou de seus apoiadores. A desmoralização dos nossos políticos é tanta, que o eleitor não acredita naquilo que prometem. Muitos quando disputam uma eleição por um partido, já vendeu o seu passe para outra agremiação. Dos pedidores de votos, quase todos já disputaram eleições por vários partidos. Nunca dizem o verdadeiro motivo da sua infidelidade, e apresentam defesas não convincentes feitas pelos seus marqueteiros. É triste vermos essas caras na televisão. Causam repugnância e compaixão, pois desconhecem como são analisados pelo eleitor.

Nesse quadro, surge um subproduto dessa postura dos candidatos - o militante profissional! A militância desempenha importante papel em uma eleição. São os seus integrantes os responsáveis em colocar a campanha política nas ruas. Distribuem santinhos, tremulam bandeiras, vigiam as placas dos candidatos e cuidam do carro de som daquele candidato que o contratou. Toda essa movimentação é tão artificial que não convence nem ao eleitor mais desavisado.

Além dos militantes profissionais, temos os famosos cabos eleitorais - muito valorizados neste período. São verdadeiros enganadores que vendem um produto que não tem.

Nesse profissionalismo eleitoral as grandes estrelas são os marqueteiros. São gênios, com salários de príncipes do petróleo. Tem a tarefa de editar os programas de televisão, treinar os candidatos para o debate de ofensas pessoais e criar as famosas fotografias para os cartazes dos arrastões.

Está na hora de uma definição ideológica dos nossos candidatos. A política como instrumento de conquista social da sua gente não admite transformistas como nossos representantes – antigamente chamados de vira-casaca. O povo não merece esse tipo de políticos. Políticos não comprometidos com a verdade, prometendo justiça social e outras utopias. E como existem por aqui! Mas, infelizmente este tipo de político ainda existirá por um bom tempo ainda. Acredito, e não estou sozinho nessa crença, que para se corrigir este mal que tanto contribui para o atraso social do país, bastaria uma única arma: o título de eleitor. Cabe, portanto ao povo, politicamente educado, essa grandiosa tarefa redentora.

Gabriel Novis Neves (7.5 + 40)

15-08-2010