quarta-feira, 25 de agosto de 2010

VIOLÊNCIA

A Academia de Medicina de Mato-Grosso através do seu Centro de Estudos promoveu uma conferência sobre violência. O conferencista, e nosso confrade, foi o Professor MS Márcio Canavarros, da UFMT e da UNIC.

Márcio é cirurgião geral, estudioso em traumatologia causada pela violência. Acho que este interesse do mestre surgiu quando estudante de Medicina no Rio de Janeiro. Estagiou no Hospital Souza Aguiar, então considerado o maior hospital de emergência e urgência da América Latina. Assim como eu, acredito que todos os estagiários que passaram pelo Souza Aguiar, ficaram marcados com o lado médico-social deste mal da humanidade. No mundo sempre houve violência. No decorrer dos séculos, entretanto a violência parece que ficou aceitável pela banalidade como a vemos.

Vamos à fria realidade dos dados com relação à violência. A Etiópia há 600.000 anos pratica a violência. Hoje a faixa etária que mais pratica a violência está entre os 15 aos 30 anos de idade.

As principais causas de mortes por violência no Brasil: em primeiro lugar disparado, as vítimas dos acidentes de trânsito. O segundo lugar para mim foi surpreendente: suicídio! Dizem que Brasília com a vida de fantasia dos seus moradores, sem esquinas para o papo terapêutico e o estresse das maracutais, puxa a estatística do suicídio. Em terceiro lugar vem o assassinato, seguido de inúmeras outras causas. Mato-Grosso está muito bem posicionado no ranking nacional da violência, ocupando o décimo terceiro lugar!

Uma curiosidade: das 17 capitais brasileiras candidatas a sediar a Copa 2014, Cuiabá é a terceira em violência, e a FIFA sabe disso.

De 2003 para cá, aumentou o número de homicídios em Mato-Grosso, bem acima da média nacional. Na Grande Cuiabá temos um homicídio para cada 14 horas. Aumentou muito a violência por aqui, apesar das festivas distribuições de pequenos e impróprios veículos, para a nossa deficiente polícia em número de recursos humanos e falta de treinamento adequado.

E a violência contra a mulher e menores? A banalização da violência nos imobiliza. Há um medo generalizado na sociedade em denunciar esses fatos. Muitos sabem que a contra partida é a violência contra aquele que exerce a cidadania. E o medo é sinal de violência, gerando o silêncio, que é outra violência.

O palestrante enumerou cinco prioridades para minorar pelo menos a violência que domina o país e o nosso estado. Nada de novidade. Todo eleitor sabe o caminho para alívio deste câncer social, e os políticos que são escolhidos pela sociedade também. Basta alguém ter a coragem cívica de ouvir as propostas eleitoreiras, para verificar que todos os candidatos, sem exceção, juram de pés juntos que se eleitos irão lutar pela educação, saúde, transporte em estrada não assassina, meio ambiente e trabalho. Apurado os votos, essas promessas ou compromissos, como dizem alguns, caem no vazio, no esquecimento - que é uma violência ao eleitor. O momento agora, ou prioridade não é mais com a educação, saúde, meio ambiente, transporte e emprego para combater a violência. Entra a lei “Mateus, primeiro os teus.”

Como diz o personagem do Chico Anísio, quando um prometedor é cobrado, a resposta é invarialmente: “eu quero que o povo se exploda...”

O professor fez uma conferência riquíssima em dados oficiais. O “espetáculo” do combate a violência, coube ao estado do Rio de Janeiro com resultados sensacionais!

O governo conseguiu diminuir drasticamente o número de homicídios! Em compensação, o percentual da diminuição de homicídio foi folgadamente ultrapassado pelo número de “desaparecidos.”

A função da Academia de Medicina não é ficar em uma redoma de vidro discutindo as conquistas científicas. É função também da Academia discutir as grandes epidemias sociais, como a violência. Seria útil se os nossos candidatos deixassem por um minuto as cretinas visitas as feiras livres, os velhos arrastões e o oportunismo de vôos em cidades destruídas pela violência dos matadores das florestas.

Deixei a conferência com a preocupação voltada para o nosso futuro - que cheira mais violência.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 46)

21-08-2010

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