sexta-feira, 31 de março de 2023

PESQUISA ENTRE UNIVERSITÁRIOS


Um professor pesquisador universitário comentou comigo sobre um assunto que até então eu nunca havia pensado.


Disse que os jovens universitários estão se casando cada vez mais cedo.


Justificou esse fato me dizendo que quanto mais precoce eles pudessem se casar, se livrariam desse trabalho de procurar alguém para gostar e viver a vida toda ao seu lado.


Teriam todo o tempo disponível para cuidarem da sua profissão.


Encontrar uma pessoa para se amar e ser amado dá trabalho? – indaguei.


Ele respondeu que quando era moço batalhava, e muito, para encontrar alguém para amar e ser amado.


Mas que hoje, com a idade avançada, havia se cansado e não lutava mais.


E prosseguiu: “Fiquei solteiro, diferente do seu caso que retornou à cidade natal já casado e prestes a ter o primeiro filho.


Você teve todo o tempo para cuidar da sua família e investir na consolidação da sua profissão de médico em um mercado muito competitivo. ”


“Encontrava jeito de dar plantões na Maternidade de Cuiabá.


Atender à “Portaria da Santa Casa da Misericórdia”, o “pronto atendimento” de antigamente da cidade.


Ser “bagrinho” de colegas efetivos do “SAMDU”.


Dirigir o “Hospital Psiquiátrico do Estado” e “médico perito” dos servidores públicos federais.


Estar à disposição 24 horas por dia para ajudar os colegas nas suas cirurgias, sendo de pacientes não pagantes ou pagantes.


Naquela época não existia o SUS ou planos de saúde. ”


O professor tinha toda a razão!


Se eu fosse solteiro não encontraria tempo para escolher uma namorada que gostasse de mim e eu dela para o resto da vida.


Ou teria que afastar um pouquinho da minha profissão para encontrar a mulher amada.


Nunca tinha pensado nesse problema, que não vivi.


Sempre me lembrei de um provérbio popular que diz: “quem pensa não casa. ”


Razão que faz com que jovens se casem mais que quando idosos.


Meu pai foi exceção e casou com quarenta anos de idade, quando a expectativa de vida era de cinquenta anos.


Ele primeiro arrumou a sua vida para depois se casar.


Teve como mulher uma esposa vinte anos mais nova que ele, e criou e educou nove filhos.


Fui primogênito de um pai idoso e me casei jovem.


Os dois casos citados deram certo, contrariando a tese do professor universitário.


Gabriel Novis Neves

23-02-2023




quinta-feira, 30 de março de 2023

APRENDENDO ERRADO


Aprendemos tantas coisas na nossa vida, porém, só mais tarde ficamos sabendo que muitas não eram verdadeiras, para nosso desespero.


Recentemente pesquisadores descobriram que a riquíssima religiosidade baiana com seus pais de santo, mães de santo, orixás, oguns, candomblés são de origem brasileira não existindo na África.


Se fossemos da Bahia, com certeza iriam nos dizer que isso era herança da cultura africana.


Menos mal, pois as religiões são sempre para o bem.


Desde muito criança ouvia dos meus pais, avô, tias, vizinhas, que quando um passarinho entrasse em sua casa voando, batendo as azas e saindo, era uma mensagem que ele trazia.


Geralmente não é uma boa notícia.


Pode ser de alguém muito próximo a nós que morreu e não sabemos, ou que vai morrer.


A entrada do passarinho nunca está ligada a uma notícia agradável.


Estava com as janelas do meu dormitório abertas e a enfermeira estava medindo a minha pressão arterial antes do cafezinho da manhã.


Um passarinho chegou até a metade do dormitório, parou no ar por alguns milésimos de segundo e retornou para a rua pelo mesmo caminho que entrou, e desapareceu num mergulho espetacular.


Eu olhei para a enfermeira e ela para mim, em profundo silêncio.


Recuperado daquela visita tão inesperada, perguntei-lhe:


“Você sabe o que isso significa? “  


Ela me respondeu com ar de preocupação: “eu sei. ”


Nisso vinha chegando a minha cozinheira, e o fato da visita do passarinho lhe foi contado.


Séria, demonstrando preocupação, pediu que rezássemos uma Ave Maria e um Pai Nosso, pois boa notícia não era.


Pediu que confiássemos em Deus Todo Poderoso para nos proteger e nada de mal iria nos acontecer.


Mas o sinal não era bom.


Durante a minha vida algumas vezes esse fato aconteceu comigo.


Não me lembro da realização dessa profecia.


Como a gente se esquece da maioria dos fatos, e só retemos os pontos luminosos que são a nossa memória, é bom esperar um pouco.


Não sei e não imagino os dias de validade desse aviso.


Terminou o carnaval com seus quatro dias de folia oficial da maior expressão da cultura popular brasileira.


É uma festa que tem rei e rainha, o povo desfila em escolas de samba, com fantasias caríssimas e luxuosíssimas.


Seus enredos contam a história da escravidão no Brasil, das religiões africanas, do trem que nunca chegou à Cuiabá, de cangaceiros temidos dos sertões nordestinos, de santas e santos pouco conhecidos e das baianas de Salvador.


Foi-me ensinado que o carnaval brasileiro, nasceu nos morros cariocas e desceu para o asfalto.


Nada mais falso!


O carnaval brasileiro nasceu no asfalto e bem mais tarde conseguiu a solidariedade dos favelados dos morros, enriquecendo o seu DNA, que é do asfalto.


Esqueceram a história do passarinho?


Gabriel Novis Neves

25-02-2023





quarta-feira, 29 de março de 2023

A HISTÓRIA DO POVO BRASILEIRO


Este tema tem despertado desde anos antanhos muita paixão nos escritores brasileiros.


Com o passar dos anos reconhecemos que nossa gente conseguiu transformar muito limão em limonada.


Isso acontece desde que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, por um acaso, em 1500.


Esse encontro dos portugueses com os nativos, que por milênios foram os únicos donos das terras que Cabral diz ter descobertas, não foi essa maravilha que nos ensinaram na escola.


Houve conflitos com a chegada dos portugueses e muitos índios morreram antes da celebração da 1ª Missa no Brasil.


O Brasil nasceu de uma grande mentira e ela assolou este país tropical.


No decorrer dos séculos o Brasil acumulou uma série de mentiras, hoje chamadas de fake News.


O historiador português da Corte Imperial que escreveu a nossa história inicial era um fértil romancista.


Gosto de todos os seus contos, mas o “Grito do Ipiranga”, às margens do rio em São Paulo, em 1882, acho o melhor de todos pela sua alta criatividade.


Também pelo número enorme de personagens, iniciando com uma não programada dor de barriga na estrada de Santos, onde o Imperador D. Pedro 1º iria se encontrar com a sua amada.


Mas quem de direito assinou o termo da “Independência do Brasil” foi a sua esposa Leopoldina.


Nem o teatrólogo e conferencista humorista Ariano Suassuna escreveria uma peça tão perfeita sobre o “Grito do Ipiranga. ”


A “Proclamação da República do Brasil” em 1889 é surrealista, pois foi feita em um país monárquico, onde toda a população amava o rei e este amor era recíproco.


Historiadores de todo o mundo estudaram e jamais entenderam a Proclamação da República do Brasil.


Seu primeiro presidente foi um velho militar, herói da Guerra do Paraguai e monarquista.


Verdadeiro samba do “crioulo doido” de Stanislaw Ponte Preta, o cronista moderno de Copacabana.


Já na segunda metade do século passado, devido às leis revolucionárias do momento, o voto majoritário era vinculado e a eleição de senadores era feita em sublegendas, ou biônicos.


O total dos votos das sublegendas determinavam os vitoriosos senadores e suplentes.


Era possível um suplente de senador ter menos votos que o mais votado de uma sublegenda adversária.


O povo nunca entendeu assim e lhes viam como perdedores, o que não é a realidade.


Presidentes da República, Governadores e Prefeitos eram escolhidos pelo Comando Revolucionário.


Jânio Quadros não conseguiu eleger o seu vice (Milton Campos), que perdeu para o Jango Goulart, com as regras democráticas.


Bem diferente de hoje, em que Vice-Presidente do Brasil, Vice-Governador, Vice-Prefeito e Suplente de Senador, não precisa de um único voto para se eleger.


Todos, deputados Federais, Estaduais, Vereadores, poderão propor “Emenda Constitucional” nos três níveis de poder.


Quando a proposta do parlamentar ganha no plenário, a emenda é englobada ao seu nome.


Tivemos uma emenda de um nosso parlamentar que perdeu no plenário e foi arquivada, porém a mídia a incorporou ao seu nome.


Se alguém tiver um bom livro confiável sobre a história do Brasil, por favor me empreste.


Gabriel Novis Neves

06-03-2023


A mundialmente famosa pintura “A Verdade saindo do poço” Jean-Léon Gérôme, 1896



terça-feira, 28 de março de 2023

QUEM SOU EU


Certa ocasião em uma entrevista, o repórter me perguntou: quem é você?


Descoordenado nunca pensei que um dia, tivesse que responder quem eu era!


Mesmo sendo um fato desinteressante não de interesse público, pensei em minhas origens para explicar quem eu era.


Rapidamente verifiquei se fosse responder por essa linha familiar, pelo menos seria algo inédito para se ouvir.


Disse ao jornalista curioso em saber quem eu era, que sou o resultado da construção do primeiro Jardim Público de Cuiabá, e da Guerra do Brasil com o Paraguai.


Animado com a resposta, queria minha explicação sobre a união desses estranhos gens.


Disse que a resposta seria longa e ele me respondeu que teria todo o tempo disponível.


Meu bisavô paterno era gaúcho da arma de engenharia e era chamado de Américo de Vasconcellos. Foi casado com Leonarda Fernandez de Vasconcellos, uruguaia argentina que, à época não havia completado 12 anos de idade.


Em 1868 foi transferido para o Rio de Janeiro, e no ano seguinte nasce sua filha única Eugênia Fernandez de Vasconcelos.


Em 1881 seu pai Major Engenheiro Américo de Vasconcellos foi transferido para prestar serviços importantes em Cuiabá, dentre outros a construção do 1º Jardim Público da cidade.


Em 28-09-1882 é inaugurado o Jardim, que recebe o nome de “Praça Coronel José Maria de Alencastro”, em homenagem ao então Intendente da Província de Mato Grosso.


Em 1885, Gabriel de Souza Neves (cuiabano) casou-se com a carioca Eugênia de Vasconcellos, tiveram 15 filhos sendo 10 homens com apelidos e 3 mulheres sem apelidos.


Anos depois com Floriano Peixoto na Presidência da República, meu bisavô retorna com a sua mulher para o Rio de Janeiro.


O coronel Américo é designado para servir no Gabinete do Presidente.


Foi para a reserva no posto de Marechal do Exército,


Minha avó e bisavós paternos, estão sepultados no Rio de Janeiro.


A Guerra do Paraguai foi a responsável pela chegada à Cuiabá do médico baiano Capitão da Marinha Imperial (1860), Dr. Augusto Novis a nossa capital em 23 de março de 1861.


Augusto Leverger chefe geral da Armada em Cuiabá, pediu ao Imperador do Brasil D. Pedro II, que lhe enviasse um médico para a retomada da cidade de Corumbá, em mãos dos paraguaios.


De Cuiabá, Couto Magalhães Presidente da Província de Mato Grosso, tomou todas as providências para a Armada e o Médico Augusto Novis, chegasse a Corumbá.


Isso aconteceu em 13 de junho de 1867, quando tropas do Exército Brasileiro, sob o comando do Tenente-Coronel Antônio Maria Coelho, expulsaram as tropas paraguaias do solo brasileiro, associados à Armada e ao capitão médico Dr. Augusto Novis.


Após à retomada de Corumbá, Dr. Augusto Novis vem para Cuiabá, constitui família casando com cuiabana e teve 12 filhos.


Uma de suas netas, Irene Novis, casou-se um filho da carioca Eugênia de Vasconcelos Neves, cujo pai engenheiro militar veio à Cuiabá, construir a Praça Alencastro.


Sou produto da Guerra do Paraguai e embelezamento de Cuiabá.


Gabriel Novis Neves

15-03-2023




segunda-feira, 27 de março de 2023

ALTERAÇÕES MIDIÁTICAS


Nos tempos atuais, com as modernas mídias, observamos profundas alterações nas mídias até então dominantes.


Nas transmissões esportivas não há mais necessidade de se deslocar numerosa equipe de jornalistas para a cobertura do evento.


A seleção brasileira irá fazer alguns jogos em países bem distantes, como o jogo contra a seleção do Marrocos, sensação da última Copa do Mundo no Catar.


Marrocos possui apenas 37 milhões de habitantes, e está localizado em continente africano.


Os canais de televisão que irão televisar o jogo compram da FIFA, Federação Internacional de Futebol, o sinal da TV e, com as imagens recebidas, narram dos seus estúdios no Brasil, com o auxílio de um ou dois comentaristas e um especialista em interpretar o VAR (árbitro de vídeo).


O YouTube é uma alternativa bem mais barata que os canais pagos que transmitem esportes pagos.


A economia é enorme com o translado da equipe da empresa de comunicação, hospedagem, alimentação e deslocamentos, entre outros.


Se de um lado é essa a nossa realidade, não devemos nos esquecer da emoção produzida pelas transmissões presenciais dos esportes, especialmente o futebol.


Antigamente não tínhamos as imagens fantásticas das televisões, mas a fantasia dos jogos era nossa.


É muito diferente hoje assistir a um jogo de futebol nas arenas (antigos estádios), tevê e rádio.


A televisão tirou o público das arenas e a emoção do rádio, insubstituível até nos nossos dias.


Ari Barroso, Antônio Maria, César de Alencar, nomes famosos da música popular brasileira, foram também narradores esportivos na sua época.


Vou encerrar esta crônica saudosista quando o jogo no Maracanã era assistido com o radiozinho de pilha encostado ao ouvido.


Tem gente que prefere ver a imagem pela TV.


Desliga o som da televisão e fica deitado na cama do quarto com o áudio do rádio para animar nossos jogos atuais.


Daqui a pouco vou para à África assistir a partida de futebol entre a seleção brasileira de “estrangeiros”, que são jogadores brasileiros recrutados dos clubes europeus, e os de Marrocos, que também não jogam em seus país.


Futebol, que era um esporte popular, é praticado em clubes de países ricos, e príncipes e monarcas asiáticos são proprietários de alguns deles.


Gabriel Novis Neves

25-03-2023




domingo, 26 de março de 2023

OS PITORESCOS 65


Bem antigamente as pessoas se reuniam nas calçadas das suas casas, nos bancos dos jardins ou após às missas dos domingos, para conversarem.


Como essa gente antiga, sem os modernos meios de comunicação, como rádios, jornais diários, televisão, internet tinham assuntos para conversar!


Os papos eram longos e prazerosos repletos de novidades.


Hoje com toda essa parafernália que nos possibilita instantaneamente saber tudo que acontece em qualquer parte do mundo, não temos o que conversar.


Uma cobra coral atacando no mar da Oceania sabemos aqui em tempo real.


Vivemos intoxicados pelas notícias e não temos assunto para conversar com nossos amigos.


Bem antigamente nossos almoços eram alegres e todos seus participantes, do mamando ao caducando tinham novidades para contar.


Quando alguém permanecia calado era sinal que estava doente.


Logo era encaminhado ao médico da família que lhe receitava óleo de rícino em jejum.


Antigamente não conversar era sinal de doença e criança quieta que não conversava era vista por adultos como “criança com febre”.


Com a implantação da política do “politicamente correto” hoje ninguém mais conversa à vontade para não ficar mal com os seus pares.


Ficou tudo tão falso que hoje em dia nos impusemos a autocensura para que não nos aborreçamos tanto.


Leio diariamente um montão de notícias que mereceriam, pelo menos, uma observação minha diante de tamanhas injustiças ou inversão de valores humanos.


Para comprar a minha tranquilidade prefiro ficar em silêncio, e continuo sem assunto para conversar.


Estamos atualmente escondendo os assuntos importantes das nossas conversas embaixo dos tapetes das salas de visitas.


Hoje tudo está judicializado e um inofensivo galanteio à uma bela mulher, dá BO (Boletim de Ocorrência) em Delegacia de Polícia necessitando da convocação de um advogado e pode terminar em prisão.


Galanteio é considerado assédio sexual grave.


O mundo mudou tanto que hoje devemos nos guiar pelo Código Penal e mandar às favas os nossos mais puros sentimentos de amor, afeto e justiça social.


O momento está bom para os nossos teatrólogos, pois estão protegidos pela “lei da liberdade de expressão”.


Podem comentar e abusar desse cerceamento que nós simples mortais sofremos nas nossas conversas e comentários.


O conceito de arte no Brasil é intocável, embora não saibamos bem o que significa arte pelos zelosos da nossa integridade moral.


E o que dizer dos modernos equipamentos espiões que gravam, filmam e localizam as nossas conversas, geralmente para o mal.


Hoje todo mundo sente muito medo, evitando ao máximo as antigas conversas nas calçadas das nossas casas ou das confidências das mesas de um bar.


Os românticos estão em extinção, pois o romantismo se inicia com a “promiscuidade” da confiança mútua.


Pagamos uma fortuna para termos cinquenta minutos de conversa com um psicanalista em quem confiamos profissionalmente.


Não reparamos que nos tornamos cretinos vítimas de nós mesmos e ninguém confia em mais ninguém.


Preferimos jogar esse desumano problema de não mais poder conversar aconchegantemente ao “sistema”, que são criaturas debilóides que veem isso como problema político.


Misturar sentimentos com política partidária nunca deu certo e cada vez ficamos mais distanciados das conversas que tão bem fazem ao nosso coração.


Vivemos policiados nas nossas conversas e nos tiram as emoções de uma comunicação sem as amarras do politicamente correto.


Bem antigamente tudo era mais simples, hoje tudo está difícil.


Será que a modernidade é assim?


Com a eliminação das antigas conversas nas calçadas das nossas casas, dos bancos dos jardins e após as missas dos domingos?


Hoje somos a solidão nas multidões e tudo ficou muito chato mesmo.


Gabriel Novis Neves

06-02-2023




sábado, 25 de março de 2023

TÃO DIFERENTE


A minha bisneta mais velha completou seis anos de vida com muita saúde.


Para comemorar seu aniversário seus pais convidaram seus coleguinhas da escola e familiares para a festinha em sua casa, com banho de piscina e almoço.


Tudo iniciando às duas horas da tarde de um sábado.


Muito diferente da minha época de criança, quando os “parabéns pra você” era sempre em casa, e piscinas não existiam.


O horário era às quatro da tarde, e o aniversariante e amiguinhos se reuniam ao redor da mesa do “bolo com velas”, doces e salgados na sala principal da casa.


Tudo era preparado pela minha mãe, às vezes ajudada por vizinhas.


A festa só iniciava com a chegada do professor Ezequiel de Siqueira, personalidade de Cuiabá.


Hoje empresta seu nome a uma Escola Municipal de Ensino Médio no bairro do Araes.


O professor Ezequiel, que andava perambulando pelas ruas da cidade com seus cachorros, era muito querido por todos, especialmente pelas crianças.


Nas festinhas de aniversário das crianças da minha geração, sempre compareceu em todas.


Os pequenos, impacientes, aguardavam a sua chegada para escutarem a declamação dos seus inesquecíveis versos:


“Batatinha quando nasce


Espalha a rama pelo chão


Menininha quando dorme


Põe a mão no coração”


Na versão original que é popular, o verso se iniciava assim:


“Batatinha quando nasce


Esparrama pelo chão”


Esse versinho da minha infância distante pertence aos tão apreciados ditos populares.


Como será o futuro dessa geração de crianças com banho de piscina e almoço para comemorar o seu aniversário?


Daqui a oitenta anos como será realizado a festa de aniversário das futuras gerações?


No baú de recordações, local do nosso passado, haverá lugar para esses fatos tão importantes na nossa formação cultural.


Cada dia que passa mais saudade sinto desses primeiros anos da nossa vida.


Torço para a geração dos meus bisnetos seja mais feliz que as anteriores, bem mais ricas em bens materiais.


Hoje as coisas estão tão diferentes daquela época em que viver era muito mais simples!


Não havia tanto distanciamento entre as classes sociais e as pessoas eram mais iguais.


Estas são as reflexões de uma festa de aniversário dos dias atuais, e de bem antigamente.


Gabriel Novis Neves

25-03-2023





Hino do Município de Cuiabá, letra de autoria do Professor Pompeu Ribeiro De Siqueira

sexta-feira, 24 de março de 2023

DEFINIÇÃO DE CRÔNICA


Nunca consegui ler um discurso de posse de um acadêmico da Academia Brasileira de Letras.


Seus membros, para demonstrarem erudição, leem extensas páginas de papel com frases formadas por vocábulos pouco conhecidos por nós, transformando em suplício a audiência.


Na vida não podemos dizer que algo nunca acontecerá conosco.


Recebi de um colega, que decidiu morar em Florianópolis, um email em pdf.


Era o discurso de posse do mais novo imortal da Casa de Machado de Assis fundada em 1897 no Rio de Janeiro.


Imprimi para melhor leitura e compreensão, pois o novo membro da Academia Brasileira de Letras é jornalista e escritor.


É autor de inúmeros livros de sucesso entre eles: “O Anjo Pornográfico” – a vida de Nelson Rodrigues; “Estrela Solitária” – um brasileiro chamado Garrincha; “Carmem”: uma biografia de Carmen Miranda.


Li os livros citados e tudo que o Ruy Castro escreve e publica em livros impressos, e quatro vezes por semana uma coluna na página 2 em um jornal de São Paulo.


Não tenho a pretensão de comparar a qualidade dos meus textos com os dele, pois admitir isso seria um sinal grave de esquizofrenia com delírios de grandeza.


Há catorze anos publico diariamente em meu blog, textos e os chamo de crônicas.


Alguns amigos se referem a essas publicações como artigos, textos e mensagens.


Como sou autodidata em comunicação escrita, descobri no discurso de posse do intelectual a definição correta para o significado de crônica.


Na metade da página três do discurso, Ruy Castro pergunta e responde ao seleto auditório.


“O que é crônica? “


“Um misto de peça literária, artigo de opinião, pequena reportagem, confissão pessoal, fofoca política, registro mundano, tudo ou quase tudo no espaço de cerca de 50 linhas.


A crônica é um mini jornal feito por uma pessoa só.


Seu assunto pode ser tanto o cotidiano quanto a eternidade – o que o cronista preferir.


É um texto que se escreve com as pernas e, às vezes, em cima da perna, de tão à vontade.


Digo com as pernas porque os personagens de que trata uma crônica não precisam parar para pensar – pensam andando mesmo.


A crônica pode ser tudo, menos um texto de gabinete.


O cronista é um flâneur, que é pago para escrever.


Daí o Rio, que sempre foi a cidade perfeita para flanar, ser historicamente o cenário natural do nascimento da crônica.


Posso continuar a compartilhar as minhas crônicas?


Gabriel Novis Neves

08-03-2023




quinta-feira, 23 de março de 2023

TUDO PASSA


Um dos meus passatempos prediletos é consultar álbuns antigos de fotografias.


Dia desses descobri, bem escondido no fundo do armário da minha biblioteca, um que me fez pensar que na vida tudo passa.


Verifiquei pelas minhas fotos que tive tempo de crescer, brincar o dia todo, e começar a estudar por 18 anos para conseguir o meu diploma de graduado em medicina.


Depois, estudar por mais quatro anos para iniciar as minhas atividades profissionais na cidade onde nasci.


Descobri nessa fase as coisas lindas da vida, que terminaram com o meu casamento com uma argentina-carioca, que me acompanhou nessa grande aventura de morar em uma pequena cidade brasileira do nosso Centro-Oeste com menos de cem mil habitantes.


Fotografias dos meus três filhos, propositalmente com diferença de um ano, nascidos na Maternidade de Cuiabá, hoje Hospital Geral Universitário (HGU) da UNIC (Universidade de Cuiabá).


Morávamos em uma casinha alugada de apenas oitenta metros quadrados.


Na noite dia que retornamos à minha cidade, a família era composta por mim, Regina e Monica prestes a nascer.


A Regina me falou que estávamos na época de viver um grande amor.


Registrei esse fato escrevendo uma crônica chamada de “A barata voadora”, e posteriormente publicada no meu blog do bar do Bugre, pela 1ª vez em 04-08-2010.


Outros artigos sobre “A barata voadora” são encontrados no blog.


Todos os meus filhos e netos concluíram o curso superior, caminhando por estradas mais amenas e confortáveis.


Regina nos deixou precocemente quando faltava muito tempo para passar, e me deixou revendo álbuns antigos.


Sinto que para mim tudo passou de uma forma tão rápida, e poucos sentirão a minha ausência.


Na minha idade nada mais acontece de novo, pois tudo passou e passa.


Vivo uma sucessão de dias, meses e anos, todos iguais.


Dou Graças a Deus de o tempo atual passar tão rápido, pois não tenho ambições de conquistar mais nada.


Quero viver intensamente com a minha família, filhos, netos, bisnetos, noras, genro e amigos.


Tudo passou tão rápido, e continua passando.


Tudo que fazia antigamente não consigo nem imaginar que um dia fiz, com muito prazer.


Ao fechar o álbum antigo de fotografias, só um comentário:


Na vida tudo passa! Passou!


A vida vivida é assim.


Gabriel Novis Neves

09-03-2023




quarta-feira, 22 de março de 2023

GENTE É RIQUEZA


Fui criado pelos meus pais com oito irmãos, tias, tios, primos, primas e avô materno.


A nossa família era numerosa, amiga, unida e todos se conheciam muito bem.


As crianças cresceram, constituíram novas famílias e algumas mudaram de cidade.


O mesmo aconteceu com os meus irmãos, e hoje não conheço todos os meus sobrinhos de 1º grau.


Os filhos dos meus sobrinhos são poucos os que conheço pelos seus nomes próprios.


Minha família, descendentes de Irene Novis e Olyntho Neves, ficou bem numerosa, e são poucos os que sei a data de nascimento ou o curso que fizeram ou estão fazendo.


Alguns são mais aproximados e outros tão distantes que nem sei o bairro que moram em Cuiabá.


Quando, há oito anos, completei 80 anos de idade, ganhei dos meus filhos, que tudo fazem para me fazer feliz, um jantar de aniversário.


Foi realizado em meu apartamento de cobertura e procurei ajuda para fazer a lista de convidados.


Não sei se faltou alguém.


Para muitos sobrinhos e sobrinhas tive que ser apresentado.


De lá para cá, três das minhas cinco netas viraram mães e o grupo de familiares próximos cada vez aumenta mais, o mesmo acontecendo com sobrinhas e sobrinhos.


Dia desses tentei sem auxílio de ninguém, fazer uma lista de convidados apenas “com o pessoal da casa. ”


Desisti. Preciso de um especialista em genética para a elaboração da lista.


Quando nos reunimos para os almoços da família com descendentes e cuidadoras são 23 pessoas, até este momento.


Acrescentando irmãs, irmãos, cunhados, cunhadas, sobrinhos, sobrinhas, esse número ultrapassa facilmente o número de 100 pessoas.


Nem festinhas familiares podemos mais fazer em casa!


Se convidar amigos, temos que alugar clubes.


Negócio produtivo essa família Novis Neves, só comparável ao agronegócio, com uma grande diferença.


Nós produzimos gente que não tem preço, o agronegócio comida para o mundo.


A saca da soja tem preço, e a gente educada é uma riqueza.


Gabriel Novis Neves

09-03-2023








terça-feira, 21 de março de 2023

PSIQUIATRA


Em 1964 o único psiquiatra existente na nossa cidade era o Dr. Vargas, que havia se aposentado e retornado para curtir sua aposentadoria e mulher no Rio de Janeiro.


O Estado não era dividido e possuía em Cuiabá um hospital para os doentes mentais, chamado de Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte, e sua direção era dele.


Com a sua ausência foi nomeado um clínico, Dr. Otelo Palma, do partido do médico Governador Fernando Corrêa da Costa, no seu segundo mandato, para a direção do chamado “Hospital dos Loucos” do Coxipó da Ponte.


Em 15 de março de 1966 houve troca de governo, naquela época com cinco anos de mandado, sem reeleição imediata.


O parteiro da minha mulher, Dr. Clóvis Pitaluga de Moura, foi nomeado secretário estadual de saúde e na falta de um especialista (psiquiatra), ele me indicou ao engenheiro ferroviário Pedro Pedrossian.


Este me nomeou então para a direção do hospital.


Mudei o nome do hospital, que muito nos humilhava, para hospital Adauto Botelho, um dos ícones da psiquiatria nacional.


Humanizei o tratamento oferecido aos pacientes e fiz uma reforma geral no prédio, acabando com as celas de isolamento e as correntes de aço amarradas nos tornozelos de alguns internos.


Contratei pessoal técnico de apoio, forneci bolsas de estudo para quem quisesse estudar enfermagem em Goiânia, contratei a melhor cozinheira hospitalar de Cuiabá, e os funcionários tinham participação no faturamento do hospital.


O trabalho foi tão apreciado pela população que após dois anos o governador ferroviário me nomeou para ser secretário estadual de educação do Estado.


Achava que a instrução no Estado estava uma loucura, precisando de um bom psiquiatra para cuidar dela.


Isso terminou com a criação de duas universidades no gigante Estado.


A federal em Cuiabá e a estadual em Campo-Grande, ambas em 1970.


Cuiabá já pariu a federal de Rondonópolis e Sinop, com os cursos de medicina.


A estadual de Campo Grande foi federalizada com a divisão de Mato Grosso (1977) com seu curso de medicina e pariu a federal de Dourados com medicina.


Cuiabá ainda possui duas universidades privadas, ambas com medicina.


Outras escolas de medicina ainda surgirão e formarão psiquiatras.


Todas as cidades de grande e médio porte em Mato Grosso têm médicos psiquiatras.


Em Cuiabá, atendendo em consultórios, pouco mais de cem.


Médicos fazendo análise só conheço um ou dois.


Há uma infinidade de psicólogos fazendo psicanálise.


É diferente tratar pacientes com distúrbios mentais com um médico ou psicólogo.


Simplesmente o médico é médico, e o psicólogo é psicólogo, duas carreiras da área da saúde, porém bem distintas.


Com os cursos de medicina, o médico psiquiatra perdeu seu estigma de médico de louco, e a loucura deixou de existir em um mundo louco em que vivemos.


Hoje existem pacientes que são medicados por psiquiatras com medicamentos de receituário azul e branco carbonado.


A psicanalise é procurada por aqueles de grande poder aquisitivo, pois o tratamento não tem fim.


É sempre seguido de orientação médica pelo menos com três sessões de cinquenta minutos por semana.


Em psicanálise não se faz hora-extra.


Muitos fazem psicanalise com psicólogos, e são atendidos pelo plano de saúde da Cooperativa dos Médicos de Cuiabá.


Já fui atendido por analista médico, psiquiatra e agora lendo tarô, onde só recebo notícias boas sobre minha saúde.


E tudo começou em 1966 no antigo Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte, quando fiquei famoso como psiquiatra de Cuiabá.


Gabriel Novis Neves

10-03-2023