Mesmo sabendo que não conseguiria derrubar tantas e verdadeiras colocações, me atrevi a comentar, numa vã esperança de mudar o imudável. Comentei que nosso querido Presidente afirmou recentemente que possuímos o melhor sistema de saúde do mundo, quase atingindo a perfeição. É um plano de saúde tão bom, que ele induziu o Obama a implantar nos Estados Unidos. Com esse plano você não teria despesas, e ficaremos todos juntos novamente. Ela me interrompe para perguntar se esse plano de saúde não é o SUS. Respondo afirmativamente – acho que ela percebeu uma pontinha irônica no meu falar. Do outro lado da linha, ela pergunta se estou bom da cabeça e pesarosa completa: “embora distante do Brasil, pela internet acompanho o dia a dia da minha terra. O que sei desse plano, é que a começar do Presidente, nenhuma autoridade daí confia no SUS. Quando adoecem procuram os melhores médicos e hospitais que não atendem o SUS, e que geralmente estão em São Paulo ou no exterior. Até na medicina estética, o médico vem do Rio Grande do Sul para clientes especiais em Brasília. Sei também que as filas para marcar uma simples consulta demoram meses. Internação hospitalar é loteria, e não há nem medicamentos básicos para os pobres. Soube que aí, na nossa cidade, o governo não possui nem hospital, e os que compraram fechou. Como é que você insiste no meu retorno”? Só tive mesmo que pedir desculpas. Ela está coberta de razão. Despeço-me da prima e desligo o telefone.
Esta madrugada o Presidente da República, após um domingo em que o Senado discutiu a reforma da saúde e finalmente aprovou a mensagem da presidência, ocupou uma cadeia de rádio e televisão para congratular-se com a população pela vitória alcançada. A saúde pública contará com mais recursos e atenderá os pobres no país com a melhor medicina, professores, cientistas e médicos do mundo. Eufórico o Presidente diz que a sua missão está cumprida, e que pode voltar para casa. Eu pensei aqui comigo: até que enfim um Presidente da República colocou como prioridade número um do seu governo a saúde pública! Autoridades e pobres freqüentando os mesmos serviços e hospitais. Que bom!
Só faltou um pequeno detalhe que corro aqui a esclarecer para não pensarem que estou louco: essa reforma da saúde com mais recursos e tudo o mais ocorreu nos Estados Unidas da América e o pronunciamento foi do Presidente Barack Obama.
Gabriel Novis Neves
22/03/2010