sábado, 20 de março de 2010

MARINA SABE?

Li em alguns sites e rodapés de jornais, que a Senadora Marina Silva está em Cuiabá. Dona de uma das mais lindas histórias de vida, a menina do interior do Acre que foi alfabetizada aos 16 anos, teve uma recepção tão simples como as suas origens. Sem foguetórios, policiamento ostensivo, carros oficiais na passeata, helicópteros e chegada com ponto facultativo para o beija-mão no Palácio das Ilusões.

Modesta, sábia, cedo compreendeu que para tratar das doenças tropicais que estavam precocemente encerrando a sua vida neste plano espiritual, tinha que fugir para São Paulo. Para evitar o analfabetismo adotou a tática da caminhada na selva, cortando caminhos para encurtar distâncias. Freqüentou o Mobral e todos os cursos para rápido encontrar à Universidade. Tornou-se professora do interior, após ser salva por Deus na paulicéia. Amiga do Chico Mendes e dos utopistas daquela época. Participou dos movimentos sociais que a fizeram política na terra dos “barões”. Senadora, Ministra, fundadora de um pequeno partido que se tornou grande tanto para ela, quanto para Heloisa Helena e outros. Tem com o seu ex-patrono uma diferença fundamental. Sempre usou como arma de libertação da sua gente, a educação. Marina é um nome respeitado e reconhecido no mundo todo, não como “a cara”, mas como a, aparentemente, frágil mulher que propõe a utopia para melhorar o planeta Terra.

Esteve pela manhã reunida com os estudantes da ex-universidade da selva. Debateram a importância do meio ambiente para a preservação da vida com qualidade no planeta onde vivemos. Avaliaram o desastre que o “progresso” da moto-serra trouxe de irreversível para nós. Despertou nos jovens da “Universidade do Enem”, o embrião adormecido do espírito de luta - tão típico da sua geração - para preservar o que ainda temos.

Infelizmente, senhora senadora, a grande maioria desses estudantes desconhece o passado da sua escola. Jamais ouviram falar que ela surgiu como Universidade da Selva, numa sinalização, até então ímpar, que não seríamos mais uma universidade para estatísticas do Ministério da Educação. O ministro era de Xapuri no Acre, e entendeu a nossa mensagem. Não tivemos o Chico Mendes como professor colaborador, infelizmente. Foi substituído pelos irmãos Cláudio e Orlando Vilasboas, Chico e Apoena Meireles, e todos os missionários pesquisadores da Missão Anchieta: Adalberto, Moura, Thomas de Aquino, Iasi, entre outros, num total de onze. Utiariti era o nosso campo avançado de trabalho. Noel Nutels o médico dos índios o nosso consultor para a área de saúde. As comunidades tribais opinavam sobre o trabalho da Uniselva. Ceremecê, o grande cacique xavante, orientou o programa educacional da Uniselva ao dizer em reunião: “Ninguém ensina o que não sabe”. Estava definido o rumo a ser seguido. Invertemos o consagrado e até então “imexível” binômio ensino-pesquisa, para pesquisa-ensino. Como iríamos formar profissionais para a Amazônia, se a desconhecíamos? Foi criada a cidade-laborátório de Humboldt em Aripuanã, 800 quilômetros em linha reta de Cuiabá. Foi uma epopéia vivida pela primeira geração desta Universidade. Resumindo Senadora: por desinteresse de uma geração fomos derrotados pelos recém chegados “progressistas” com as suas motos serras.

Espero que alguém tenha levado ao seu conhecimento esses fatos. Gostaria de poder dizer-lhe que, assim como a senhora, também fomos e somos utópicos. E a indagação final: a Senadora sabe que a palestra realizada foi na Casa da Utopia?

Gabriel Novis Neves
19/03/2010

Um comentário:

  1. Muito interessante, Dr. Gabriel. Lembrar novamente sobre o honroso passado da nossa querida UFMT, a UNISELVA, e que se perdeu ao longo do tempo este apelido, e agora sabemos um pouco o porquê. Estive ontem em uma das falas da Marina em Cuiabá, na quinta reunião do dia, no auditório da OAB, onde ela palestrou sobre ética e sustentabilidade. Ela falou que, assim como muitos que estavam ali naquela sala, uma noite de sexta-feira chuvosa em Cuiabá, era mantenedora de utopias...
    Gostaria também de acrescentar ao seu texto que o progresso das moto-serras ataca agora o projeto de zoneamento socioeconômico ecológico de Mato Grosso (ZSEE-MT)que levou 20 anos de estudos técnicos para conclui-lo e também após 1 ano de audiências públicas em Mato Grosso, está para ser detonado pelo substitutivo proposto pelas "Lideranças Partidárias". Quem são elas? Do mesmo grupo e do mesma visão de mundo dos que se desinteressaram pela UNISELVA, provavelmente.
    Abraços,
    Denize Amorim

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