quarta-feira, 3 de março de 2010

MICROONDAS

Estava ainda escuro, o dia começando a raiar, e eu já me encontrava na academia de ginástica, “sofrendo” em um aparelho de fortalecimento dos bíceps.

Tão concentrado estava que não percebo a aproximação da minha linda professora. Com os dedos das suas delicadas mãos, corrige com suave compressão a minha coluna dorsal mal posicionada. Sinto naquele ato técnico que o meu hipotálamo liberou todo o seu estoque de serotonina. Que sensação agradável! Enquanto prosseguia nos exercícios dos bíceps, aquela compressão em cima da minha coluna produzia efeitos terapêuticos e sensoriais. Solicitei a minha permanência por mais alguns minutos naquele exercício.

Quanta diferença do mesmo ato produzido por um médico. A minha professora não usa luvas, e o corpo dos seus alunos está encoberto. O médico para examinar, ou diagnosticar, usa luvas em corpos descobertos. Enquanto a correção do médico enluvado produz dor e desconforto, o da professora produz conforto e prazer.

Deus sabe o que faz. Diariamente nos deparamos com os múltiplos ângulos da vida. Felizes aqueles que estão preparados para perceberem. A dor, a perda, o infortúnio, a simplicidade, podem ter várias interpretações - depende de nós. Quantas vezes achamos que estamos vivendo uma tragédia, simplesmente pela impossibilidade de observarmos a vida por ângulos melhores. É na destruição que reconstruímos – na reconstrução, muitas vezes, surgimos mais fortalecidos, tal qual uma fênix.

Devemos prestar mais atenção nos pequenos detalhes que a vida, na sua sabedoria, nos oferece. Na maioria das vezes nos fazemos de cegos e surdos, e não percebemos que, nesses pequenos detalhes, existem grandes ensinamentos. E assim eles nos passam despercebidos pela corrida louca atrás do nada.

Apesar de todas as conquistas tecnológicas, o dia está cada vez mais achatado, dificultando o nosso encontro com a felicidade.

Tudo passa com o tempo: mocidade, beleza física, dinheiro, poder e saúde. Só não passam as nossas emoções - que ninguém compra ou vende, e às vezes transformam-se em verdadeiros aparelhos de microondas de emoções.

Gabriel Novis Neves
09/02/2009

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