domingo, 31 de janeiro de 2010

Cidade festeira

Cuiabá sempre foi uma cidade festeira. O calendário das festas começa no dia 1º de janeiro, dia do Padroeiro da cidade - Nosso Senhor Bom Jesus de Cuiabá. A seguir entramos no período das festas carnavalescas e logo vem a quaresma e a semana santa, muito significativa para uma cidade de forte tradição católica. Em abril, a festa cívica da fundação de Cuiabá. Em seguida temos o mês de maio, inteirinho dedicado a Nossa Senhora, com missas e coroações. No segundo domingo deste mês temos o Dia das Mães. Na sequência a festa do Divino – uma das mais expressivas manifestações da tradicional religiosidade mato-grossense. O mês de junho é também o mês das festas juninas onde comemoramos Santo Antonio, o santo casamenteiro, São João e São Pedro. A Festa de São Benedito começa na primeira semana de julho e é a festa mais popular do Estado. É um santo tão querido pela nossa gente que muitos acham ser ele o Padroeiro da cidade. Entremeando as festas religiosas outras profanas acontecem como a Exposição Agro Pecuária, onde são realizadas transações milionárias. Vem agosto, e o segundo domingo é reservado para a comemoração do Dia dos Pais. Chegamos a setembro, com a Semana da Pátria bem no início do mês com direito a uma esticadinha estatutária que nós chamamos de feriadão. Festas também comemoram o início da Primavera. Chega outubro com a festa da Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil e o Dia das Crianças. Dia de Todos os Santos é comemorado no dia 1º de novembro seguido do feriado para homenagear os nossos Mortos, e no meio do mês, a Proclamação da República. Dezembro não conto, pois o mês todo é de festas e comemorações.

Esta é a Cuiabá festeira que eu conheço. Lembranças da minha meninice! Velhos tempos! Hoje, temos também inúmeras festas modernas. Não irei comentar todas, mas algumas merecem registro especial. A festa da entrega das ambulâncias para os municípios do interior. A festa da entrega das viaturas para a polícia. A festa da entrega do novo carro do Corpo de bombeiros recém chegado da Europa. A festa para a entrega de motos e caminhões. E agora, a super festa da entrega das gigantes máquinas, para facilitar o escoamento dos produtos agrícolas dos nossos municípios. Vocês não conheciam essas festas modernosas? Pois é.

E ainda mais: o lugar da entrega desse material vistoso fica em uma área discreta na pouco movimentada Avenida do CPA, ao lado de um pequeno shopping ali existente. O ato da entrega não é uma festa e sim o final de um processo puramente administrativo. Banda de música, convite com presença obrigatória e o comparecimento espontâneo da mídia escrita, falada e televisada. Tudo muito simplesinho... Não sei quem irá ter o trabalho de entregar as belas máquinas aos Prefeitos, pois o serviço não é gratificante, porém obrigatório. Espero acompanhar depois pelos comentários dos jornais e imagens das TVs quem foi o sorteado para tal missão.

Cuiabá é mesmo uma cidade com perfil super festeiro!

Gabriel Novis Neves
30/01/2010

GABRIELZINHO

A minha mulher era muito inteligente, pés no chão e com visão privilegiada do infinito. Era excepcional a sua intuição, e em pouco tempo cumpriu as suas tarefas por aqui e partiu, com toda a certeza, para um mundo melhor.

Logo que casamos, e com os filhos nascendo, percebeu que a minha vida estava sendo escrita ao contrário. Sabiamente escolheu o nome dos nossos dois filhos e filha, tendo sempre o cuidado de não deixar escancarado o sobrenome do pai. No início os seus argumentos não me convenceram. Hoje dou graças a Deus por ela ter vencido mais uma vez a minha burrice.

Tenho um filho médico. Quando gestante dele, ela me disse que gostaria de colocar o meu nome nesse menino, pois encerraria com este parto a sua carreira reprodutiva. Adorei a idéia! Logo depois ela justificou dizendo-me que antes do Gabriel colocaria Fernando. E o Gabriel filho é hoje, o Fernando Gabriel.

Nesta época era Secretário de Educação do Estado e o sermão foi o seguinte: quantos interesses dos funcionários você não irá contrariar; todos falam bem de você e do seu trabalho; às vezes alguém gostaria de se aposentar fora da época e o processo será indeferido por você; outras vezes será uma promoção solicitada e não atendida. Multiplicando tudo isso, teríamos problemas refletindo em nossos filhos, especialmente nas salas de aula.

Nada como o tempo para provocar o esquecimento! Após aposentado do serviço público, o meu filho Fernando Gabriel me dá de presente o Gabriel Novis Neves Neto, que por sinal nasceu em minhas mãos.

Hoje ele completa nove anos e os seus professores nunca ouviram falar no nome do seu avô. Bendito tempo, que a minha mulher sempre entendeu!

Gabriel Novis Neves
26/01/2010

sábado, 30 de janeiro de 2010

Caí na rede

Uma amiga teve a paciência de colocar uma entrevista minha para frei Carrara no Youtube. Pronto! Vivi os meus cinco minutos de fama!

Fico imaginando aquela bolinha circulando na telinha e, de repente, aparece a imagem do Carrara fazendo perguntas ao velho aparador de crianças. O questionário foi todo baseado nas minhas anamneses. Sempre defendi que os médicos têm que dar o bom exemplo e mostrar à sociedade como somos. Jamais utilizar a doença para fins ilícitos, mas chegar até a sociedade como seres humanos com todas as nossas fraquezas e fantasias.

Muitos dos que assistiram ao “filme” ficaram chocados quando revelei que fiz tratamento psiquiátrico. “Como você revela isso publicamente?” “Essas coisas a gente não fala para ninguém, esconde” – foram algumas das advertências mais frequentes que ouvi. Outra: “Você está ficando louco? Quer se destruir?” Não. O que procurei fazer foi motivar inúmeras pessoas necessitadas de tratamento psiquiátrico a deixarem a vestimenta do preconceito e procurarem auxílio para o alívio das suas doenças inorgânicas.

Observo em meu consultório como os clientes sentem certo prazer em divulgar a aquisição de um cisto, uma cirurgia de lipoescultura, um implante de silicone, e agora é orgulho dizer que fez cirurgia bariátrica – aquela que reduz o estômago. Para serem politicamente corretos, os pacientes são orientados a não dizer que perderam quilos, e sim eliminaram gorduras desnecessárias ao geralmente já lesionado organismo. Porque este hábito? Cultural?!

É mais fácil encontrar compreensão e solidariedade humana frente a uma doença em que a balança e os olhos humanos mensuram, do que apoiar e compreender alguém portador de ansiedade, angústia, saudade ou paixão! As doenças orgânicas são conversas de salão de cabeleireiros, bares, reuniões sociais, casamentos, e até velórios. Expor nossos sentimentos e sofrimentos existenciais é sinal de loucura – mas a verdade é que ninguém quer escutar sobre isto!

Aproveitei ao máximo o tempo da entrevista para exercer a minha função de educador e médico. Mostrar as nossas fragilidades físicas, e principalmente, as emocionais. Dentro das nossas imperfeições podemos ser úteis à sociedade demonstrando que a vida é construída dia a dia e não adquirida em super mercados.

Hoje comecei a construir novas utopias. A fama demorou o tempo da entrevista!

Gabriel Novis Neves
08/01/2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

COMUNICADO

Há dias quero transmitir aos amigos e amigas, uma séria decisão que tomei com relação a uma viagem que pretendo fazer. Já comprei a passagem em prestações (20 anos para pagar), pois é caríssima! Consegui lugar na aeronave só para final de março, assim mesmo por desistência de um passageiro. Pretendo ficar por lá um bom tempo, até passar este tsunami de besteiras que assolam este país e este Estado.

A decisão foi tomada em dezembro, quando recebi a visita de um amigo que mora lá e veio passar alguns dias por aqui. Conversando com ele fiquei sabendo das maravilhas desse mundo que descobriu. A viagem é um pouco cansativa, mas a ambientação é rápida. O clima é maravilhoso! A cidade encantadora: tranqüila, pouquíssimos moradores, lugares alucinantes para passeios e vista fantástica da Terra. Diz o meu amigo que o Gagarin, astronauta russo, o pioneiro em vôo espacial, ficou deslumbrado quando viu a bolinha azul e exclamou: “A Terra é azul!”.

O ponto mais atraente da minha futura residência é esta visão da Terra azul, sem guerras, sem mortes, sem misérias, sem destruições, sem desigualdades sociais, sem maldades. O único meio de transporte lá é o cavalo de São Jorge. Noticias de Cuiabá, só de trinta em trinta dias. O estresse inexiste por aquelas bandas. Enquanto isto, por aqui, a vida está simplesmente insuportável! Palavras modernas são utilizadas para dizer nada, sendo que a mais usada no momento é avançar. Como sou oficial da reserva do Exército Brasileiro, avançar significa chegar perto do objetivo proposto, muitas vezes guiado pelo velho “azimute”. Investimentos aqui na Terra são considerados aqueles que o asfalto propicia para caminhões passarem. Recursos para educação não são investimentos e sim despesas. Fazer alguma coisa na área social é pegar dinheiro da Caixa Econômica Federal para a construção de conjuntos residenciais com casas tipo caixas de fósforos para a população pobre morar – geralmente batizado com nome de pessoa desconhecida. Avanço na educação é reformar escolas e não salários e condições de trabalho aos professores. Na área de segurança o tal do avanço é prender bandidos e depois soltá-los. Construir presídios - e não investir um vintém na prevenção do crime. Com que satisfação eu fiquei sabendo que em 2003 tínhamos três mil ladrões de galinhas presos e hoje 12 mil! Os outros? Estão trabalhando por conta própria para o desenvolvimento do Estado. Em 2003 tínhamos apenas um helicóptero, agora temos dois. Aumento de cem por cento na área de segurança pública. Não se fala uma linha no avanço da saúde pública, onde os números são bem significativos. Avançamos muito na diminuição de leitos hospitalares, no número de mortes pela dengue, nas filas de atendimento médico e no aumento do número de ambulâncias.

Diante de tantos avanços, e enquanto as coisas por aqui estiverem neste nível, vou mudar de ares. Ah, o pior é que, além de não satisfeitos com tantos avanços, ainda estão pretendendo a sua continuação com o próximo governo.

Ah, não é mole! Irei morar na Lua.

Gabriel Novis Neves
26/01/2010

A prisão da Adriana

Assim como existe a morte programada, temos agora uma novidade: a prisão programada. A jornalista proprietária do “prosaepolitica” será presa. A polícia, com certeza, terá que enfrentar dois problemas: alojar a inquieta moça e acalmar a numerosíssima família, (consanguínea e não-consanguínea).

Adriana possui hábitos não muito compatíveis para ser hóspede de uma cela prisional. Vejamos alguns: não tem a mínima disciplina em respeitar horários para as atividades essenciais, (acordar, dormir, descansar, comer, etc.); gosta muito de conversar pelo telefone, - proibido nas casas de reeducação para os marginais; escreve o dia todo; adora ler histórias em quadrinhos; não é de levar desaforo, no caso, para a cela. Fico preocupado com a possível rebelião que ela poderá comandar no Pascoal Ramos, contra a censura que lhe foi imposta ferindo o seu direito constitucional de livre pensamento e expressão - já que falar dá cadeia.

Conheço bem a Adriana, e, por motivo de segurança, deverá ser transferida para o presídio de segurança máxima de Campo Grande-MS. Não irá de avião por opção pessoal. Prefere trafegar pelas excelentes rodovias construídas e mantidas pelo DNIT. Quem conhece bem o motivo alegado para a decretação da sua prisão preventiva em cárcere privado, entenderá com facilidade esta sua escolha rodoviária.

Em Campo Grande estará em contato (espiritual) com a plebe da bandidagem. Estão por lá: Comendadores, Beiras Mares, Comerciantes de pó, Industriais de material bélico e Proprietários de grandes bancos. A nobreza desta fauna está em Brasília, trabalhando nas esculturas do nosso eterno arquiteto.

Estou preocupado com o futuro da Adriana, e como moro só, conversei com minha auxiliar, que há quarenta anos gerencia os meus problemas domésticos. Ela conhece a jornalista desde criança e tem por ela uma enorme admiração - inclusive trocam emails íntimos. “Baixinha! (nome carinhoso pelo qual trato a minha auxiliar) A situação é séria!” Falei. Ela me responde dizendo que o que tenho que fazer é provocar a minha prisão para ficar no mesmo presídio da Adriana. Além do consolo familiar, prestaria serviços médicos em uma emergência. Respondi a minha confidente doméstica que não é fácil ser preso neste país. Prontamente a Baixinha retruca: - O senhor nem parece que tem estudo! Escreva tudo o que ela publicou, e que motivou a sua prisão, que o senhor será preso. E finaliza: eu confio na justiça da nossa justiça. Encerrou a conversa e foi assistir ao Big Brother Brasil 10.

Gabriel Novis Neves
26/01/2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

CENTO E CINQUENTA

Estou tomando providências, para a comemoração do meu artigo número cento e cinqüenta no “site que ninguém lê”. Como vivemos a época das comemorações, julgo oportuno, brindar este feito: cento e cinqüenta vezes o “pobre Marquês”, teve a paciência de divulgar as minhas escritas no “Tema Livre”. Lamento apenas continuar desconhecido, porque “ninguém lê o site” onde iniciei a minha carreira. Não quero festa, outdoor, faixas e nem informes publicitários nos jornais. Se publicasse dois artigos por ano desde a data do meu nascimento, alcançaria, hoje, aos 75 anos de idade, este número, para mim, quantitativamente significativo.

O único presente que gostaria de ganhar para comemorar esta data, seria uma carteirinha de jornalista. Como diz a jornalista do “nogargalo”, proprietária do Boteco, sou um “jornalista café com leite”, aquele que não é jornalista, mas escreve para jornais, sites, blogs não têm honorários, nem exclusividade.

Ah! Se eu ganhasse uma carteirinha de jornalista! Além de me sentir muito satisfeito e honrado de pertencer a esta classe - essencial para a educação da nossa sociedade - iria assistir ao desfile das Escolas de Samba em lugares privilegiados, reservados e com toda a mordomia. Seria convidado para reuniões importantes, e, com toda a certeza, paparicado pelos carentes de elogios.

Isto me faz lembrar uma história contada pelo Brizola. Conta o doutor Leonel que durante o seu longo exílio no Uruguai as visitas dos amigos, outrora tão frequentes, foram pouco a pouco desaparecendo. A exceção foi um simples militante, sempre presente nas suas lutas históricas. Todos os meses, enfrentando dificuldades, o seu companheiro de poucas letras e recursos financeiros, ia de ônibus visitar o engenheiro corajoso. Permanecia uma semana na fazenda com o Brizola; levava as notícias do Brasil, e, principalmente, solidariedade humana. Nunca pediu nada, tampouco aceitou qualquer tipo de ajuda do ilustre exilado, embora necessitasse. Veio á eleição no Rio de Janeiro para Governador em 1982. A fidelidade desse amigo mexeu com o coração do velho caudilho. Não faltou a nenhum comício e se postava sempre na primeira fila. Brizola eleito, o contato entre eles ficou mais difícil, até que, durante um ato público, Brizola o reconhece no meio da multidão. O Governador chama o Doutel de Andrade, e manifesta a ele o seu desejo de falar com o amigo de exílio, após a cerimônia. Ao encontrarem-se os dois se abraçam e Brizola pergunta:

“- Estás no governo?”

“- Não Senhor governador.” Responde o amigo. “- Mas não se preocupe comigo.”

O gaúcho ordena então que lhe arrumem um cargo. Despedem-se. Meses depois, novo encontro.

“- Tudo bem amigo? Estás trabalhando no governo?” Indaga o governador.

“- Sim.”

“- Qual o salário?”

“- O mínimo.” Murmura o amigo.

“- Mas, onde estás lotado?” Pergunta Brizola aborrecido.

“- Na polícia.”

“- Ah! Então tens a carteirinha?”

“- Sim. De detetive.” O amigo responde desalentado.
O governador quis consolar e falou:

“- Ah! Então tá bom!”

O amigo deu um longo suspiro e exclamou:

“-Mas doutor, eu queria mesmo era uma carteirinha de jornalista!”

Gabriel Novis Neves
21/01/2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

CIDADE INDOMÁVEL

Alguns forasteiros ao chegar à Cidade Verde têm uma primeira impressão completamente errada da sua gente. O cuiabano pode transmitir, aos mais desavisados, ser tranqüilo, desligado do mundo, não observador, molenga e facilmente domável.

Esta semana tivemos um exemplo deste equívoco. Um fotógrafo do Paraná aportou por aqui para quebrar um recorde mundial - patrocinado não sei por quem. Essa obsessão por recordes está transformando o meu estado em recordista mundial do fiasco. Pois bem. O artista fotográfico vai à Praça Alencastro e “apita” convocando as mulheres de Cuiabá, de qualquer idade, para a fotografia histórica! Precisava de 2014 mulheres de biquíni no Verdão, para quebrar o recorde mundial pertencente a um australiano, que conseguiu reunir 1010 mulheres de biquíni em Sidney, em um campo de futebol. O recorde mundial iria colocar a nossa cidade na mídia mundial.

Seria a primeira vez no mundo que um estádio recém-reformado iria ser demolido para a construção de um novo, no mesmo lugar. O famoso estádio de Londres foi demolido e reconstruído no mesmo local por falta de espaço físico na cidade - o transporte de massas é realizado debaixo da terra. Não é absolutamente o caso de Cuiabá, possuidora ainda de enormes áreas verdes desocupadas, inclusive de acesso mais rápido. O sensato seria, no mínimo, doar o estádio ao esporte amador e construir um novo.

O autor do projeto da foto foi dormir ansioso esperando o dia em que iria receber 2014 cuiabanas de biquíni. Estádio aberto. Grande expectativa! Funcionários dando assistência, uma guarnição do Corpo de Bombeiros, escada Magirus atingindo cinqüenta metros de altura para alojar o fotógrafo, televisão com repórter do Rio, fiscal do livro dos recordes fazendo a contagem do elenco, e no final o grande fiasco: apenas 197 mulheres no campo do Verdão. Com um detalhe: nem todas estavam vestidas de biquíni, a maioria trajava maiô. O artista de fora não se deu por vencido, arrumou logo uma culpa: “as mulheres daqui, devido à ausência de mar, não têm o hábito de usar biquíni.”

Como faz falta nessas horas uma boa assessoria! O mal informado fotógrafo não sabe que mais de 10mil cuiabanas estão curtindo as férias em praias de mares nacionais e internacionais, ou em Cuiabá, nos rios, chácaras, cachoeiras e piscinas - todas de biquíni. O que houve é que elas se negaram a participar dessa grotesca “comemoração.”

Cuiabá é uma cidade indomável!

Gabriel Novis Neves
25/01/2010

Quero ser especialista

O mundo hoje é dos especialistas! Todas as profissões possuem especialistas, e até micro- especialistas. Sou de uma época em que as coisas eram mais simples, não tínhamos especialistas, e as profissões que se destacavam eram as de médico, advogado, engenheiro, professor, militar, funcionário do Banco do Brasil e padre.

Hoje, diante de tantos especialistas, eu vou me apelidar de cronista - para definir o que escrevo e alguns lêem. O cronista não cria nada, tudo que escreve é baseado em fatos que ouve, lê ou vê. São coisas banais do nosso cotidiano, vistas de forma especial pelo cronista. O cronista não inventa nada e protege os seus personagens mantendo-os no anonimato, e assume muitas vezes o papel deles.

Acho que eu, como cronista, irei me especializar em escrever sobre amenidades: solidão; a moça da blusa azul; ilusão; o clube do sábado; a saideira e outras classificadas por uma leitora, como o trivial. Prometo, ou melhor, quero prometer, não ultrapassar essa faixa e esquecer o resto. É impossível escrever o que vemos diariamente: países sendo destruídos pela natureza, homens destruindo a natureza, nações ricas matando pobres, pobres matando ricos, os terríveis esbanjamentos de recursos pelos governos, etc...

Em Dezembro o Senado pagou indevidamente, de horas extras aos seus apaniguados, o suficiente para se construir um moderno Pronto Socorro em Cuiabá, além de fornecer recursos para não fechar o único hospital federal aqui existente. Estão sendo gastos um mundão de dinheiro público para custear propagandas políticas prematuras, contrariando a legislação vigente. O pagamento generoso às agências de publicidade, para vender ao eleitor, alhos por bugalhos.

Os mandatos do presidente e governadores estão se exaurindo. Como diz aquele ex-governador, a esta altura, quem bejô, bejô, quem não bejô não beja mais.

Ontem no barbeiro, ninguém soube responder sobre uma obra, ou ação importante, realizada em Cuiabá nestes últimos anos. No passado herdamos importantes legados. Foi citado a UFMT, o Centro Político Administrativo e de lambuja o Verdão, a Estação Rodoviária, a Cidade do CPA, pontes sobre o rio Cuiabá, o cuidado com o saneamento básico, início do Hospital Central, criação de bairros-cidades, e porque não, a UNEMAT. O engraxate que a tudo ouvia acrescentou: a demolição do Verdão. Aplausos.

É melhor escrever sobre o córrego da Prainha, o tanque do Baú, a Turma do Morro e do Jacildo e seus Rapazes.

Quero ser especialista.

Gabriel Novis Neves
15/01/2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

A tristeza do domingo

Hoje é domingo. Como todos os dias, saio para a minha caminhada terapêutica, bem cedinho. O domingo já amanhece triste. Observo as ruas e avenidas vazias, onde poucos andam. Um ou outro carro passando. O centro comercial fechado. Prédios silenciosos guardando o sono dos seus moradores. Mendigos dormindo nas calçadas, na companhia de cachorros famintos. Enfim, é como observar uma cidade morta.

Os domingos também guardam umas características interessantes – e tristes. Tenho a impressão que neste dia, muita gente toma o café da manhã fora de casa. A razão? Talvez pela folga da empregada. Os clientes da padaria aos domingos não são os mesmos da semana. No almoço os restaurantes, botequins e botecos estão lotados. Poucos almoçam em casa. As casas de parentes também são fontes de agregação para o almoço de domingo. Existem aqueles que escolhem almoçar fora da cidade. Não deve ser nada agradável com a nossa temperatura de quarenta graus, enfatiotar-se, sair de casa e pegar uma fila para almoçar. Há que se ter vocação para enfrentar filas!

Depois do almoço o grande programa é assistir futebol pela televisão. Terminado o jogo, tenho a sensação que o domingo morreu. A musicazinha anunciando o Fantástico é como aviso que o caixão do domingo será fechado. A tristeza toma conta de mim e fico com vontade de dormir, mesmo sabendo que irei acordar para o dia mais antipático da semana.

Porque tenho este sentimento com relação ao domingo? Memórias do período da infância onde o domingo era tão esperado e desejado? Época em que tudo de bom acontecia aos domingos? Missa na Matriz. Chá com bolo com toda família reunida em casa. Almoço com macarronada e galinha. Doce de goiaba de sobremesa. Refresco de caju e as histórias dos mais velhos. Futebol com os pés descalços até escurecer. Banho no quintal com água do poço e o “ajantarado” preparado por mamãe, para a tropa toda e visita surpresa. Antes de dormir, um joguinho de botão no corredor da minha casa. Depois, um copo de leite, rezar e dormir. Segunda-feira, colégio.

Não sei não, mas acho o domingo melancólico pelas lembranças que me ocorrem e da certeza do que perdi ao me tornar adulto. O domingo é tão inútil que não serve nem para uns drinques, pela ressaca do dia seguinte.

É um dia triste.

Gabriel Novis Neves
17/01/ 2010

TIMÃO

Não é somente o estado de São Paulo que possui o Timão, nós também temos um. No de lá, jogam veteranos, o time está saindo da segunda divisão do campeonato brasileiro e atende pelo nome de Corinthians. É um time que vive da venda de publicidade. O seu jogador mais conhecido, três vezes eleito o melhor do mundo, este ano vai receber só de publicidade um prêmio de loteria esportiva acumulada.

O nosso Timão há muitos anos faliu e perdeu todo o seu patrimônio. Este ano disputará o brasileirão na série “D”, que vem a ser a última divisão do campeonato. No momento o Timão da Vargas se prepara para disputar o Campeonato Matogrossense. Se for campeão, disputará a Copa Brasil, e se repetir a façanha, disputará a próxima Libertadora. Ganhando a Libertadora disputará no Japão o título mundial.

Daí o esforço para se montar um grande time. Para o novo elenco foram contratados jogadores que já foram campeões do mundo e da libertadora. O técnico é um ex-jogador - campeão paulista. O supervisor é um tetra campeão do mundo. Planejamento estratégico perfeito para mais uma quebra de recordes.

Acontece que, enquanto esperamos e torcemos pelo sucesso da empreitada - que colocará Cuiabá lá nas grimpas e a diretoria do Timão beatificada - há uma inquietação dominando a cidade. Quem está bancando a folha de pagamento do Timão, que segundo notícias divulgadas, no momento ultrapassa os 250 mil reais?

Dizem que esta responsabilidade ficará por conta dos amigos do Mixto, empresas e empresários. Existe uma curiosidade generalizada em sabermos quem são os beneméritos, assim como o valor da contribuição de cada um. Nós cuiabanos somos eternamente gratos aos que nos ajudam. Seria politicamente correto divulgar esses donativos, para evitar certas conversinhas que já existem com relação à metodologia do auxílio.

Eu sinceramente acredito na paixão do cuiabano pelo time da Professora Zulmira Canavarros. Mas paixão não é dinheiro, é sentimento. Sentimento não paga salários, não compra ônibus, não paga outras “coisitas” do mundo do futebol, indispensáveis para sermos campeões do mundo.

Diretoria do timão! Divulgue a lista dos nossos benfeitores!

Gabriel Novis Neves
21/01/2019

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

DESISTI

Conheço muita gente que deixa de fazer pequenos passeios, e até viajar de férias, para não deixar sozinho o seu cachorro. O animal - que já foi até chamado de ser humano por um ministro do Brasil - prefere não ser gente, embora muita gente queira ser cachorro.

Esta semana recebi um convite, quase, irrecusável para descansar um pouco - sair deste corre-corre que vivo, e gozar dos prazeres da serra. Tá bom minha santa! Dizia a minha mulher. Estrada sem acostamento, perigo de desabamento da rocha arenosa do portão do inferno, além de chuva pra valer!

Os aliciadores replicam: o novo calçamento da pracinha está lindo! Os ares da serra vão te revigorar! É bom ver caras novas! Vamos reunir um grupo legal para botar conversa fora! Vamos escutar violeiros! Vamos beber vinho! E por aí vai a interminável lista das “tentações”.

Na verdade o que me prende por aqui é algo tão simples, e que não encontro em lugar nenhum! É a minha casa! Sinto um prazer imenso em ficar em casa! Gosto tanto dela! Aqui me sinto aconchegado e em tranquilidade. Passo horas na sala de parto, onde nascem os meus textos – meu cantinho especial. Ouço minhas músicas preferidas no sobradinho sentado na cadeira de balanço que foi da minha mãe. Amenizo o calor com as redondinhas, tão próximas de mim! Curto a companhia dos amigos que vem me visitar – somente pessoas queridas e especiais. Contemplo a beleza do meu jardim. Tenho ainda, para completar este cenário onírico, a visão privilegiada da grande Cuiabá, do morro de Santo Antonio e do Chapadão da serra. Deixar este cenário de sonhos, só para a viagem eterna.

Desisti da serra, do mar e do frio. Amo este cheiro gostoso chamado Cuiabá! Tão mal tratada, tão mal falada, tão desrespeitada, tão humilhada! Alguns até acham que passar as férias em Cuiabá, é sinal de demência ou decadência. Cidade bela e agarrativa, hospitaleira e generosa, berço deste estado, e tão mal compreendida! Não conheço ninguém que tenha saído daqui, sem ter levado saudades. O bom nem sempre está lá fora. Aqueles que se mudam mandam notícias dizendo maravilhas da sua nova cidade. Como dizia o meu pai: tá, mas estão loucos para voltar.

Vou ficar cuidando, curtindo e amando o que gosto, que é estar aqui, em minha casa!

Gabriel Novis Neves
15/01/2010

BUROCRACIA

Já fui muito dependente da televisão. Quando me sobrava tempo assistia a quase toda a programação oferecida pelos canais – desde os telejornais até aos programas do Bolinha, Flávio Cavalcante, Sílvio Santos – exceção feita às novelas.

Quando a televisão descobriu que o futebol era o filé mignon do faturamento, começou a transmitir (por canal pago) o campeonato carioca de futebol e o campeonato brasileiro - a grande estrela. Atualmente outros campeonatos regionais e internacionais também são transmitidos. Tive sorte de ver o meu Fogão campeão brasileiro de 1995. Hoje assisto aos jogos do meu time no campeonato carioca e brasileiro.

Este prazer custa-me uma assinatura no canal pago, que é renovada automaticamente e cujo boleto vai direto para o banco. Com a internet as notícias da televisão têm o sabor de comida amanhecida. São velhas, desinteressantes. O Jornal Nacional e similares ficaram chatíssimos, ganhando nesse quesito só para o programa político gratuito.

Mas o futebol, ou melhor, os jogos do Bota, ainda me atraem. Este ano, na estréia do campeonato carioca, a minha primeira frustração! O sinal da minha televisão apresentou problemas na recepção e não assisti a goleada do “Glorioso”, por 3x2 em cima do forte e tradicional Macaé! Telefono para a operadora. Após longa espera, e tomar conhecimento de todos os produtos da empresa, obedeci aos comandos da gravação; inicio a teclar números no meu telefone, e finalmente uma voz feminina se apresenta. Relato os sintomas da minha televisão, e a minha guia dita uma série de procedimentos. Tento segui-los, mas sem resultados. Ela então me informa que está agendando a visita de um técnico. Agradeço a sua boa vontade e pergunto quando seria a visita. Daqui a sete dias. Vou ao desespero! Apelei: disse que era um velho viúvo e a minha única distração era assistir jogos do meu Bota. A fila está longa e não há possibilidade, foi a resposta que ouvi. Como última tentativa eu informei a funcionária que, assim sendo, deixaria de assistir a dois jogos, sendo que um, era clássico. Infelizmente o senhor terá mesmo que aguardar - informou-me a funcionária. A seguir ela me pediu para responder um pequeno questionário. Entra a gravação e dei nota dez para as três perguntas formuladas.

Conformado, fui cuidar de outros assuntos importantes. Preparo-me para sair para pagar a anuidade da minha cova rasa - naquele cemitério na estrada de Santo Antonio. Ao abrir a porta do meu apartamento encontro esperando o elevador, o técnico que dá manutenção à Sky no meu edifício. Falo com ele sobre a minha difícil situação. Ele gentilmente se prontificou em me ajudar, e em cinco minutos resolveu o problema. Nem sei como agradecer a esse rapaz, mas o meu drama continuou. Telefono para a operadora cancelando a visita técnica programada. Aí o bicho pegou! Gastei preciosos minutos para convencer a funcionária que eu já havia solucionado o problema da recepção do sinal e que queria cancelar a visita do técnico. Foi uma dificuldade para a funcionária desfazer a solicitação, pois já havia sido lançada na programação da empresa. Finalmente chegamos a um consenso.

Aí, fiquei pensando: A burocracia, pelo visto, não é um problema exclusivo do serviço público. A encontramos até nas empresas privadas. É como dizem: “a burocracia é a arte de transformar solução em problema.”

Gabriel Novis Neves
19/01/2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Presente de grego

O agonizante Hospital Universitário Julio Muller (HUJM) ganhou um presente de Brasília. O Ministério da Educação reconhecendo o seu excelente curso de Medicina em graduação aumentou, por mérito, o número de vagas para os médicos residentes.

Para a qualificação de um bom médico não basta apenas graduação. Num mundo com excesso de informações a caminhada hoje é longa. Inicialmente é necessária a Residência Médica - uma pós- graduação, com o título de “latu-sensu”, que confere ao médico o título de especialista. Depois vem o mestrado, doutorado e pós- doutorado, fazendo parte da pós-graduação “strictu-sensu”. Traduzindo: cada vez o médico sabe mais de menos. É a evolução dos tempos, e que o paciente percebe na consulta médica.

Cuiabá sempre acalentou o sonho de possuir uma escola de Medicina - hoje este sonho é uma realidade. Formamos os melhores médicos em graduação do Brasil. No futuro os melhores doutores e pós-doutores. Como lembra Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra”. A pedra no meio do caminho deste projeto foi colocada pelas mesmas autoridades federais que aumentaram o número de bolsas para a formação de médicos especialistas através do aumento de alunos para a residência médica. Com uma mão a dádiva, com a outra retiram as horas necessárias para o bom funcionamento do hospital escola e que atende cem por cento a clientela do SUS.

O número de alunos em graduação no curso de medicina, ultimamente, simplesmente duplicou. Este aumento não foi acompanhado pelo número de docentes e servidores, muito menos pela necessária expansão física do velho hospital de tuberculosos. Todos os que trabalham em gestão hospitalar sabem que, após cinco anos, o equipamento hospitalar torna-se obsoleto. A estrutura física de um hospital tem uma vida útil tecnológica de quinze anos. Depois aparecem os famosos puxadinhos. Com relação à reposição dos equipamentos não vejo problemas para os hospitais públicos.

Quando o nosso curso de Medicina estava em seu primeiro ano de funcionamento fui chamado à Brasília. O departamento comercial do Itamaraty queria porque queria que eu, como reitor, assinasse um termo de compromisso para receber um aparelho de tomografia e outro de ressonância magnética como doação. Era o produto de um acordo comercial do Brasil com um país europeu. Disse ao embaixador responsável pela distribuição dos equipamentos que a nossa escola de Medicina estava no seu primeiro ano, e que não possuíamos ainda hospital nem lugar para abrigar com segurança aqueles equipamentos. Conseguir recursos financeiros para ampliação ou construção de um novo hospital também não é problema para o governo. O “X” do problema é conseguir verbas para a sua manutenção. Aí todo mundo foge do projeto como o diabo foge da cruz. O governo do estado fez a sua parte; comprou dois hospitais com pacientes e transformou um, em garagem do SAMU, e o outro, em laboratório e administração.

É ofensa grave cobrar do governo estadual a construção de um hospital na capital do estado. Prefere dar esmolas aos existentes. O quadro de Saúde Pública em Cuiabá e no Estado é gravíssimo. Quando alguém se apresenta para nos ajudar é para nos oferecer um presente de grego - como este de aumentar o número de bolsistas e fechar o hospital.

Durma com essa!

Gabriel Novis Neves
13/01/2010

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Nove entre dez

A moda domina o mundo globalizado: isso está na moda, aquilo saiu da moda, isto vai entrar na moda. Até para as palavras e frases existe moda. Vou citar uma expressão que está na moda: desenvolvimento sustentável. Esta expressão, segundo as cartomantes, jogadores de tarô, numerólogos e todos os entendidos em leituras do futuro, será a expressão mais empregada neste ano.

É politicamente correto empregá-la. Em ano eleitoral será pecado mortal esquecê-la. O eleitor sabe que são coisas ditas da boca para fora para ganhar votos urbanos. Muita gente nem sabe o que significa, mas vai dizer no horário político gratuito. No nosso Estado os maiores inimigos da natureza repetirão, à exaustão, que desde criancinha, bem antes da existência da moto serra, já defendiam o desenvolvimento sustentável.

Ora gente! Não existe possibilidade de desenvolvimento sustentável sem educação. Em um país onde a educação não é prioridade, como falar em desenvolvimento sustentável? A nossa educação é tão precária que o seu reflexo se faz sentir em todo seguimento, como habitação, segurança, qualidade e expectativa de vida, e especialmente, saúde pública.

Alguns políticos experientes, diante do caos da saúde, acham que este será o grande foco das discussões. Como estão equivocados! O problema da saúde e do meio ambiente não serão resolvidos, sem antes resolvermos o caos da educação.

Educação é pré-requisito para uma saúde pública de qualidade e desenvolvimento sustentável. Saúde ruim e falta de cuidado com o meio ambiente é igual febre, que não é doença, e sim, sintoma, A doença que precisa de tratamento e cuidados especiais chama-se, educação. Mas educação não é a palavra da moda.

Lembro-me de uma propaganda - ou reclame, como diz o Vila - da década de cinqüenta, de certo sabonete que dizia ser ele o preferido de nove entre dez estrelas de Hollywood. Este ano sai o sabonete das estrelas e entra o desenvolvimento sustentável, preferido de nove entre dez empresários do agronegócio e madeireiras.

Gabriel Novis Neves
03/01/2010

O PEÃO

Cuiabá é hoje uma capital regional. Possuímos um número significativo de indústrias, de prestadores de serviços, uma população razoavelmente grande de universitários e, principalmente, de formadores de opinião. Está tão desenvolvida a minha cidade que seremos sede de um dos grupos da Copa do Mundo! E estamos muito bem classificados no livro dos recordes!

Observo, entretanto, que apesar de todos esses avanços, que devemos aos “nossos políticos”, há espaços que precisam ser preenchidos, ou revistos. Se eu tivesse cacife político, iria sugerir aos governos, instituições privadas e, principalmente, à poderosa Federação das Indústrias, modificações no perfil dos conferencistas que fazem ponto aqui o ano todo - geralmente do eixo Rio-São Paulo. Na sua grande maioria são profissionais de grande visibilidade na mídia. Com um bom cachê desfilam nos nossos lotados auditórios: treinadores de futebol, artistas, políticos aposentados, jornalistas de grandes redes de televisão e escritores de auto-estima.

Se pudesse convidaria para palestras, antes das eleições: Domenico De Massi e Bill Gates. O primeiro – Domenico, autor de O Ócio Criativo - iria ensinar que a eficiência e qualidade dos serviços independem das horas em que o funcionário permanece na empresa. Segundo De Massi o resultado de um bom trabalho, muitas vezes, nasce do ócio. O segundo - Bill Gates, fundador da Microsoft - iria escandalizar! A empresa que fundou e dirige é uma das maiores e mais eficientes do mundo. Possui milhares de funcionários. Não exige dos seus funcionários horários para trabalhar. Oferece todas as condições para tal, e a contra partida é apenas o resultado.

Veja bem! Domenico propõe o ócio criativo. Bill Gates cobra “apenas” resultados! Nenhum deles propõe que o trabalhador chegue às três horas da madrugada na empresa, fique o dia inteiro enfiando “peido no cordão”, como sinal de competência e garantia de bons resultados. E os dois são respeitados no mundo todo pelas suas idéias revolucionárias!

Aqui pelas nossas bandas estamos ainda no período da Inquisição, do fuxico e puxa saquismo. O pior é que essas sumidades administrativas têm diploma de curso de auto-estima e são pessoas religiosas - sempre apelam para Deus diante de uma pequena dificuldade. Este tipo de trabalho já foi até abandonado pelo peão de botina das nossas fazendas!

Esquecem os truculentos mentais que, “metade do trabalho realizado neste mundo, é para fazer as coisas parecerem o que não são”.

Gabriel Novis Neves
15/01/2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

A honestidade do pistoleiro

“Cuiabá sempre foi uma cidade violenta. Não da violência banalizada, mas da violência onde a honra era lavada com sangue, os compromissos não efetuados eram cobrados à bala e o fio de bigode era o fiador da palavra empenhada. Não havia necessidade de registrar acertos comerciais em cartórios com firma reconhecida.”

“O que vemos hoje é a banalização da violência onde se mata por nada: uma pequena discussão no trânsito, um assalto de alguns trocados para comprar drogas, uma briga sobre o resultado do futebol - tudo vira motivo para se matar.”

Em silêncio meu amigo ouviu meu desabafo sem me interromper. Depois chamou a minha atenção para a “honestidade do pistoleiro profissional”. Disse-me serem geralmente pessoas que exercem com ética a sua profissão: matar pessoas que nem conhecem, apenas por dinheiro.

Discordo da tese quando rememoro um fato ocorrido nos anos setenta, e que indiretamente tomei conhecimento. A minha casa no bairro do Porto, era ponto de encontro de professores, profissionais liberais, jornalistas de vanguarda, radialistas, políticos, artistas, poetas, pensadores, desocupados, marginalizados - todos meus amigos. Uma noite, com a casa cheia, vem a notícia alarmante: empastelaram o jornal do Maia. Houve violência, a impressora foi quebrada. O Correio da Imprensa está fora de circulação. Era o único jornal de oposição naquela época. Notícia boa: ninguém morreu, mas o Maia foi preso. Um grupo foi para o jornal, outro ficou na minha casa tomando providências pelo telefone. Lá pela madrugada apareceram os prováveis mortos.

O jornal, que incomodava muita gente graúda, era tocado pelo Maia, Ronaldo Castro e o Zé Eduardo. Dizem que na ocasião foi contratado um profissional para fazer o serviço de sumiço dos três jornalistas, com pagamento antecipado. Ao chegar à redação o pistoleiro se deparou com duas visitas não programadas: o Édson Miranda e o repórter Vila, que chegou fora do horário combinado.

Para não cometer injustiça, e porque o combinado foi liquidar com três elementos e ali havia cinco, o “serviço” não foi realizado. Dizem até que o “profissional” devolveu o dinheiro. Fiquei sabendo da “honestidade do pistoleiro” há duas semanas, por um sobrevivente da chacina que não aconteceu.

Achei que este fato mereceria registro. Pela primeira vez ouvi depoimento de um “ex-morto”.

Gabriel Novis Neves
03/01/2010

sábado, 16 de janeiro de 2010

CHOVE LÁ FORA

Cuiabá é conhecida como a cidade com duas estações meteorológicas por ano: calor com chuva e calor sem chuva. Ontem o dia foi insuportavelmente quente sem chuva. Impossível dormir sem ar refrigerado! Reclamou a minha cozinheira pela manhã.

Hoje acordo com uma discreta garoa - indicativo de que choveu a noite toda. Do vigésimo andar de onde moro faço uma avaliação sobre a minha caminhada terapêutica. Como não tenho com quem discutir os meus problemas, após analisar custo-benefício, resolvi caminhar. Com o tempo de chuva que tenho no meu currículo, descobri que as gotinhas de água que caem do céu, só incomodam se atingem o rosto. O uso de um boné com aba proeminente resolve este problema.

Na solidão das ruas desertas, em dia sem sol e chuvinha fina, e por entre poças d’água - divago. Lembrei-me de uma canção de 1957 do Tito Madi, um filho de libanês nascido em Pirajuí interior de São Paulo. O turquinho, quando criança, queria ser jogador de futebol. Seus ídolos eram o Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Ademir Queixada e outros. O pai logo cortou essa pretensão dizendo que jogador de futebol era uma profissão sem futuro. Com a obrigação de ter um diploma, concluiu a Escola Normal da sua cidadezinha. Era professor habilitado para lecionar matemática.

Mas, do que ele gostava mesmo, além do futebol, era tocar violão e cantar as suas próprias composições. Para agradar ao pai chegou a sair de Pirajuí para lecionar em Cornélio Procópio no Paraná. Claro que não deu certo! Foi para a cidade grande e gravou uma valsa, em minha opinião, o seu maior sucesso: “Chove lá fora, e essa saudade enjoada não vai embora.” Com certeza estes versos estão na lembrança daqueles com mais de cinqüenta anos de idade ou estudiosos da música popular brasileira. Durante a minha caminhada associei essas recordações às ruas vazias e à chuvinha caindo em meus ombros.

Ao retornar para casa abro o computador e leio uma mensagem do decano dos jornalistas cuiabanos, Pedro Rocha Jucá, opinando sobre uma entrevista que eu dei para a televisão. Imediatamente fiz nova associação - desta vez entre um dos pioneiros do nosso jornalismo e do ensino superior em Mato Grosso.

Que chova fraquinho todas as madrugadas para que eu possa, talvez, descobrir novas e gostosas associações!

Gabriel Novis Neves
09/01/2009

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Clube do sábado


Pertenço a um clube, formado por homens e mulheres, que se reúnem todos os sábados pela manhã para discutir e resolver os problemas do mundo. Na última reunião, realizada na sede da Diretoria, o assunto tratado levantou muitas polêmicas: o mundo feminino! Muito complexo! Envolvemo-nos em discussões sobre antropologia, sociologia, filosofia, anatomia, psicologia feminina, beleza, saúde, imagem, sexualidade e feminilidade.

Mas, a discussão principal girou em torno das mamas femininas - da beleza das mamas femininas! Considerada por muitos como um importante atributo da beleza da mulher.

Muito difícil conduzir o trabalho! Chegar a uma conclusão foi uma tarefa árdua; só possível após o término do estoque das redondinhas das duas geladeiras - e reforçado por pastéis! Foi impossível chegarmos a um consenso! Então partimos para a votação. Nada de modismo, mas discussão científica de um problema que preocupa muitas mulheres.

Uns achavam que as mamas naturalmente volumosas dançantes eram mais bonitas do que as mamas volumosas siliconadas fixas. O meu voto aqui no Clube, onde é proibido o voto secreto, foi favorável às mamas naturais saltitantes - de qualquer tamanho e evidenciado pela generosidade dos decotes. Outros integrantes do Clube votaram a favor das mamas menos volumosas. Outros ainda davam preferência às siliconadas, apresentando como justificativa o endurecimento das mesmas. Foi uma discussão para metros.

Vivemos em uma sociedade de valorização das aparências onde o interesse é maior pelas caixas de embalagens de veludo, do que pela qualidade do produto ofertado. As verdadeiras relíquias não possuem embalagens! A mama siliconada é um brinquedo que produz, às vezes, riscos a quem a usa. Pode “estourar”, produzir endurecimento insuportável e surpresas nos seus deslocamentos. Os olhos dessas mamas artificiais, às vezes, ficam estrábicos - causando aborrecimentos e frustrações às suas portadoras. Não inventaram ainda óculos especiais para esses casos.

As mamas naturais são como a Petrobrás – “é nossa”.

Encerrada a votação, entre o natural e o artificial, ganhou a vontade de Deus!

Gabriel Novis Neves
08/01/2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Corrida de Reis

A cidade amanheceu preparada para a maior corrida de Rua do Centro Oeste. Participaram atletas de todo o Brasil e da África. Taparam os buracos das ruas e pintaram de branco o meio fio das calçadas por onde passariam os atletas. Os garis ficaram a noite toda retirando a sujeira das ruas - que para nós parece não mais incomodar.

Os corredores profissionais africanos e brasileiros fizeram bonito, e levaram os prêmios mais polpudos. Os corredores anônimos levaram alegria ao evento com suas fantasias. As crianças levaram o encanto. Os idosos levaram a determinação. Os portadores de deficiências levaram o exemplo da superação. O povão levou apoio aos corredores. Os fronts lights levaram propaganda do Governo. Pera aí? Fronts lights? Sim! Nos canteiros centrais das avenidas, enormes e caríssimos fronts lights relembravam o Natal do ano passado. Afinal, a emissora do plim-plim transmitia a corrida, e uns segundinhos apenas na telinha da televisão bastariam para a consagração do Natal das Crianças!

Vou transcrever o que li nos imensos fronts lights: “Muito obrigado MATO GROSSO, conquistamos mais um Recorde. Sucesso. Essa palavra resume o que foi o Natal das Crianças de 2009. 3.502.086 quilos de alimentos foram arrecadados, batendo o recorde do ano passado. O Governo do Estado, parceiros e voluntários querem agradecer a todos que fizeram suas doações e que proporcionaram um natal mais digno para milhares de famílias mato-grossenses”.

O caro material publicitário ainda ostentava uma foto com onze pessoas com camisas confeccionadas especialmente para essa demonstração de humildade cristã. Este tipo de agradecimento, além de extremo mau gosto, é uma grotesca aula de oportunismo político.

Quando se faz o bem com uma mão, a outra não deve ficar sabendo. Isso se chama caridade. Aproveitar-se dos pobres para propaganda política e promoção pessoal é pecado mortal! Toda a população que, anonimamente, contribuiu para o Natal das Crianças, o fez como um ato de caridade, dando o seu testemunho de fé cristã.

Receber agradecimentos efusivos por um ato de caridade, e ainda por cima com material pago com dinheiro dos nossos impostos, é uma afronta! O dinheiro gasto com o pseudo-agradecimento, na realidade, foi uma bofetada na população anônima que contribuiu sem pensar em recompensa. Melhor seria que, com o dinheiro gasto nas propagandas publicitárias, se comprasse medicamentos para minorar o sofrimento dos pobres.

A arrecadação, de pouco mais de 3.500 toneladas, é uma vergonha para um Estado rico e com vocação para produzir alimentos. Daí a justificativa em traduzir a doação em quilos.

Que, que é isso gente? Com a fé de um povo não se brinca - especialmente na festa comemorativa em homenagem aos três Reis Magos!

Gabriel Novis Neves
10-01-2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

SAIDEIRA

A minha amiga Valéria Del Cueto criou um blog dos mais criativos. Também pudera! Moradora do Leme, e com o currículo brilhante que possui, só poderia parir maravilhas!

“Nogargalo”, nome do seu jornal eletrônico, tem uma linda programação visual - O Boteco é de uma beleza ímpar - e tantas e tantas colunas interessantes! A que mais me chamou a atenção, desde que conheci “nogargalo”, foi “Saideira”.

A imaginação da moça apaixonada pela Ponta do Leme me encantou! Transformou um simples substantivo – utilizado para traduzir a última rodada de bebida, música, amor, entre outras coisas – numa coluna prá lá de interessante.

Einstein sempre dizia que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Comecei a ler as matérias da “Saideira” da Valéria. Apaixonei-me platonicamente pela coluna! Mesmo sem saber deste meu sentimento, talvez guiada pelos seus orixás e sem me consultar, ela me colocou para participar da “Saideira”.

Houaiss, na definição de saideira, coloca uma série de etc.etc... Descobri a diversidade do etc. vivendo uma experiência onde menos esperava. A saideira da padaria em um domingo às oito horas da manhã. Este é o horário freqüentado por velhos e boêmios que ainda não conseguiram voltar para casa.

Encontro com um “senhor de meia idade”, que ainda estava com aquele “sotaque” de uma noite bem aproveitada, aquela não dormida, mas bebida. Ele inicia o papo com recordações do passado: o meu diploma foi assinado pelo senhor... , e por aí foi. Todo este papo aconteceu enquanto eu comprava pão e pagava no caixa a minha minúscula conta. Na saideira da padaria pediu-me alguns trocados que prontamente lhe “emprestei”.

Quantas vezes passamos noites em bares bebendo e conversando burocraticamente e, após pagarmos a conta, aparece uma companhia agradável, uma boa notícia ou um convite importante? Aí pedimos a saideira.

Agora, saideira na padaria é novidade para mim!

Gabriel Novis Neves
10/01/2010

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Saco plástico

Sempre acontece na esquina da minha rua. Não sei se é provocação do pessoal do “reclame - propaganda” ou implicância minha. Li no outdoor, que só de apoio tinha mais nomes que time de futebol, a seguinte mensagem: “Coloque o lixo da sua casa em um saco plástico. Com isso você estará evitando milhares de mortes pela dengue”. O governo achou o culpado pela dengue. Sou eu! Sempre coloquei o meu lixo no saco plástico, mas agora ninguém passa para recolhê-lo. Estou como a maioria da população - com sentimento de culpa com o que está acontecendo.

Há algum tempo atrás alertei as autoridades para esse sério problema de saúde pública. Nenhuma providência prática foi tomada – só ficaram nos discursos bem formatados e aulas de estatística. Discurso e estatística não matam o mosquitinho! Não contando o empurra-empurra para saber se o mosquitinho é federal, estadual ou municipal.

Enquanto se realizavam as reuniões burocráticas, os hospitais estavam superlotados e crianças e adultos morrendo. Diante do fracasso do poder público, o exército brasileiro foi convocado, pois se tratava de uma guerra a favor da vida. Constitucionalmente o exército tem outras funções. O exército de que precisamos foi extinto pelos burocratas e sábios de Brasília. Falo do exército dos “mata mosquitos”, que vive na memória dos mais antigos. Esse exrcito passava o ano todo colocando a sua bandeirinha na casa visitada e fazendo o trabalho nos imensos quintais cuiabanos. Naquela época não tínhamos a dengue, tínhamos o exército contra o mosquitinho.

Agora, Inês está morta! Só nos resta rezar e pedir que o tempo passe rápido. A esperança é o último sentimento que o homem perde. Ainda há vida! Ainda há esperança!

Gabriel Novis Neves
06/01/2019

ROTINA

Falamos e reclamamos da rotina, mas não conseguimos viver sem ela. A rotina nos apresenta a ilusão do conhecido. O desconhecido sempre encaramos com desconfiança. Neste mundo de incertezas e medos que nos é oferecido, até fazer perguntas considero sair da rotina.

Chego ao Hospital e uso o estacionamento para abrigar o meu carro. Comentei com o funcionário da guarita que, o sempre lotado estacionamento exclusivo para automóveis, estava quase vazio - lembrando-me o começo do grande feriadão de final e início de ano. Por aqui o ano novo começa após o carnaval. Como resposta ele me disse que o movimento está realmente quase parando e a violência aumentando. Relatou-me que dois motoqueiros tinham acabado de entrar no estacionamento e pararam as suas motos na única porta da fechada guarita. Ao abrir a porta para informá-los que era proibido estacionar motos naquele local, “os dois jovens infratores avisaram-me que era um assalto”. Fui Imobilizado, entraram na cabine de trabalho, esvaziaram as gavetas, com pouco menos de duzentos reais, levaram dois celulares e desapareceram. Foi feito um BO (boletim de ocorrência) na Delegacia Policial mais próxima. As providências a serem tomadas serão as de sempre: não temos viaturas, não temos gasolina, não temos pessoal, não temos salários dignos e nem interesse em procurar os assaltantes.

Este é o quadro da nossa segurança pública para a Copa do Mundo. É só abrir os jornais pela manhã que o sangue começa a escorrer. Tiros, facadas, pauladas e todas as mais modernas modalidades de assalto.

O que fazer, perguntam-me? Aguardar o próximo horário político eleitoral onde todos os nossos problemas serão resolvidos pelos “empreendedores” de plantão.

Gabriel Novis Neves
23/12/2009

sábado, 9 de janeiro de 2010

Venda de rua

Nos últimos dias a imprensa de Cuiabá vem dando destaque a venda de uma rua no bairro do Porto. A prefeitura (vendedora) se defende: a transação imobiliária da venda da curva do Cotovelo ao supermercado é de interesse público. A mídia, por seu lado, defende a parte sentimental: com a transação, ocorre uma desomenagem ao cidadão que deu nome à rua. O homenageado era meu conhecido no bar do meu pai, e, entre as suas inúmeras especialidades, uma era a beleza das suas filhas. Na minha idade nada mais me surpreende na área política.

O meu pai faleceu em 1982 e um vereador não cuiabano, da Câmara Municipal do Arraial do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, resolveu homenagear o velho Bugre do Bar. Apresentou um projeto de lei com o nome de batismo do meu pai – Olyntho Neves. A aprovação pelo plenário da Casa foi por unanimidade. Depois o Prefeito homologou a decisão da Câmara. A nossa família foi comunicada oficialmente. A rua ficava no recém inaugurado Bairro Jardim das Américas, ao lado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A intenção do vereador não cuiabano, ex-aluno da UFMT, foi homenagear um homem íntegro, grande educador, colocando o seu nome ao lado da UFMT, onde o seu primogênito foi o seu Reitor Fundador.

Dou um prêmio a quem encontrar a Rua Olyntho Neves no Bairro Jardim das Américas! Houve uma emergência política e o nome do meu pai foi simplesmente deletado do local. Com esta revelação, não entendam que estou reclamando da usurpação e humilhação de uma homenagem. O meu pai não precisa ser nome de rua, avenida, ponte, edifício, rodoviária para ser lembrado pelos seus filhos.

Estes fatos ocorrem e sempre ocorreram em Cuiabá.

Gabriel Novis Neves
03/01/2010

2014

Enganam-se aqueles que acham que somente as doenças sexuais são transmissíveis. Existem outras que também são. Mas, a maior de todas, é a burrice. Esta não tem cura! É a doença que produz mais óbitos no mundo. Não existe vacina nem antibiótico para este mal. Por aqui ela está se manifestando em forma de delírios para recordes. Não basta mais só vencer! Temos que ter o maior placar do mundo.

Um amigo confidenciou-me sobre o maior dilema na construção do Azulão: o placar. Querem construir um placar com seis números. Não que tenha sido uma exigência da FIFA, mas uma exigência local. É possível numa Copa do Mundo um resultado tipo: Brasil 985 x Argentina 914? Já pensaram na repercussão internacional, e o melhor, mais uma vez nós no livro de recordes?

Pela internet fico sabendo que um fotógrafo do Paraná quer colocar 2014 mulheres de biquíni no Verdão! Justificativa: uma homenagem ao estádio que será demolido, e assim, colocar Cuiabá no livro dos recordes! Cuiabá ficará em evidência no mundo todo como a cidade que colocou o maior número de mulheres de biquíni – aquele pedacinho de tecido que mostra tudo e esconde o essencial - em um campo de futebol.

O projeto do estádio novo, diz que está pronto. Os recursos serão captados entre os empresários, uma vez que o Governo Federal já avisou que não dá grana pra construção de estádios - e o estado e o município não têm tutu nem para comprar medicamentos para os pobres!

O projeto das mulheres de biquíni também não é barato não! Lembro-me que anos atrás um órgão público, que não me lembro qual foi, fez uma compra dessa roupa e o preço foi um escândalo de caro.

O investimento compensa, dizem os especialistas em quebra de recordes. O pessoal fanático por leituras de auto-estima está adorando. Mais um recorde!

Gabriel Novis Neves
06/01/2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Questão de sorte

Rodou pela internet uma entrevista do Chico Anísio interpretando uma velha senhora. Num ambiente formal o jornalista faz a primeira pergunta:
- Minha senhora, qual a sua profissão?
- Puta.

Consternação geral. A resposta foi como um soco na boca do estômago do jornalista. Atordoado, repete a pergunta:
- Qual é mesmo a sua profissão?
- Puta. Repetiu ela. Depois: - É puta mesmo, p-u-t-a. Puta.
- Na sua família todos tem essa profissão? Quis saber o jornalista.
- Não. A minha falecida mãe era professora primária. Minhas duas irmãs solteironas são professoras e o meu pai era farmacêutico. Isto quer dizer que... – a velhinha deu de ombros e acrescentou – sim, sou a única puta da família.
- A que a senhora atribui essa vocação?
- Questão de sorte. Responde convicta.

Acabamos de sair da maior greve de médicos da rede pública de Cuiabá. Mais de dois meses de paralisação oficial. Agora – nova paralisação. Motivo? Falta de médicos especialistas para atender os pobres. Não é que vamos começar tudo de novo? Vamos acabar entrando no livro dos recordes na categoria “prejudicar pobres.”

O Presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (ADUFMAT), Professor Carlos Alberto Eilert, publicou uma carta – “Ao povo de Mato Grosso.” Nela denuncia o crime cometido pelo Governo Federal contra o Hospital Universitário Júlio Müller, que abriga uma das melhores escolas de Medicina do Brasil. O único no Estado que atende cem por cento pacientes do SUS. A nossa fraca bancada federal - que só sabe balançar a cabeça em sentido vertical para agradar o governo - e as nossas “prestigiadas” lideranças estaduais, não se manifestaram.

O Governo Federal reduziu as 22 mil horas, com as quais o hospital funcionava, e bem, para 6 mil horas. Essas horas, chamadas de extra, são necessárias para o pagamento de plantões. Não cito aqui o papel da Reitoria porque as universidades públicas brasileiras não possuem autonomia - são apenas mais uma repartição do governo. A direção do hospital teve que escolher os setores que deixarão de atender aos pobres.

O nosso Presidente afirmou que o brasileiro está na merda. Com o fechamento do único hospital de ensino federal, “ele” nos mostra como se faz para tirá-lo de lá. Deixando de atender aos pacientes pobres - eles irão morrer. Logo teremos menos gente na merda!

O setor de pronto atendimento sem funcionar, deixará de atender, por dia, 100 pacientes pobres, entre crianças e adultos. O número de leitos na UTI neonatal será reduzido de 10 para 6, e o de adultos de 8 para 6. A lavanderia também não funcionará mais 24horas. E assim, aos poucos, o hospital vai fechando. Prejuízo na formação dos futuros médicos e falta de assistência aos mais necessitados - justamente aqueles que estão na merda, segundo o Presidente.

Enquanto todos brigam pelo aumento do número de leitos hospitalares e pela construção de novos hospitais, o governo fecha hospitais, diminui o número de leitos, incentiva o fechamento de outros e sufoca a precária rede hospitalar privada sem leitos suficientes para atender a demanda local.

Sabem por que a população cuiabana e mato-grossense está sofrendo tanto, especialmente com a saúde pública? Por “Questão de sorte”.

Escolhemos mal os nossos governantes - bem diferente da personagem do Chico!

Gabriel Novis Neves
06/01/2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

FILTRO SOLAR

Frei Leonardo Boff conta uma história ocorrida com ele. Relata que todo dia, durante o trajeto entre o seu alojamento e a universidade em que fazia um doutorado na Alemanha, era acompanhado por um cachorro vira lata. Ficou encasquetado tentando entender o que fazia aquele cachorro o seguir todo dia, apesar de achar que era uma boa companhia. Um dia, no meio do percurso ele parou. O cachorrinho fez o mesmo. Continuou a caminhada - seu fiel acompanhante também. Novamente parou, e agachado, indaga ao cachorro: “- você quer ser gente?” O animalzinho colocou o rabo entre as pernas e sai em desabalada carreira. Nem para trás olhou. Impressionado com a cena o teólogo pensou: “nem cachorro quer ser gente!”

Waldick Soriano, ícone da música classificada como brega, fez grande sucesso nos anos sessenta com a música “Eu não sou cachorro não” – (humilhado, desprezado). Esta frase, inserida dentro da letra da música, com certeza, serviu para muita gente externar sua dor de cotovelo, ou simplesmente, seu modo de vida.

Há meses escrevi um artigo sobre câncer de pele. Mato Grosso hoje é um Estado de alto risco para essa doença. Temos um clima desértico e uma população, especialmente a rural, de brancos com olhos azuis - e DNA europeu.

Mesmo os que moram em Cuiabá e trabalham em escritórios refrigerados, são aconselhados pelos dermatologistas ao uso do filtro solar – é preciso se proteger do calor até a chegada ao trabalho. Imaginem agora a nossa gente do interior! Quase todos os espaços rurais são ocupados pelos trabalhadores do agro negócio. Os filtros solares usados pelos patrões custam caro, mas eles têm dinheiro para comprar. Os seus empregados dependem da Farmácia de Alto Custo.

Certa ocasião, como sempre, não havia na dita farmácia alguns medicamentos essenciais à manutenção e preservação da vida de muitos pobres, por exemplo: filtro solar. Para justificar essa falha inadmissível, as autoridades responsáveis divulgaram amplamente pela imprensa que a responsabilidade era dos médicos que estavam receitando em demasia os filtros solares. Para essas autoridades, são produtos supérfluos e caríssimos! Na realidade os médicos estavam apenas fazendo um trabalho de prevenção do câncer de pele nos trabalhadores mato-grossenses.

Hoje, no café da manhã, assistindo a um jornal televisado, escuto a manchete: “já existe protetor solar para cachorros, eles precisam de protetor solar durante o verão”. As lojas especializadas estão praticamente com os seus estoques acabando!

Agora pergunto: pertencemos à sociedade do cachorro do Frei, que não quer ser gente; ao do vira lata maltratado do cantor ou ao do grupo do cachorro que usa filtro solar?

Gabriel Novis Neves
05/01/2010
* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

Incentivo Fiscal

Sempre me interessei por ciências da saúde, música popular, futebol, poesia, literatura e uma boa conversa. Nunca me senti à vontade discutindo assuntos financeiros. Nenhum prazer me proporciona este “esporte”.

Com a notícia de que a nossa Assembléia Legislativa irá investigar os incentivos fiscais concedidos pelo Estado nos últimos anos - e a zoeira que isto esta causando, até em porta de padaria - resolvi assistir a uma aula teórica sobre o assunto. Acho necessário que a Assembléia do nosso Estado faça esse levantamento e divulgue o nome de todas as empresas que foram beneficiadas pelo tal do incentivo fiscal. Isto tem que ser feito com transparência, data em que a concessão foi concedida e o acompanhamento da contra partida prometida pelas empresas. Essas contra partidas são traduzidas em impostos, que o governo nunca recebeu, e criação de empregos.

O incentivo fiscal é lei criada pelas assembléias estaduais para possibilitarem a chegada de investidores ao Estado. Uma empresa para receber este benefício legal tem que preencher todos os requisitos da lei, ter suas intenções aprovadas pelas prefeituras e sancionadas pelo governador. Gosto muito de aulas teóricas! Sinto-me agora em condições de não ser iludido pelos demagogos e políticos em ano eleitoral.

O incentivo fiscal só privilegia a indústria e o agro negócio. O comércio e outras atividades produtivas estão fora da lei. Os hospitais, tão necessários à nossa gente diante da ausência do governo, não recebem incentivos fiscais. Entretanto produzem uma contra partida fantástica de empregos, impostos, além de trazer bem estar à sociedade. Porque será que eles não recebem este apoio? Não consigo compreender.

O pior é que o governo federal, estaduais e municipais - tão zelosos na arrecadação de tributos e criação de postos de trabalhos - quando interferem na área da saúde é para contingência de recursos e fechamento de hospitais.

A expectativa criada pela Assembléia Legislativa com as insistentes e repetidas chamadas pela televisão, despertou na população um grande interesse em saber Tim-Tim por Tim-Tim toda a verdade sobre este assunto. Queremos saber quem pegou o nosso dinheiro, quando, quanto e se a contra partida está sendo acompanhada pelo governo. Tem muita gente a esta altura dos acontecimentos que deve estar de orelha em pé. A verdade tem que aparecer para acabar de uma vez por todas com este blá-blá-blá de fins eleitoreiros.

Enquanto alguns perdem o sono, eu estou convencido que incentivo fiscal não é crime!

Gabriel Novis Neves
02/01/2010

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

SOLIDÃO

O inesquecível Antonio Maria, que morreu aos quarenta e três anos, solitário na mesa de uma boate no Rio de Janeiro, foi um gênio. Veio de Pernambuco em um páu de arara, e fez de tudo, e bem, enquanto esteve por aqui. Compositor, jornalista, poeta, escritor, boêmio, amante de lindas mulheres. Deixou-nos um legado impressionante de obras literárias e musicais - profundos dramas humanos.

Maria, como era chamado pelos seus amigos, vivia na multidão das noites glamorosas do Rio romântico. Foi um homem que viveu intensamente a solidão.

Reconhecia pelas letras das suas canções (“Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama, de meu amor”) que vivia só, cercado de muita gente. Amado pelas mulheres, odiado pelos políticos.

É sua a melhor definição de solidão que conheço: “A única vantagem da solidão é poder entrar no banheiro e deixar a porta aberta.”

Recebi uma visita inesperada de agradecimento. Durante a longa e gostosa conversa, percebi que o tempo não passa – voa. A solidão, mesmo com a vantagem que o Maria cita, não compensa. Preferiria viver com agasalhos siberianos, a usufruir do único benefício da solidão.

Na vida tudo é relativo. O tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está. Neste período do ano, a solidão atinge com maior intensidade as pessoas. Observando a cidade, vejo a solidão nas ruas, e em inúmeros edifícios, com as suas luzes apagadas.

O tempo parece entender a minha solidão. Durante a visita a minha solidão foi passear. Na despedida, ele - o tempo - voltou em forma de temporal para me fazer companhia. Forros de mesas foram arrancados, quadros da parede lançados ao chão, luminárias balançando fazendo recordar-me dos balanços que antigamente existiam nas pracinhas.

O tempo – substituto da visita!

Gabriel Novis Neves
31-12-2009

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

FÉRIAS

Sou um eterno apaixonado por Cuiabá! Cidade que me viu nascer, crescer e onde recebi minhas primeiras instruções. Por longos doze anos a deixei - em busca de mais instruções. Concluído meus estudos, voltei, e fiquei para sempre. Adoro Cuiabá pelo seu jeito de ser! É uma cidade diferente de todas que conheço. E como é gostoso gostar de coisas diferentes! Aquilo que para alguns parece tragédia, eu digo apenas que é Cuiabá.

Leio a manchete de um dos principais jornais da cidade: “Farmácia de Alto Custo fecha e pacientes do SUS ficam sem remédios”. Na porta da única farmácia para os pobres, vinculada a Secretaria Estadual de Saúde (SES), um aviso em cartolina azul dizendo - aos que irão morrer por falta de medicamentos - que a Farmácia do SUS estará fechada do dia 23/12/2009 ao dia 04/01/2010. Apenas doze dias ficarão com as suas portas fechadas!

“- Quem tem dinheiro vai à farmácia e compra, quem não tem morre à míngua”, grita um aposentado rural que veio do sítio buscar remédios para a sua esposa que sofre do coração. A maioria das pessoas que procura a Farmácia de Alto Custo padece de enfermidades graves e não possuem dinheiro para adquiri-los. Para que servem as campanhas publicitárias caríssimas do governo, motivando a população ao controle da pressão arterial, diabetes, doenças auto-imunes, osteoporose, câncer da mama, câncer da próstata e agora doação de órgãos, se quando estes pacientes aderem ao programa encontram a farmácia fechada?

Este fechamento temporário não tem justificativa humanitária. (E o Papai Noel passeando pelo Verdão!) Na reabertura da farmácia tomara que haja medicamentos. A primeira medida do governo no início do ano novo será o contingenciamento linear do orçamento do Estado. As prateleiras ficarão vazias e medicamentos só com decisão judicial. O mais estranho desse fechamento, é que, ao lado da farmácia, continuou funcionando a Gerência de Análise de Vigilância Ambiental e Sanitária, órgão da Secretaria Estadual de Saúde - e que não faz nada.

Será que a farmácia fechou por determinação superior para encobrir do Papai Noel a falta de medicamentos?

Tenho que amar este povo que vive em uma cidade assim!

Gabriel Novis Neves
03/01/2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

Quem é o responsável?

Com toda certeza os melhores marqueteiros do Brasil já se encontram reunidos com geólogos e políticos experientes em catástrofes para elaboração do Boletim Oficial sobre a tragédia acontecida em Angra dos Reis. Até agora mais de quarenta corpos já foram encontrados! Isto significa mais mortes que em muitos embates terroristas no Oriente Médio. Lá sabemos quem são os responsáveis.

E aqui? Seria a chuva, o aquecimento global, El niño, o desmatamento criminoso das encostas dos morros ou a sacanagem de alvarás políticos para caixa dois de campanhas eleitorais? No Japão, o Ministro responsável cometeria suicídio. Na Alemanha, o Ministro pediria demissão e afogaria as suas tristezas em canecões de chope. Na Itália, o responsável seria preso e na China executado em praça pública. Na terra do carnaval teremos que esperar o comunicado oficial dos marqueteiros assinado por uma autoridade de terceiro escalão.

H. G. Wells diz que a propaganda é a mentira legalizada. Prefiro a definição de Fred Alen que diz que publicidade é oitenta e cinco por cento de confusão e quinze por cento de comissão. Essa nota oficial talvez venha responsabilizando a Conferência em Copenhague sobre o clima e a catástrofe causada.

Alguém ainda se lembra dessa reunião? Foi aquela do festival - só para os poderosos assuntarem para que lado o mundo econômico está caminhando, para melhor orientar os seus negócios privados.

Meio ambiente? Por favor! Vamos falar de coisas sérias! No momento o que desejamos é uma explicação sobre as causas e os responsáveis pela catástrofe de Angra. Não vamos desviar o foco dessa tragédia que envolveu pessoas ricas. Os pobres diariamente sofrem com as enchentes dos rios, desabamentos, mortes e o abandono das nossas autoridades.

As tragédias estão ficando tão comuns neste país que, infelizmente, nem pensamos mais em responsáveis!

Gabriel Novis Neves
02/01/2010

A MOÇA DA BLUSA AZUL

Um amigo me contou que anos atrás se apaixonou por uma moça de blusa azul. Ficou tão impressionado com a beleza da jovem universitária que solicitou que ela usasse sempre a mesma blusa. Como a paixão era bi-lateral, todos os dias ela lavava a blusa para satisfazer o seu amado. Um dia o tecido não suportou tamanho desgaste e acabou esfarelando-se nas mãos da bela.

Como trabalhar com a superstição? Inconformado, o meu amigo procurou uma nova blusa azul, porém igual “aquela” jamais encontrou. Aquela que virou farinha de tanto ser usada e lavada, tinha o cheiro do primeiro olhar e a emoção da descoberta. As outras não - tinham o cheiro impessoal das lojas.

Cartola conversava com as rosas: “queixo-me às rosas, que bobagem as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti.” Aquela blusa azul também não falava, mas despertava, igualmente, uma intensa emoção! Perguntei ao antigo amigo sobre a história da blusa azul. Envelhecido, com linhas de histórias marcando o seu rosto, respondeu-me que não se casou, nem a moça da blusa azul, e, que apesar da idade, nunca se esqueceu daquela blusa azul.

Tenho muita vontade de contar este fato à moça causadora de tantas e duradouras emoções, mas não tenho coragem de relembrar esta linda história de amor - e o meu amigo hoje está mais pra lá do que pra cá.

Final de ano é bom. O recesso nos dá tempo para vasculhar as gavetas do passado e encontrarmos preciosidades como esta.

Afinal - quem é a moça da blusa azul?

Gabriel Novis Neves
24 / 12 /2009