quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Corrida de Reis

A cidade amanheceu preparada para a maior corrida de Rua do Centro Oeste. Participaram atletas de todo o Brasil e da África. Taparam os buracos das ruas e pintaram de branco o meio fio das calçadas por onde passariam os atletas. Os garis ficaram a noite toda retirando a sujeira das ruas - que para nós parece não mais incomodar.

Os corredores profissionais africanos e brasileiros fizeram bonito, e levaram os prêmios mais polpudos. Os corredores anônimos levaram alegria ao evento com suas fantasias. As crianças levaram o encanto. Os idosos levaram a determinação. Os portadores de deficiências levaram o exemplo da superação. O povão levou apoio aos corredores. Os fronts lights levaram propaganda do Governo. Pera aí? Fronts lights? Sim! Nos canteiros centrais das avenidas, enormes e caríssimos fronts lights relembravam o Natal do ano passado. Afinal, a emissora do plim-plim transmitia a corrida, e uns segundinhos apenas na telinha da televisão bastariam para a consagração do Natal das Crianças!

Vou transcrever o que li nos imensos fronts lights: “Muito obrigado MATO GROSSO, conquistamos mais um Recorde. Sucesso. Essa palavra resume o que foi o Natal das Crianças de 2009. 3.502.086 quilos de alimentos foram arrecadados, batendo o recorde do ano passado. O Governo do Estado, parceiros e voluntários querem agradecer a todos que fizeram suas doações e que proporcionaram um natal mais digno para milhares de famílias mato-grossenses”.

O caro material publicitário ainda ostentava uma foto com onze pessoas com camisas confeccionadas especialmente para essa demonstração de humildade cristã. Este tipo de agradecimento, além de extremo mau gosto, é uma grotesca aula de oportunismo político.

Quando se faz o bem com uma mão, a outra não deve ficar sabendo. Isso se chama caridade. Aproveitar-se dos pobres para propaganda política e promoção pessoal é pecado mortal! Toda a população que, anonimamente, contribuiu para o Natal das Crianças, o fez como um ato de caridade, dando o seu testemunho de fé cristã.

Receber agradecimentos efusivos por um ato de caridade, e ainda por cima com material pago com dinheiro dos nossos impostos, é uma afronta! O dinheiro gasto com o pseudo-agradecimento, na realidade, foi uma bofetada na população anônima que contribuiu sem pensar em recompensa. Melhor seria que, com o dinheiro gasto nas propagandas publicitárias, se comprasse medicamentos para minorar o sofrimento dos pobres.

A arrecadação, de pouco mais de 3.500 toneladas, é uma vergonha para um Estado rico e com vocação para produzir alimentos. Daí a justificativa em traduzir a doação em quilos.

Que, que é isso gente? Com a fé de um povo não se brinca - especialmente na festa comemorativa em homenagem aos três Reis Magos!

Gabriel Novis Neves
10-01-2010

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