Sempre procurei entender e compreender certas atitudes humanas, por mais estranhas que fossem. Quando me defrontava com alguns deslizes morais ou éticos, e era chamado a dar meu testemunho, na mais das vezes, procurava sempre encontrar uma razão plausível para justificar este ou aquele comportamento. Evitava ao máximo o radicalismo.
Mas tudo tem um limite! Face ao que vem acontecendo neste finalzinho de ano, aquela minha capacidade de compreensão e entendimento foi para o espaço. Agora sou um ferrenho adepto da tolerância zero. Aquela expectativa de mudança – que sempre se cria com a troca de governo - também foi para o espaço, pois acabo de perceber que tudo vai ficar “como dantes no quartel de Abrantes.”
Nesses dias presenciamos a Câmara dos Deputados cometer mais um descarado assalto contra o povo brasileiro. Nenhuma voz se levantou em defesa do povo trabalhador – que produz riquezas e recolhe superimpostos – e dos pobres desta Nação.
O nosso quase ex-presidente não falou nem comentou titica nenhuma sobre essa ação extemporânea dos deputados. Talvez porque seja um dos grandes beneficiados desse superaumento salarial.
A ordem do dia, nessa última semana de reinado, é varrer para debaixo dos tapetes palacianos o retrocesso na educação, o sucateamento da saúde pública e tentar sepultar os inúmeros escândalos do período.
Diante desses fatos que povoam o nosso dia a dia, especialmente com as incríveis cenas mato-grossenses, onde o impossível acontece, revi o meu antigo conceito de alienação.
Há séculos o termo alienação faz parte do nosso vocabulário. Mas este termo sempre me incomodou, pois soava como pejorativo e preconceituoso. Incomodava-me tanto que, quando tive oportunidade, troquei o nome oficial do nosso Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte, para Hospital Adauto Botelho. Este hospital atendia pacientes com distúrbios emocionais, que até então eram chamados de alienados.
Agora, no entanto, o termo alienação é aquele que melhor define a maioria do povo brasileiro. Ser alienado hoje no Brasil é normal. Estamos tão anestesiados, social e politicamente, que aceitamos placidamente todos os abusos cometidos contra os nossos mais caros valores.
E, a consequência dessa alienação é que vamos contribuindo cada vez mais para a manutenção deste “status quo.”
Não sei se, nos tempos modernos, mudaria o nome de Alienados para Adauto Botelho.
Gabriel Novis Neves