domingo, 26 de dezembro de 2010

Vizinho

Moro no bairro dos Fuxiqueiros. O líder deles - pelo menos assim ele se auto-intitula, habita num edifício quase em frente ao meu, mas a dois quarteirões de distância.

Sua principal função em casa parece-me ser a de bisbilhotar a vida dos seus vizinhos. Acho que ele nem dorme! Fica na janela com a sua poderosa luneta em punho, só assuntando o acender e o apagar das luzes dos apartamentos vizinhos, e até onde a sua luneta alcançar.

Já fui vítima por diversas vezes da sua bisbilhotice. Não que eu tenha percebido a invasão. Mas fiquei sabendo pelo próprio. É! Ele não tem nenhum pudor em divulgar essas coisas.

Dia desses me contou por telefone, ter observado que as luzes do meu quarto de dormir foram acesas um pouco antes das cinco da manhã. “Levantou cedo né?” – o cara de pau ainda me perguntou. “Sim” – respondi meio contrariado. Realmente naquele dia levantei-me mais cedo e fui escrever na “sala de parto” que fica nos fundos do apartamento, longe da curiosidade do meu vizinho. Aí o bisbilhoteiro, para meu espanto, me falou que naquele dia eu devia ter chegado atrasado à academia, pois as luzes do meu banheiro se acenderam mais tarde que de costume. Sim, sim, ele também sabe a que horas eu vou para a academia. Aliás, eu acho que ele sabe tudo o que eu faço dentro de casa. Que horas eu almoço, tomo banho, vejo televisão, vou ao banheiro, durmo. Tudo, ele sabe tudo!

Francamente! No começo até achava engraçado esta diversão dele. Comuniquei-lhe então que o limite da minha paciência, para tamanha invasão de privacidade, tinha se esgotado. Pela manhã tomaria duas decisões: chamaria o meu advogado para processá-lo judicialmente por invasão de privacidade, e iria procurar nos classificados um novo lugar para morar. De preferência uma pequena casa, bem distante deste burburinho. Bem humorado ele respondeu: aguarda mais um pouquinho, que a sua mudança será definitiva para o outro mundo. Não sei se ria ou se chorava.

Queixei-me sobre este fato com a minha madrinha durante as visitas domingueiras que eu faço a ela. A minha dindinha, quase uma santa, aconselhou-me a não levar a sério essas pessoas. Releve - me falava ela. E empregou toda a sua sabedoria e religiosidade me doutrinando. Ouço calado e compenetrado os conselhos da minha madrinha. Na despedida disse-lhe: gostei dos seus conselhos. Não farei nada. Agora, minha madrinha, queria ver se fosse com a senhora!


Gabriel Novis Neves (7.5 + 17)

23-07-2010

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