sexta-feira, 31 de maio de 2013

Tá difícil

O mundo evoluiu tecnologicamente de maneira explosiva, enquanto que as relações humanas enfraqueceram.
Nada relacionado à causa e efeito.
Fizeram tantas leis, que o sentimento de solidariedade existente nos animais irracionais, desapareceu quase por completo nos racionais.
Há poucos dias o governador do Estado anunciou que iria ao Ministério da Saúde implorar recursos para a compra de novas ambulâncias para o SAMU (Serviço de Assistência Médica e Urgência) de Cuiabá.
A nossa frota está totalmente sucateada, e seu número é insuficiente para atender a demanda. Nesse pequeno Universo de transporte de pacientes graves, várias viaturas estão no ferro velho.
As existentes trabalham precariamente. Não possuem os equipamentos necessários para uma urgência-emergência.
Recentemente, um desses museus do descaso, transportava um paciente em situação grave para o Pronto Socorro.
Enguiçou no trajeto, tumultuando ainda mais o nosso caótico trânsito, obrigando a equipe da ambulância a empurrá-la até o acostamento para pedir socorro.
É o verdadeiro terrorismo humano.
As leis modernas impedem que, mesmo um médico, se não estiver de serviço no SAMU, está impedido de transportar um acidentado grave para o hospital.
Isso poderá trazer ao médico comprometido com os problemas sociais, grandes aborrecimentos jurídicos posteriores. Dependendo da sua situação financeira, sofrerá acusações e enfrentará processos indenizatórios milionários por possíveis sequelas e óbitos.
Foi-se a época, e isso não faz muito tempo, em que, diante de um grave acidente na rua, se um médico passasse pelo local, além dos primeiros socorros à vítima, colocava-o em seu próprio veículo para conduzi-lo ao hospital mais próximo.
Além da falta de ambulâncias em Cuiabá, é enorme o número de trotes telefônicos.
Dia desses um colega conceituado me disse que ao sair do consultório enfrentou um colossal engarrafamento.
O motivo era mais um acidente de trânsito. Confessou-me que teve vontade de aproximar-se da vítima para os primeiros socorros. Era um motociclista.
Lembrou-se da judicialização da medicina, que poderia levar-lhe ao cárcere moral e financeiro.
O corpo continuou estendido no quente asfalto sofrendo queimaduras, porém dentro das normas vigentes.
Tá difícil viver com humanismo neste país de maracutaias.

Gabriel Novis Neves
20-05-2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

FANTASIAS

Segundo Freud, as fantasias são um fio condutor para a história do sujeito, um porta voz para o inconsciente.
Somos frutos das nossas fantasias, ou seja, para cada operação mental existe uma fantasia subjacente.
Logo após o nascimento, estudos mostram a presença de estímulos fantasiosos do recém-nascido com o seio materno.
Já aos três ou quatro anos, observamos os monólogos infantis evocando pais, amigos ou animais como personagens centrais de uma história, sempre muito encenada e vivida através de bonecos ou similares.
Já na adolescência, com o fervilhar dos hormônios e o aparecimento do primeiro amor, surge um verdadeiro terremoto mental, em que as ideias sofrem uma desorganização que, por muito prazerosa, não costuma ser duradoura. Valores são atribuídos ao ser amado que o transforma em ser absolutamente único e insubstituível.
Essa expectativa hiperdimensionada, aliada ao desnudamento progressivo promovido pelo desgaste do relacionamento, vai colocando o idealizado num patamar mais real e, portanto, desmistificando a singularidade do ser amado.
Nos outros envolvimentos futuros, nas chamadas fases de enamoramento, tudo se repete, mas de uma maneira menos tempestuosa, dado o acúmulo de experiências vividas.
Como estamos sempre em busca de grandes emoções, estamos normalmente produzindo substâncias a elas ligadas, tais como: endorfina, serotonina, cortisol e adrenalina.
Durante o estado passional montamos para o ser amado o perfil que mais nos agrada, e nele mergulhamos com toda a intensidade. Claro que esse perfil era apenas reflexo das nossas expectativas, portanto, falso, e na maioria das vezes, fonte de desencanto.
Como na vida o culpado é sempre o outro, facilmente nos eximimos dos nossos erros de avaliação.
Os adeptos à arte de escrever conseguem sentir e transmitir através das palavras toda essa carga emocional, tão necessária ao bem viver. Tão melhores escritores serão quanto mais conseguirem misturar as suas próprias fantasias com as de seus leitores, num delicioso emaranhado em que o coletivo esteja presente.
Na fase adulta, algumas vezes as fantasias se misturam à ânsia de poder e à entrega ao deus do lucro, muito frequentes no mundo consumista. Pessoas com esse modelo psicológico estarão fadadas ao desencanto e à depressão em algum momento de suas vidas.
Na política, a fantasia se apodera do coletivo, e os inúmeros erros históricos de endeusamento de líderes que se tornaram monstros estão aí para confirmar isso.
A mídia sabe muito bem como fabricar e destruir mitos em curtos prazos de tempo, apenas jogando com a nossa capacidade de fantasiar.
Não por acaso, nos encantamos com as artes de todos os tipos, fontes constantes para os nossos devaneios. Os gregos, ao inventarem o teatro, já sabiam disso.
Ao atingir a velhice, aí sim, aparece o que chamamos de sabedoria, ou seja, a percepção verdadeira entre fantasia e realidade, chave de uma boa saúde mental. As pessoas se tornam mais serenas, mais pragmáticas, mais cônscias do que almejar.
Apesar de não ser, como dizem, a melhor idade, é sem dúvida a fase de maior equilíbrio emocional, até porque, sabedoras de que o tempo que lhes resta é curto, não mais se permitem a perdas desnecessárias do mesmo.
Com a chegada da senectude, já com sinais demenciais, novamente se volta o ser humano a mergulhar nos mais diversos delírios fantasiosos, aliás muito bem descritos nos compêndios geriátricos.
As fantasias funcionam sempre como estruturas protetoras, sublimação dos fatos, embelezamento dos mesmos e também como alívio pessoal.
Necessitamos delas para viver.

Gabriel Novis Neves

26-05-2013  

Domingo de manhã

O domingo amanheceu do jeito que muita gente aprecia: com um friozinho aconchegante que convida a todos a se prolongar mais um pouquinho na cama.
Não fosse por um compromisso assumido dias atrás, também eu me dedicaria ao prazeroso ato de não fazer nada e ficar mais um tiquinho de tempo rolando na cama com meus pensamentos.
Pensei na hora em cancelar o compromisso, mas o prazer em receber este amigo – um dos escritores mais produtivos do nosso Estado – me fez pular da cama.
Perdi a conta do número de livros publicados por ele. Um deles, inclusive, foi escolhido pela Escola de Samba de Mangueira para o seu enredo do carnaval, quando homenageou Cuiabá.
O grande sonho do cuiabano é a ligação da capital por ferrovia até ao Atlântico. A mente fértil do escritor desta terra, imaginou Cartola dirigindo o trem para Cuiabá. Todo o enredo é baseado no livro “Chegando o trem”.
Meu amigo chegou pontualmente na hora combinada. Nossa conversa, ou melhor, a minha, é aquela sem pé nem cabeça. Vai fluindo no decorrer do tempo e das brechas oferecidas em bate papo sem protocolos.
Passamos, sem a menor cerimônia, de um assunto a outro, para, mais à frente, voltar, como em um sanfonado oral.
Contei-lhe, entre outras coisas, casos sem a mínima importância, como do susto que levei na noite anterior quando ouvi um ruído estranho e encontrei um morcego em meu banheiro.
O nosso escritor já passou do meio dia da vida. Fez tudo certo. Investiu forte na sua formação acadêmica e cultural.
Deve ter sido, em outras encarnações, um nobre europeu. Divide o seu tempo entre a Universidade em Cuiabá e a Europa. Está recém-chegado da Europa, e me comunica que está voltando agora para uma temporada na Escandinávia. Sem que eu lhe perguntasse, disse-me que está viajando não sabe porque.
Ele mesmo duvida que haja motivos. Indaga-me se o ser humano não inventa situações para justificar vazios existenciais.
Como fui classificado pela medicina chinesa como pragmático e sofredor, disse-lhe que seria prioritário suspender essa viagem agora, e procurasse assistência psicológica.
Risadas de ambas as partes.
Mostrei a sua última encomenda sobre um livro que deseja lançar no próximo ano, com depoimento de brasileiros que foram para fora do Brasil.
Ele queria que eu embarcasse com um texto no seu trem do Cartola. Achei prudente ficar de fora dessa aventura.
O ser humano é essa maravilha que, quanto mais buscamos conhecê-lo, mais surpresas vão surgindo. E, nas palavras de uma colega, o melhor é entendê-lo como nos apresenta.
As imperfeições poderão ser uma invencionice, como bem colocou o escritor.
Viajar para tão distante, levado pelo inconsciente, é fantástico, não fosse também uma frase para reflexão.
O depósito de registros da nossa vida, desde a fase intrauterina, é o inconsciente. O pobre consciente não tem a mínima ideia daquilo que tem que ser eliminado, e procura se livrar dessa carga sentida nas formas mais estranhas possíveis.
Meu amigo vai fazer uma longa viagem, e confessa que não sabe porque deseja ir. Quantas vezes saímos pela aí, e encontramos não raramente, justificativas.
Na esfera afetiva, Caymmi, que cantou tão bem o amor, relata que um dia estava distraído e encontrou uma moça por acaso, e nascia dessa maneira um grande amor.
Não sei se criamos muitas coisas, mas que elas acontecem conosco sem o nosso consentimento, acontecem.
A conversa gostosa e descompromissada daquela manhã fria de domingo continuou até que, guiado pelo compromisso da razão, o meu amigo despede-se, surpreso com o tempo que falamos tudo de nada.

Gabriel Novis Neves
26-05-2013

terça-feira, 28 de maio de 2013

CHEGA!

A violência em nossa capital atingiu níveis insuportáveis. A vida não tem mais a mínima importância para esses facínoras que perambulam livremente pela cidade.
Todos os tipos de violência são cometidos nesta outrora pacata Cuiabá.
O mais interessante, para não dizer dramático, é que existe uma série de entidades governamentais para minimizar a crueldade dos bandidos e retirá-los o mais rápido de trás das grades. Nada para proteger a família das vítimas, que passa a ser a culpada dessa selvageria.
Nossa população está com medo, inclusive, de viver.
O governo, diante da sua incompetência em enfrentar esse desafio, cria ministérios e financia organizações não governamentais (ONGS).
Defende os infratores dizendo que eles têm toda a razão de serem os agentes que determinam o tempo de vida da nossa gente.
Enquanto isso, os órfãos do crime perambulam pelas ruas totalmente desassistidos.
Os criminosos têm bolsas presídio. As vítimas descaso do governo.
A culpa oficial é do passado, onde foi negligenciada a oportunidade oferecida aos seus jovens, negando-lhes uma educação que se inicia em casa e deveria ter o seu prolongamento na escola.
Tudo muito bonito, mas não aceitável.
O governo faz demagogia com o pseudocombate ao crime, e nada de políticas sociais para sua extinção.
Estamos enjaulados pelo medo. Não somos livres. Se não somos livres, não podemos ser dignos.
Tudo que desejamos é paz para trabalhar e educar os nossos filhos. Será isso impossível para um governo populista de esquerda resolver?
A violência nos humilha, onde os dignos são minorias.
Até quando persistirá essa perversão social?
Imagino os nossos grandes problemas nacionais e o futuro dessa nação.
Chega de violência! É o mínimo que pedimos às nossas autoridades.

Gabriel Novis Neves
05-05-2013

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Vereadores

Até hoje não entendi o papel dos vereadores. Sei que ganham muito bem. Seus “trabalhos”, apenas os mais importantes, são divulgados pela mídia. Geralmente relacionados à ampliação das suas mordomias.
Gostaria de citar algumas leis aprovadas pela Câmara Municipal da cidade de São Paulo, a capital econômica da América do Sul, e a locomotiva do Brasil.
Os vereadores daquele município-país, já usufruem de todos os benefícios materiais que o cargo lhes oferece.
Salários acima do teto constitucional, auxílio-moradia, auxílio-transporte, diárias para visita aos bairros da cidade, um batalhão de funcionários - muitos ocultos - e até plano de saúde para o Hospital Sírio-Libanês.
Não contando com a não aplicação da Lei do Nepotismo, que é executada na maneira cruzada. É o toma-lá-dá-cá dos cargos comissionados, aqueles que não precisam de concurso público para exercer suas funções.
Com horas-extras de sessões noturnas, por excesso de trabalho, leis importantes são apresentadas, estudadas e aprovadas.
Algumas dessas centenas de leis, frutos de árduos trabalhos, merecem ser divulgadas pelo seu grande alcance social e humanitário.
O dono de um animal de estimação deve ser sepultado no mesmo túmulo com o seu animal. É lei em São Paulo.
Foi criado o Dia da Independência Corintiana (antes do jogo com o Boca da Argentina.)
Nomes de ruas, avenidas e logradouros públicos estão sendo designados por desconhecidos - parentes de vereadores e personagens folclóricos.
Brevemente em São Paulo, o “Bosque Certinhas do Lalau” (não confundir com o juiz).
Viaduto Tia Zulmira, outro personagem do Stanislaw Ponte Preta, o imortal Sérgio Porto.
Animais de estimações dos artistas famosos também receberão homenagens.
O cãozinho da Hebe Camargo, o gato da Ana Maria Braga e os bichinhos do Clodovil serão nome de ruas.
Tiririca, Cacareco, Ratinho, a moça da banheira do Gugu, com justiça, estarão nas placas de inaugurações das novas escolas.
Qualquer cantor, até então desconhecido do grande público, e sem nenhum sucesso fora dos seus guetos, após fatal overdose de substâncias químicas ilícitas, será transformado em herói com direito a monumentos.
Sinceramente, fica difícil de entender que esses fatos acontecem na capital de São Paulo.
E nas Câmaras Municipais do Brasil?
São mais de cinco mil “Casas de Leis” fabricando diariamente pérolas mais sofisticadas.
Pobre Brasil!

Gabriel Novis Neves
17-05-2013

domingo, 26 de maio de 2013

MARIONETES


Que grande encantamento nos causam as marionetes ao longo da nossa existência!
Dos mais jovens aos mais idosos, não há quem não consiga ficar fascinado com essa arte de manipular bonecos, dando-lhes vida e muita emoção.
Na cidade de Praga, uma das mais belas do mundo - considerada a mini Paris -, está o grande centro mundial de marionetes, sempre uma grande atração dentre as inúmeras que a capital oferece.
Quem sabe nos encantamos tanto por essa arte devido ao enorme simbolismo entre ela e os fatos da vida?
Quando crianças somos marionetados pelos nossos pais e pela sociedade em que vivemos. Dependendo da falta de habilidade dos marionetistas, poderemos vir a serpessoas não tão bem realizadas, e talvez até com traumas de difícil tratamento.
As leis do acaso vão ditar quem nos guiará nesse processo, e não há possibilidadede escolha.
Já adultos e, portanto, responsáveis pelos nossos atos, vamos tendo relacionamentos afetivos e amorosos, alguns intensos outros nem tanto, mas sempre caracterizados por uma prevalência de personalidade de uma das partes.
Interessados no bem viver que aprendemos a cultivar, vamos permitindo que essa prevalência se consolide gradativamente e, nesse ponto, nos descobrimos assustadoramente distantes de quem um dia foi tão próximo. Isso é visível em qualquer tipo de relacionamento.
Muito raramente há o encontro das ditas “almas gêmeas”, em que os parceiros se harmonizam de tal forma que não há necessidade de dominância de ideias e de ações e, principalmente, a individualidade de cada um é preservada.
Daí, os inúmeros desencontros a que somos submetidos pela vida afora, até que, com a sabedoria trazida pela maturidade, nos damos conta que toda essa energia negativa pode ser minimizada pelo simples entendimento.
Sim, porque aí, já passamos a ser marionetados pelos nossos filhos e netos que, numa avaliação errônea, se julgam detentores desse poder. Passam a minimizar a capacidade mental do idoso, talvez em função da sua bem menor capacidade física.
Isso é constatado na grande maioria das famílias. 
Questiona-se, inclusive, se essa rejeição constante não poderia contribuir, e muito, para o desenvolvimento de doenças cerebrais degenerativas. Sob o manto do cuidado excessivo ficam disfarçadas as relações de poder que tanto afligem os mais velhos.
Cabe ao idoso mais sábio concordar verbalmente com as opiniões à sua volta, mas agir somente de acordo com as suas vontades e os seus interesses.
A primeira regra para que sejamos amados pelos demais é que sejamos apaixonados por nós mesmos.
Isso qualquer interessado em psicanálise aprende.

Gabriel Novis Neves
20-05-2013

sábado, 25 de maio de 2013

Evitar


Estamos praticamente a um ano dos jogos da Copa do Mundo.
A nossa cidade foi escolhida, “por mérito”, para sediar uma das subsedes do evento futebolístico.
Receberemos a visita de centenas de turistas atraídos pelos jogos dos seus países e pelas nossas riquezas naturais.
Até lá, Cuiabá será uma nova e moderna cidade, dotada de todos os benefícios da tecnologia de ponta.
Teremos um novo aeroporto, padrão europeu. O mais avançado e caro transporte modal do mundo - o VLT -, muito utilizado em Portugal. Novas pontes sobre o rio Cuiabá e seus menores afluentes.
Rodovias pavimentadas com canteiro central. Calçadas e vias de ciclovias. Trincheiras em pontos estratégicos para facilitar o intenso fluxo de automóveis - de causar inveja a Campo Grande.
Foi ampliada a rede hospitalar com a conquista de inúmeros leitos. O novo hospital universitário na estrada de Santo Antônio contribuirá com duzentos e cinquenta leitos, e a sua gestão será entregue às modernas e eficientes OSs.
Impressionante também foi o aumento da nossa rede hoteleira. Assim como a de restaurantes, bares e casas de entretenimento.
As cidades turísticas do Pantanal, e também a nossa Chapada dos Guimarães, estão recebendo um tratamento especial de investimentos, visando o conforto dos turistas.
O nosso Centro Histórico está totalmente revitalizado e a cidade limpa.
Entretanto, temos que, urgentemente, apelar ao nosso laborioso governo para que coloque nas ruas uma campanha publicitária eficiente, para salvar a nossa imagem de cidade civilizada.
O insuspeito Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) apresentou uma resolução que impede que os cartórios deixem de fazer casamentos de pessoas do mesmo sexo.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a proposta, mesmo que essa não tenha sido analisada pelo Congresso Nacional.
Foi uma grande conquista social, inegavelmente.
O que não podemos aceitar é que Cuiabá registrou apenas sete uniões homoafetivas.
Isso depõe, e muito, com a tradição social e humanística da nossa cidade.
Não é possível que sejamos a capital brasileira, agora com a responsabilidade de ser uma das subsedes da Copa, “que menos registrou união com casais do mesmo sexo em cartórios durante os últimos doze meses”.
Está facilitado esse tipo de casamento. Os homossexuais nem precisam provar que vivem em união estável.
Não aceitamos essa estatística, e devemos trabalhar para evitar tamanho desrespeito ao ser humano.

Gabriel Novis Neves
16-05-2013

sexta-feira, 24 de maio de 2013

HUMOR


Se há uma pessoa engraçada na alta administração pública, essa é o senhor Ministro da Justiça.
Defende que a Constituição Federal não pode ser alterada em certas situações, como é o caso da redução da maioria penal.
Ignora completamente as alterações diárias que já sofreu a Constituição de 1988, chamada de Cidadã pelo deputado Ulysses Guimarães.
Irreconhecível, transformou-se em verdadeira colcha de retalhos.
“As cláusulas pétreas são limitações ao poder de reforma da Constituição”.
O próprio Supremo Tribunal Federal (STF), recentemente, e sem autorização do Congresso Nacional, aprovou, e já está valendo, o registro do casamento de pessoas do mesmo sexo.
A Constituição em vigor proíbe esse tipo de ato.
Os aposentados eram isentos de pagar a Previdência, pois já descontaram por mais de trinta anos uma quantia mensal para cobrir as despesas com a velhice.
De uns anos para cá, tal qual um incesto, voltaram a descontar para a Presidência Social.
A questão do teto constitucional para os servidores reza que ninguém pode receber mais que o valor não aditivado do salário de um Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Isso só tem validade para os servidores públicos, que são qualquer um.
Os próprios congressistas que fizeram a lei, o órgão fiscalizador, fazem vistas grossas, e os seus salários, muitas vezes, ultrapassam a quatro tetos. Tudo numa boa.
A Constituição criou a Lei do Nepotismo, que proíbe governadores e prefeitos de nomear parentes para ocuparem cargos em suas administrações.
Com raríssimas exceções todas as chamadas primeiras damas assumem o cargo de secretária de Estado ou do Município, com salário e todas as mordomias especiais do cargo ocupado.
Não contando com as nomeações cruzadas, onde há permutas de parentes entre executivo, legislativo, judiciário e tribunal de contas, para burlar a lei pétrea, aquela que deve ser respeitada e nunca ignorada.
Enquanto isso, o sofrimento da população brasileira aumenta mais, pois esses recursos seriam destinados à educação, saúde e programas sociais.
Para um país rico, o nosso índice de desenvolvimento humano é um dos mais humilhantes.
E a nossa Constituição?
Continua sendo pétrea para os cidadãos de segunda classe.

Gabriel Novis Neves
16-05-2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Miséria


Animador imaginar que a miséria, assim como a morte, não existe.
Sim, porque a morte é a decorrência natural de um final de ciclo de vida, enquanto que a miséria é fabricada e, o que é pior, industrializada.
Mecanismos perversos de distribuição de rendas internacionais, avalizados por grupos de países poderosos, nutrem esse verdadeiro estupro moral, que tanto sofrimento causa à humanidade.
O fato de perdermos no mundo, a cada cinco segundos, uma criança com menos de cinco anos vitimada pela fome, não parece mobilizar os cinco países mundiais supostamente responsáveis para essa finalidade.
Os donos do mundo são três organizações capitalistas - o Fundo Monetário Internacional (FMI), que abriga as cinco maiores potências mundiais, o Banco Mundial (BM), que congrega oito nações e a Organização Mundial do Comércio (OMC), com cento e quarenta e sete países membros, sem direito a voto.
A função da OMC é apenas a de cobrar os países, e sempre mais. Séculos se passam e apenas nos eximimos de culpas de uma maneira simplista, através de esmolas ridículas cujo efeito é, tão somente, apaziguar os sentimentos de culpa dos alienados e dos inescrupulosos.
A quantidade de alimentos no mundo, segundo as últimas estatísticas da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), seria suficiente para nutrir doze bilhões de pessoas, enquanto somos, no total, seis bilhões no momento.
Apenas práticas internacionais perversas, dirigidas cada vez mais para maiores lucros, impedem a modificação desse quadro. Uns poucos países ricos impõem as suas regras devastadoras à imensa maioria pobre do planeta.
Quem sabe um dia se consiga uma reunião de cúpula com poder decisório, não apenas de cinco ou oito países ou mais sem direito a voto, como é o caso da OMC, mas com todos os representantes da terra, no momento esmagados em sua maioria?
Não é mais possível suportar que todos os anos milhares de pessoas morrem de fome no mundo, embora sejamos muito ricos.
O humanismo, ou qualquer escrúpulo moral, simplesmente não são possíveis no mundo onde reina o cinismo mais violento. Onde só temos o direito de aceitar o que os outros decidem.
O mundo foi transformado em um imenso manicômio, onde há um verdadeiro matadouro de pessoas. Existem poucas nações ricas, cuja população é pobre, pois quem exerce o poder mundial são os grandes grupos econômicos.
Temos o dever de lembrar a presença de economia de arquipélagos, tudo com o objetivo do lucro máximo. “Não há como exterminar a pobreza, a não ser lutando contra a riqueza”, afirma Eduardo Galeano, um dos maiores pensadores do século XXI. A pobreza é o justo castigo que a ineficiência política causa, conclui o filósofo sul-americano.
Enquanto, passivamente, assistirmos o mundo gerar a pobreza e miséria, o genocídio nas nações pobres, especialmente as africanas, continuará.
Temos que corrigir essa injustiça, para sermos livres e dignos. Essa realidade perversa, no momento, é intocável, onde o dinheiro está matando a esperança.

Gabriel Novis Neves
04-05-2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

PRECISA-SE?


Os jornais tentam justificar a entrada de seis mil médicos cubanos no Brasil dizendo que eles irão trabalhar “onde ninguém mais quer”.
O motivo verdadeiro, que atinge quase mil e quinhentos pequenos municípios brasileiros, encontra-se parado, por determinação do governo federal, no Congresso Nacional há mais de dez anos.
Esse projeto, que regulamentaria a presença dos médicos nos municípios mais distantes e pobres do nosso rico país, necessita somente de vontade política para resolver essa verdadeira situação de crueldade com os desafortunados.
A proposta, que possibilitaria a distribuição dos médicos, seria a criação da carreira do médico de atenção primária de saúde.
Com essa medida, após concurso público, os aprovados seriam alocados de acordo com a sua classificação nos municípios carentes desses profissionais.
Nada de inovador ou criativo.
Juízes, promotores, defensores públicos, funcionários da receita federal e estadual, pessoal das polícias federal e estadual, militares das forças armadas, passam por esse sistema.
Vão trabalhar nos municípios mais distantes do Brasil com a garantia de crescimento na carreira profissional. Após algum tempo, por merecimento, poderão vir para um grande centro, se assim o desejarem.
 Esses médicos de carreira não serão os especialistas, aqueles que entendem muito de pouco em medicina. Serão os que irão atender os Programas Saúde da Família (PSF).
Diante da ausência desses profissionais em muitos municípios, por falta de políticas públicas de fixação do médico no interior, e para não ficar mal perante organizações de direitos humanos, o governo arrumou um remendo de curta duração.
Criou o Programa de Valorização da Atenção Básica (Provab), e não explicou à população como funciona esse programa.
Os recém-graduados em medicina que não conseguiram passar nos exames de Residência Médica, cujas vagas são insuficientes para atender a demanda, recebem a oferta de uma bolsa de oito mil reais por mês para uma carga horária de trinta e duas horas semanais para ocuparem milhares de vagas existentes no interior do Brasil.
Esses médicos cuidariam das populações carentes e distantes dos grandes centros. Teriam mais tempo para estudar e enfrentar o competitivo exame de residência médica. Outro fator agregado é que eles ganhariam créditos para a prova da residência - uma aberração.
A população não é esclarecida que a presença desse médico é por tempo determinado. A bolsa recebida de oito mil reais por mês tem a duração de um ano, podendo, excepcionalmente, ser prorrogada por mais um.
Para meu espanto encontrei esses bolsistas, que deveriam estar nos cafundós do Judas, em nossa capital. E aqui existem vários.
Por que não nos municípios que não possuem nem um médico?
O mais preocupante é que, mesmo na cidade que possui duas escolas de medicina funcionando há muito tempo, faltam médicos nos postos de saúde para atendimento à atenção primária de saúde.
O Brasil não precisa importar médicos, especialmente cubanos, cuja medicina é bem inferior à nossa em qualidade.
Temos noventa e oito escolas médicas em funcionamento e, até o final de 2014, mais quarenta novas faculdades. Só aqui em nosso Estado temos três e três programadas para iniciar as suas atividades no ano que vem. Quase quatrocentos mil médicos compõem o nosso universo de profissionais.
Esses médicos importados para exercerem legalmente a sua profissão, precisam ser aprovados numa prova realizada pelas nossas universidades federais.
No último exame com médicos estrangeiros para revalidação dos seus diplomas o resultado foi assustador.
Esses importados foram inscritos em número de 937 na UFMT para os exames.
Após análise de currículo foram selecionados 823 para a prova e apenas seis aprovados.
Já está passando da hora da população que trabalha e paga impostos receber por parte do governo um pouco mais de respeito e atenção.
 “Aquilo que não for verdadeiro, nem bom e nem necessário, guarde apenas para ti.”

Gabriel Novis Neves
14-05-2013

terça-feira, 21 de maio de 2013

Resposta


Todo ato ilícito cometido por aqui, logo cai no mais profundo esquecimento. Denúncias graves de corrupção cometidas por certas pessoas, são divulgadas pela imprensa, não são respondidas e, tranquilamente, vão para o poço da omissão e do abandono.
São tantos os escândalos atuais neste Estado, que enumerá-los é uma tarefa enfadonha.
Um misterioso caso policial amplamente divulgado de apropriação indébita de uma grande soma de dinheiro envolvendo gente graúda caiu no esquecimento há quatro anos.
Muitos ainda se lembram daquele posto de combustível que alega ter fornecido a sua gasolina para um determinado candidato.
Dizem que o cheque foi repassado ao então responsável pelo pagamento, e este, simplesmente, não honrou com o compromisso.
A proprietária do posto abriu a boca, a imprensa registrou, o suposto candidato caloteiro explicou a ação como indevida, e o final da novela que é bom, ninguém sabe.
O misterioso cheque desviado tinha etiqueta, e a pessoa lesada não mais reclamou, e procurou a justiça. A sociedade tem o direito de saber o que aconteceu. 

Quem recebeu o cheque e desapareceu com ele?
 
Ou o esperto mágico, capaz de sumir com um cheque de milhões de reais, é tão importante no tabuleiro do xadrez do poder que a impunidade o protege?

Não existe crime perfeito. Um dia saberemos como esse negócio mal explicado foi realizado, graças as investigações que estão sendo discutidas na justiça. A primeira instância já se manifestou. Houve recursos, e a batalha da verdade continua.
É triste para um filho deste Estado constatar como estamos sendo tratados. Certos enriquecimentos vertiginosos de homens ligados ao poder são vergonhosos.
O pior é que todo mundo sabe das mutretas e do organograma dessas instituições criminosas chefiadas por gente de alta plumagem.
O silêncio da sociedade é o sinal da podridão do meio em que vivemos.
Muitos cidadãos dessa laia, que embolsam indevidamente cheques de terceiros para a sua conta pessoal, estão vivento na "mais santa paz" e prosperidade. 

Afinal, quem recebeu o cheque para pagar o posto de gasolina?

Houve ou não pagamento?

O povo desconfia do autor deste imbróglio.
Não deixemos cair no esquecimento esta amostra daquilo que acontece neste Estado e logo é esquecido, para a felicidade dos desonestos.

Gabriel Novis Neves
10-05-2013

segunda-feira, 20 de maio de 2013

NÃO


Se há uma palavra que político nunca, jamais, em tempo algum deve empregar é a palavra “não” - um advérbio da negação.
O melhor político é o que tem paciência para ouvir e preguiça para responder.
Os seguidores da negação em três letras transmitem prepotência, autoritarismo (não confundir com autoridade) e, na grande maioria das vezes, despertam a curiosidade dos seus adversários para pegar o truculento verbal pisando em falso.
Os adultos sabem que em política não existe segredo, e conversa reservada só existe quando ninguém fala - coisa impossível.
A sabedoria popular diz que segredo não foi feito para guardar.
Dia desses o presidente de um partido político da base de sustentação do governo relatou, confidencialmente, o seu despacho com o seu chefe.
Disse-lhe que estava sendo cobrado pelos seus correligionários. Desejava saber como ficariam as pessoas indicadas para trabalhar no governo e que ajudaram a eleger.
Olimpicamente, a resposta foi contundente para ambientes políticos - "essa gente da lista não nos interessa".
Surpreso, o presidente do partido deixou a reunião.
Questionado pelos seus partidários, que sabiam estar com os currículos à disposição, com o perfil técnico e de honestidade exigidos pelo executivo, não suportou a pressão e disse o que ouviu na reunião: “essa gente não nos interessa”.
Coisas são sempre coisas, descartáveis e, geralmente, perdem a importância assim que as possuímos.
Gente é gente, não mercadoria para não mais interessar após conquistar o que se pretendia com os seus apoios.
“Essa gente não nos interessa” é uma expressão infeliz que transmite insegurança ao cidadão honesto, qualificado e trabalhador.
A bandeira amarela subiu ao mastro.
Imagine se professores, profissionais da saúde e outros servidores forem sumariamente classificados como “essa gente não nos interessa?”.
Todos nós temos o que oferecer de bom na complexidade difícil do ser humano.
O nivelamento de pessoas por critérios industriais e cotação nas Bolsas de Valores de Pequin, é um erro que um especialista em gente jamais cometerá.
A máquina é acionada até por controle remoto - gente por estímulos cerebrais, que em termos de máquina é incomparável e inimitável.
Não somos do signo do atraso e de homens prepotentes.
Essa gente que assim se comporta, não interessa ao nosso país. 
Enfim, “quem pariu Mateus que o embale.”

Gabriel Novis Neves
15-05-2013