Logo
que retornei a Cuiabá para exercer a minha profissão fui premiado pelos colegas
mais antigos para cuidar dos pacientes da Chácara dos Loucos do Coxipó da
Ponte, apelido oficial do Hospital Colônia de Alienados do Estado de Mato
Grosso.
Certa
madrugada recebi um telefonema do Pároco da nossa Catedral Metropolitana
solicitando com urgência a minha presença na velha Matriz.
Muito
nervoso perguntei de que se tratava. Descontrolado, ele me disse que um interno
da Chácara tinha fugido e que na hora da missa das cinco da manhã subiu ao
altar e começou a sua pregação, para surpresa e espanto dos fiéis.
Dizia
ser enviado de Deus e estava ali para pregar o bem. Entoou cantos religiosos e
até batina conseguiu vestir.
Tentei
acalmar o bom padre. Disse que conhecia o paciente, era meu amigo e jamais
cometeria um ato de violência contra os paroquianos.
Falei
que já estava me vestindo e que dentro cinco minutos estaria na igreja.
Orientei ainda o padre que o ouvissem com toda a devida atenção e respeito.
Assim
que me viu na igreja o Esperidião encerra o seu sermão de salvador de almas e
disse aos católicos que eu havia chegado para solicitar a sua ajuda nas
atividades diárias do hospital, que só funcionava porque ele fazia de tudo ali.
Do café da manhã ao jantar. Ainda ajudava na aplicação dos eletrochoques,
limpeza e disciplina do hospital.
Assim
era o meu grande Esperidião, um delirante acometido de surtos de grandeza, e
que tudo resolvia. Era o Deus da Chácara dos Loucos, hoje Hospital Adauto
Botelho.
Sempre
me lembro com carinho dessa figura humana extraordinária, crônico de um
hospital psiquiátrico.
Assistindo
ao programa Resumo do Dia, deparei-me com uma entrevista que me fez lembrar
muito do Esperidião.
O
entrevistado considerava-se um gerentão enviado por Deus, capaz de resolver
todos os complexos problemas desta cidade e transformá-la em um verdadeiro
paraíso até os jogos da Copa do Mundo.
Tinha
experiência de desafios maiores em outros planetas e sempre se saiu bem. Nunca
teve um fracasso em sua vida, chegando a tocar ao mesmo tempo com sucesso e
eficiência mais de mil e duzentas obras.
Só
ele consegue esse milagre para nós pecadores - ficar os três turnos de trabalho
nas obras citadas em vários locais deste país.
Confirmou
que foi procurado pelo seu grande líder para salvar Mato Grosso. Não teve a
curiosidade de saber em que setor. Esperou que o intermediário falasse com o
governador sobre essa solução, que tanto poderia ser o seu aproveitamento
imediato no comando das obras da Copa, ou em outras missões, nunca impossíveis
para ele.
Acredita
que o chefe do executivo estadual não se interessou pelos seus trabalhos
milagrosos?
Indagado
mais uma vez pelo repórter sobre o motivo do desinteresse do governador,
respondeu no melhor estilo Esperidião: “ciúmes de homem”.
Ah!
Desliguei a televisão. Não suportei as saudades do Esperidião.
Agora soube, que ele comprou um pequeno partido para transformar Mato Grosso!
Que situação!
Gabriel Novis Neves
28-04-2013
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