domingo, 19 de maio de 2013

Resgate


Quantos casamentos não teriam escorrido pelo ralo se as partes envolvidas se dessem conta de que a sedução entre elas estava se esvaindo.
Pertencentes a uma sociedade culturalmente monogâmica imposta a nós sem que fôssemos consultados, e pela qual juramos obediência, afogamos o nosso lado animal, polígamo por excelência.
A sedução mútua é uma planta muito delicada. Se não for bem cuidada no dia-a-dia, perde logo o viço dos primeiros meses de uma paixão.
Inúmeros casais despreocupados com esse fato começam a tratar o seu cônjuge como um troféu conquistado, cuja perda não faz parte das suas cogitações.
Mas eis que a acomodação da vida rotineira vai tirando o encanto das descobertas mútuas, nem sempre tão fascinantes quanto a nossa fantasia, e nada mais resta que um abismo, onde se misturam e se atropelam os diferentes graus de solidão de cada um.
O “status quo” e, principalmente, as várias religiões, tratam de encarar como normais todos esses fatos. Dessa forma a vida segue despida das tão esperadas emoções, fortemente alardeadas pelas mídias. Somos bombardeados por erotizações constantes, sejam elas através das novelas, sejam através de anúncios com conteúdo nitidamente provocador.
Vão se formando através dos anos casais que, sem o estímulo lúdico da relação, vão se tornando anestesiados mutuamente e, por conseguinte, para a vida.
Os filhos, espectadores diretos desse quadro, escolhem o caminho oposto e, não raro, se tornam grandes promíscuos sexuais, na tentativa de negação do fracasso dos pais como reais representantes da feliz célula mater.
A maioria dos adultérios ocorre geralmente, não por paixões desenfreadas, mas sim, pelo resgate da autoestima, da necessidade de se sentir novamente desejável, já que isso nos rodeia no cotidiano.
As mulheres buscam em novos atributos estéticos a cura para essa angústia, que no fundo é muito mais emocional que física.
Os homens, polígamos por natureza, partem para relações múltiplas, despidas de qualquer vínculo, mas que, por descompromissadas e não rotineiras lhes trazem de volta a intensidade do desejo que permeia a vida.
Somente se muito atentos, e com bastante criatividade, poderemos fugir do lugar comum e tentar desmontar essa bomba relógio que é o fim do enamoramento.
Que os jovens casais, e também os não tão jovens, atentem sempre para a busca do novo nas suas relações, seja através de viagens, de pequenos mimos, de surpresas, de interesse por novas atividades conjuntas, enfim, focarem sempre para que o outro continue sendo o objeto de admiração que foi um dia não tão distante.
Tarefa nada fácil, mas, se o fosse, não teria a menor graça. Não seria a busca do amor pleno.

Gabriel Novis Neves
13-05-2013

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