terça-feira, 30 de novembro de 2010

DESACOSTUMAR

De uns tempos para cá venho vivendo um processo de desacostumar. Nada de grave ou importante. Simplesmente estou percebendo que não faço mais muitas das coisas que estava acostumado a fazer.

O Brasil também está assim - vítima do progresso. O meu desacostumar é mais emocional e cultural.

Estava acostumado a andar de bondes, ônibus e lotações. Fui obrigado a me acostumar com os elevados e metrôs subterrâneos. Agora terei de me acostumar com os metrôs de superfície e o trem bala.

Aquela farra que era ir do Rio de Janeiro para São Paulo nas cabines do trem noturno da Central do Brasil virou história, assim como os ônibus voadores de dois andares da Viação Cometa.

Aos domingos estava tão acostumado com os jogos no Maracanã! Fechado para sofrer as reformas da Copa, o Estádio de Futebol será reinaugurado como Arena Multiuso. Tenho que me acostumar sem o Maracanã - Templo do Futebol.

Fico imaginando alguém convencer o Mané Garrincha a disputar uma partida de futebol em uma Arena Multiuso!

São tantas as situações novas surgindo que o melhor que faço é me desacostumar de tudo aquilo a que estava acostumado.

No momento, treino para me acostumar a chamar o Presidente da República de senhora e, se depender do seu gosto, de Presidenta.

Desacostumei-me de morar em casas por causa da violência. De assistir a missa aos domingos na igrejinha do bairro onde moro por falta de sacerdote. De utilizar as calçadas das ruas como centro de diversões, onde os adultos conversavam sentados nas cadeiras de balanços e as crianças jogavam botões.

Desacostumei-me de ficar sentado por longas horas no banco da praça esperando aquela menina passar.

Desacostumei-me e me acostumei a viver no mundo da competição, globalização, do ter e não do ser. Na banalização dos símbolos mais nocivos às crianças, como o laptop da ex- rainha dos baixinhos.

Desacostumei-me de seguir a maioria com os valores permanentes da nossa cidadania.

Estou desacostumado inclusive de viver entre humanos.

Entretanto, nunca irei me entregar aos demônios e desacostumar-me de ser gente acostumada com as boas causas da vida.


Gabriel Novis Neves (7.5+113)

06-11-2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pensando bem

Tem razão o ex-guerrilheiro, e atual Chefe de Comunicação Social do governo Federal, ao propor o controle da mídia. Acertou em cheio.

Esse controle, ou mordaça como dizem os opositores, talvez seja o projeto mais importante do governo findante.

Na verdade é um projeto tão abrangente, que com certeza ajudará, e muito, os pais na educação dos seus filhos. O noticiário, mesmo com a taxa de zelo paga religiosamente em dia pelo governo, deixa escapar notícias que, com o controle proposto, jamais sairiam das redações.

Como explicar a um filho as recentes notícias sobre Sílvio Santos e a sua viagem ao Palácio do Planalto?

Todas as crianças conhecem o homem que distribui aviãozinho de dinheiro ao seu auditório, assim como conhecem o pai do PAC. Encontro de celebridades é um acontecimento normal.

O complicado para um pai é responder certas perguntas feitas agora pelos seus filhos.

- Pai, eu não sabia que o dono da televisão possui também um Banco. E tem como sócio a Caixa Econômica Federal.

- A Caixa não é nossa?

- Pai, aquela bolinha de papel jogada na careca do candidato da oposição, custou dois bilhões e meio de reais? Ouvi essa notícia na escola. Quem contou para a classe foi a professora de Civismo.

- Pai, todo mundo de lá (Brasília) sabia do rolo não é? Porque só depois das eleições é que nós ficamos sabendo?

- Ouvi falar que só o artista da televisão é o culpado pelo desaparecimento do dinheiro do seu Banco e da Caixa Econômica Federal. Quer dizer que ele está ferrado não é?

- Pai, e os outros que sabiam e ficaram na moita, foi por causa da bolinha de papel? Ou tem mais?

Como vêem, está difícil educar um filho com esses exemplos sendo divulgados.

Bandidos e ladrões existem em todo o mundo, desde que mundo é mundo. A grande diferença que existe é que neste país não se pune ninguém - a não ser ladrão de galinha.

Conversando com os meus botões, cheguei à conclusão que a culpa pela dificuldade de se bem educar um filho é da imprensa que divulga esses fatos.

Hummmmm! Pensando bem, o zeloso patriota da Comunicação Social está coberto de razões ao propor o controle da imprensa.


Gabriel Novis Neves (7.5+129)

12-11-2010

domingo, 28 de novembro de 2010

RESSACA

Dois feriadões em quinze dias produziram em mim a sensação de uma grande ressaca. Fiquei confuso com relação aos dias da semana. Estava me preparando para os afazeres de certo dia, quando fui alertado pelo cuidador do meu irmão - ele conhece toda a minha rotina – do equívoco.

Antes ele não tivesse me avisado! Não estava psicologicamente preparado para viver o pós-feriadão desse jeito. O descondicionamento mental não é fácil, ainda mais na minha idade onde a máquina cerebral já apresenta alterações próprias de enferrujamento.

Queria mais era fugir da encrenca em que me meti. Queria ir para o trabalho para fugir das furadeiras, martelos, perfuradoras, gesso, pó branco, e todos esses irritantes apetrechos que invadiram meu apartamento. E no meio dessa confusão toda, perdi o meu bom humor.

Estou verdadeiramente desolado! Minha casa está de pernas para o ar. Lembro-me de uma velha tia reclamando que, sempre quando a visitávamos, a casa ficava de pernas para o ar. Agora eu entendo o sentimento da minha tia.

O cenário atual da minha casa é de deixar qualquer um louco. Móveis encapuzados e fora do lugar, quadros arriados das paredes, tapetes enrolados no corredor do meu quarto de dormir. Como se não bastasse esta desordem irritante, fico tropeçando em pedreiros, gesseiros e pintores. O pior é que todo este cenário não tem data certa para a conclusão.

De manhã, logo que acordo, a primeira coisa que faço é sair apalpando o gesso molhado, implorando a sua colaboração para que mude logo de cor - para o branco da secura. Pelo menos certeza teria de um prognóstico do final dos serviços.

Este impulso de apalpar gesso úmido é parecido com o gesto de uma mãe apalpando a testa do seu filho para saber se a febre acabou.

Diante da minha inquietação, tento me consolar: fui eu o causador de toda essa lambança. Mas, como dizem que o acaso não existe, e que ele é responsável por muitas descobertas, fico consolado. Descobri uma coisa, para mim muito importante: se não fizesse este serviço, perderia, para o calor insuportável e desumano, a companhia da minha família no almoço de final de semana.

Ficaria igual político em fim de mandato: almoçando sozinho. Prefiro uma reforma com todos os seus contratempos a uma solidão motivada pelo calor da minha cidade.

Os aborrecimentos são passageiros assim como a sensação de uma ressaca de um feriadão.


Gabriel Novis Neves (7.5+133)

16-11-2010

sábado, 27 de novembro de 2010

Overdose

Sem querer fui vítima de uma overdose de cuidados terapêuticos. Nesta reta final de chegada para todos os seres viventes, tenho plena consciência da fragilidade física, mental e emocional que os cerca. Outro aspecto é a dependência de terceiros que, em muitas das vezes, eles são obrigados a se submeterem para garantir um pouco de conforto e amparo. Não quero ficar dependente de terceiros.

Para tanto e para preservar a minha qualidade de vida conto com o apoio, amizade e dedicação de uma “legião” de colegas - a maioria meus ex-alunos.

São os especialistas: médicos que sabem tudo dos órgãos e da alma dos seres humanos.

Como tenho amigos “Fuxiqueiros” vou poupá-los da preocupação de fofocar na padaria a especialidade dos colegas que me acompanham nessa caminhada.

Na relação de consultores tenho: Clínico Geral, Otorrino, Analista, Cardiologista, Urologista, Oftalmologista, Gastroenterologista, Ortopedista Endocrinologista, Angiologista, Neurologista e Dermatologista.

Na retaguarda, especialistas em imagens e bioquímica do sangue.

Sou ao mesmo tempo paciente e coordenador geral dos especialistas. Traduzindo, sou o meu médico.

Dia desses, após ficar uma semana observando em mim uns sintomas, não tão graves, mas bastante desagradáveis - que não conto aqui para não ser também desagradável – resolvo fazer uso de uma medicação indicada por mim mesmo. Além disso, fiz uma inovação no horário do uso da droga.

Muito bem. Mais uma semana se passou e nada dos desconfortos desaparecerem. Suspendi o uso do fármaco. Os efeitos colaterais eram mais perturbadores do que os sintomas que me levaram ao seu uso. Marquei então uma consulta com o colega especialista.

A consulta foi mais uma oportunidade para um agradável bate-papo, do que propriamente para sanar o meu problema. Explico: os sintomas desagradáveis tinham desaparecido. Que alívio!

Estava certo quem afirmou que “não há mal que sempre dure.” Complemento dizendo: “ainda mais se parar de tomar um medicamento que produza efeitos colaterais!”


Gabriel Novis Neves (7.5+127)

10-11-2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A TARA DOS PREFEITOS

Desde que Cuiabá existe, uma das preocupações daqueles que administraram e administram esta terra foi com o abrigo para os passageiros do transporte coletivo.

Bem antigamente, nos tempos dos meus avós, a parada dos passageiros que esperavam condução - os cavalos e as charretes - era embaixo dos mangueirais e árvores frondosas. Os passageiros eram transportados para locais geralmente muito distantes. As pequenas e médias distâncias eram feitas a pé.

Com o crescimento da cidade, as antigas e longínquas chácaras da pequena vila foram sendo transformadas em bairros. Os casarões em edifícios. Os mangueirais e as árvores frondosas engolidas pelo “progresso”. Só sei que, de quatro em quatro anos, os nossos alcaides têm como projeto prioritário a construção de um novo modelo de abrigos para passageiros usuários do transporte de massas.

Conheci outro dia o modelo 2010/2011. Um horror! A criatividade de quem elabora semelhantes projetos é, no mínimo, um deboche. Acho que se julgam originais, quando na verdade estão sendo ultrajantes e desconcertantes. Servirá muito bem de cenário para fotografias de turistas. Também será um lugar ideal para a venda de drogas. Mas, como abrigo de passageiros não serve, pois a sua capacidade protetora mal dá para cinco pessoas.

Já topei com alguns instalados em ruas sem muito movimento de transportes coletivos. Um deles foi estrategicamente colocado nas proximidades da nova Arena Pantanal. Com certeza servirá de encantamento aos milhares de estrangeiros que aqui estarão na Copa do Mundo.

E o conforto para os nossos trabalhadores? Nem pensar! Continuarão apinhados nos pontos de parada dos ônibus, sofrendo com o sol e a chuva.

Esta nova versão para abrigos de passageiros servirá somente para provar aos turistas que tudo é possível - inclusive construir abrigos virtuais.


Gabriel Novis Neves (7.5+88)

02-10-2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Comparação

No século passado nossos educadores ensinavam que um erro não justifica outro. Mas, isso era coisa do século passado. O mundo evoluiu, e muito.

Não existe mais a crença de comunistas que comiam criancinhas. O muro de Berlim foi derrubado. O partidão é sigla dos milionários. A Europa tem uma moeda mais valorizada que o dólar. Os Estados Unidos são governados por um negro com doutorado em Harvard. O Brasil não é mais campeão do mundo em futebol. O homem, após a conquista da lua, brinca no espaço. As guerras continuam, agora com tecnologia de ponta. Não existem mais tropas de cavalaria. A religião apresenta tantas subdivisões que nem o Google é capaz de fornecer com exatidão o número delas. Também é muito fácil abrir uma igreja. Não existe burocracia alguma. No século XXI é comum homem casar com homem e mulher casar com mulher e adotarem uma criança como filho.

Só não mudou do século passado para cá a conduta dos nossos políticos, tão bem retratada na modinha musical Caixinha, de Juca Chaves.

Um erro não justifica o outro. A modernidade também deixou sua marca nesse velho ditado. Conseguiu, “à força” de muitas maracutaias, transformá-lo em: eu roubei, mas quem não rouba? O Brasil virou uma república (!) onde tudo é permitido politicamente. Não se defende mais a honra atingida por uma calúnia. Lança-se outra calúnia sobre o adversário. Aliás, alguém ainda se lembra o que vem a ser honra política?

Este é o país que construímos e que deixaremos de herança às futuras gerações. O reinado da promiscuidade de costumes e do trato do dinheiro público como privado. Tudo é permitido neste país tropical!

A comparação de erros como defesa é simplesmente insustentável. Antes do advento das comparações, as defesas eram mais explícitas e contundentes. Quem não se lembra do Rouba, mas faz? Ou de outra mais recente: Estuprar pode. Matar não. O “Nada a declarar” dos governos militares foi substituído pelo atual – “Eu não sabia de nada”.

Quando alguém é flagrado participando de um delito, não se preocupa em se defender. A moda é comparar com algum delito cometido por outros. Essa estratégia das nossas autoridades de não esclarecimento das dúvidas da população e o uso da comparação deixa a seguinte impressão: todos os políticos são bandidos. Tudo farinha do mesmo saco.

Queremos esclarecimentos e não comparações. Somos roubados nas privatizações, na cumplicidade com bancos falidos, nos precatórios, nas concorrências públicas ou pregões, e o pior, com o dinheiro sujo sendo transportado, em meias, cuecas, bolsas, quando não levado para o exterior. Nós só sabemos que estamos sendo roubados de maneira deslavada e sem o mínimo pudor.

A forma como concessões políticas são feitas nesta nação, não sei não... O Estado brasileiro corre o risco de se transformar num verdadeiro aparelho político com duzentos milhões de passageiros. Perdurando esse quadro cinzento de comparações, serei levado a crer que este país estará politicamente condenado à morte.

Ah! Mundo cão esse de comparações!


Gabriel Novis Neves (7.5 + 34)

09-08-2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SUSTO!

Estava com um cajado matando dois coelhos. Tomava o meu café da manhã e assistia pela televisão ao noticiário. Ouço uma notícia que me fez desistir do café. A reportagem informava que a nossa Assembléia Legislativa gastava proporcionalmente mais, em recursos financeiros, do que a de São Paulo. Só um detalhe: São Paulo, além de ser o mais rico e populoso estado do Brasil, possui o quádruplo do número de deputados de Mato Grosso.

A Assembléia Legislativa não é nenhuma Casa da Moeda. Não fabrica o dinheiro que necessita. O dinheiro é repassado pelo Governo do Estado – e bota dinheiro nisso! Agora, pelo montante repassado, o Governo Estadual deve ter a Assembléia Legislativa em alta conta, prioridade mesmo! Supervalorizada! A Assembléia humildemente aceita o dinheiro. Para outros setores, especialmente educação e saúde, são repassados percentuais de recursos inferiores aos que manda a Constituição Brasileira. Uma lástima!

O Poder Executivo repassa migalhas para a educação, e o resultado está aí para nos humilhar. O Estado do maior repasse para o Legislativo ocupa a vergonhosa 22ª posição em termos de educação – conforme nos informa recente teste educacional. Damos pouco valor à educação, e “os pais de alunos em escolas públicas estão satisfeitos com o que seus filhos recebem ali”.

Infelizmente não há nenhum indicativo de que a nossa educação vá melhorar. Os generosos recursos públicos repassados não são suficientes para melhorar a nossa educação. Enquanto isso o Estado continuará formando, em todos os níveis, analfabetos funcionais. Somos campeões mundiais nessa “especialidade.”

Esta é a dura realidade da nossa educação. Aliás, sei que não estou falando nenhuma novidade.

Não é a primeira vez - e com certeza não será a última – que abordo esse assunto. Podem até me chamar de repetitivo, mas não consigo controlar a minha repulsa e indignação frente a essas notícias! Eu considero um verdadeiro deboche para com a população. E, de tão sofrida, a população do meu Estado deveria merecer por parte dos governantes um pouquinho mais de respeito. Mas, não. Querem porque querem provar que a educação vai muito bem, obrigado - isto sem falar da saúde. Esperam que a população engula, e acredite, que a nossa precária educação melhorou muito nos últimos anos. Os indicadores de convencimento utilizados pelo governo são, sempre, físicos. E haja ladainha numerológica, referindo-se ao aumento de salas de aula e professores. Citações que as escolas, na maioria, possuem quadras de esporte cobertas. Que possuem computadores. Que não existe nenhuma criança fora da sala de aula. Para o governo, esses dados são sinalizadores de que a nossa educação melhorou e avançou, omitindo até mesmo o crescimento populacional e de impostos, no Estado. Mas, quão longe estamos dessa realidade!

Precisamos urgentemente da generosidade concedida pelo Governo ao Poder Legislativo. Enquanto a carreira do professor for bico, a nossa educação, com relação a sua melhoria, será apenas, e tão somente, meros dados estatísticos desmoralizados. O professor valorizado é sinal de qualidade de ensino. A promoção automática do aluno no ensino fundamental deveria ser como manda a lei e não como está sendo feita. Isso implicará em aumentar salas de aulas e contratações de professores.

E a questão dos repasses, hein? Como é que fica?


Gabriel Novis Neves

22-11-2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Responsabilidade

Ao pegar no armário uma agenda nova, daquelas de duzentas folhas e do tamanho de um caderno, me dei conta da responsabilidade que assumi comigo mesmo em 2010. Já era a terceira agenda que iria usar.

Publico um artigo por dia, mas tem dias que escrevo mais de um. E antes que me perguntem, eu confesso: escrevo primeiro na agenda, depois é que digito. Gosto dessa intimidade com a caneta. Tenho, portanto, um bom estoque no meu almoxarifado.

Gosto de escrever artigos atemporais. Eles ficam por vezes no depósito por longo tempo - aguardando uma oportunidade, ou não, de serem conhecidos. Muitos são abortados, ou ficam somente para os meus olhos.

Já aqueles referentes a fatos atuais exigem uma publicação imediata. Diante da exuberância do nosso dia a dia, são os da preferência para a publicação.

Nesse trabalho de fotógrafo lambe-lambe das coisas da minha cidade, a agenda é um instrumento importante. Ela está sempre debaixo do meu braço nos meus deslocamentos. Sempre anoto na minha inseparável agenda o que vejo de interessante para não esquecer. São meros rabiscos daquilo que será, ou não, convertido em artigo na tela do computador.

Com o preenchimento das duas agendas, me assustei sabendo que terei ainda quase cinqüenta dias para encerrar o ano.

Será que nessa afoiteza de escrever sem parar não pioro a qualidade da produção? É o que às vezes me pergunto. Por isso nem gosto de ler o que já escrevi e publiquei. Tá feito. Mas, sinto uma necessidade acumulada de desabafo que preciso drenar do meu inconsciente. É uma terapia.

Seja qual for o motivo, escrevo. Gosto também saborear uma longa e interminável conversa. Na comunicação escrita uma incompreensão pode originar um desconforto entre o leitor e o autor. Dificilmente uma conversa termina mal, um artigo, por vezes, sim.

Enfim, sinto necessidade e gosto muito de escrever. Escrevendo, discuto antigos problemas crônicos da nossa sociedade, narro o encantamento que a natureza me proporciona, conto casos que presenciei e que achei interessante, falo da beleza ou da feiúra do ser humano – da alma, bem entendido. Escrevo até quando não tenho assunto – caso do presente artigo.

Vou procurar me conter, para não preencher a terceira agenda ainda este ano.


Gabriel Novis Neves (7.5+134)

17-11-2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ASSALTO

Existem vários tipos de assaltos. Fui vítima de um assalto atualmente muito comum na nossa cidade - o assalto comercial. A violência de que fui vítima foi em uma loja dita granfina, localizada na área nobre da cidade, ao lado esquerdo de um hotel cinco estrelas.

Tinha lido e ouvido relatos de vítimas de mais essa violência e nunca pensei que um dia pudesse ser uma delas.

É horrível saber que você está sendo assaltado e que nada possa fazer para garantir os seus direitos, ou que possa muito pouco, ou com a rapidez necessária. O consumidor de um modo geral, e eu me incluo entre eles, é de uma ingenuidade celestial!

Eu acreditava em nota fiscal, prazo de garantia para o produto adquirido, assistência técnica especializada. Acreditava ainda na credibilidade de certas firmas.

Com base naquelas crenças, e por indicação de pessoas entendidas da área, fui a uma loja comprar um aparelho eletrônico. Comprei, fui para casa e ao ligar o aparelho detectei que ele estava com defeito. Voltei à loja para que ela tomasse as devidas providências. Após verificarem o problema no aparelho, fui informado que a loja não possuía assistência técnica e nem autonomia para trocar o aparelho. O certificado de prazo de garantia por um ano terminou no momento da compra. A loja que me vendeu o produto, nada tinha a fazer. A culpa toda foi minha, assim como o ônus do prejuízo.

Que decepção! Acho, ou melhor, tenho certeza de que fui mais uma vítima de propaganda enganosa. Seria tão fácil resolver o meu problema! Era só trocar por outro aparelho novo. Mas não. Certos comerciantes seguem a lei do crime contra o consumidor atraído por lucros pecaminosos.

Sei que estou amparado pelo Código de Defesa do Consumidor. Tenho o direito de exigir um aparelho novo. O PROCOM está aí para isso mesmo. Se registrar uma queixa a firma é notificada. Mas parece que já estou vendo a situação se formando: não haverá acordo na reunião de conciliação e o processo vai para o juizado de pequenas causas. A marcação da audiência provavelmente acontecerá daqui a três meses, se não for adiada. Também não haverá acordo. Resultado: aborrecimentos, aborrecimentos e mais aborrecimentos.

Difícil é ser questionado por um jovem, se vale a pena ser honesto neste país. A resposta é desconfortável, obrigando-me a uma ginástica ética. Geralmente respondo para não seguir os exemplos presentes e para que tenha esperanças de dias melhores, onde pelo menos os direitos do consumidor e do trabalhador serão respeitados.

O assalto comercial sem punição é mais um desserviço à cidadania, vítima do egoísmo da sociedade de consumo nesta aldeia global.


Gabriel Novis Neves (7.5+135)

18-11-2010

domingo, 21 de novembro de 2010

Resultado do jogo

Futebol é um esporte que durante noventa minutos apaixona gente de todo o mundo. Posso afirmar que é um esporte da unanimidade, ou como dizem os locutores esportivos - o esporte das multidões.

Não sei o que mais me atrai no futebol. A sua beleza plástica, a imprevisão do resultado de uma disputa, em que nem sempre o melhor vence, ou a multidão alucinada no estádio de futebol.

A elegância dos atletas, verdadeiros artistas inovando comportamentos com os seus visuais em campo. O tempo de idolatria a um jogador de futebol pode terminar em segundos.

Diante de tanta emoção que uma partida de futebol me oferece, não sei hoje o que mais me fascina: se a paixão ou a surpresa do resultado do jogo.

Os árbitros dos jogos de futebol estão produzindo tantos resultados que não sei não. Temo pelo futuro desse esporte.

Na Copa do Mundo da África, falhas do árbitro mudaram países para a competição. Aqui no Brasil a situação é grave. É difícil em uma rodada do campeonato nacional não acontecerem falhas fazendo o resultado do jogo.

O meu Botafogo é o time que menos perdeu neste campeonato. Não será campeão; dos inúmeros empates que acumula, pelo menos cinco foram conquistados pelos árbitros.

O futuro campeão será aquele escolhido pelos árbitros. Creio que se não inovar em tecnologia da arbitragem o futebol desaparecerá.

A evolução do futebol fora do campo avançou muito em organização e principalmente preparo físico e técnico dos nossos atletas.

No campo a decisão ainda se faz por métodos medievais, por pura teimosia dos dirigentes da FIFA. Pelo amor ao futebol - introduzam tecnologia às decisões das arbitragens!

Atualmente, a grande atração na segunda-feira não é mais as jogadas geniais do futebol e, sim, erros absurdos das arbitragens produzindo o resultado dos jogos.

Sem tecnologia em campo, o futebol será mais uma paixão perdida neste mundo sem fantasias.


Gabriel Novis Neves (7.5+131)

14-11-2010

sábado, 20 de novembro de 2010

CIDADE GRANDE

Cuiabá é hoje uma cidade grande. Muito longe de ser aquela do Arraial do Senhor Bom Jesus. A cidade “agarrativa e linda” do poeta Dom Aquino Correa, infelizmente, não existe mais.

A cidadezinha do interior onde nasci - pacata, amiga, calorosa, tranquila - pegou todos os vícios da cidade grande onde estudei - Rio de Janeiro.

Lembro-me do receio dos antigos quando o assunto era ferrovia. Os velhos temiam que a invasão da cidade por “gente de fora”, fosse acabar com o isolamento deste paraíso perdido.

Os engarrafamentos de trânsito eram tão distantes da nossa realidade, que nunca foi preocupação para os habitantes de Cuiabá. Levo às vezes quarenta minutos de carro para chegar ao local do meu trabalho, próximo a minha casa - coisa de cidade grande.

Os pontos turísticos da cidade foram transformados em locais de comercialização de drogas - coisa de cidade grande.

Fio de bigode não representa mais palavra com firma reconhecida em cartório - coisa de cidade grande.

A honra atacada não é mais lavada com o sangue do caluniador e sim com um encontro em qualquer churrascaria - coisa de cidade grande.

Os desvios de conduta e comportamento são considerados atitudes normais - coisa de cidade grande.

A violência generalizada, com destaque às cometidas contra crianças e idosos, nem curiosidade desperta - coisa de cidade grande.

Bairros inteiros residenciais com os seus quintais de mangueirais estão sendo transformados em paliteiros de abrigo humano - coisa de cidade grande.

O medo das pessoas em morar numa cidade campeã brasileira em arrombamentos de caixas eletrônicos da Caixa Econômica Federal - coisa de cidade grande.

A aceitação de toda sorte de crimes modernos, ou da moda, pela população local - coisa de cidade grande.

Com tanta semelhança com a cidade grande, não reconheço mais a minha cidadezinha da primeira metade do século vinte.

Fico pensando: como é caro o preço que pagamos pelo progresso! Posso até estar sendo incompreendido por aqueles que não conviveram com a sedução da Cuiabá antiga.

Como herança daquilo que perdemos para o progresso, ficamos com o céu estrelado e o sol escaldante aquecendo e iluminando as águas do rio Cuiabá - que não é de cidade grande.


Gabriel Novis Neves (7.5+134)

17-11-2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Inacreditável

Chineses constroem hotel de quinze andares em seis dias!

Vídeo registrou o processo de construção na cidade de Changsha, no centro da China. Eles levaram dois dias para erguer a estrutura e mais quatro para fazer o acabamento.

A estrutura do Ark Hotel, segundo os construtores, é preparada para suportar um terremoto de magnitude 9. Ele foi totalmente feito com material pré-fabricado - ou seja - as partes foram construídas em outros locais e apenas montadas no lugar da construção.

A estrutura é à prova de som e tem isolamento térmico. Os construtores afirmam que ninguém ficou machucado no processo.

Reproduzi esta notícia que está na internet para animar o nosso pessoal com relação às obras para a Copa do Mundo em Cuiabá. Estamos praticamente em 2011 e providências para cumprir com o rigoroso cronograma da FIFA foram discretas.

Lembro-me da criação da AGECOPA pelo Estado, de uma secretaria da Copa pelo Município e da visita do pessoal da FIFA cheio de elogios ao nosso avanço no cronograma. O projeto arquitetônico da nossa Arena Pantanal é o mais bonito do Brasil e um dos melhores do mundo. Isso ouvi antes das eleições.

As notícias atuais não são muito animadoras. O presidente da AGECOPA pediu demissão do cargo, motivada por divergências da diretoria e até hoje está sem substituto. Logo, esse cargo não era necessário.

A prefeitura acabou com a sua secretaria da Copa por absoluta desnecessidade. De prático o que temos é a demolição do Verdão, a suspensão pelo Tribunal de Contas do Estado de duas avenidas que dão acesso ao ex-Verdão e algumas notícias com relação à ampliação do nosso aeroporto.

Quando se fala em recursos para obras, a prefeitura de saída foi muito honesta: não temos. Os governos estadual e federal sempre se referem no futuro quando o assunto é grana e grossa.

O que aconteceu até agora foram com recursos do tesouro do Estado: pagamento do projeto arquitetônico, demolição do Verdão e o custeio da AGECOPA.

Sou um otimista, e lendo a notícia da China, acho que só temos um probleminha para arrumar Cuiabá para a Copa. Conseguir milhões de euros com os nossos empresários e contratar essa firma coelho de construção de Changsha. É bom não contar com dinheiro do Estado e, principalmente, do governo Federal. Já estouramos também a nossa cota de empréstimos bancários.

O que ontem parecia inacreditável para mim, hoje é uma realidade. Todas as obras exigidas pela FIFA, com grana grossa, poderão ser realizadas em quarenta dias com essa firma chinesa.


Gabriel Novis Neves (7.5+130)

13-11-2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

POR ACASO

Carlos Chagas escreveu que a República foi proclamada por acaso. Conversando anos atrás com meu historiador predileto, o saudoso Rubens de Mendonça, fiquei conhecendo um pouquinho da História do Brasil e de Mato Grosso - não encontrada nos livros escolares.

Naquela ocasião, após ouvir o relato do historiador-amigo, perguntei: também foi por acaso?

Pacientemente, e sorrindo, respondia Rubens de Mendonça: “sim.”

A história da Proclamação da República está muito ligada a Cuiabá. O futuro primeiro presidente da República, então tenente do Exército, por acaso começou a construir a sua história aqui.

Deodoro da Fonseca casou-se em Cuiabá. O seu casamento foi por acaso. Sua futura esposa não era a sua namorada. Seu casamento aconteceu para salvar a honra da sua cunhada. Segundo Rubens de Mendonça, o cenário do casamento foi o antigo casarão existente na Rua Cândido Mariano ao lado da igreja da Nossa Senhora da Boa Morte. Deodoro não teve filhos, segundo alguns por castigo em não ter se casado com a mulher que amava.

Deodoro participou da Guerra do Paraguai. Mato Grosso com a sua imensa fronteira com o Paraguai ficou sob a sua proteção. Os paraguaios invadiram o nosso Estado, chegando próximo a Cuiabá.

O Brasil ganha a guerra. Mato Grosso, um herói nacional - o tenente poconeano Antonio João Ribeiro.

Deodoro, doente, morava em uma casa de sobrado, no Rio de Janeiro, próximo ao Ministério da Guerra.

O secretário-geral do Ministério da Guerra era o marechal Floriano Peixoto, que também serviu em Cuiabá. Ouro Preto, líder republicano, quis conquistá-lo para derrubar o Império e ouviu um não do militar legalista, também herói da Guerra do Paraguai.

O movimento republicano crescia, e para o sonho da república ser realizado era necessária a figura de um herói nacional com patente militar para dar voz de prisão aos seus inferiores hierárquicos.

Deodoro foi então procurado no seu sobradinho. Estava em grave crise de bronquite asmática, mal podendo respirar. Os líderes republicanos, liderados por Benjamim Constant, convenceram o velho herói a ir até a praça em frente ao Ministério da Guerra.

Uma multidão o aguardava para o ato solene da proclamação da República - disseram ao Marechal.

Na verdade, no dia 14 de novembro um regimento e dois batalhões sediados em São Cristovão ocupavam o Campo de Santana, em frente ao prédio do Ministério da Guerra.

O Marechal é retirado do sobrado em que morava, colocado no lombo de um cavalo e levado pelos republicanos até a praça onde foi recepcionado calorosamente pelos militares acampados. Não havia populares, muito menos operários nas proximidades.

Os republicanos gritavam “Viva Deodoro!” e o Marechal dispnéico agradeceu - “Viva a República!” - segundo Rubens de Mendonça.

O Imperador foi preso no Paço da Quinta da Boa Vista com a família e teve 48 horas para deixar o Brasil rumo ao exílio.

A República estava proclamada e o seu primeiro presidente foi o marechal Deodoro da Fonseca.

Parece que tudo na vida de Deodoro, assim como na História do Brasil, foi por acaso.


Gabriel Novis Neves (7.5+132)

15-11-2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sincero e singelo

A Medicina é uma ciência centrada em membrana, citoplasma e núcleo. Este conjunto de três palavras tem o nome de célula, que é a origem da vida.

O crescimento da célula se faz pela divisão e soma. Lindo ensinamento de biologia aos nossos economistas! Para se desenvolver é preciso primeiro dividir e depois somar.

Alguém disse o contrário: primeiro somar para depois dividir. Resultado? O Brasil frequentou a zona de rebaixamento para a divisão dos países mais pobres do mundo!

Ah! Como seria bom, se seguíssemos os ensinamentos da Natureza!

Continuando com a célula. Ela se transforma seguindo os métodos matemáticos da Natureza, dentro de um banco inviolável, chamado de útero.

Após nove meses de investimentos, recebemos o retorno da aplicação. No caso de humanos - o senhor feto! Masculino ou feminino produzido pela Natureza.

Aquela solitária célula fecundada, agora é feto e continuará o seu projeto de crescimento e desenvolvimento de forma ordenada, chegando ao senhor cidadão.

Infelizmente poderão acontecer acidentes nesse percurso, especialmente quando a Matemática da Natureza resolve crescer de forma desordenada. Chegaremos ao tumor e não ao cidadão. A vida - interrompida. É a vida.

Como cidadão o nosso passado é uma obra perfeita de engenharia genética, tratada e cuidada com os valores que recebemos em casa.

O presente é responsabilidade agora daquela pequena célula, que um dia recebeu o sopro da vida. O futuro será uma conseqüência, que um dia irá se exaurir. Depois é depois, respeitando todas as crenças.

Simples explicação para, em poucas linhas, abordar o mais complexo dos temas, que é a vida e a morte.

Escrevi um artigo - “Conversa Espiritual.”

Um amigo especial, meu educador sociológico, compadre várias vezes - que até parente viramos - surpreendentemente me escreve sobre - “Conversa Espiritual.”

Ele é das Gerais e morador do mundo. Intelectual erudito tem luz própria. Erudição adquirida, não na mais famosa universidade.

Graduado nas Gerais veio para cá atraído pelas propostas do “Movimento Novo Mato Grosso”, de Pedrossian.

Foi o responsável, juntamente com outros colegas, pela ocupação das glebas cacerenses. A sua experiência nessa área era imbatível.

Com orgulho se intitula sociólogo do mato. É um mineiro com toda a carga genética do seu povo, rica em cromossomos da literatura, artes, política e tradições.

O que me encantou na correspondência eletrônica do meu velho mestre, que Deus colocou ao meu lado no início da minha carreira de homem público, foram as suas impressões sobre o meu artigo.

Disse-me o mestre João Vieira:

- O seu relato tão sincero e singelo!- palavras mágicas que me levaram ao êxtase, vindas de quem veio.

Peço licença ao leitor para falar um pouquinho de mim. Sempre procurei ser conhecido, não reconhecido, como um homem sincero e singelo. Procurei sempre pautar pela sinceridade os meus atos – um dos valores repassados pelos meus pais. Adotei um estilo de vida simples - herança da minha criação.

Com a alma cheia de reconhecimento ao meu mestre, é inevitável o aparecimento das recordações. Tantas e tantas recordações! A maioria, agradáveis recordações!

Certa ocasião ele percebeu a minha preocupação com a implantação da universidade (UFMT). Discretamente ficou a minha espera próximo ao meu carro - um elegante “Pé de Boi” (apelido dado ao Fusca mais barato existente no mercado).

Ao abrir a porta do motorista, vejo na porta do carona, o professor Vieira pedindo carona. Falei para ele entrar. Seu destino era um pequeno hotel que ficava no trajeto da minha casa.

Durante a viagem de automóvel não trocamos nenhuma palavra. Ao desembarcar ele falou:

- O professor está preocupado.

Respondo com o movimento da cabeça em sentido vertical. E ele prossegue:

- Dirigir cérebros é tarefa difícil, medíocres é fácil. A História lhe escolheu para esse papel - administrar gênios. Boa noite e obrigado pela carona.

Devo confessar que essas palavras ditas pelo meu mestre, me acompanharam pela vida toda. Confesso também que fiquei agradecido e enternecido. E é exatamente assim que me sinto neste momento.

Acabo de receber o troféu que sempre quis ganhar:

“Sincero e singelo.”


Gabriel Novis Neves (7.5+118)

11-11-2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

COMPLETANDO TEMPO

Não sei qual o motivo que leva certas pessoas a esconder o tempo vivido - chamado de idade. Sempre gostei de mostrar o meu relógio biológico do tempo vencido, com ano, mês e dia. Assim procedendo, evito o aborrecimento de dar respostas a certas perguntas. Conheço as principais perguntas feitas pelos curiosos da idade alheia, que vão da trivial até a mais intimista.

- Gente, como você está bem para a sua idade! Nem parece que está chegando aos oitenta! Também pudera! A sua família dos dois lados é de gente que vive muito, não é? Parabéns! Mas não se esqueça dos médicos, remédios, dietas, exercícios e não abuse.

Ou então:

- Você está acabado! Nem parece com aquele dos tempos da mocidade! A saúde vai bem? Algum problema sério com a família ou nos negócios? Você não pode se entregar. Veja o caso do Juvenal da padaria. Estava pior que você, deu a volta por cima e parece que vai até se casar.

E também tem aquela clássica:

- Afinal, qual a sua idade verdadeira?

Por aí vai a bisbilhotice sem fim.

Decidi assinar os meus artigos com informações de utilidade pública para os “Fuxiqueiros”: a minha idade.

Pensei que estava sendo original, mas, para minha surpresa, descobri que muita gente faz isso.

Recebi de uma amiga das Gerais um recente e-mail anunciando que o seu relógio biológico está vencendo mais um tempo. Comunicou-me a sua nova idade, assim, de forma bem espontânea. Eu não perguntei nada!

Quando as mulheres espontaneamente declaram a sua idade, me fazem lembrar minha mãe perante um fato inusitado: “Os tempos são outros, meu filho!” Na ausência da minha mãe completo com convicção – “e para melhor”.

Este gesto é apenas um pequeno sinal onde a hipocrisia de esconder a idade está com o seu reinado e dias contados. As falsas identidades produzidas por bisturis e medicamentos, em declínio.

Finalmente parece-me que as pessoas resolveram vestir-se com o manto da sua história de vida real. Este gesto foi apenas um aceno, mas me deixou esperançoso.

Como é bom completar o tempo real de vida, sem valorizar os desnecessários e artificiais “truques tecnológicos”!

“Completando tempo” não é um castigo da natureza. Para mim soa como uma dádiva.

Parabéns, corajosa pioneira! Libertária soldada da quebra de paradigmas!


Gabriel Novis Neves (7.5+113)

06-11-2010