quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Comparação

No século passado nossos educadores ensinavam que um erro não justifica outro. Mas, isso era coisa do século passado. O mundo evoluiu, e muito.

Não existe mais a crença de comunistas que comiam criancinhas. O muro de Berlim foi derrubado. O partidão é sigla dos milionários. A Europa tem uma moeda mais valorizada que o dólar. Os Estados Unidos são governados por um negro com doutorado em Harvard. O Brasil não é mais campeão do mundo em futebol. O homem, após a conquista da lua, brinca no espaço. As guerras continuam, agora com tecnologia de ponta. Não existem mais tropas de cavalaria. A religião apresenta tantas subdivisões que nem o Google é capaz de fornecer com exatidão o número delas. Também é muito fácil abrir uma igreja. Não existe burocracia alguma. No século XXI é comum homem casar com homem e mulher casar com mulher e adotarem uma criança como filho.

Só não mudou do século passado para cá a conduta dos nossos políticos, tão bem retratada na modinha musical Caixinha, de Juca Chaves.

Um erro não justifica o outro. A modernidade também deixou sua marca nesse velho ditado. Conseguiu, “à força” de muitas maracutaias, transformá-lo em: eu roubei, mas quem não rouba? O Brasil virou uma república (!) onde tudo é permitido politicamente. Não se defende mais a honra atingida por uma calúnia. Lança-se outra calúnia sobre o adversário. Aliás, alguém ainda se lembra o que vem a ser honra política?

Este é o país que construímos e que deixaremos de herança às futuras gerações. O reinado da promiscuidade de costumes e do trato do dinheiro público como privado. Tudo é permitido neste país tropical!

A comparação de erros como defesa é simplesmente insustentável. Antes do advento das comparações, as defesas eram mais explícitas e contundentes. Quem não se lembra do Rouba, mas faz? Ou de outra mais recente: Estuprar pode. Matar não. O “Nada a declarar” dos governos militares foi substituído pelo atual – “Eu não sabia de nada”.

Quando alguém é flagrado participando de um delito, não se preocupa em se defender. A moda é comparar com algum delito cometido por outros. Essa estratégia das nossas autoridades de não esclarecimento das dúvidas da população e o uso da comparação deixa a seguinte impressão: todos os políticos são bandidos. Tudo farinha do mesmo saco.

Queremos esclarecimentos e não comparações. Somos roubados nas privatizações, na cumplicidade com bancos falidos, nos precatórios, nas concorrências públicas ou pregões, e o pior, com o dinheiro sujo sendo transportado, em meias, cuecas, bolsas, quando não levado para o exterior. Nós só sabemos que estamos sendo roubados de maneira deslavada e sem o mínimo pudor.

A forma como concessões políticas são feitas nesta nação, não sei não... O Estado brasileiro corre o risco de se transformar num verdadeiro aparelho político com duzentos milhões de passageiros. Perdurando esse quadro cinzento de comparações, serei levado a crer que este país estará politicamente condenado à morte.

Ah! Mundo cão esse de comparações!


Gabriel Novis Neves (7.5 + 34)

09-08-2010

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