quinta-feira, 18 de novembro de 2010

POR ACASO

Carlos Chagas escreveu que a República foi proclamada por acaso. Conversando anos atrás com meu historiador predileto, o saudoso Rubens de Mendonça, fiquei conhecendo um pouquinho da História do Brasil e de Mato Grosso - não encontrada nos livros escolares.

Naquela ocasião, após ouvir o relato do historiador-amigo, perguntei: também foi por acaso?

Pacientemente, e sorrindo, respondia Rubens de Mendonça: “sim.”

A história da Proclamação da República está muito ligada a Cuiabá. O futuro primeiro presidente da República, então tenente do Exército, por acaso começou a construir a sua história aqui.

Deodoro da Fonseca casou-se em Cuiabá. O seu casamento foi por acaso. Sua futura esposa não era a sua namorada. Seu casamento aconteceu para salvar a honra da sua cunhada. Segundo Rubens de Mendonça, o cenário do casamento foi o antigo casarão existente na Rua Cândido Mariano ao lado da igreja da Nossa Senhora da Boa Morte. Deodoro não teve filhos, segundo alguns por castigo em não ter se casado com a mulher que amava.

Deodoro participou da Guerra do Paraguai. Mato Grosso com a sua imensa fronteira com o Paraguai ficou sob a sua proteção. Os paraguaios invadiram o nosso Estado, chegando próximo a Cuiabá.

O Brasil ganha a guerra. Mato Grosso, um herói nacional - o tenente poconeano Antonio João Ribeiro.

Deodoro, doente, morava em uma casa de sobrado, no Rio de Janeiro, próximo ao Ministério da Guerra.

O secretário-geral do Ministério da Guerra era o marechal Floriano Peixoto, que também serviu em Cuiabá. Ouro Preto, líder republicano, quis conquistá-lo para derrubar o Império e ouviu um não do militar legalista, também herói da Guerra do Paraguai.

O movimento republicano crescia, e para o sonho da república ser realizado era necessária a figura de um herói nacional com patente militar para dar voz de prisão aos seus inferiores hierárquicos.

Deodoro foi então procurado no seu sobradinho. Estava em grave crise de bronquite asmática, mal podendo respirar. Os líderes republicanos, liderados por Benjamim Constant, convenceram o velho herói a ir até a praça em frente ao Ministério da Guerra.

Uma multidão o aguardava para o ato solene da proclamação da República - disseram ao Marechal.

Na verdade, no dia 14 de novembro um regimento e dois batalhões sediados em São Cristovão ocupavam o Campo de Santana, em frente ao prédio do Ministério da Guerra.

O Marechal é retirado do sobrado em que morava, colocado no lombo de um cavalo e levado pelos republicanos até a praça onde foi recepcionado calorosamente pelos militares acampados. Não havia populares, muito menos operários nas proximidades.

Os republicanos gritavam “Viva Deodoro!” e o Marechal dispnéico agradeceu - “Viva a República!” - segundo Rubens de Mendonça.

O Imperador foi preso no Paço da Quinta da Boa Vista com a família e teve 48 horas para deixar o Brasil rumo ao exílio.

A República estava proclamada e o seu primeiro presidente foi o marechal Deodoro da Fonseca.

Parece que tudo na vida de Deodoro, assim como na História do Brasil, foi por acaso.


Gabriel Novis Neves (7.5+132)

15-11-2010

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