terça-feira, 30 de novembro de 2010

DESACOSTUMAR

De uns tempos para cá venho vivendo um processo de desacostumar. Nada de grave ou importante. Simplesmente estou percebendo que não faço mais muitas das coisas que estava acostumado a fazer.

O Brasil também está assim - vítima do progresso. O meu desacostumar é mais emocional e cultural.

Estava acostumado a andar de bondes, ônibus e lotações. Fui obrigado a me acostumar com os elevados e metrôs subterrâneos. Agora terei de me acostumar com os metrôs de superfície e o trem bala.

Aquela farra que era ir do Rio de Janeiro para São Paulo nas cabines do trem noturno da Central do Brasil virou história, assim como os ônibus voadores de dois andares da Viação Cometa.

Aos domingos estava tão acostumado com os jogos no Maracanã! Fechado para sofrer as reformas da Copa, o Estádio de Futebol será reinaugurado como Arena Multiuso. Tenho que me acostumar sem o Maracanã - Templo do Futebol.

Fico imaginando alguém convencer o Mané Garrincha a disputar uma partida de futebol em uma Arena Multiuso!

São tantas as situações novas surgindo que o melhor que faço é me desacostumar de tudo aquilo a que estava acostumado.

No momento, treino para me acostumar a chamar o Presidente da República de senhora e, se depender do seu gosto, de Presidenta.

Desacostumei-me de morar em casas por causa da violência. De assistir a missa aos domingos na igrejinha do bairro onde moro por falta de sacerdote. De utilizar as calçadas das ruas como centro de diversões, onde os adultos conversavam sentados nas cadeiras de balanços e as crianças jogavam botões.

Desacostumei-me de ficar sentado por longas horas no banco da praça esperando aquela menina passar.

Desacostumei-me e me acostumei a viver no mundo da competição, globalização, do ter e não do ser. Na banalização dos símbolos mais nocivos às crianças, como o laptop da ex- rainha dos baixinhos.

Desacostumei-me de seguir a maioria com os valores permanentes da nossa cidadania.

Estou desacostumado inclusive de viver entre humanos.

Entretanto, nunca irei me entregar aos demônios e desacostumar-me de ser gente acostumada com as boas causas da vida.


Gabriel Novis Neves (7.5+113)

06-11-2010

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