sábado, 20 de novembro de 2010

CIDADE GRANDE

Cuiabá é hoje uma cidade grande. Muito longe de ser aquela do Arraial do Senhor Bom Jesus. A cidade “agarrativa e linda” do poeta Dom Aquino Correa, infelizmente, não existe mais.

A cidadezinha do interior onde nasci - pacata, amiga, calorosa, tranquila - pegou todos os vícios da cidade grande onde estudei - Rio de Janeiro.

Lembro-me do receio dos antigos quando o assunto era ferrovia. Os velhos temiam que a invasão da cidade por “gente de fora”, fosse acabar com o isolamento deste paraíso perdido.

Os engarrafamentos de trânsito eram tão distantes da nossa realidade, que nunca foi preocupação para os habitantes de Cuiabá. Levo às vezes quarenta minutos de carro para chegar ao local do meu trabalho, próximo a minha casa - coisa de cidade grande.

Os pontos turísticos da cidade foram transformados em locais de comercialização de drogas - coisa de cidade grande.

Fio de bigode não representa mais palavra com firma reconhecida em cartório - coisa de cidade grande.

A honra atacada não é mais lavada com o sangue do caluniador e sim com um encontro em qualquer churrascaria - coisa de cidade grande.

Os desvios de conduta e comportamento são considerados atitudes normais - coisa de cidade grande.

A violência generalizada, com destaque às cometidas contra crianças e idosos, nem curiosidade desperta - coisa de cidade grande.

Bairros inteiros residenciais com os seus quintais de mangueirais estão sendo transformados em paliteiros de abrigo humano - coisa de cidade grande.

O medo das pessoas em morar numa cidade campeã brasileira em arrombamentos de caixas eletrônicos da Caixa Econômica Federal - coisa de cidade grande.

A aceitação de toda sorte de crimes modernos, ou da moda, pela população local - coisa de cidade grande.

Com tanta semelhança com a cidade grande, não reconheço mais a minha cidadezinha da primeira metade do século vinte.

Fico pensando: como é caro o preço que pagamos pelo progresso! Posso até estar sendo incompreendido por aqueles que não conviveram com a sedução da Cuiabá antiga.

Como herança daquilo que perdemos para o progresso, ficamos com o céu estrelado e o sol escaldante aquecendo e iluminando as águas do rio Cuiabá - que não é de cidade grande.


Gabriel Novis Neves (7.5+134)

17-11-2010

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