segunda-feira, 30 de abril de 2012

SENTI FALTA


Sei que o ano está terminando quando recebo o boleto do Cemitério Parque Bom Jesus de Cuiabá.
Depois que fiquei viúvo, essa tarefa foi mais uma, dentre tantas, que assumi. Esse documento chegava sempre na primeira semana de dezembro, e, até meados de fevereiro, não tinha aparecido. Senti falta do boleto de cobrança.
Fiquei imaginando os mais variados motivos para justificar a sua ausência: mudança na administração, extravio da correspondência, ou, quem sabe? - de ter ficado livre da cobrança por usucapião da pequena área de sete metros de profundidade - coisa que a olho nu não bate com o que se diz.
Ora bolas! - pensei. Que bobagem essa de sentir falta de uma cobrança regular! Era mesmo só o que me faltava!
Lembrei-me dos tempos de estudante de fisiologia do curso de Medicina. Meu professor, Thales Martins, nos encantou com uma aula sobre reflexos condicionados.
Em 1904 o cientista russo Pavlov obteve o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina por ter descoberto o reflexo condicionado. 
Para recordar, o professor quis contradizer, cientificamente, que não é o traje que faz o monge, mas, a repetição de um ato.
É a história do cachorro, do pedaço de carne e da campainha. Durante meses Pavlov tocava uma campainha e oferecia um pedaço de carne ao seu cachorro. Depois de algum tempo, no horário habitual, tocou a campainha e não ofereceu a carne. O cachorro salivou e Pavlov ganhou o Nobel de Medicina, prêmio nunca conquistado por um brasileiro. As experiências continuaram com humanos e ficou provado que, tanto os animais irracionais como os racionais, desenvolvem o reflexo.
As reações do reflexo são as mais imprevisíveis possíveis, entrando seus conhecimentos pela sofisticada área das neurociências, com os seus apêndices.
Quando a minha acompanhante chegou para me fazer companhia no turno da noite, ao abrir-lhe a porta perguntei a ela se estávamos já no ano novo.
A pobre senhora, assustada, quis saber se eu estava passando bem. Balancei a cabeça em sinal afirmativo.
Há quarenta anos morando em casa de médico, ouvindo conversa de médico e recebendo queixas telefônicas de clientes, não é uma leiga no assunto.
Fez as clássicas perguntas pra testar a minha capacidade mental. Perguntou o meu nome, profissão, endereço, número do telefone de casa e o último ano em que o Botafogo tinha sido campeão. Eu respondi a todas com acerto.
Mais calma, mostrei-lhe então, com alegria compartilhada, a chegada do boleto do Cemitério Parque Bom Jesus de Cuiabá. Sendo minha sócia nesse empreendimento e sabedora do atraso desconfortante, expliquei-lhe que fomos vítimas do reflexo condicionado.
Passei o resto da noite explicando a história do cachorro, da campainha, da carne e da falta que senti do boleto com o atraso da cobrança.

Gabriel Novis Neves
20-03-2012

sábado, 28 de abril de 2012

Pergunta indiscreta


Muitos me perguntaram por que não aproveitei a recente cirurgia que fiz no nariz para uma repaginação geral.
Repaginação, em termos estéticos, significa a correção cirúrgica das marcas do tempo no nosso corpo, especialmente da parte mais exposta que é o rosto, ou era, não sei mais - depois das fantasias de pintura do corpo nu durante o carnaval.
Como se a retirada das bolsas palpebrais inferiores, da queda das pálpebras superiores, das rugas da testa, das papadas submaxilares, do afinamento dos lábios, do pescoço sanfonado, da perda de gordura das regiões malares e a incrível sobra de pele no rosto, pudesse restituir a juventude.
Estou com o jornal aberto na página social. Noventa e nove por cento das mulheres que frequentam as páginas sociais, e são consideradas destaques, já passaram pelo bisturi de um cirurgião plástico, fazem dermatologia estética, massagens, e tantas outras novidades para tentar recuperar um tempo que passou e com o qual elas não se conformam.
Na vida tudo passa. Inclusive a bandinha do Chico Buarque - e é tão bonito lembrar-se dela na voz da Nara Leão.
Aposto que ninguém nunca pensou em modernizar a banda do Chico, com música eletrônica e bailarinas do Ratinho. Ficaria horrível, com certeza.
Analiso no jornal fotos de um grupo de senhoras. Todas apresentam sequelas do bisturi da juventude.
A fisionomia delas é cirúrgica. Democraticamente, um bom cartão bancário deixou a todas praticamente iguais e artificiais.
Uma sugestão gratuita para essa gente: durante a sessão de fotos, não acreditem na conversa dos fotógrafos que ficam a pedir sorrisos naturais. Tudo que ficou no rosto é artificial.
O sorriso prejudica todo o conjunto. A retirada de pele excedente, preenchimentos com produtos químicos, placas de silicone e o uso indiscriminado do popular botox, faz com que, sorrindo, toda essa estrutura de embelezamento seja repuxada, deixando as sorridentes plastificadas com olhos orientais, com diminuta abertura visual.
Os lábios, fonte inspiradora de poetas, compositores, boêmios e de cantores, como o Orlando Silva em seu imortal Lábios que Beijei , são transformados em estruturas rígidas, verdadeiros lábios que ninguém beijará.
A testa, que nada mais é que a região frontal, onde aprendemos a fazer o sinal da cruz, é transformada, pela ilusão do rejuvenescimento, em verdadeiras pistas de dança no gelo.
Mulheres bonitas são transformadas em mulheres caricatas, sem ao menos possuir um elo com o passado, como se isso fosse possível.
Voltando ao meu caso. Diante das perguntas e das censuras por não ter aproveitado a oportunidade para ficar mais jovem, respondi que, se fizesse a tal repaginada, estaria jogando no lixo do esquecimento a história do meu envelhecimento.
Conto depois com detalhes - a quem se interessar - o significado e a origem de cada marca que o tempo deixou estampada em meu rosto.
Continuarei como estou. Quero morrer virgem da vaidade artificial.

Gabriel Novis Neves
04-03-2012

APAGÃO VISUAL


Sem planejar fiz um tour pelo centro de Cuiabá, hoje chamado de Histórico, e tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural da União.
Nunca poderia imaginar que a casa onde nasci, na Rua de Baixo, depois de transformada em um salão comercial, pudesse ser patrimônio histórico e cultural da minha querida cidade natal.
 Visitei a “maternidade” em que nasci.
Naquele quintal meu pai cavou um buraco e enterrou a companheira, mais conhecida hoje pelo nome de placenta.
Estudando ciências naturais, comecei a entender as coisas, e como achava indecente falar placenta ou companheira enterrada, passei a usar muito a expressão meu umbigo, que é um pedaço do cordão umbilical que fica amarrado no abdome das crianças.
Cai espontaneamente, quando um ritual é preparado, para proteger os recém-nascidos.
O local no qual vivi até os dez anos é hoje um imenso salão comercial.
Procurei a escada da sala de visitas, o quarto do meu nascimento, em cujas janelas frequentemente me sentava, o banheiro no quintal, as plantas, o lugar do jogo de botões. Tudo havia sido demolido, aterrado e nivelado, para as suas novas funções.
Pedaço de mim estava perdido e nem um lugar havia onde os antigos marcavam simbolicamente o início da nossa vida terrestre. O cimento tinha encoberto sonhos e fantasias daquela criança.
Com orgulho juvenil sempre repetia, para demonstrar meu amor por Cuiabá: - “Meu umbigo está enterrado na terra sagrada deste quintal!”
Continuo a minha caminhada, lembrando-me das personalidades que construíram esta civilização. Encontrei escombros de casas de arquiteturas coloniais em estado de decomposição.
Vi há pouco imagens daquilo que fizeram em Hiroshima há sessenta anos.
O centro de Cuiabá é uma Hiroshima do desleixo e desinteresse de várias gerações de cuiabanos de tchapa e cruz que nada fizeram para salvar o nosso DNA arquitetônico.
Exemplos bons devem ser copiados, mas não tivemos a visão do nosso vizinho Estado de Goiás que, sabiamente, preservou a sua cidade histórica e construiu uma moderna capital, visando o futuro.
Não temos aqui nem uma coisa nem outra.
Descaracterizamos o nosso passado e não construímos o futuro para o mundo contemporâneo.
O grande centro de vivência, que era o centro de Cuiabá, parece uma cidade de garimpo novo sem planejamento, leis e segurança.
A principal e histórica Praça Alencastro, durante o dia, é lugar de comércio extremamente perigoso. À noite, centro de prostituição e venda de drogas. Além de albergue para os dependentes químicos.
Em Paris os brasileiros sentem orgulho, quando os guias turísticos mostram onde mora o Chico Buarque.
Em Cuiabá não existe uma placa ou marco, mostrando onde nasceu o único presidente da República cuiabano que, para quem não sabe, tinha o nome de Eurico Gaspar Dutra.
Centro Histórico sem história, terreno fértil para o endeusamento de muitos equívocos históricos derramados nesta santa terra de Rondon, conhecido, aqui, como Cândido Mariano.
Senti um apagão visual, ao verificar a ausência dos antigos casarões cuiabanos onde cada parede de terra era um pedaço da nossa história.
Infelizmente o nosso Centro Histórico é uma imensa sequência de estacionamentos de veículos. Virou uma cidade garagem.
Foi o mais triste apagão visual de que me recordo haver presenciado.
Vândalos não respeitaram nem a placa de bronze que um dia indicou que, naquele casarão da Rua do Campo, funciona a Academia Mato Grossense de Letras, e o Instituto Histórico e Geográfico de MT. Para resolver essa falta de respeito com o nosso passado, o governo planeja acabar com a paupérrima Secretaria de Cultura.
Sobrará dinheiro para as obras da Copa, é a justificativa.

Gabriel Novis Neves
26-02-2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Mato Grosso está assim


Polícia não prende bandidos menores, educação não ensina, saúde não trata, estradas não transportam, promessas não são cumpridas, pequenos funcionários são castigados com reajustes salariais imorais, as obras da Copa não saem do papel e o secretário é mandado embora.
O crack tomou conta do Estado - arruinado por poderosos protetores -, ninguém mais acredita em avanços e dizem que desse mato não sai cachorro.
A ratazana do poder, precocemente, começa a deixar o barco do governo, que está fazendo água.
Também pudera! Com a dengue fora de controle das nossas autoridades sanitárias, acidentes quase que diários em péssimas estradas superfaturadas e sem fiscalização, além é claro, das recorrentes explosões de caixas eletrônicos, com a apatia dos responsáveis pelo poder.
E o povo, pagando impostos absurdos para bancar esse tipo de retorno.
Brasília esqueceu que somos um dos grandes abastecedores do Tesouro Nacional e nem sequer faz o agrado da nossa cultura política, que é sempre uma nomeaçãozinha de um indicado pelo gestor.
O que vaza para os moradores desta rica região, é a inquietação dos nossos velhos caciques com relação à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Cachoeira.
Dizem que essas investigações chegarão por aqui com força total. Muito político importante não quer nem ouvir falar em Cachoeira da Chapada.
Há um esforço nacional, pois o empresário do Centro Oeste manda em todos os grandes negócios realizados no Brasil, com forte proteção de políticos notáveis.
Entrevistado, o manda chuva de plantão disse que o produto mais simples de adquirir são os portadores de mandatos populares.
Os bandidos continuam assaltando, matando e comercializando abertamente as drogas ilícitas, especialmente a mais destruidora de todas, que é o crack.
Grupo de devotos do milagroso São Benedito! Orai para nos salvar desta catástrofe da incompetência e da falta de compromisso das nossas autoridades para com a nossa gente.
Mato Grosso está assim. Não pode mais continuar assim.

Gabriel Novis Neves
18-04-2012

quinta-feira, 26 de abril de 2012

MANDAR


Certa ocasião visitei o editor do jornal Folha de São Paulo, jornalista Borys Casoy. Fui esclarecer a ele alguns projetos que estávamos tocando na Amazônia que visava a ocupação racional daquela extensa área e pedir o apoio do seu jornal.
Fiz essa peregrinação também em outros importantes órgãos da imprensa nacional: O Globo, do doutor Roberto Marinho e o Jornal do Brasil, da Condessa.
Antonio Callado escreveu um primor de editorial, intitulado Cofre Fechado, onde aumentou as nossas responsabilidades. Dizia que a nossa rica Amazônia só poderia ser conquistada com as chaves do conhecimento para abrir o riquíssimo cofre até então fechado.
Em todos os encontros que tive ficou claro o óbvio: só manda quem sabe fazer.
Aqui na selva, Ceremecê, o grande chefe xavante, repetia ao seu grupo que ninguém ensina o que não sabe.
Borys me contou que a Folha era uma empresa jornalística familiar, mas, para alguém da família assumir alguma função, tinha que cumprir uma série de metas.
Dentre elas: fazer o curso de graduação em jornalismo ou administração, onde apenas duas faculdades eram aceitas – a da USP e Fundação Getúlio Vargas; fazer estágio obrigatório em, pelo menos, dois dos maiores jornais dos Estados Unidos e Inglaterra.
No retorno ao Brasil, com certificado de bom aproveitamento, era então admitido na empresa, não como diretor ou assessor da presidência, mas na recepção, até alcançar o último degrau da hierarquia empresarial.
Isso acontece na iniciativa privada, cujo fracasso é a falência.
Leio nesse mesmo jornal, passado tantos anos desse encontro, a dificuldade que o Senado da República encontrou para designar entre os seus membros um relator para conduzir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Aqueles que foram preparados para a missão, se negam a assumir a responsabilidade de fazer um relatório do julgamento de um Procurador Federal da Justiça, e colega de parlamento.
Sabem que quem sai na chuva se molha e, naquela Casa de Leis, não existem santinhos.
Li a relação daqueles que foram convidados e não aceitaram a missão honrosa. Tive vontade de rir. Quase todos já estiveram envolvidos em processos de ética no exercício do mandato parlamentar.
Outros, mais pragmáticos, não querem sequer ser lembrados. Sabem que o feitiço poderá virar contra o feiticeiro.
Dos membros da Comissão da CPI, dois nomes chamaram atenção dos brasileiros pelo seu passado: Collor de Melo e Jucá! O lider dos caras pintadas é senador, e pertence a esse grupo.
Na vida privada a moeda do sucesso é o conhecimento e a ética. No Congresso Nacional isso é o que menos importa.
Tenho até a impressão que o empresário goiano é tão poderoso, que o senado brasileiro tem receio de julgá-lo e mostrar à nação que está totalmente contaminado pelas águas milagrosas dessa cachoeira que, pelo volume de água, detém grande parte da nossa riqueza hídrica.
Se poucos acreditavam nas comissões de ética - mais política que ética - essa demora na escolha do relator é sugestiva de rabo preso.
Fico pensando que estamos vivendo em plena democracia em país republicano.
Alguém disse que a democracia é a melhor forma de governo para manter as coisas como estão, e republicano ficou reduzido ao nome do partido do Tiririca.
Bom mesmo é viver em Mato Grosso, Estado que só possuía um bandido, que agora mora no sul.
O seu espaço foi ocupado por novos personagens, dizem que, inclusive, da cachoeira que mete medo em senador.
Só manda quem sabe.
Aceitar mandar na CPI do Senado, no caso do senador de Goiás, é missão para quem não sabe.
E quem não sabe, não manda. Sai dessa.

Gabriel Novis Neves
14-04-2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Tempo útil da profissão


Li em uma revista especializada de medicina uma pesquisa realizada por uma universidade americana sobre o tempo útil da profissão de um médico.
Confesso que me surpreendi diante da constatação científica que este tempo é bem curto - contrastando com o longo tempo para preparar o médico para ser colocado no mercado de trabalho.
Certas especialidades, como por exemplo, a neurocirurgia na Alemanha, demora dez anos - após os seis de graduação.
Praticamente esses profissionais iniciam a sua atividade liberal aos trinta e cinco anos de idade. Isso não significa que durante esses anos todos, após a sua graduação, fiquem em um laboratório fazendo experiência em animais. Eles atendem nos hospitais de ensino, fazem cirurgias que, com o decorrer do processo ensino-aprendizagem, ficam cada vez mais complexas - sempre supervisionado por um professor. Só depois estará habilitado a realizar autonomamente as cirurgias.
No Brasil, qualquer especialista é obrigado a fazer três anos das disciplinas básicas (Residência Médica) e mais dois anos para o certificado de especialista em áreas da clínica médica ou cirúrgica. Mestrado e doutorado são, pelo menos, mais quatro anos.
O conhecimento aumentou de tal forma que, em vinte e quatro horas, ele sofre alterações.
Chegamos naquela situação em medicina que cada vez sabemos mais de menos, e o maior prejudicado é o paciente, que é único na sua estrutura psíquica e orgânica.
Continuando com os dados da pesquisa. Os pacientes preferem os médicos na faixa etária dos trinta e cinco a cinquenta e cinco anos.
Os mais jovens passam aos pacientes, segundo a pesquisa, pouca experiência, e os mais antigos, estão com o seu prazo de validade vencido.
Embora o número de médicos esteja em empate técnico com as médicas, as pacientes mulheres preferem os médicos do sexo masculino para tratamento. Dizem que eles transmitem mais confiança.
Diante de alguns fatos aqui citados, tabus são quebrados. Por exemplo: a vida útil de um atleta de futebol é curta. Não confere com a realidade. Muitas estrelas começaram sua carreira profissional com 16/17anos. Ronaldo Fenômeno, com 16 anos, disputou o brasileirão pelo Cruzeiro como titular, e no ano seguinte era astro na Holanda. Participou de quatro Copas do Mundo, está aposentado após vinte anos de muitas lesões.
O Baixinho Romário jogou até aos 40 anos e aposentou-se dos gramados por tempo de serviço.
Poderia citar uma infinidade, incluindo a turma da velha guarda como Nilton Santos, que foi campeão do Mundo no Chile aos 38 anos. E o eterno Pelé que aos 17 anos foi Campeão do Mundo na Suécia.
A vida profissional útil do médico no exercício da medicina está em torno de 20 anos. Trabalham acima das suas possibilidades humanas quando jovens para exercerem outras atividades profissionais, aqui no Brasil.
O profissional de futebol, mesmo não sendo estrela, é tratado com dignidade. O médico não passa de um mafioso e preguiçoso segundo algumas autoridades.
Resultado: enquanto os nossos atletas de futebol são produtos exportados para o mundo todo como preciosidades, o nosso interior não consegue nem contratar um médico. Não por causa de salários extravagantes, mas pelo fato do governo não oferecer o mínimo de condições para esses profissionais trabalharem - logo eles que tanto estudaram para serem úteis à sociedade.
O médico brasileiro hoje é um profissional, totalmente ignorado pelo poder público, que inclusive contratou empresas comerciais (OSS) para fazerem a interlocução com médicos em falta no nosso Estado.
O tempo útil da profissão de médico terá o seu final em breve, com o fechamento das escolas médicas por falta de alunos. A medicina alternativa está em alta e substituirá a hipocratiana.
Outras Arenas surgirão em nosso Estado, sem hospitais.

Gabriel Novis Neves
12-01-2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

DESCRENÇA


Um país que não consegue administrar os seus aeroportos será que tem condições de gerenciar com eficiência projetos mais complexos como os da educação, da saúde e da segurança da sua população?
Não faço parte dos pessimistas e tampouco torcedor do quanto pior, melhor.
Agora, que é preocupante constatar isso, é.
O governo justifica a sua decisão dizendo que o sistema aeroportuário, sempre tocado por eles, chegou à exaustão.
Na iniciativa privada, exaustão é falência.
O governo brasileiro faliu os nossos aeroportos, construídos com o nosso dinheiro, e a solução foi entregar a sua gestão a quem tem competência e está fora da onerosa máquina administrativa chapa branca.
O grupo de empresários que ficou com os três mais importantes aeroportos Guarulhos em São Paulo, Viracopos em Campinas (SP), além de Brasília, estão felizes.
Dizem que fizeram um negócio da China com o incompetente governo e vão ganhar muito dinheiro.
Grande parte dos recursos a serem investidos na modernização e ampliação dos aeroportos adquiridos, virá de recursos do próprio governo, que serão pagos em suaves e longínquas prestações.
Os empresários esperam dos consórcios a obtenção de lucros motivadores para se habilitarem a compra dos outros importantes aeroportos brasileiros.
O governo está apavorado com a chegada da Copa do Mundo, e a falta, ou a vergonhosa situação dos nossos aeroportos, é um verdadeiro cartão negativo de visitas aos turistas do mundo todo.
Cada vez que me lembro da história do nosso aeroporto, chamado de internacional e de bi-citadino, eu fico com a certeza que ele não iria prestar - como diria o jornalista Marcos Antonio Moreira.
Feito às pressas, sem planejamento, tendo na cabeceira da sua pista o único acidente geográfico elevado do pantanal (Morro de Santo Antonio), analiso o poder construtor de um distúrbio gastrointestinal em uma primeira dama, jovem e bonita do Brasil.
A ampliação do aeroporto da diarréia é chamada, humoristicamente pelos velhos cuiabanos conhecedores da história, de puxadinho - local onde, bem antigamente, eram construídos os sanitários dos casarões cuiabanos. 
Um pouco de história é sempre importante para ajudar na compreensão das gerações mais novas.
Será que um país que tem uma das principais economias do mundo e que foi várias vezes campeão do mundo na produção de alimentos e do futebol, não tem capacidade de administrar aeroportos bem inferiores aos melhores do mundo?
É um absurdo o que acontece por aqui, onde, até o petróleo da camada do pré-sal, será explorada por particulares.
Uma ONG bem que poderia administrar o Brasil.
É a nossa triste realidade - produtora de tanta descrença nos jovens.

Gabriel Novis Neves
27-02-2012

domingo, 22 de abril de 2012

Estreia


Fui convidado pela direção de jornalismo da TV Mato Grosso para a estreia do Programa Conexão 27. Aceitei com satisfação a incumbência, pois teria minutos importantes em um programa sem censura para discutir, principalmente, problemas da minha cidade.
Três experientes jornalistas me sabatinaram. Nada foi combinado. Só soube que o tema central seria saúde pública, quando o âncora do programa me fez a primeira pergunta:
  - Qual o seu diagnóstico sobre a nossa saúde pública?
  - Não precisa ser médico, nem possuir curso de pós-graduação para fazer esse diagnóstico. - falei. - Basta perguntar ao povo dos bairros periféricos e aos humildes, que eles, sem nenhum pudor, farão um diagnóstico brilhante e real desta situação.
O segundo jornalista, pegando o caldo da resposta, queria saber o papel do médico frente a esta doença social que atinge a todos.
   - Médico não cura. - falei incisivo. - Na saúde pública ele não decide e, sem decisão, não passa de uma triste figura decorativa.
O último entrevistador, com certeza frustrado com as duas primeiras respostas, perguntou-me:
   - Afinal, quem poderia tentar resolver essa verdadeira covardia nacional que é não dar assistência aos seus pacientes? 
   - Quem decide, e quem tem esse poder aqui no Brasil, é o governo. Técnico não decide, sugere soluções. O político decide.
Explico: se temos condições de sediar uma Copa do Mundo em Cuiabá, por que não temos condições de resolver o gravíssimo problema da nossa saúde pública?
A Copa do Mundo, que é o maior evento futebolístico mundial, está chegando aqui por uma decisão política dos nossos governantes.
Mesmo com um Estado falido, totalmente desprovido de obras essenciais, com um precário sistema social - relacionado principalmente à saúde pública, segurança, educação - e projetos de ações sociais -, a opção do governo foi pelo novo campo de futebol e pelo puxadinho do aeroporto.
Em escala menor o grande programa de infraestrutura, com a permanente operação tapa buracos, pintura em azul do meio fio e a frustração pela ausência dos prometidos recursos federais para as obras, batizadas de legado da Copa 2014.
Parece que não gozamos de bom conceito junto à presidente da República. Afinal, ela perdeu nos dois turnos as eleições aqui, e o seu partido foi dizimado.
No governo as decisões são sempre políticas. Lembro aos que sofrem com a falta de recursos para a saúde pública que, por ordem do Planalto, após onze anos de agonia, entenda-se, tramitação no Congresso Nacional, veio a falecer a famosa PEC 29 - que era uma emenda constitucional com o objetivo de aumentar os recursos federais para a saúde pública.
Para a Copa do Mundo irão mexer, mais uma vez, na nossa remendada Constituição Federal para permitir a venda de bebida alcoólica durante os jogos da FIFA. O Brasil se dobrando, às pressas, para se enquadrar na lei da FIFA.
A entrevista passou tão rápida que não tivemos tempo de aprofundar a discussão de tantos problemas sociais que dominam Cuiabá. E não poderia ser de outra forma, pois esta discussão é interminável.
Está de parabéns a cidade de Cuiabá e sua Baixada! Ganharam um belo presente de aniversário adiantado.
Uma emissora que trabalha com o objetivo maior de zelar pela liberdade da nossa gente – com sua independência e vigilância constante.

Gabriel Novis Neves
27-03-2012

ÓRGÃOS VOADORES


A medicina está totalmente dominada pela mais sofisticada das tecnologias.
São comuns as operações realizadas à distância por robôs e cirurgiões sendo guiados em suas incisões por equipamentos físicos capazes de programar, milimetricamente, a localização de um pequeno tumor no cérebro.
O emprego da videolaparoscopia marcou a divisão de conduta técnica entre os antigos e novos cirurgiões.
Isso não significa que alguns antigos cirurgiões não tenham optado pelos melhores resultados das cirurgias com uso da mais moderna tecnologia.
Infelizmente, essa medicina Daslu, não é de uso universal para o sacrificado brasileiro, que tem como apoio o SUS e planos de saúde que não permitem esses benefícios da modernidade científica.
O cérebro humano não tem limites.
Assim como hoje são banais os transplantes de órgãos, teremos o dia em que certos órgãos voarão, atendendo e aliviando milhares de pessoas que sofrem com a distância.
Chegará o momento de utilizar esse avanço tecnológico da medicina na lua de mel à distância. E até na reprodução fisiológica de cônjugues que estejam separados pelas vicissitudes da vida moderna - onde o casal tem que trabalhar e viajar para locais diferentes. Desde, é claro, que os cientistas descubram a possibilidade dos órgãos voarem.
Deve ser interessante a chegada, por exemplo, do órgão do amor independente do sexo.
Concluída a sua missão com tal experiência espacial, ele retornaria ao corpo dos seus doadores.
O que hoje parece uma loucura, como a viagem a lua foi para a geração dos meus pais, em um futuro mais próximo que pensamos isso será um procedimento banalizado.
Será que o médico continuará a existir, quando todos os dias milhões de milagres e exorcimos são mostrados pela televisão?
Prefiro a mais inimaginável das tecnologias médicas, a ter que presenciar a exploração de pessoas fragilizadas que, em troca de dinheiro, lhes são oferecidas curas mentirosas.
Esperemos.

Gabriel Novis Neves
22-03-2012

Restaurante estudantil


A história me obriga ir ao passado para esclarecer fatos desconhecidos, ou esquecidos, em que fui protagonista.
Faço isso, não por vaidade pessoal, mas para deixar às futuras gerações depoimentos da história não falsificada.
Escrevo o cotidiano da minha cidade, ouvindo, sentindo, palpando, cheirando e vendo o simples, que sempre foi o importante. Muitos dos meus artigos têm essa genética.
Nunca tinha pensado em escrever sobre a história do primeiro restaurante estudantil de Cuiabá.
Isso aconteceu há quarenta e quatro anos, motivado pela intensa migração da população do interior.
Era o início da ocupação desordenada do nosso imenso território, onde o trabalhador rural foi expulso pelas máquinas.
Sem qualificação para o trabalho urbano, esse produtivo camponês começou a ocupar a periferia da cidade com a sua numerosa família passando necessidades básicas, como educação para as suas crianças e alimentação para a família toda.
A merenda escolar não era suficiente para um aluno. A evasão escolar no ensino médio era assustadora, assim como a taxa de analfabetismo no Estado.
O governo Pedrossian determina à Secretaria de Educação que faça uma adaptação na antiga garagem do Estado – ao lado da Academia de Letras – para o funcionamento de um restaurante para estudantes. Nascia assim, na Rua do Campo, o primeiro restaurante estudantil de Cuiabá.
Essa medida social atraiu estudantes pobres de todo o interior do Estado para frequentar alguns cursos superiores que estavam iniciando na velha capital.
Eram os famosos cursos de cuspe, carinhosamente chamados pelos meninos, em que todo o arsenal didático se constituía em uma sala de aula calorenta, lousa, giz, apagador e o professor borrifando saliva.
Com o surgimento da universidade, os alunos do ensino superior passaram a frequentar o restaurante onde hoje funciona o Museu Rondon.
Um restaurante maior foi construído na Praça Universitária, oferecendo condições excepcionais para atender alunos, servidores e professores. Do projeto original, apenas metade foi entregue a comunidade universitária, há trinta e dois anos.
Como não faço diários, anotações, nem tampouco pretendo escrever uma enciclopédia sobre a implantação do ensino superior em Mato Grosso, preencho o espaço de um artigo para relembrar certos eventos que marcaram a vida desta cidade. 
Muitos detalhes sobre esses três restaurantes me são trazidos pelos atores de diálogos que não me recordo, pois nunca trabalhei com o objetivo da cobrança.
Dia desses um dos candidatos a reitor da nossa universidade, o professor doutor em química Edinaldo de Castro e Silva, que veio de Barra do Garças para estudar na recém nata UFMT, perguntou se eu me lembrava para quem tinha dado a primeira autorização para usufruir do restaurante da piscina da UFMT. Respondi que não me recordava.
Exultante, ele me contou minúcias do encontro e da satisfação em ter sido o primeiro estudante a provar a boa comida do nosso restaurante.
Satisfeito fiquei em saber que as calorias do bandejão foram úteis à inserção de um menino pobre do interior ao pico da carreira universitária, com a conquista dos títulos acadêmicos e o orgulho de pretender comandar a universidade onde estudou.

Gabriel Novis Neves
09-03-2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

SAÚDE IRRITANTE


Peguei no laboratório de bioquímica, do hospital onde eu e o meu filho trabalhamos, os meus exames de rotina. Eu atendo no consultório e ele no ultrassom.
A recepcionista me entregou um grosso envelope. Levei o envelope, ainda fechado, até ao meu filho e pedi que ele abrisse e desse uma olhadinha.
Na minha idade esses exames são abundantes. É necessário verificar o estado de conservação de todo meu maquinário - que é todo original.
Se eu fosse um automóvel, estaria em algum museu do mundo sendo tratado como relíquia.
O meu guri verificou o envelope selado e perguntou-me se já tinha visto o exame e se estava a fim de fazer mais uma das minhas gracinhas. Ele sabe que eu sou curioso.
Disse-lhe que não. Que não tinha ainda visto os resultados e, que devido à idade avançada, temia alguma surpresa desagradável. Por isso queria que ele analisasse os exames. Caso ela fosse confirmada, que ele tomasse as providências necessárias.  
Ele então retirou lentamente o selo que lacrava o envelope e começou a manusear as folhas com os resultados.
Eu, em silêncio, observava a sua fisionomia. Ele leu todos os papéis com o semblante inalterado. Depois fechou o pacote de exames, selou-o e me devolveu.
Olhei para ele em busca de uma resposta. Ele me deu:
      - Pai, o senhor tem uma saúde irritante! Terrivelmente irritante de boa.
Fiquei agradavelmente surpreso diante dessa declaração inusitada. E ele prosseguiu:
      - Pai, você não vai morrer tão cedo e me obrigará a trabalhar a vida toda. Você está com algumas taxas, como colesterol, inferiores às do seu neto Gabrielzinho, de 11 anos.
      - Filho – respondi – eu nunca frequentei McDonald, Bobs, carrocinhas de cachorro quente e nem fico o dia todo com bala na boca. Também não sou usuário das iguarias dos shoppings e merendas compradas na escola.
E esclareci a ele que, até deixar Cuiabá para estudar medicina no Rio, não andava com dinheiro no bolso e tudo que eu comia era feito pela minha mãe. Não desenvolvi o hábito de comer fora de casa. Bom para a saúde e para o bolso – assim minha mãe economizava para uma necessidade mais premente.
Com os exames na mão, e os resultados tranquilizadores, o meu ego inflou e comecei a pensar nas festas do meu centenário.
Avisei também aos meus filhos, netos, irmãos, parentes e amigos que, em caso de uma fatalidade comigo, procurassem a polícia técnica e trabalhassem com a hipótese de um crime.
Brincadeiras à parte, nunca alguém me disse que tinha uma saúde extremamente irritante.
Sei que é uma brincadeira, mas no fundo esse resultado traduz muitos anos de vida para mim - e trabalho dobrado para o meu filho.
Estou errado?
Com o humor existente entre pai e filho, tudo indica que a caminhada será irritantemente longa, para a felicidade de todos nós.

Gabriel Novis Neves
16-03-2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eu já sabia


Qualquer evento esportivo realizado no mundo com a cobertura da TVGlobo, em um determinado momento aparece no estádio várias faixas com os dizeres: “Eu já sabia!”
Aqui no nosso Estado, quando o governo resolveu entregar a administração dos seus hospitais às Organizações Sociais de Saúde (OSS), escrevi o que está acontecendo hoje – Eu já sabia.
O período de incubação do primeiro escândalo, reconhecido pela própria Secretaria de Saúde, acho até que demorou muito a ser divulgado oficialmente.
Com um belo currículo de fracassos em outros Estados, as OSS chegaram aqui como salvadoras da pátria.
Nosso Estado, contrariando pareceres jurídicos, o Conselho Federal de Medicina, o Sindicato Médico, os cursos de saúde da UFMT, a maioria esmagadora de médicos e a própria opinião pública, bancou a livre entrada das OSS para tomar conta de todos os hospitais do Estado.
Para obter o voto que permitiu o contrato com as OS, o governo contou com o decisivo apoio do representante da, outrora independente, UFMT.
O pior é que esse assunto foi amplamente discutido com os professores envolvidos com os problemas de saúde pública e a maioria se posicionou contra a entrega dos hospitais públicos às OSS.
A nossa UFMT agiu mais como um partido nanico da base de sustentação do governo do Estado do que como uma casa de ciência.
Com a vitória dada pela universidade, quando o placar estava em 12 X 12 no Conselho Estadual de Saúde, o governo iniciou as contratações das OSS.
As reclamações sempre existiram e o governo reagia, através da mídia, com o famoso jogo do abafa.
O escândalo com o desvio, ou aplicação indevida de R$ 50 milhões para os Hospitais Regionais de Alta Floresta e Colider, não deu para esconder.
O próprio Secretário Estadual de Saúde, por sinal excelente gestor e profundo conhecedor dos problemas da nossa saúde pública, reconheceu a bandalheira com o dinheiro público, rescindiu imediatamente o contrato e tomou outras providências contra essa OSS.
O atual secretário de saúde aprendeu nos bancos escolares da UFMT que o mal se corta pela raiz e, agindo assim, adquiriu credibilidade junto aqueles que não o conheciam.
As irregularidades apresentadas pela OS não foi novidade para a presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso.
Ela já sabia - pelo passado dessa empresa de fins lucrativos por onde passou.
Ficou surpresa apenas com a frágil fiscalização do Estado, gerando prejuízos aos pacientes e ao erário público.
A presença de OS em unidades de saúde pública é a porta de entrada para a corrupção e desvio de recursos públicos, afirma o coordenador do Comitê em Defesa da Saúde Pública.
A OS teve o seu contrato rescindido e não é mais a responsável pela administração de dois estratégicos hospitais do nosso Nortão.
Mas, e agora? Como fica parte do dinheiro que foi pelo ralo da corrupção? O governo tem a obrigação de explicar essa história ao pagador de impostos.
Excelentíssimo governador, agora que sabemos que tão cedo não haverá recursos para o VLT, da má vontade do governo federal com o nosso Estado, das viagens que o senhor faz semanalmente a Brasília garimpando recursos para Mato Grosso e que o “disse de hoje é o não disse de amanhã”, uma sugestão caseira:
Chame o seu secretário de Saúde e diga a ele para dar um jeito nessa situação de calamidade pública.
Ele tem conhecimentos para recrutar profissionais competentes aqui e tentar reverter essa humilhante situação em que nos encontramos.
Única contrapartida necessária é que a Secretaria de Saúde e seus quadros técnicos, não entrem no sistema de loteamento do poder.
O que aconteceu, eu já sabia. E avisei.

Gabriel Novis Neves
15-04-2012

quarta-feira, 18 de abril de 2012

ESSES MARQUETEIROS!


A atual presidente foi rotulada pelos marqueteiros no governo passado como “tocadora de obras”. O marqueting funcionou tão bem, que quase todo mundo torcia para que a antecessora da Erenice na Casa Civil gerenciasse as incontáveis obras públicas dessa nação.
Ganhou do seu patrocinador político o popular apelido de gerentona, para desespero dos seus adversários.
O resto ficou por conta dos profissionais de campanhas políticas, que fizeram de um limão uma farta limonada.
A notícia que tínhamos é que o Brasil se transformaria em um imenso canteiro de obras, com dinheiro, inclusive, para desenvolver projetos emergenciais.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estava indo tão bem que foi criado o PAC II.
O presidente apresentava-a à nação como a mãe do PAC I e PAC II. Os anúncios eram diários e com ampla cobertura da mídia - como a festança da transposição das águas do Rio São Francisco.
Aqui no nosso Estado, para evitar uma derrota mais ampla nos dois turnos das eleições presidenciais, obras faraônicas foram lançadas em clima de inauguração.
Ferrovias, novas rodovias, duplicação das existentes, asfaltamento dos grandes eixos rodoviários, navegação fluvial, escoamento das nossas riquezas pelo rio Paraguai. Era tanta promessa de obras, que a nossa população ficou desconfiada com tanta esmola, pois pobre sempre desconfia quando ela é demais e, fruta abandonada na estrada, tá bichada ou tem marimbondo no pé, como dizia o poeta Ataulfo Alves.
Foi prometido também: liberação de recursos financeiros para as obras essenciais de saneamento básico, novo Hospital Universitário e os moderníssimos sistemas de Unidades de Pronto Atendimento e Assistência Social (UPAS).
E mais: melhoria da qualidade na educação pública, aviões invisíveis para fiscalizar as nossas fronteiras - convite ao tráfico internacional de drogas e todo o tipo de contrabando.
A vez parecia ter chegado ao nosso Estado, pois os chamados líderes políticos apoiavam a grande tocadora de obras.
Além disso, estávamos comandando a principal autarquia do Ministério dos Transportes - o DNIT.
Por problemas republicanos, o nosso Estado foi expulso do Planalto, e a mídia passou a dar notícias sobre as obras de campanha.
Ninguém mais comenta o tão falado projeto da transposição das águas do rio São Francisco. O prejuízo causado pela paralisação dessa obra, segundo informações oficiais, é da ordem de quatro bilhões de reais, e muito sofrimento para os moradores da região.
Os irmãos gêmeos eleitoreiros, PAC I e PAC II, estão morrendo de inanição por falta de dinheiro.
Aqui em Mato Grosso não temos notícias dos grandes projetos anunciados.
Para agravar ainda mais a situação, o Brasil assumiu compromissos para realizar a Copa do Mundo 2014 que, até agora, ainda não resolveu os conflitos administrativos com a FIFA, e as obras estão bem atrasadinhas.
Jornalistas experientes no assunto jogaram a toalha do cronograma das obras prometidas pelo governo federal.
Dizem, inclusive, que o legado que a Copa nos deixará será uma impagável dívida e muitas frustrações.
Todas essas obras são controladas pela mãe do PAC I e PAC II.
Como desgraça pouca é bobagem, estamos envoltos em uma tremenda crise institucional entre os poderes e, em um gesto de autofagia política, estão em guerra.
A presidente, que não admite ser chantageada, está nos picos do apoio popular, medido pelo IBOPE, quebrando o recorde dos seus antecessores FHC e Lula no primeiro ano de governo.
Está se vendo que essa imensa base de sustentação parlamentar é, nada mais nada menos, que a velha e desmoralizada política do toma lá dá cá.
Mato Grosso está muito mal nessa foto. A grande imprensa nos ataca como se fôssemos chantagistas e devotos do Santo que prega o toma lá dá cá.
Deve ser praga de marqueteiro esse inferno astral que vivemos.

Gabriel Novis Neves
04-04-2012