Fui
convidado pela direção de jornalismo da TV Mato Grosso para a estreia do Programa
Conexão 27. Aceitei com satisfação a incumbência, pois teria minutos
importantes em um programa sem censura para discutir, principalmente, problemas
da minha cidade.
Três
experientes jornalistas me sabatinaram. Nada foi combinado. Só soube que o tema
central seria saúde pública, quando o âncora do programa me fez a primeira
pergunta:
- Qual o seu diagnóstico sobre a nossa saúde pública?
- Não precisa ser médico, nem possuir curso de pós-graduação para fazer esse
diagnóstico. - falei. - Basta perguntar ao povo dos bairros periféricos e aos
humildes, que eles, sem nenhum pudor, farão um diagnóstico brilhante e real
desta situação.
O
segundo jornalista, pegando o caldo da resposta, queria saber o papel do médico
frente a esta doença social que atinge a todos.
- Médico não cura. - falei incisivo. - Na saúde pública ele não decide e, sem
decisão, não passa de uma triste figura decorativa.
O
último entrevistador, com certeza frustrado com as duas primeiras respostas,
perguntou-me:
- Afinal, quem poderia tentar resolver essa verdadeira covardia nacional que é
não dar assistência aos seus pacientes?
- Quem decide, e quem tem esse poder aqui no Brasil, é o governo. Técnico não
decide, sugere soluções. O político decide.
Explico:
se temos condições de sediar uma Copa do Mundo em Cuiabá, por que não temos
condições de resolver o gravíssimo problema da nossa saúde pública?
A
Copa do Mundo, que é o maior evento futebolístico mundial, está chegando aqui
por uma decisão política dos nossos governantes.
Mesmo
com um Estado falido, totalmente desprovido de obras essenciais, com um
precário sistema social - relacionado principalmente à saúde pública,
segurança, educação - e projetos de ações sociais -, a opção do governo foi
pelo novo campo de futebol e pelo puxadinho do aeroporto.
Em
escala menor o grande programa de infraestrutura, com a permanente operação
tapa buracos, pintura em azul do meio fio e a frustração pela ausência dos
prometidos recursos federais para as obras, batizadas de legado da Copa 2014.
Parece
que não gozamos de bom conceito junto à presidente da República. Afinal, ela
perdeu nos dois turnos as eleições aqui, e o seu partido foi dizimado.
No
governo as decisões são sempre políticas. Lembro aos que sofrem com a falta de
recursos para a saúde pública que, por ordem do Planalto, após onze anos de
agonia, entenda-se, tramitação no Congresso Nacional, veio a falecer a famosa
PEC 29 - que era uma emenda constitucional com o objetivo de aumentar os
recursos federais para a saúde pública.
Para
a Copa do Mundo irão mexer, mais uma vez, na nossa remendada Constituição
Federal para permitir a venda de bebida alcoólica durante os jogos da FIFA. O
Brasil se dobrando, às pressas, para se enquadrar na lei da FIFA.
A
entrevista passou tão rápida que não tivemos tempo de aprofundar a discussão de
tantos problemas sociais que dominam Cuiabá. E não poderia ser de outra forma,
pois esta discussão é interminável.
Está
de parabéns a cidade de Cuiabá e sua Baixada! Ganharam um belo presente de
aniversário adiantado.
Uma
emissora que trabalha com o objetivo maior de zelar pela liberdade da nossa
gente – com sua independência e vigilância constante.
Gabriel
Novis Neves
27-03-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.