sábado, 7 de abril de 2012

Gangorra


A vida é um grande jogo, onde se ganha e se perde. Recentemente perdi minha paixão pelo Botafogo. Quase de imediato esse lugar foi ocupado, sem que nada tivesse sido pensado ou programado, pela lua.
Tenho o privilégio de morar em um lugar onde acompanho, todos os dias, o surgimento e o desaparecimento da minha lua.
Passei a observá-la. E lembrei-me da minha infância distante. Deitado no colo da minha mãe eu ouvia, embalado pela rede na varanda, histórias da lua.
A que mais me encantava era a do cavalo de São Jorge, com o Santo Guerreiro montado no animal com uma lança na mão direita.
Quando o sono demorava a chegar, minha mãe pedia que eu repetisse a contagem dos carneirinhos da lua.
Sonolento, várias vezes escutava minha mãe chamando pelo meu pai, para que ele me carregasse para a cama.
O amor é eterno. Pelo Botafogo tinha paixão, que nunca foi transformado em amor. Mas, pela Lua, minha relação é de amor. Ele ficou algum tempo adormecido – durante o período de luta pela vida.
Hoje este amor está bem desperto, e voltou a frequentar minha vida.
Fico tal qual mãe de antigamente, esperando a saída da lua de sua casa. Sinto ansiedade, pois a danada muda de horário para mais, diariamente. Informação de minha amiga gestora de carnaval e apaixonada pela ponta do Leme, no Rio e pela Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.
Essa gente do samba entende de lua, mar, céu, sol e samba no pé. Seu Santo padroeiro é o São Jorge.
Quando a lua é cheia ela me intimida com a sua beleza agressiva. Tenho sempre a impressão que irá entrar no meu dormitório.
Fico logo pensando: o que farei com tanta beleza? Apenas ilusões desse colosso que é a imaginação humana.
A lua tem fases, embora mais curtas que as do gênero humano. Gosto de todas elas, seja minguante, crescente, nova ou cheia.
Fico triste e sinto saudade dela nos dias de chuva, pois ela não aparece. Um ato de sabedoria, oferecendo-nos a maravilhosa noite escura com relâmpagos, raios e chuva.
Sempre que posso fico na janela esperando a sua chegada para fotografá-la. Depois, antes de dormir, dou mais uma espiadela, assim como para dar-lhe uma boa noite. Então durmo, e procuro sonhar com ela, assim como era criança.

Gabriel Novis Neves 
13-03-2013

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