quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

CARTA DE ANO NOVO

Como desejar-lhe um Feliz Ano Novo?

Escolhi uma carta do meu irmão Pedro, que há um ano mora comigo, para esta missão. Somos dois solteirões cujas idades chegam há um século e meio. Estamos neste estado civil por decisão divina e judicial.

Damo-nos muito bem. O Pedro fica o dia todo assistindo programa de esportes e noticiários pela televisão. Eu engano que trabalho - não tenho tempo para nada, e, quando em casa, passeio pela internet. Encontramos-nos sempre na hora das refeições, quando a distribuição de medicamentos é farta. O Pedro engole em média vinte e oito comprimidos ao dia e eu quinze. Não contando a medicação emergencial, às vezes, utilizada... Nesses instantes trocamos idéias.

O Pedro é um exemplo de superação. A sua vida é um compêndio de medicina. Diabético, hipertenso, avecista, ex-cadeirante, ex-caquético, ex-espírita, ex-escritor, e agora bengaleiro. Eu sou hipertenso moderado, varicoso, portador de duas hérnias de disco, com uma circunferência abdominal para risco cardíaco, ex-catarante, ex-coroinha e digitador de um dedo só.

Combinamos, para não ficar pesado para ninguém, que eu escreveria uma carta sobre o Natal e ele sobre Ano Novo. Assim trocaríamos também correspondências obrigatórias nas festas de fim de ano.

A poesia do Pedro, a sua sensibilidade e o modo carinhoso onde ele descreve como fomos educados, fez com que eu escolhesse o seu texto para desejar a você um Feliz Ano Novo.

Gabriel Novis Neves
Dez/2009


Feliz Ano Novo.

Você conseguiu acertar em cheio na essência cristã do espírito natalino. Mas, pela minha visão da infância, lamentavelmente o Natal que tínhamos era diferente. Esse espírito natalino era pouco mencionado e não fazíamos em casa a tradicional Ceia de Natal, ocasião em que o papai estava sempre de plantão no bar. Dormíamos cedo e à meia noite em ponto, implacavelmente, o telefone tocava. Sonolenta a mamãe levantava para atender. Do outro lado da linha era o papai desejando Feliz Natal! Hoje, fico imaginando como ela deveria sentir-se “feliz”... (“Ótimo de Georgeta”).

O Réveillon não era muito diferente. O mesmo telefonema para cumprimentá-la pela entrada do Ano Novo e estava cumprida a sua missão de pai e marido sempre presente. A criançada desconfiava que já deveria ser meia noite pelo toque do Hino Nacional executado no Clube Feminino e pelo espocar dos fogos que se ouvia ao longe. Essas são as recordações que trago dessas datas na minha infância. Lembro-me da mamãe inconformada a lamentar: “O Ano Novo esta chegando cheio de esperança. Lá se vai um Ano Velho que não deixou saudades”. Talvez seja por tudo isso que considero o Natal uma data muito triste, mas também cheia de saudades.

Até o papai Noel me “sacaneava”. Houve um ano em que escrevi uma cartinha pedindo-lhe uma bicicleta e uma gaita. Obedeci a todos os rituais, coloquei o meu chinelo embaixo da cama e de hora em hora passava as mãos para ver se o velhinho já havia colocado lá os meus presentes. Cedo tive a minha primeira decepção. Papai Noel havia se esquecido da minha bicicleta e só trouxe a gaita. Reclamei com a mamãe e ela tentou encobrir tudo, dizendo-me que o Papai Noel já estava muito velinho e não tinha forças para carregar a bicicleta dentro do saco. Contentei-me com aquela sua explicação e saí cedo para acompanhar meu pai ao açougue do “Baixote”. Caminhava feliz, soprando a minha gaita... Quando passava embaixo da janela do “seu” Estevam de Mendonça a gaita escapuliu das minhas mãos e caiu em cima dos escarros do velho, que costumava mascar fumo e cuspir aquela enorme poça na calçada. Não tive coragem de tocá-la e lá se foi o meu único presente. Fiquei sem a minha bicicleta e sem a gaita. Passei a infância a odiar o “seu” Estevam de Mendonça.


Natal era também a época de pitombas. Como eu sentia prazer em roubá-las do presépio da dona Balbina correndo com o bolso cheio e ia me esconder em casa do vovô Alberto Novis que morava em frente! Lembro-me do presépio móvel do “seu Freitas”, com aquelas figuras deformadas e horrorosas, mas que consigo desenterrar com saudades do meu túmulo de lembranças. Faço votos que você continue relembrando o espírito natalino que você tão bem soube expressar na sua crônica. Só comecei a apreciar o Natal quando me casei.


Pedro Novis Neves
Professor-fundador da UFMT
Rio - 25/12/2009

EXPOSIÇÃO

Quem caminhou pelas principais ruas e avenidas do bairro mais charmoso de Cuiabá, e com o maior PIB político, foi surpreendido pela originalidade da sua decoração. Fez-me lembrar muito de um carnaval que o Joãozinho Trinta fez para a escola de samba Beija Flor de Nilópolis, se não estou enganado em mil novecentos e oitenta e nove no sambódromo do Rio. O enredo era: “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”.

Foi um espetáculo que marcou o carnaval no Rio - sempre um desfile de riquezas. Joãozinho mostrou as misérias sociais: menor no tráfico de drogas, a banalização do crime, as conseqüências da corrupção, a praga da impunidade e o comércio do corpo. Ele sintetizou todos estes problemas no carro alegórico dos mendigos. A imagem do Cristo Redentor veio envolvida em um plástico negro. Esse carnaval ficou conhecido como o carnaval dos mendigos.

Cuiabá, ou melhor, o meu bairro, tinha hoje esse aspecto. Sacos e mais sacos de lixo empilhados pelas ruas. Pelos sacos de plástico transparente dava para perceber parte do seu conteúdo: restos de comida, latinhas da redondinha, sandália velha, caixa vazia de medicamentos, e até papel higiênico e bem usado vi. Nos sacos escuros ficou a minha imaginação. O efeito visual era de uma exposição de vanguarda de sacos de lixo. Como não existia nenhuma placa indicando o responsável por tamanha beleza estética, todos que por ali passavam falavam mal do Prefeito.

Cuiabá precisa com urgência de placas para evitar mal entendidos! A maioria das pessoas se revoltou com a exposição dos lixões, menos eu, um profundo conhecedor do lixo social da minha cidade. Não entenderam a modernidade lançada, mostrando aos ricos todo o simbolismo social que o Joãozinho fez no carnaval.

O próprio Presidente, que conhece o Brasil como ninguém, afirma que o povo brasileiro está na merda e é aplaudido. Porque não podemos ver a merda que é Cuiabá, que é Mato Grosso e que é o Brasil? Responsáveis por esta situação? Todos nós! Não vamos gastar dinheiro em pesquisas, nem contratar detetives.

Prefiro os sacos de lixos pelas calçadas, aos sacos escuros onde se escondem os nossos candidatos. Ratos e urubus deixem o nosso Brasil com os mendigos!

Larguem a fantasia da hipocrisia!

Gabriel Novis Neves
29/12/2009

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Consegui entender

À distância é sempre difícil entender as coisas. Só agora consegui detalhes da Reunião de Copenhague. O que me “interessava saber” nunca “interessou” a nossa mídia. Fiquei com a imagem que o que lá aconteceu foi um fiasco, com imensa farra.

Esta semana tive acesso a certas informações que mataram algumas das minhas curiosidades. Mato Grosso esteve representado na terra dos reis por uma comitiva de dezenove pessoas - número maior que de muitos países. Desse povão, mais ou menos doze, participaram das reuniões. Os outros preferiram ir às compras.

Copenhague é uma cidade de pouco mais de um milhão de habitantes. Com estrutura hoteleira insuficiente para receber delegações de mais de cento e noventa nações, os mato-grossenses ficaram hospedados na pequena cidade de Malmoe, na Suécia, com trezentos mil habitantes. Foi na Suécia que o Brasil conquistou a Copa do Mundo de 1958, quando fomos campeões pela primeira vez.

Os Governos do Pará e Amazonas financiaram a presença do Ator-Governador da Califórnia e seus inúmeros seguranças, além da presença das ONGS americanas. Os produtores rurais de Mato Grosso organizaram uma palestra distante da área de eventos e conseguiram reunir cerca de quarenta pessoas do mundo. O nosso Governador esteve presente, mas não quis falar. Compareceu ao Fórum dos Governadores da Amazônia, longe também do Centro principal dos eventos. Apresentou na ocasião o “Programa de Redução de Emissões, Desmatamento e Degradação (REDD), junto às ONGS.

Em uma reunião presidida pela chefe da delegação brasileira, o Governador do Amazonas e um Deputado Federal do mesmo Estado, participaram da mesa dos trabalhos. O nosso Governador ficou na platéia. A Ministra estava muito nervosa, e, como de hábito, mal humorada. Não teve tempo de ler o texto preparado pelo “toc-toc-toc”, e demonstrou certo desinteresse pelo meio ambiente. Na hora de saudar as autoridades brasileiras presentes ao evento, chamou o nosso Governador de Governador de Mato Grosso do Sul. Foi vaiada, e alguém disse a ministra que no próximo ano ela terá a oportunidade de conhecer o Brasil e os dois Mato Grosso.

O discurso lido pela Ministra foi feito para agradar o Primeiro Ministro Chinês presente à reunião. Quando ela disse: “- O meio ambiente não pode atrapalhar o desenvolvimento sustentável” - as vaias surgiram. O único dos presentes que balançou a cabeça em sinal de aprovação foi o chinês. Nosso Governador não se manifestou, mas demonstrou contrariedade com a tese comercial da mãe do Apagão. O Brasil, naquele ato, não falou para o mundo. Falou para a China. O Brasil conseguiu formar um bloquinho chamado BACT (Brasil-África-China-Índia), para defender o meio ambiente!

A burocracia do encontro foi o ponto alto: muito papel, filas quilométricas que impediu que metade dos participantes conseguisse entrar no pavilhão principal. A ministra brigou o tempo todo com o ministro dos coletes coloridos. A nossa senadora só pode ficar dois dias. A fantástica segurança do Presidente dos Estados Unidos e do Irã, chamou a atenção de todos. O nosso Presidente quando “adentrou” ao Pavilhão de Eventos provocou um delírio parecido ao provocado pelas Escolas de Samba no Sambódromo.

Concluindo: A Europa só tem um problema: energia. Os países em desenvolvimento, subdesenvolvidos e miseráveis, além do problema da energia, têm seriíssimos outros problemas que precisam ser resolvidos, nas áreas da educação, ciência, tecnologia, infra- estrutura e a superpopulação humana.

Não aconteceu mesmo nada na Dinamarca! Agora consegui entender.

Gabriel Novis Neves
27/12/2009

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Falar de educação

“O poder público tem que mudar a lógica simplista de achar que a qualidade da educação se consegue a preços módicos. Ter bons profissionais, estimulados, fazendo um bom trabalho, mostrando resultados, é algo que custa mais caro que fazer obras. Se não se investir volumes considerados de recursos nos profissionais da sala de aula, não teremos bons resultados por muitas e muitas gerações” – Antonio Carlos Máximo, professor da UFMT. Estava com saudades de palavras sensatas sobre a nossa educação!

As estatísticas realizadas pelo governo, e pagas por nós - principalmente com relação à educação infantil, ensino fundamental e médio – nos mostram sempre uma imagem positiva com relação à quantidade de salas de aulas; alunos em sala de aula; cores da pintura da escola; o nome (geralmente de pessoas que mal freqüentaram uma escola), e agora, como sinal de qualidade educacional, número de laboratórios e computadores. O professor sem o qual não existe educação, nem lembrado é.

O professor Máximo, que conheço muito bem, angustiado com o futuro dos nossos jovens relatou com perfeição uma realidade que os nossos governantes não suportam nem ouvir. Este assunto de remuneração de professores é tratado com desdém. O governo só tem uma preocupação: comparar o salário dos nossos professores aos piores salários pagos no Brasil.

Nossa educação vai muito mal! O tema “professor” lembra-me muito o Ex-Ministro da Educação do Brasil – Cristovam Buarque (aquele que foi demitido por telefone). Ele nos fala que “o sucesso da educação passa pela cabeça (conhecimento), coração (paixão pela profissão) e termina no bolso do professor que deve receber salários dignos.”

Os nossos professores, especialmente os da rede básica, são totalmente desqualificados profissionalmente pelos nossos governantes. A meritocracia neste modelo pedagógico é substituída pelo famoso QI (quem indica).

As estatísticas oficiais sobre a educação são interpretações feitas para não desagradar o patrão, e a sua divulgação, pela mídia oficial, não passa de mais um discurso direcionado à sociedade, que mais confunde do que esclarece.

Gabriel Novis Neves
16 /12 /2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

APAGÃO

Voltamos aos saudosos tempos dos apagões. Basta ventar, ou cair algumas gotas de água do céu, para Cuiabá ficar às escuras. No meu tempo de criança a culpa era do gerador que ficava no Morro da Prainha, apelidado de Morro da Luz, pois era dalí que saía a luz para abastecer a pequena cidadezinha. Quando a energia demorava mais tempo para voltar, a culpa estava na usina do Rio da Casca. Quantas novenas a minha mãe realizou para que não houvesse corte de energia elétrica, no Natal, Ano Novo, aniversários e outras datas comemorativas - naquela época todas muito importantes!

Chegou o “progresso” para o nosso Estado. Os novos “bandeirantes” seguiram exatamente as lições do Anhanguera. Apoderaram-se de tudo de bom que possuíamos e levaram para longe. Só não conseguiram levar o nosso pacu. A desculpa dos chegantes é sempre a mesma: cuiabano é preguiçoso, não gosta de trabalhar, mas tudo que existe aqui foi trabalho nosso. Estão atualmente descobrindo o descoberto. Existe até a pretensão desse pessoal de criar em Cuiabá a Universidade Federal de Mato Grosso!

Mas o apagão voltou! As desculpas vêm agora de muito longe! Ora foi um poste de alta tensão que caiu em Goiás, ora foi um problema técnico em Itaipu. Nós continuamos à mercê do tempo e das justificativas esfarrapadas e safadas dos poderosos de plantão.

Estou escrevendo este artigo em pleno apagão vespertino, cuja duração já ultrapassa meia hora. Quantas crianças, neste período, correram risco de morte com a parada dos aparelhos que as mantém vivas, por ficaram sem energia elétrica? E ninguém é punido ou responsabilizado por esta situação. O povo sabe que o apagão é filho da falta de investimento público nesse setor.

Ah! Tudo, porém, será resolvido com a vinda da Copa do Mundo! Aqueles que acreditam nessa história esquecem-se de que os atuais poderosos estarão longe do poder nessa época. E ainda querem nos empurrar goela à baixo, a mãe do apagão. Só se for para apagar o Brasil!

Papai Noel, venha com trenó e tudo para governar o país da fantasia e do apagão!

Gabriel Novis Neves
26 / 12 /2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

Prisão de ventre

Quem trabalha com a internet tem que tomar certos cuidados. As coisas acontecem com tamanha velocidade, que, às vezes, estou em vias de encaminhar um texto - que não sofreu uma maturação suficiente e leitura mais atenta - e um botãozinho distraidamente é acionado e lá vai o material - aí dá merda! Estou em um estágio em que esses artigos não podem imitar uma diarréia.

Mandei digitar um enorme texto escrito por ocasião do centenário de nascimento de Olyntho Neves – o Bugre do Bar - publicado no “Estado de Mato Grosso ”em 1994. Recomendei à digitadora que não se esquecesse de citar o nome do jornal e do autor do artigo. Recebi por email o texto já digitalizado; li e reli. Já estava pronto para encaminhar o artigo para o meu blog, (
www.bar-do-bugre.blogspot.com) - nome em homenagem ao meu pai - quando notei, numa última leitura, um grave equívoco. O autor do texto é o meu irmão Pedro Novis Neves, e, por um lapso da digitadora, o crédito foi dado a mim.

Se tivesse encaminhado o documento tal como estava, a confusão estaria formada. Seria, com toda certeza, inocentemente crucificado - fora a falação da numerosa família. A emoção que me envolveu, pela beleza e ternura do texto, quase me arrastou a este que seria um equívoco inexplicável. Mas, fiz a correção a tempo.

Neste pequeno período de experiência como “jornalista” eu já encaminhei, distraidamente, rascunhos que foram publicados, e algumas matérias que escrevo para o futuro. Na época dos revisores de textos, obrigatório em todos os jornais, esses profissionais eram expoentes da nossa literatura e anjos da guarda de quem escrevia.

Com a internet o artigo vai direto para a rotativa do jornal ou absorvidos pelos sites. Peço sempre aos amigos que publicam os meus artigos, dar uma “olhadinha” nos textos, para evitar que um pequeno lapso vire merda de difícil explicação.

Prefiro sofrer de prisão de ventre intelectual, a enfrentar uma desidratação por ansiedade.

Gabriel Novis Neves
25 /12/2009

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

CONFISSÃO

Reconhecer um erro cometido é uma virtude, e não sinal de fraqueza. Errei ao afirmar em recente artigo que este ano, por pudor, não iria divulgar o número de mensagens recebidas por ocasião do Natal e Ano Novo.

O mundo mudou e grande parte dos comunicados nos chega via celular. Como utilizo meu telefone móvel somente para receber e dar notícias - pois eu e ele não nos entendemos muito bem em outras áreas - eu nunca verificava, ou contabilizava as mensagens recebidas.

A minha neta de doze anos brincando com o meu celular me disse - entre assustada e surpresa - que eu tinha cento e quarenta e nove mensagens recebidas e não lidas. Também surpreso, pedi que ela abrisse e as lesse; todas eram mensagens de Natal de pessoas queridas. Fiquei satisfeito e logo percebi o erro cometido. Não estou tão esquecido como imaginava! Os tempos é que são outros! A comunicação tradicional feita através de cartas manuscritas e cartões via correio é que foi substituída pelos torpedos e emails.

No Natal recebi quatro telefonemas para o meu fixo. Três tenho certeza que o único objetivo era o abraço pelo dia festivo. Um, porém me causou dúvidas. A conversa iniciou-se com aquele longo rodeio enaltecendo a beleza da data. Depois passeou pelo “departamento” dos agradecimentos - por tudo que fiz para ajudá-los. Os elogios pessoais já estavam de bom tamanho, e logo pensei: “- essa história não vai acabar bem!” Dito e feito. Escutei a colocação fatal: “- aproveitando que estamos conversando em um Dia Santo...” - e vem o pedido, escandalosamente imoral. Evidente que Cristo me deu paciência e tranqüilidade para explicar a impossibilidade de atender aquele pedido.

Vai ser difícil alguém me convencer que o telefonema foi apenas para as felicitações de Natal. O pedido extemporâneo não deixou dúvidas quanto à finalidade do telefonema - com a agravante que estes cumprimentos são sazonais.

Sempre digo aos meus filhos e netos, que “uma coisa é uma coisa”, e que “outra coisa é outra coisa”, e, que jamais confundam “alhos com bugalhos”.

Apesar da frustração sentida por este incidente, fiquei feliz. Percebi que não estou tão esquecido quanto imaginava!

Perdão pelo erro de avaliação e FELICIDADES aos meus queridos amigos e leitores.

Gabriel Novis Neves
25 / 12 / 2009

NATAL

É o nascimento de Jesus, o Cristo, que veio ao mundo para nos salvar. Nasceu em uma manjedoura. Filho de um carpinteiro chamado José e de uma doméstica chamada Maria. Gente humilde e pobre. Isto aconteceu há mais de dois mil anos. O seu pai celestial é Deus, que é conhecido por vários nomes - mas é um só. É a ELE, pai de todos nós, a quem recorremos quando as nossas esperanças estão desaparecendo.

Como comemorar no mundo pós – moderno o Natal? Prefiro lembrar como Jesus nasceu. Quantos filhos de Deus existem em nosso mundo vivendo as mesmas dificuldades que Cristo encontrou quando por aqui esteve? Os nomes das dificuldades foram sendo substituídas. Hoje ainda se mata jovens aos trinta e três anos por motivos religiosos.

Neste dia tão significativo, não preciso e nem quero presentes, comidas e bebidas em excesso, barulhos de fogos, promessas de políticos que nunca serão cumpridas, falsos cumprimentos de felicidade, palavras que são apenas palavras e que nada dizem abraços de tamanduá, os tais cumprimentos protocolares, beijos de Judas, e principalmente – total ausência de solidariedade humana.

Quero hoje me lembrar das pessoas que não tem onde morar, que não tem o que comer, nem emprego, saúde e educação. Essa gente não sabe que pode existir um futuro, melhor do que o presente.

Quero neste dia: falar com quem nunca falei; abraçar quem nunca abracei; beijar quem nunca beijei; perdoar a quem tenha me ofendido; pedir perdão a quem involuntariamente, ou voluntariamente, magoei; doar-me por completo aos mais necessitados. Quero seguir o exemplo que o filho de Deus nos deixou como legado: amar ao próximo como a si mesmo.

“Hoje eu quero paz de criança dormindo, e o abandono das flores se abrindo... , quero a alegria de um barco voltando , quero ternura de mãos se encontrando..., quero toda a beleza do Mundo” – Dolores Duran - para enfeitar a Noite de Natal.

Gabriel Novis Neves
24 / 12 / 2009

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O velho DC3

O Bar do Bugre tinha como vizinhos o Bar Pinheiro e a Livraria e Papelaria Santa Terezinha. João Pinheiro era proprietário do bar e Rubens de Carvalho da livraria e papelaria. Naquele espaço em que fui criado só havia duas opções: tomar cerveja ou ler.

A livraria recebia, quando o velho DC3 conseguia pousar no “aeroporto” da Av. Miguel Sutil - onde hoje existem as casas dos oficiais - os jornais de São Paulo e Rio de Janeiro. Do Rio de Janeiro os preferidos eram: O Jornal, Correio da Manhã, Diário de Noticias, Jornal do Brasil, Jornal do Commércio, O Globo, e de São Paulo eram O Estadão e a Folha. A revista era O Cruzeiro do Rio.

Alguns leitores, como o meu avô, eram assinantes de jornais. Como os jornais sempre chegavam com atraso, papai me colocava de plantão na porta da livraria, a partir das cinco horas da tarde. Lá, enquanto esperava, conheci pessoas famosas. Um oficial médico da polícia militar todos os dias comprava dois jornais: um para ele e o outro deixava na residência dos Governadores na Rua do Campo. Meu pai começou lendo O Jornal, depois mudou para o Jornal do Brasil. Eu pegava as sobras, e lia até anúncio!

Quando fui estudar no Rio os meus deslocamentos eram de grandes distâncias. Utilizei, nesses doze anos em que lá permaneci, bondes, ônibus, lotações e trens. Aí passei a ler mais: dois jornais para ir trabalhar e dois para voltar para casa. Antes de dormir lia A Noite.

Todo este retrospecto foi apenas para demonstrar uma das minhas antigas paixões - e que continua até hoje: ler jornais. Sinto imenso prazer praticando este hábito aqui em Cuiabá! Hoje o meu jornal predileto é o INFORMATIVO. Ele é distribuído “gratuitamente” – como encarte - em apenas um jornal da cidade.

Esta semana está imperdível o INFORMATIVO. Recomendo a leitura deste jornal a todos que fizeram gastroplastia radical (retirada de grande quantidade do estômago).

Saudades do tempo do DC3!

Gabriel Novis Neves
Cuiabá, 23/12/2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

EQUÍVOCOS

Tenho conversado muito sobre os equívocos históricos cometidos em nosso planeta. São tantos! Torna-se impossível citá-los!

No Arraial do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, os equívocos históricos só perdem, por enquanto, para o “mosquitinho” da dengue. Estou tão acostumado a conviver com eles, que aquele ditado que aprendi na infância – “cuidado com o andor que o santo é de barro” – nem uso mais!

O equivocado sabe que o equívoco existe, mas sente-se bem nessa roupagem. É por essas e outras que, preventivamente, fiz exame de sangue para pesquisar no meu DNA, se possuo o alelo 33, que indica Doença de Alzheimer. Estou livre desse mal, pelo menos enquanto estiver por aqui.

Fiz uma pesquisa sobre os nomes de alguns logradouros públicos aqui de Cuiabá. Quanta barbaridade histórica! Quantos ilustres desconhecidos, ou nem tanto assim, têm seus nomes em placas de bronze! Estes equívocos cometidos, por desinformação, ou má fé mesmo, é o que chamo de um inaceitável erro histórico. E o que dizer sobre as homenagens, cada vez mais sem pé nem cabeça, que são feitas diariamente e aos borbotões? É. O melhor é não dizer nada. Existem até instituições que são criadas apenas para distribuírem títulos, banalizando de tal forma as homenagens que estas acabam virando desomenagens. Colação de grau então! Transforma-se, às vezes, numa cena obscena com suas homenagens tão descabidas!

E de equívoco em equívoco, caminhamos para um beco sem saída, pois equívoco é bem mais sério que erro. O erro é passível de correção, mas o equívoco distorce a história. O próximo ano será terrível! Será o ano propício ao surgimento de equívocos, e conseqüentemente, de lamentáveis erros históricos. Assistiremos ao maior desfile de equívocos históricos que, com certeza, ocuparão os cargos de comando do nosso país.

Um país não pode viver de equívocos, e sim de trabalho, dignidade, ética, com sangue de honestidade e credibilidade - além do compromisso com aqueles que nem sequer sabem da existência dos equívocos!

Gabriel Novis Neves
17 / 12 / 2009

PERFIL

Vou tentar pintar com palavras o perfil que acho ideal para o próximo governador de Mato Grosso. Não precisa ser doutor ou empresário. Rico ou pobre. Alto ou baixo. Gordo ou magro. Nascido aqui ou vindo para aqui. Casado ou solteiro. Católico ou crente. Botafoguense ou não. O que vale no perfil que imagino é o caráter do futuro comandante. Caráter é mais importante que conhecimento. Alguém que não sofra das vaidades sociais. Que não seja movido a aplausos. Que tenha paciência para o diálogo. Que saiba que somos desiguais e como desiguais somos iguais. Que faça um governo para todos e a “maioria dos todos” são pobres. Que substitua o abraço de Judas por compromissos que serão honrados. Que mostre com ações quem é. E que não permita que os marqueteiros forjem uma imagem irreal. Um governador que tenha ouvidos para ouvir, olhos para ver, palavra para ser respeitada. Que tenha força suficiente para não deixar cair na tentação do elogio fácil e das amizades de interesses. Que saia à rua como nós, sem aparatos bélicos que só servem para humilhar os desprotegidos. Que tenha maturidade para não acreditar em histórias de Branca de Neve e os Setes Anões ou ladr$$$. Que não loteie o Estado transformando-o em verdadeiras capitanias hereditárias do século XXI. Que respeite o próximo como a si mesmo e a Constituição Federal e Estadual. Que salve as nossas crianças pela educação. Que forneça aos pobres educação semelhante aos dos ricos. Que trabalhe sem cobrar recompensas. Que valorize os que fazem a grandeza deste Estado protegendo a sua saúde. Que tenha pudor com a coisa pública.

Esse o perfil que imagino para o próximo governador.

Gabriel Novis Neves
27-07-2009

EXEMPLO

Na cidadezinha do interior fui educado pelos meus pais. Suas aulas eram sempre baseadas nos ditados populares. Escolhi um para lembrar principalmente às novas gerações, a sabedoria dos mesmos. “O exemplo vem de cima”, uma das principais matérias do livro de educação para a vida. Não há possibilidade alguma de se construir algo se o bom exemplo não vier de cima. A ortografia muda, a linguagem muda, a moeda muda, a moda é a própria mudança, mas os ditados populares não mudam. O Brasil vive um tremendo tsunami pelos exemplos que vem de cima.

Não adianta reconhecer a honestidade do limpador de banheiro do Aeroporto Internacional, que encontrou dez mil dólares e entregou ao distraído viajante. E mais, se recusou a receber a gratificação pelo seu ato de pura honestidade. Por um dia esse faxineiro ficou famoso sendo notícia na televisão e jornais. Até condecoração recebeu do Presidente da República, como ser honesto não fosse dever e sim privilégio de poucos. Depois o trabalhador volta ao anonimato do seu serviço. A sua aposentadoria pelo INPS será de um salário mínimo. O exemplo vindo de baixo como deste faxineiro é tratado como espetáculo, coisa do outro mundo, achado de algo perdido.

O exemplo que espero é aquele de cima para baixo. Com o emprego desta centenária técnica não há necessidade de cursos de liderança, implantação de treinamento de recursos humanos para a humanização das empresas, palestras de auto-estima, ou faixas comemorativas nas datas que o comércio nos impõe. Nem o humilhante e ultrapassado beija-mão em homenagem ao chefe.

O trabalho, seja qual for, tem que ter a cara do chefe. Um chefe trapalhão pode investir milhões de reais em treinamento de pessoal que é jogar dinheiro pelo ralo. Fico imaginando como os nossos chefões comandam os seus serviços numa comunidade em que todos conhecem a sua vida verdadeira, e o seu exemplo, às vezes, constrangedor.

Fui durante quarenta anos funcionário público. Enganam-se aqueles que acham que há sigilo no serviço. Para se fazer trapaças há sempre necessidade de uma sociedade com um subalterno. Aí a cobra fuma. O chefe vira refém e ninguém mais o reconhece como tal. Faço estas reflexões no momento em que o nosso país precisa de exemplos que vem de cima em todos os seus setores: públicos, privados, comunitários, religiosos. Do contrário não há saída e a podridão um dia aparece.

Gabriel Novis Neves
15-07-09

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O Turco falou com o Papai Noel

No ano passado escrevi um artigo em que fazia um balancete dos cartões, e-mails e telefonemas que recebi por ocasião do Natal e Ano Novo. Foi tão medíocre o meu desempenho que este ano, por pudor, não irei divulgá-los. Porém, algumas surpresas estão substituindo as tradicionais mensagens. Recebi um longo telefonema do Turco do Sul. Aquele que, eleito com 37 anos, governou Mato-Grosso não dividido e deixou como legado principal duas Universidades Federais: a de Cuiabá (UFMT) e a de Campo Grande (UFMS).

São sempre interessantes esses telefonemas! Já ficamos anos sem nos comunicar, e quando nos encontramos, é como se ainda ontem tivéssemos jantado juntos. O velho turco, que é armênio, disse-me que ligou para o Papai Noel aqui de Cuiabá. Fez um apelo ao simpático velhinho! Queria ver cumprido o que é previsto na Constituição, com relação aos salários dos ex-governadores. O bondoso velhinho, simpaticamente, ficou de resolver este problema, que irá beneficiar poucos ex-governadores. Na conversa animada Papai Noel disse ao Turco que até hoje a população de Mato-Grosso diz que o Estado só teve dois Governadores: Ele e o Turco-Armênio.

A história do criador de Universidades, agora aos oitenta anos, é uma lição aos jovens. Seu único patrimônio era uma pequena fazenda em Miranda, propriedade da sua família há mais de um século. Foi doada agora pela FUNAI aos índios da região. Outros bens materiais desapareceram nas campanhas políticas. Mora em Campo Grande, na casa da sua filha, e se não é a aposentadoria de Governador daqui e do Sul, estaria em dificuldades. Não vou comentar, por motivos éticos, como esse dinheiro lhe faz falta!

Vou pedir ao Papai Noel, através das minhas orações, que atenda esses velhinhos que muito fizeram pelo desenvolvimento do nosso “Matogrossão”!

Gabriel Novis Neves
21 de Dezembro de 2009.

domingo, 20 de dezembro de 2009

A farra na Dinamarca

Não é possível que uns discursos, num palco de egocentrismo, irão resolver os danos causados pelo homem à Natureza.

À distância eu acompanho a folia naquele lado do mundo!

Quase mil manifestantes foram presos. Alguns políticos chegam, falam, ou não, e retornam aos seus países de origem. A maioria fica até o final da festa para marcar presença.

Nada mais politicamente correto para alguns esta viagem à Copenhague - enriquecem seus currículos para efeitos políticos e eleitoreiros. Até mesmo os usuários contumazes de moto serras estão presentes no evento.

O pior é que são os destruidores da Natureza que estão no comandando do espetáculo - exigindo cada vez mais sacrifícios dos países pobres. Muitos dos temas apresentados, como o degelo da calota ártica, não merecem credibilidade científica.

Os principais responsáveis pelo aquecimento da Terra e o desmatamento do planeta, com a maior cara de pau estão lá - fantasiados de anjinhos protetores do meio ambiente.

No final sobrarão fotos extravagantes da região das geleiras, presentes exóticos e a consagração universal - na visão deles.

Lembra-me o ECO-RIO. De prático, daquele mega evento, só ficou para a nossa lembrança: a miséria do Rio com as suas favelas; o policiamento ostensivo nas ruas - com armas de calibre de guerra - e as belezas da natureza - que o homem ainda não conseguiu destruir.

Ficou tudo no blá-blá-blá. No nosso Mato Grosso: do Pantanal, após a divisão do Estado, restou pouco para nós; o Cerrado se transformou em uma enorme fazenda de grãos e gados; a floresta Amazônica está desaparecendo.

Perdemos a guerra da ocupação racional do nosso espaço aqui em Mato Grosso. O resultado é que o maior programa social que temos são as estradas para escoamentos dos nossos produtos agrícolas.

Não é pessimismo o que escrevi, e sim, a descrição da herança que deixaremos aos nossos filhos.

Gabriel Novis Neves
Cuiabá, MT 14 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

FIASCO

A palavra mais usada hoje em dia no mundo globalizado é: fiasco. A imprensa internacional dedica páginas e páginas ao fiasco de Copenhague. Apesar de o importante evento ter sido programado com antecedência, a sua realização, de tão rudimentar, ficou conhecida como o fiasco da Dinamarca!

A logística foi de causar inveja aos países menos desenvolvidos . A entrada para o pavilhão de eventos era uma só - e muitos poderosos do planeta ficaram horas na fila. O povão das ONGs então, nem se fala! O fiasco só não foi total na terra do gelo por causa das fotografias que alguns participantes do terceiro mundo conseguiram tirar com políticos e artistas famosos. O objetivo principal da reunião era a criação de um Fundo de Proteção à Natureza. A sacola do dinheiro ficou vazia, e tudo vai continuar como dantes.

No Brasil os fiascos são diários. O último foi o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). As grandes Universidades caíram fora do teste, e tudo foi realizado às pressas visando dividendos políticos para a campanha de 2010. O Ministro da Educação não aceitou tal fiasco e disse que no próximo ano será melhor.

Mato Grosso, não ficou, e nem poderia ficar ausente, desta corrente de fiascos. Para citar o maior de todos, vale a pena lembrar a história do maior concurso público do mundo. Deu zebra! Foi diagnosticado pelo Governo como um pequeno problema de logística em alguns locais do concurso. Com o escândalo, criou-se uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito. Agora o diagnóstico do fiasco foi mudado para quebra de sigilo das provas.

O ano que está terminando foi carimbado pelo povo como o ano do fiasco.

Gabriel Novis Neves
17 de Dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

BRUCUTU

No intervalo do piquenique de Copenhague a senadora do Acre, com pós-doutorado em meio ambiente, concedeu uma entrevista à imprensa mundial dizendo que os países ricos, responsáveis pelo desastre ecológico, teriam que pagar em dólares pelo crime que cometeram contra a humanidade. É o mínimo que poderiam fazer para salvar o que resta do planeta.

Pedagogicamente citou o Brasil, que hoje empresta dinheiro ao FMI, para que, simbolicamente, doasse um bilhão de dólares para o Fundo a ser criado para a distribuição desses recursos aos países pobres - agora com a responsabilidade de manter vivos as suas florestas, rios e fauna.

Logo a seguir foi entrevistada a ex-revolucionária, hoje, chefe da delegação brasileira ao piquenique. Contesta a entrevista da doutora da selva tentando, com números, desqualificá-la. Declarou à imprensa que um bilhão de dólares é uma titica para resolver o problema mundial. Com a modéstia que lhe é peculiar e a fineza das suas atitudes, afirma do alto da sua prepotência, que com menos de quinhentos bilhões não haveria a mínina possibilidade de se conversar sobre o assunto.

A velha ex-guerrilheira não entendeu a sutileza da menina do Acre. Partiu para o pau, seguindo os velhos manuais do Caribe. A mãe do PAC e do APAGÃO demonstrou total incompetência política e inabilidade para enfrentar problemas sérios.

Quem ganhou com isto foi a internacionalmente conhecida e respeitada senadora do meio ambiente, Marina. O brucutu inventado para governar o Brasil, não intimidou a frágil (fisicamente) senadora, portadora de seqüelas das doenças ambientais da selva. Pelo menos o Brasil está demonstrando no reino da Dinamarca que algo de podre existe por aqui - e que não é pum.

Os países ricos não estão nem aí para os erros cometidos no passado contra a Natureza. A organização do evento é o mais primitivo possível e o único produto vendável é a vaidade em ano eleitoral. Sem dinheiro, a badalada reunião no frio valeu pela farra. E a Dilma quis matar a Marina...

“- Ah! De quê!” comentou o meu irmão.

Gabriel Novis Neves
15 / 12 / 2009

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Qual é?

Um querido amigo jornalista certa ocasião em um bate papo perguntou-me: “- Qual o seu estilo de escrever?”

Ocupei cargos importantes no serviço público no período entre 1966-1985, com uma patológica recaída de nove meses em 2003. Durante todos esses anos, só para colação de grau na UFMT, escrevi cerca de quarenta discursos. Não estou contando as formaturas de 1º e 2º graus em todo o Estado de Mato Grosso como Secretário Estadual de Educação.

O experiente jornalista, que sempre acompanhou o meu trabalho, não conseguia identificar o meu estilo de escrever. Expliquei-lhe que publiquei muitos textos, e escrevi até para orelha de livros. Faltava-me até tempo para a produção desses trabalhos. O tema das falas era sempre escolhido por mim. Discutia com a equipe de colaboradores que desenvolviam as idéias, mas a redação e edição final eram da minha inteira responsabilidade. Sempre me davam muito trabalho - especialmente para a colação de grau - o título e o conteúdo do discurso - considerado avançado para a época.

Em uma colação de grau falei de um bife que foi lançado ao chão. Ao entrar certa vez no recém inaugurado Restaurante Universitário (com satisfação e um pouco de melancolia, lembrando do tempo em que fazia as refeições no Restaurante da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha do Rio de Janeiro), vejo um aluno, provavelmente com hipoglicemia, receber de uma humilde funcionária o seu “bandejão.” Um enorme bife estava colocado em cima de um morro de arroz. Com o garfo o aluno tentou espetá-lo para levá-lo à boca. Com o insucesso, devido à carne não estar tão macia para a dentada que iria encher-lhe a boca de carne, lança o bife ao chão. Foi uma cena que não consegui esquecer, e serviu de tema para o discurso da formatura daquele ano. Ao lançar as proteínas no chão, alguém teria que abaixar-se para jogá-lo no lixo. Esse alguém, talvez ao sair de casa, não possuísse um pedaço de carne sequer para alimentar os seus filhos. A reflexão foi sobre a injustiça social representada naquele ato e o humanismo que sempre deve nos acompanhar.

Outro discurso que marcou muito o meu estilo foi o da colação de grau de janeiro - logo após a divisão do Estado. O povo cuiabano estava cabisbaixo e perdido a sua auto-estima. Em vez da tradicional exaltação para aqueles que tiveram oportunidade de cursar um curso superior e os famosos agradecimentos aos vivos e mortos, fui direto à ferida. No discurso iniciei dizendo que desde o nascimento da UFMT tínhamos as costas viradas para o sul do nosso Estado e o nosso único interesse era o norte. Para tentar elevar a auto-estima da minha gente, traduzi esse tempo em horas.
Notei a mudança nas fisionomias dos presentes que lotavam o nosso Ginásio de Esportes. Mais uma vez os “pistoleiros intelectuais” trabalharam na elaboração do documento.

Passados os anos a amizade e a admiração pelo velho jornalista continuam e o meu estilo de escrever é este que está disponível no
www.bar-do-bugre.blogspot.com e no http://www.gnn-cultura.blogspot.com/.

Gabriel Novis Neves
Cuiabá, 11/12/2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A palestra

A Academia de Medicina de Mato Grosso realiza todos os meses uma palestra sobre Saúde proferida por uma personalidade. Este mês o palestrante foi o Professor Eduardo Delamônica. Tivemos o privilégio de escutá-lo sobre o tema Educação Médica.

Delamônica é médico, professor da Universidade da Selva, e foi o terceiro reitor da sua história.

Homem íntegro, ético, estudioso e extremamente comprometido com os problemas sociais.

Tenho preguiça de sofrer, mas confesso que sofri muito durante a fala do meu colega, ao ouvi-lo contar a história das Escolas de Medicina do Brasil e de Mato Grosso.

Não sei trabalhar com o passado que não volta mais. As coisas boas e más são cicatrizes que não devem ser atritadas. Produzem sangramentos desnecessários.

Saindo da história, ele nos fez viajar pela longa estrada pedagógica da educação médica. A proposta do nosso professor para o Brasil formar médicos contemporâneos data de 1976 - quando implantou o ensino integrado na nossa Uniselva. Só agora, passados trinta anos, o Ministério da Educação está recomendando às escolas médicas brasileiras adotar aquele modelo.

Afinal, o que está acontecendo com a formação do médico no Brasil? Ficou claro na palestra a irresponsabilidade do Governo Federal. Nos últimos dez anos foram criados no Brasil, com autorização de Brasília, mais de setenta escolas médicas, e o pior é que, na sua maioria, sem as condições mínimas de oferecer um bom ensino.

Este mal atingiu, na visão do palestrante, o nosso conceituado curso de medicina da UFMT, que é excelente também pelo pequeno número de alunos. “- Abriram demagogicamente as porteiras da escola, dobrando o número de vagas,” brada Delamônica. “- Criminosamente, como vem acontecendo com a educação brasileira, não são fornecidos os instrumentos necessários para proteger a sua qualidade,” diz Delamônica.

E continua:- “Temos um monstro cabeçudo de pernas finas. Formaremos médicos defeituosos. Cuiabá é uma cidade de 600 mil habitantes. Aumentou de 140 para 208 o número de vagas para formar médicos. Saímos de uma greve de 70 dias na saúde por melhores condições de trabalho, quando ficou amplamente demonstrada a nossa fragilidade física hospitalar. Oferecer certificados de nível superior virou mania neste país”, conclui Delamônica.

O desinteresse das nossas autoridades por este assunto é grande, mas os ventos levarão as suas idéias a algum terreno fértil.
É o que espero.

Gabriel Novis Neves
23-11-2009


* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

sábado, 12 de dezembro de 2009

DIVERGÊNCIA

Acabo de ler dois artigos sobre um mesmo assunto escrito por Secretários de Fazenda.

Um, extremamente técnico, ético, esclarecedor, com a responsabilidade de quem é professor de economia da UFMT há mais de vinte e cinco anos, com mestrado em economia pela UnB. Por longos anos foi responsável pelas finanças do Estado, e atualmente responde pelas finanças da Prefeitura de Cuiabá. É um expert em finanças públicas. Fiquei convencido de que a tese apresentada por ele engloba, não só Cuiabá e o Brasil, mas o mundo todo. A solução básica para a dificuldade só poderá ser resolvida através do Congresso Nacional com mudanças, tanto nas políticas públicas como nos perfis dos seus executores.

O outro artigo é de um ex-bancário. Encara o importante problema de uma maneira carnavalesca. Na comissão de frente do desfile, agressões das mais primárias possíveis. É difícil crer nos termos utilizados como argumentos: “inocência”, “barriga de aluguel”, “favorecimento de paulista” - tudo isso da responsabilidade da Prefeitura de Cuiabá. Na ala dos compositores são apresentados os culpados, na visão do autor da matéria. São eles: o Governador da Mooca, o Prefeito de Dracena, o Presidente goiano da Federação das Indústrias de Mato-Grosso, e nas sublinhas, até São Benedito entrou nessa.

A gente humilde da minha cidade, a quem lhe foi negada oportunidades, na sua maioria, é devota de São Benedito. O enredo, segundo o secretário, é baseado no linguajar não técnico, para que esse pessoal possa entender.

O locutor da multidão presente ao comício no Dia do Trabalhador em São Paulo, não aceita críticas. Considera-se o enviado de Deus para resolver os problemas do mundo, e vai muito bem nesta função - pois até já descobriu os culpados! Agora é tentar destruí-los para permanecer no cargo, ou ser promovido por um dos homens mais poderosos do mundo.

Escolinha ruim essa nossa! Além de nos ensinar tanta coisa inútil, ainda nos ensina a não aceitar críticas.

Fico com a opinião qualificada do acadêmico. A exigência é da minha consciência.

Gabriel Novis Neves
08 de Dezembro de 2009
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

10 de Dezembro

“Precisamos dividir o poder no pantanal, ele não pode continuar a ter um dono. O instrumento está aqui.” Após essas palavras, Jarbas Gonçalves Passarinho, Ministro da Educação, passou às minhas mãos o ato de criação da Universidade Federal de Mato-Grosso, com sede em Cuiabá.

A nossa Universidade foi fecundada em Cuiabá e o seu nascimento, por motivos óbvios, ocorreu na Base Aérea de Campo Grande. O parto foi feito pelo General Médici, tendo como auxiliares, o Ministro de Xapuri (Passarinho) e o Governador de Miranda (Pedrossian).

Como Secretário de Educação do Estado assisti ao parto histórico, cheio de quebra de paradigmas. Mato-Grosso não era dividido, e naquela ocasião, a velha idéia da divisão do Estado pertencia à história. A rivalidade Cuiabá X Campo Grande era enorme e a nossa UFMT tem na sua certidão, Campo Grande como local do seu nascimento.

Interessante! Uma Universidade que veio para democratizar o poder no Estado curral, teve como maternidade uma Base Aérea Militar e um General do Exército como autor das primeiras impressões digitais na recém nascida UFMT.

O poder político era sustentado pelo poder econômico, representado pelo gado do pantanal e era alternado entre algumas famílias. Em 1970 este estado de coisas era incompatível com a dignidade humana. O Ministro do Acre, ao me nomear reitor “pró-tempore”, incumbiu-me de transformar o ato burocrático do Diário Oficial da União, em realidade. Na ocasião disse-me: “não estou lhe oferecendo emprego. Esta é uma missão importante para o seu Estado, para a Amazônia e para o Brasil” - palavras proféticas.

Em 1974 assume a Presidência da República o General Geisel. Após montar o seu governo na praça XV de Novembro no Rio de Janeiro, escolheu quatro locais no Brasil para visitar. A primeira foi na nossa recém nascida Universidade da Selva. Passou a manhã conosco em uma sala de aula no bloco de tecnologia, sentado em uma carteira escolar comum, com toda a sua assessoria. Ao final do encontro senti o ambiente francamente acolhedor às propostas da Uniselva para o desenvolvimento do Estado. Quebrando o rígido protocolo convidei o Presidente a visitar o Museu Rondon. Disse-lhe que seria uma heresia visitar o campus sem homenagear o nosso patrono Rondon. A severa segurança do Presidente foi à loucura! Nessa ocasião ele recebeu das mãos do Diretor do Museu, uma borduna dos Índios Gigantes - símbolo do poder do homem da floresta. Senti cordialidade por parte do temido General diante de tal presente.

Após as despedidas, e já no carro oficial do Governador Fragelli, confidenciou a este, que o Estado seria dividido e que a notícia não poderia ser vazada. O Presidente ficou convencido, após a sua visita, que a fábrica de gente e de conhecimento no Coxipó, daria sustentação à sua tese de re-divisão territorial do Brasil. E essa notícia não vazou mesmo!

Completando 39 anos, a UFMT tem novas missões. O passado nos ensina que o poder não pode centralizar-se nas mãos de alguns. Precisamos recordar que a criação da UFMT veio exatamente para oferecer oportunidades a todos, especialmente aos menos favorecidos economicamente, e assim continuar a criar condições de desenvolvimento no Estado para o surgimento de um novo Brasil.

Esta é a genética da nossa balzaquiana UFMT.

Gabriel Novis Neves
09 de Dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

OLHO E DEDO

Estou me desfazendo do acúmulo de coisas inúteis que habitam o meu cérebro. A fórmula que encontrei para me libertar de todas estas porcarias foi - escrever.

No momento os meus pensamentos escoam melhor escrevendo em velhos cadernos - talvez pela identificação com a minha alfabetização e tantos anos de escolaridade. Escorrem com relativa facilidade do meu cérebro. Num primeiro instante não me preocupo com a forma, nem tampouco com o que estou derramando no papel. Não costumo reler, de imediato, o que escrevo. Num segundo instante, que acontece sempre pela madrugada, enquanto me apronto no banheiro, releio o que escrevi e faço as indispensáveis correções. Vem agora o terceiro instante, que é passar a mensagem para o computador. Peço ajuda ao meu irmão que perdeu uma visão e sobreviveu a um AVC (acidente vascular cerebral).

Com o olho bom ele dita o texto para mim. Digito apenas com um dedo, e no final dá tudo certo. A produção é assim. Só me resta trabalhar com muito humor, mesmo comentando coisas sérias. Dois deficientes. Um “avecista” e o outro “dedista” trabalhando juntos.

É uma história que precisa de muita coragem e confiança para ser contada. Os meus artigos são ditados pelo meu irmão avecista, que só tem um olho, para o digitador, que só tem um dedo que trabalha. Nem em livros de auto-estima, encontramos exemplo tão didático!

Tudo é possível com esforço! Talento? Tá longe da dupla de cento e quarenta e cinco anos. Vontade de lutar sim, esta continua para que não envelheçamos precocemente - e a cena ao vivo nos faz rir o tempo todo!

Como é que pode né?

Gabriel Novis Neves
05/12/09.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A crônica abortada

O final do Campeonato Brasileiro de Futebol foi melhor do que o teste da esteira para diagnosticar lesões cardíacas. Com pequena exceção, para confirmar a regra, todos os times estavam disputando algo. Quatro decidiam o primeiro lugar do Campeonato Brasileiro. Outros quatro, vaga para a Copa Libertadores da América. Tinha a turma do Sul Americano e finalmente o grupo da permanência na primeira divisão, ou elite do futebol brasileiro.

O meu Bota estava neste grupo da morte. Durante eternos cinqüenta e cinco minutos amargurei o rebaixamento. Sofria e pensava como iria enfrentar a gozação do dia seguinte. E não é que o Fogão conseguiu energia de um cuiabano do Carumbé, para despachar duplamente o Palmeiras? Com “aquele” gol de cabeça o verdão de São Paulo perdia o campeonato e a vaga para a Libertadores. Ontem o Bota foi o caçador - após passar todo o campeonato na perigosa zona de rebaixamento.

Eu tinha na cabeça vários títulos para comentar o final do campeonato: “Deu zebra no Maracanã”, o “Beira-Rio é Grêmio”, “Cuca enterra o Flu”, “Outra vez Bota?”

Apito final. A crônica foi abortada espontaneamente. Pela primeira vez na minha casa todos comemoraram um resultado de futebol. Meus filhos são Flamengo, o meu irmão Fluminense e eu Botafogo.

Exausto com a sorte coletiva, cedo fui dormir - por cautela coronariana. Mesmo debaixo de pesada chuva, às cinco e trinta da madrugada estava na Academia de Ginástica testando a minha saúde física. O meu irmão “avecista”, que é Fluminense, nem o pacote de remédio noturno tomou - de tanta felicidade! Os meus filhos e neto de oito anos, embriagados pelo título, dormiram uniformizados de vermelho e preto.

Ufa! Que sofrimento! Agora - só no ano que vem.

Gabriel Novis Neves
07/12/2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

Preguiça

Tenho enorme preguiça de sofrer! Para tanto utilizo a simbologia desse animal que passa a vida grudado em uma árvore. Sinto-me hoje com essa vontade de ficar largado em cima de uma cama sem nada fazer. Se algo fizer de exercício físico vou sofrer; fico em casa para ser feliz.

Dezembro é um mês festeiro, mais festeiro que fevereiro do carnaval e junho das festas juninas. No período “pré” Natal as festas são tantas que nos são oferecidos pacotes diários. É almoço comemorativo da empresa, happy-hour com os colegas de trabalho, festa de amigo oculto à noite, com direito a clássica esticadinha para o escaldado, já com o sol aparecendo.

Qualquer leigo em Medicina sabe dos riscos que estas festas representam para a nossa saúde física e econômica. Nada melhor nestas situações que apelar para a preguiça, que foi o que fiz hoje.

Quero ficar comigo, conversar comigo, não com palavras, mas com meus pensamentos. Não desejo hoje falar com ninguém do meu dia a dia, porém, estou aberto a conversar com pessoas que há muito já me deixaram. Não vou, com esta decisão, prejudicar ninguém, embora saiba que o silêncio, muitas vezes, é extremamente agressivo. Pelo insulto trocamos mágoas, com o silêncio atingimos mortalmente os nossos adversários. O conflito durante as refeições é uma receita antiga para minar um desafeto. O silêncio é mortal. Ninguém suporta a falta de uma resposta ou a impossibilidade de uma pergunta.

Hoje não quero sofrer - quero viver a preguiça!

Gabriel Novis Neves
05/12/2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

NASCENTE

O maior rio do Brasil nasce em Brasília e banha todo o território nacional com mais de oito milhões de quilômetros quadrados. Sempre houve muito “zelo” em se proteger a sua nascente, pois qualquer dano ecológico teria uma repercussão catastrófica e os grandes mutilados seriam os municípios que sem água ficariam sem condições de sobrevivência. Receio que esta nascente esteja morrendo - vítima de tantos desmatamentos éticos nos últimos cinquenta anos.

Atualmente a poluição na nascente do rio do poder em Brasília está irrecuperável. O Governo do Distrito Federal montou uma estrutura para atingir a nascente do rio, que dificilmente salvará o seu idealizador, o ex-controlador do painel eletrônico do Senado Federal. Cada vez que assisto pela televisão a entrega dos pacotes de “poluente” para serem jogados na nascente do rio, fico catatônico para não acreditar.

O desfile do pessoal que aparece recebendo os pacotes é de gente super importante. Até uma insuspeita professora, referência no mundo acadêmico brasileiro, que durante anos comandou a educação do Brasil, esteve pegando o seu “pacotinho”. O pior é que o Presidente que mora lá afirmou para todo o Brasil que as imagens repetidas na televisão, não dizem nada.

O Governador, aquele do painel do Senado, que aparece também recebendo um pacote de “poluente”, diz que no pacote existia dinheiro sim, mas para campanhas filantrópicas. Só quem acreditou tratar-se de roubo do dinheiro público, foi a população de Brasília que saiu às ruas obrigando a demissão em massa dos Secretários de Estado, a maioria com o “pacotinho”, e exigindo ainda a punição do autor da idéia, aquele mesmo do painel do Senado.

A nascente do rio da corrupção foi atingida com repercussão nacional. Todos os municípios estão contaminados pelo material do “pacotinho”. E o Pita que morreu pobre e abandonado, passou para a história como o único político corrupto deste país.

Gabriel Novis Neves
03 de Dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A medicina no interior

Periodicamente, o Conselho Regional de Medicina (CRM), visita as cidades do interior do Estado com a finalidade de ministrar cursos de atualização, prestar assessorias, constatar como andam os serviços de saúde e verificar o grau de satisfação dos médicos. O último trabalho do CRM abrangeu quatro dos municípios mais ricos economicamente de Mato Grosso: Sorriso, Sinop, Lucas e Nova Mutum. Conversei com um colega do grupo de verificação e o seu relatório foi simplesmente desanimador. “-Tudo que acontece em Cuiabá, e é motivo de severas críticas, encontramos com juros e correção monetária nestes municípios.”

Faltam médicos, leitos hospitalares, postos de saúde, UTIs, pronto atendimentos e medicamentos. Os pacientes enfrentam enormes filas para chegar a um consultório médico. Hospitais lotados com pacientes amontoados pelo chão, cadeiras e macas. Os médicos, de um desses municípios, não tem nem contrato de trabalho. É tudo de “boca”. As condições de trabalho oferecidas aos profissionais de saúde são as piores possíveis. O CRM pedirá a interdição do maior Pronto Atendimento Municipal das quatro cidades - por não preencher as normas mínimas exigidas para o seu funcionamento.

O coração do agronegócio tem tudo para ter um serviço médico de qualidade. Entretanto, faz saúde pública motorizada, não com as obsoletas ambulâncias, e sim com os superônibus trafegando em estradas pavimentadas no transporte dos seus pacientes para Cuiabá.

O caos da saúde está implantado em todo o Estado. Pelo menos por aqui existem os seguidores de Pablo Neruda, que falam por aqueles que não são lembrados.

A medicina no interior de Mato Grosso é rudimentar. Só existe no INFORMATIVO, que circula como encarte de um jornal de Cuiabá.

Gabriel Novis Neves
30/11/2009
* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

IAPP

Em muitos países o IAPP já foi implantado. Estou torcendo para que esta conquista científica chegue ao Brasil.

O IAPP - Instituto de Avaliação Psicológica do Político - é uma necessidade dos tempos pós-modernos. Com a implantação deste serviço preventivo ganharemos muito em avanços tecnológicos, e, além de tudo, economizaremos recursos.

Várias gerações foram prejudicadas elegendo governantes psicóticos, neuróticos, psicopatas, e especialmente, carentes de notoriedade. Se tivessem sido submetidos ao teste do IAPP, com toda certeza não teríamos perdido o trem da modernidade, e nem entrado no vermelho durante anos no FMI. Até hoje pagamos um alto custo pela falta da implantação do IAPP.

No nosso Estado então, a situação é de emergência. Diariamente assistimos ao inacreditável. Com o IAPP, o meio ambiente seria entendido como um bem da humanidade, e as crianças, como o futuro deste país.

A fixação do homem no campo, em condições humanas de vida, seria interpretada como fator principal de eliminação da miséria social das metrópoles.

O IAPP é uma poderosa “enxada” para diminuir a violência já institucionalizada, a gestação precoce e a dependência química dos nossos jovens. As estradas valorizadas seriam não só as do asfalto, - necessárias para escoar a produção do agro negócio.

A estrada que me refiro só poderia acontecer com os aprovados no teste do IAPP: são as estradas das oportunidades e esperanças para todos. Não suporto mais viver em um mundo de números! Quero contabilizar gente. Gente educada, com saúde, segurança, emprego e felicidade.

Que falta nos faz o IAPP – Instituto de Avaliação Psicológica do Político!

Gabriel Novis Neves
30 de Novembro de 2009
* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

O envelhecer

“As coisas nunca são tão boas quanto esperamos, nem tão ruins quanto tememos”.

O que seria da humanidade sem o humor das histórias do português, mineirim e idosos? Os velhinhos e velhinhas ocupam na minha classificação o 1º lugar. O idoso é um privilegiado, além de trabalhar longo tempo para a sociedade, quando está para mudar de idade - que é a morte - ainda propicia entretenimento especialmente aos mais jovens. E a medicina nos tem ajudado muito na arte de envelhecer com humor.

É muito bom e saudável contar piadas de velhos. São as minhas preferidas, e para não melindrar ninguém e me livrar de um processo por assédio ou atentado ao pudor, utilizo sempre como personagens a minha família e eu.

Lembro-me da história do meu avô, que ao completar 100 anos, e nunca ter ido ao médico, ganhou como presente uma consulta. Veio de carroça do Livramento, seguido por aquele bando de descendentes: todo de terno branco, chapéu de palha, gravata borboleta, sapato preto, um cigarrinho forte e sempre aceso, com a escarradeira portátil, pois era dia de festa, e sua quinta mulher, educadíssima, não o deixou jogar o produto amarelado e abundante dos seus pulmões pela estrada.

O ramo da família que morava em Cuiabá, desde cedo o esperava na porta do consultório médico, na Rua dos Porcos. Quando meu avô chegou para consulta, foi aquela festa danada. Gente falando alto, tropeçando pelas calçadas e corredor do consultório.

Vovô é atendido pelo médico da família. Após minucioso exame clínico, o médico dá o seu parecer definitivo: o senhor está ótimo de saúde. Peso, pressão arterial, pulso, aparelho locomotor, tudo bem. De maldade, indaga ao meu avô: e aquela “outra parte” como está? Com dificuldade na sua audição, vovô solicitou ao médico que falasse mais alto. Com o aumento dos decibéis do doutor, o meu avô entendeu a pergunta e assustadíssimo responde: Doutor, esse negócio acaba?!

Nada acaba com o envelhecer, apenas modificamos o modo de conduzir a nossa vida. Dependemos de fatores externos como a genética e o meio ambiente para uma longa vida, mas isto é tarefa de Deus. Em segundo lugar, a vida longa e saudável é composta de pequenas vidas, que unidas produzem a longa vida. Temos sempre que recomeçar para não deixar faltar o combustível indispensável a uma vida saudável que é exatamente o começar.

O envelhecer não é nunca o terminar. É começar um novo tempo. Quintana foi quem melhor nos deu a dimensão do envelhecer. O poeta gaúcho afirmava que só temos duas idades - ou estamos vivos, ou estamos mortos.

O envelhecer não é a melhor idade. Melhor idade é sempre aquela que vivemos com saúde física e mental. Garanto que envelhecer é pelo menos a idade mais engraçada na vida das pessoas. É onde o aprendizado é diário. No meu caso, aprendi muito nesses últimos 5 anos:
- Aprendi a dormir só em uma imensa cama de casal.
- Aprendi, a saber, o preço das compras do mercado, da luz e da taxa do condomínio.
- Aprendi a viver me desviando dos preconceitos.
- Aprendi a prestar atenção na folhinha, para que os meus hábitos de consumo, mensalidade da academia de ginástica e o pagamento dos empregados não ficassem inadimplentes.

Enfim, aprendi também que na minha idade posso falar e fazer de tudo sem punição, exceto cometer infrações contra a ética e a dignidade das pessoas.

As famosas limitações dos idosos não existem se os mesmos encararem o fato como um novo ciclo. Se os cabelos estão prateados, vamos viver com os cachos prateados. Pintados, só servem para sujar a fronha do travesseiro. Papadas e bolsas nos olhos? Bem aventurados sinais de uma história longa. Botox para correção? Vou ficar a cara da Rogéria.

Os lábios afinam-se com a idade, de tantos beijos de amor que não economizamos em nossa juventude. Isto é troféu. Os jovens têm lábios carnudos porque não tiveram tempo de gastar esta camada protetora da boca com beijos ardentes. Porque preenchê-los e apagar os nossos amores? A pressão arterial aumentou? Benditos vasos sanguíneos resistentes ao tempo, sem entupir ou romper-se.

As mulheres só perdem com a idade, aquilo que sempre consideraram perdas – a menstruação. Na velhice, estão livres desta coisa chata, tão em desuso hoje com as histerectomias.

Como é belo ouvir o depoimento de uma Fernanda Montenegro que vive da arte e da imagem, afirmar, que aos 80 anos nunca procurou alterar os traços que a natureza lhe deu. A maioria das pessoas que não entendem o envelhecer me transmite a imagem do gato na praia escondendo as suas porcarias.

O envelhecer é saber se desfazer das nossas inutilidades para continuarmos com alegria de viver, num pequeno espaço comparado ao ninho vazio dos pássaros.

Envelhecer não deve nunca ser utilizado para rever o passado. Isto clinicamente significa um futuro incerto. A saudade também não deve constar na cartilha dos envelhecidos. Saudade não serve para nada. O que foi bom, não volta mais. E o que de ruim passamos, pertence ao lixo do esquecimento. Saudade só faz a gente sofrer. A saudade é a casa da morte, e nós estamos vivos, embora, envelhecidos. Esta não será nunca a nossa residência. Tristão de Atayde, na sua imensa sabedoria cunhou: “saudade é a presença da ausência”.

O idoso não deve ser tratado de uma maneira preconceituosa, como pertencente à melhor idade e ter direitos especiais, só porque tem 65 anos. O idoso não procura privilégios, mas felicidade. “Felicidade é alguém para amar, algo para fazer e algo para aspirar” (Poeta inglês). “Felicidade é um lugar onde você pode pensar, mas não pode fazer seu ninho”(Condessa francesa).

Há tempos anotei estas verdades sobre o envelhecer:

Enfim, envelheço quando o novo me assusta e minha mente insiste em não aceitar.

Envelheço quando me torno impaciente, intransigente e não consigo dialogar.

Envelheço quando meu pensamento abandona sua casa e retorna sem nada a acrescentar.

Envelheço quando muito me preocupo, e depois me culpo porque não tinha tantos motivos para me preocupar.

Envelheço quando penso demasiadamente em mim mesmo, e consequentemente me esqueço dos outros.

Envelheço quando penso em ousar e já antevejo o preço que terei que pagar pelo ato, mesmo que os fatos insistam em me contrariar.

Envelheço quando tenho a chance de amar e deixo o coração que se põe a pensar.

Envelheço quando permito que o cansaço e o desalento tomem conta da minha alma que se põe a lamentar.

Envelheço quando paro de lutar!

Gabriel Novis Neves
27 de Outubro de 2009

* Publicado simultaneamente no http://www.gnn-cultura.blogspot.com

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Agora é CU

Os políticos e burocratas são os maiores especialistas em criação de siglas. Assistindo à televisão, ouvi o Magnífico Reitor da Universidade Estadual de Mato-Grosso (UNEMAT) - respeitado professor doutor - referindo-se ao novo concurso público como concurso unificado – CU. Tudo começou como o maior concurso público do mundo. Após o fracasso, foi comparado a um pum que virou traque, e agora está na dimensão de um CU – concurso unificado.

O maior concurso público do mundo não foi anulado, e sim, cancelado para alguns e adiado para outros. Não ocorreram falhas, apenas pequenos incidentes pontuais em algumas localidades. Não há sinais de quebra de sigilo e sim pequena desorganização e confusão na distribuição das provas. Enfim, não houve nada, além da exploração política.

O Governo, compreensível como sempre, adiou pela segunda vez a data do agora concurso unificado , favorecendo os candidatos que terão mais tempo para se prepararem para as provas em janeiro e fevereiro do próximo ano.

Aqueles candidatos que se sentissem prejudicados foram orientados pelo senhor Secretário de Administração a procurar a justiça. Com a velocidade desses processos, com todos os recursos jurídicos que o Estado utilizará, muitos dos candidatos receberão as suas indenizações no céu.

Não houve imbróglio e sim uma grande distorção metodológica na execução do concurso que entraria para o livro dos recordes. Tudo ficou resolvido em uma simples reunião quando foi decidido que o nome daqui para frente seria concurso unificado, e para facilitar o entendimento dos candidatos, seria chamado de CU.

E assim ficamos aguardando até janeiro e fevereiro o CU – concurso unificado.

Gabriel Novis Neves
26 de Novembro de 2009.

domingo, 29 de novembro de 2009

Filosofia do cavalo

Em emocionante artigo a diretora de redação de um dos grandes jornais de Cuiabá relata a sua luta contra o câncer. No Dia Mundial de Combate ao Câncer (27 de novembro), a jornalista, que se identifica como sobrevivente de um câncer registra o que ela chamou de criminosas políticas públicas de tratamento no Brasil desta doença.

80% das vítimas desta doença dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). 20% são pacientes da rede privada. Ficou evidente na análise da jornalista que existem pacientes de primeira classe (tratados em hospitais privados) e os de segunda classe (tratados pelo SUS). Ela confessa que está curada, porque era paciente de primeira classe. É a realidade vista por uma paciente.

Como médico há cinqüenta anos o meu cotidiano é o sofrimento humano. Participei recentemente de um congresso médico, e no seu final, prometi a mim não voltar mais a nenhum. É desumano para um médico dominar novas tecnologias e terapias, e diante de um paciente de segunda classe (80% da população brasileira), não poder utilizar aqueles conhecimentos. O pior é que se a classe médica reclama das condições oferecidas aos pacientes pobres ela é quase destruída pelos plantonistas do poder.

Acabo de saber que um paciente de segunda classe morreu por falta de um desfibrilador cardíaco. E a impotência do médico ante tal situação? Só lhe resta deixar o plantão e fazer um Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia policial mais próxima, para não ser responsabilizado pela morte.

Minha mulher morreu de câncer, embora fosse passageira de primeira classe como a jornalista. É difícil acompanhar a trajetória desses pacientes “até a sua aposentadoria totalmente fora de hora”.

E o que fazem as nossas autoridades? Aplicam no orçamento da saúde a filosofia do cavalo na parada de 7 de setembro:

Andando, cagando e sendo aplaudido...

Gabriel Novis Neves
29-11-2009


* Publicado simultaneamente no http://www.gnn-cultura.blogspot.com/

FELICIDADE

Sempre me interessei por este assunto e é a ferramenta principal que utilizo no pré-natal das minhas clientes. Há trinta anos, após vinte pesquisando o perfil das minhas gestantes, com a orientação de artistas plásticos, escultores, pintores e fotógrafos, montei o único consultório de terapia visual de Cuiabá.

A gestante acha que neste período de reprodução, fica feia. Tem receio de perder o interesse sexual do companheiro; apresenta dúvidas com relação ao tipo de parto; preocupações com a saúde do neném; insegurança se encontrará o seu médico quando em trabalho de parto, e finalmente, “medo” dos honorários do seu obstetra. Trabalho contra estes valores adquiridos no meio em que vivem as nossas futuras mamães, e procuro reverte-los, pois, com certeza, isto ajudará o futuro do seu neném.

Após o nascimento, sempre repito aos pais, que o único objetivo do recém-nascido saudável é reencontrar a felicidade perdida com a sua saída do útero. O útero materno é o céu que perdemos com o nosso nascimento. ”Jogados” ao mundo, imediatamente procuramos encontrar a felicidade. Desde que nascemos corremos atrás dela, mas a felicidade está sempre correndo atrás de nós.

”A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve”- Vinícius de Moraes.

Mas afinal o que é a felicidade? Sempre tive dúvidas se sou ou não feliz. Lendo uma revista de circulação nacional fiz espontaneamente o teste da “Felicidade Interna Bruta”. O resultado para mim foi surpreendente! Eu não sou feliz, e sim, muito feliz - na contagem dos pontos do teste da revista.

Só me falta agora acreditar no teste e escrever o que é ser muito feliz.

Gabriel Novis Neves
28/11/2009


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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A CORDA

Recente pesquisa americana realizada em trinta e oito nações demonstrou que a maioria das pessoas idosas gostaria de retornar à idade infantil. Se a velhice é assustadora para alguns, para mim não é. Pertenço ao seleto grupo dos idosos. Velhice não dói e aos poucos o idoso vai percebendo as suas perdas. Acho que esta idade é a fase mais engraçada da nossa vida. É o período da descoberta dos pequenos detalhes, que na ansiedade da juventude, passam despercebidos.

Também não aceito chamar esta fase da vida como a melhor idade. Entendo como melhor idade aquela fase da vida em que estamos bem, indiferentemente da nossa faixa etária.

O idoso nunca se esquece da sua infância pela riqueza de valores adquiridos nesta fase. Sonhos e fantasias são os principais ingredientes desse período. Talvez por isso, tenha sido sempre um dos temas preferidos dos nossos poetas. Ataulfo Alves tinha saudades “da professorinha que lhe ensinou o bê-á-bá, dos jogos de botões pelas calçadas e das missas aos domingos na Matriz”.

Thiago de Melo abandonou a vida mundana para viver entre os povos das florestas da sua infância, e nos lembra, nos seus mandamentos, que “um adulto deveria confiar em outro adulto, como uma criança confia em outra criança”.

Quantos dos que me lêem nunca ouviram dos seus avós, pais, dindas, que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”? Este é um dos ditados da sabedoria popular que toda criança aprende. O adulto, às vezes, lembra-se deste ditado, e faz tudo para que a corda arrebente do lado mais fraco.

Estamos na prática observando esta verdade. O famoso concurso público, o maior do mundo, fracassou. Pela ordem hierárquica, quatro autoridades construíram o mastro da frustração, com milhares de assessores internos e externos que, agrupados, constituem o que chamamos de Governo.

Assim são responsáveis: o Governador, que autorizou e confiou no seu Secretário de Administração, que contratou a UNEMAT, representada pelo seu Reitor, que mandou a professora elaborar as provas do concurso. O Governador em um ato que merece todo o nosso aplauso reconheceu e assumiu o erro, e pediu desculpas aos inscritos no mega concurso. Bonita atitude senhor Governador!

O Secretário de Administração não admitiu o erro. Foi proibido até de falar sobre o concurso, pois sempre que era indagado pelo Governador sobre o andamento do mesmo, afirmava que estava tudo sob controle (declaração do Governador).

O Reitor afirma que trabalha há sete anos com a professora - responsável pelo grupo que formulou as provas - e que ela é uma pessoa idônea, que não merece ser punida. Mas o Governo precisava mostrar aos seus súditos um responsável e escolheu um bode expiatório; mais uma vez, a corda arrebentou do lado mais fraco. A professora foi demitida sem ser ouvida e o delegado que investiga o caso informa que não encontrou sinais de fraude no concurso.

Triste realidade o enredo do maior concurso público do mundo! A professora foi a única responsável pelo fracasso da empreitada megalomânica. Demitida e execrada perante a opinião pública, simplesmente por ser a parte mais fraca da corda.

Gabriel Novis Neves
26 de Novembro de 2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Acredite se quiser

O Brasil está pessimamente colocado no ranking mundial com relação à educação. Este desempenho pífio, em uma área essencial ao desenvolvimento, impede o Brasil de pertencer ao time dos países que lideram o planeta Terra.

Há um esforço tremendo da mídia em confundir educação com “o cara” do Obama. É tão simples resolver o problema da educação! Só mesmo um país de mentirinha não consegue extirpar este tumor maligno - tudo tem que passar pela decisão política de investir recursos em educação. Em dez anos os resultados apareceriam.

A verdade é que o poder político não tem o mínimo interesse em mudar este quadro humilhante. Tivemos um candidato à Presidente da República - professor, ex-reitor e ex-ministro da educação - que elegeu uma só prioridade para o seu governo: educação. Abertas as urnas contabilizou 2% dos votos.

O quadro educacional no nosso Estado não é nada animador e só ganhamos de alguns grotões. Não é por acaso que profissionais felizardos “enchem a boca” para dizer que estudaram nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália, França e Austrália. O sucesso educacional nacional não existe. É necessário um carimbo de grife estrangeira.

Estou fazendo estas considerações sobre o país campeão de analfabetos funcionais, evasão escolar e repetência para defender a nossa Universidade Estadual de Mato Grosso – a UNEMAT.

A UNEMAT tem sede em Cáceres e cursos em muitos municípios do Estado. Possui um corpo docente com doutores e mestres. É dependente dos escassos recursos do tesouro do Estado. Enfrenta toda sorte de dificuldades desde a sua criação. Está consolidada em crescimento e respeitada na área acadêmica. Conheço muitos dos seus professores e sei o que estou dizendo. A UNEMAT não possui autonomia financeira, e para sobreviver depende do humor dos plantonistas do poder. Houve um fiasco de proporções nacionais com relação ao maior concurso público do mundo.

O desgaste do governo é impressionante! Tive acesso a uma pesquisa e não acreditei no tamanho da catástrofe. A Assembléia Legislativa quer ouvir os responsáveis pela humilhação sofrida pelos brasileiros que procuram trabalhar através de um concurso. O governo é muito claro quando joga toda responsabilidade do erro na nossa querida Universidade Estadual que, como dependente financeira do tesouro, com toda certeza, foi obrigada a aceitar o trabalho.

Por pura covardia o autor da estúpida idéia de um concurso de dez mil vagas e trezentos mil candidatos, realizado no mesmo dia, não aparece. Esta idéia, assim como a sua aprovação, não foi da UNEMAT. Esta instituição de ensino superior, repito, deve ter sido obrigada a aceitar esta loucura, pois dos males talvez esse fosse o menor. Os verdadeiros responsáveis devem sair dos seus esconderijos e assumir o erro cometido. Todo mundo sabe quem são. Mas eles, os deuses da vaidade, preferem destruir uma Universidade a agir com lealdade ao contribuinte, confessando a verdade.

É difícil acreditar que, para salvar alguns votos e melhorar o imenso desgaste político, tem gente pensando em destruir uma instituição de ensino superior em Estado tão pobre.

Acredite se quiser, mas a intenção é esta.

Gabriel Novis Neves
Cuiabá, 25/11/2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

GARCIA NETO

O meu pai comprou do espólio do ex-governador de Mato Grosso, Antônio Cesário de Figueiredo, a sua residência na Rua do Campo (Barão de Melgaço nº 365). Era um casarão com fundos para a Rua da Fé (Comandante Costa).

Antigamente os governadores moravam em sua própria casa - nada parecido com a Residência Oficial dos Governadores. Por ocasião da nossa mudança da Rua de Baixo (Galdino Pimentel) para a nova e definitiva casa, o meu pai resolveu dividi-la, pelo seu enorme tamanho, para alojar a nossa família. Durante as obras os pedreiros encontraram dezenas de armas enterradas no subsolo do velho casarão. Fizeram um enorme buraco no quintalão e ali elas foram enterradas. Eu tinha mais ou menos dez anos, e este fato tornou-se um dos “pontos luminosos” da minha vida, no conceito de Carlos Heitor Cony. Não dá para esquecer aquilo que vi, ser tratado com tanta naturalidade.

Estudando a história de Cuiabá, e conversando com meu pai sobre as armas encontradas, fiquei sabendo que naquela época, “ escreveu não leu”, era o “tiro” que resolvia, e ali morava o governador do estado - que morreu pobre.

A parte que nasceu da divisão da casa foi alugada para uma firma construtora, de fora, chamada Coimbra Bueno, a única que trabalhava no estado. Para tocar as suas inúmeras obras, a empresa contratou um jovem engenheiro sergipano recém-formado, solteiro e muito competente. O seu nome: Dr. José Garcia Neto.

A vinte metros do escritório da construtora morava o Dr. Lima Avelino, meu companheiro de xadrez. É isso mesmo: aprendi a jogar o xadrez, antes de ser alfabetizado, quando fui morar na casa do meu avô, médico, viúvo, surdo e otorrino. Joguei muito xadrez com o Dr. Lima Avelino casado com a D. Alice. Às vezes ia à casa do Dr. Lima Avelino, advogado e Delegado Federal do Trabalho para distraí-lo jogando xadrez. Perdia mais que ganhava. Ficamos amigos.

Lembro-me perfeitamente da chegada de Maria Lygia - com seus pais, Francelino e Alicinha e o irmão José Fernando - à Cuiabá. Vieram do Amazonas encantados com as maravilhas que o meu colega de xadrez e esposa falavam sobre o futuro da Cidade Verde. Durante algum tempo moraram com os parentes amazonenses já totalmente cuiabanizados. Além do mais a Mariete, filha única do casal hospedante, ganhou a companhia da prima querida, Maria Lygia.

Presenciei a paquera do engenheiro de Sergipe com a bonequinha de Manaus. Ele, um homenzarrão; ela, uma figura carismática com pouca altura.

Por doze longos anos me afasto de Cuiabá para estudar no Rio de Janeiro. Ao retornar, meus amigos estavam casados, com filhos e participando das transformações da Cuiabá em desenvolvimento. O engenheiro de Sergipe era vice governador do Estado. Fui morar ao lado da escola Artífice, depois chamada de Escola Técnica, e hoje Instituto Universitário. O engenheiro logo ao chegar à Cuiabá foi professor dessa escola.

Sempre apaixonados viveram Garcia e Maria Lygia. Vinícius de Moraes deveria conhecê-los. Tenho certeza que alguns versos seriam mudados pelo poeta que nunca acreditou no amor eterno: “O amor é eterno enquanto dura”, diz o autor de Garota de Ipanema. Garcia e Maria Lygia desmentiram o líder da bossa nova. O amor deles foi eterno. Só a morte os separou temporariamente. Garcia viveu intensamente o amor puro da sua mulher, filhos, genros, noras, netos e netas.

O povo de Cuiabá que ele tanto amou, também o amava.

Adeus Garcia e até a qualquer hora.

Gabriel Novis Neves
Cuiabá 20/11/09

A história do sofá

Uma das piadas mais antigas que conheço é aquela do português, que sempre ao sair para trabalhar, sua esposa recebia a visita do vizinho. De tanto assistir a repetição desta cena, o seu compadre, após muita reflexão, revela o fato ao amigo. Passado algum tempo e como a rotina continuava, o compadre cria coragem e pergunta ao português:

“- Que providencias você tomou com relação aquilo que lhe relatei?”

“- Estou em dívida com você. Joguei o sofá fora, onde a minha mulher namorava e o problema ficou resolvido. Muito obrigado pelo alerta.”

“- Não há de quê.” Respondeu melancolicamente o compadre.

“A Gazeta" de 15/16 de Novembro de 2009 traz a manchete, com direito a fotografia do secretário de comunicação de MT: "Estado faz operação pente-fino para coibir fraudes em licitações”.

A notícia é mais hilariante que a história do sofá do português. Primeiro pelo linguajar policialesco da matéria (pente-fino). Segundo que o governo não confia na sua Secretaria de Administração. Acha que ela não coíbe irregularidades nas licitações, e com este pente-fino dá uma resposta às denuncias que vêm ocorrendo e que devem aumentar com a proximidade do ano eleitoral. Essa força tarefa, que melhor seria chamada de força vergonha, será oficializada com a publicação de um decreto governamental.

Essa história de força tarefa não é parecida com a história do sofá? No sofá a honra da mulher do português foi lavada quando o sofá do amor proibido foi jogado fora. Com a força tarefa, como fica a honra do secretário de administração chamado de incompetente e toda a sua briosa equipe?

O governo reconhece que os mesmos não possuem condições técnicas de realizar uma licitação ética e que a corrupção aumenta em ano eleitoral. Acaba e enterra com a credibilidade dos pregões.

É assim que se resolvem problemas? Criando decretos?

Fantástica providência preventiva!

Gabriel Novis Neves
14-11-2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A DINDA

O pum que virou traque

Todas as providências foram tomadas pelo governo do estado para mais um recorde. Já temos o título de maior produtor de soja do mundo, do maior rebanho bovino do Brasil, do maior casamento comunitário do Brasil e só faltava o título de estado realizador do maior concurso público do mundo. O mais humilde dos habitantes desta terra sabe que propaganda, às vezes, não funciona na prática.

A cena do teatro estava montada. A insensibilidade, inabilidade e incompetência dos produtores de recordes, ficaram evidentes. Dias antes do concurso o governo deveria anulá-lo, por sentir que as coisas não aconteciam como planejavam. Este concurso seria, politicamente, o filme do Bruno Barreto para a próxima campanha eleitoral. Possibilidade de dar certo era zero à esquerda, mas a vaidade prevaleceu.

Imaginem o Fantástico anunciando mais esta conquista para Mato Grosso. Quebraram a cara. O concurso foi anulado e o despreparo deste pessoal, além da falta de respeito humano, ficou claro. Cenas jamais vistas em concursos públicos são exibidas em sites. O tiro saiu pela culatra. Os candidatos ao maior concurso público do mundo foram maltratados, houve quebra do sigilo das provas, desorganização e muita humilhação para aqueles que apostaram o seu futuro acreditando na seriedade do governo.

E agora, o que fazer com a frustração de quase trezentas mil pessoas? É o recorde em números de candidatos nesta situação. A oposição vai deitar e rolar em cima deste fato. Foi a maior prova de desprezo pelo cidadão num reinado terminando, com os seus filhos sem esperanças.

Não há justificativa para este crime. O governo é réu e precisa de humildade para reconhecer urgentemente que errou mais uma vez.

Não me venha com esta história de terceirizar o erro!

O pum que o governo preparou, virou traque.

Gabriel Novis Neves
22-11-2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

CONVITE

Atendendo a um convite provocador da Sociedade Brasileira de Cardiologia – MT para proferir a Conferência de Abertura da IX Jornada de Cardiogeriatria de Mato Grosso e V Jornada de Geriatria e Gerontologia de Mato Grosso, fui estudar as desvantagens de envelhecer.

Confesso com toda a sinceridade que não encontrei nenhuma. Alguém poderá a esta altura pensar que eu “pirei” e preciso de tratamento psiquiátrico. Ledo engano. Estou muito bem “das saúdes”.

Com o acréscimo de vida aos meus dias sou forçado a enfrentar modificações fisiológicas facilmente controladas com a farmacologia moderna. O último problema masculino era a irrigação dos corpos cavernosos resolvida com o uso da pilulazinha azul, e nos casos mais graves, a prótese de silicone. Diabetes, hipertensão arterial, reumatismo, catarata, queda de cabelos e rugas, a tecnologia médica controla, e bem.

Chamar a terceira idade como “a melhor idade”, para mim é puro preconceito. Melhor idade é aquela em que você está bem.

Fui verificar as possíveis vantagens do idoso. Tenho que resumir ou publicá-las por capítulos - vou citar algumas dessas vantagens.

O idoso não paga transporte coletivo, quando o motorista de ônibus atende o seu pedido de parar. Não entra em fila de bancos e embarques em aeroportos; é chamado muitas vezes de: museu, história viva e vô. O prazo de validade do idoso tem que ser renovado anualmente - o que considero uma vantagem inegociável, por viver sempre com o combustível novo da iniciação. A vida é feita de ciclos: no início eles tem circunferências maiores, ao envelhecer estes ciclos são menores - o que é considerado outra grande vantagem do idoso.

Fecho um ciclo e imediatamente abro outro. Este ano ainda não findou e já fechei dois antigos e enormes ciclos. Nem senti as conseqüências destes fechamentos, pois outros ciclos já estavam se abrindo na minha vida. Nada parecido com o jogo de dama em praça pública, cadeira de balanço pelas calçadas, visitas para matar o tempo ou inúteis conversas sobre o passado.

Nada melhor para um idoso aparador de crianças, o privilégio de passar um final de semana entre cardiologistas, geriatras e gerontologistas.

É bom ter uma relação afetiva com esse pessoal, especialmente com o cardiologista, pois todos nós iremos morrer e no atestado de óbito constará como causa da morte – parada cardíaca.

Se o obstetra significa o médico do início da vida o cardiologista está muito condicionado ao final da existência. No meu caso tenho a sorte de ter um cardiologista no décimo primeiro andar do meu edifício e sou morador do vigésimo andar, bem pertinho do céu.

Envelhecer é o momento de colher tudo o que plantamos quando jovens. E digam-me se não é prazerosa a colheita?

Não preciso mesmo de tratamento psiquiátrico e sim de companheiros para compartilhar os frutos colhidos.

Envelhecer é bom.

Gabriel Novis Neves

16.11.2009.

* Publicado simultaneamente no http://www.gnn-cultura.blogspot.com/