sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A CORDA

Recente pesquisa americana realizada em trinta e oito nações demonstrou que a maioria das pessoas idosas gostaria de retornar à idade infantil. Se a velhice é assustadora para alguns, para mim não é. Pertenço ao seleto grupo dos idosos. Velhice não dói e aos poucos o idoso vai percebendo as suas perdas. Acho que esta idade é a fase mais engraçada da nossa vida. É o período da descoberta dos pequenos detalhes, que na ansiedade da juventude, passam despercebidos.

Também não aceito chamar esta fase da vida como a melhor idade. Entendo como melhor idade aquela fase da vida em que estamos bem, indiferentemente da nossa faixa etária.

O idoso nunca se esquece da sua infância pela riqueza de valores adquiridos nesta fase. Sonhos e fantasias são os principais ingredientes desse período. Talvez por isso, tenha sido sempre um dos temas preferidos dos nossos poetas. Ataulfo Alves tinha saudades “da professorinha que lhe ensinou o bê-á-bá, dos jogos de botões pelas calçadas e das missas aos domingos na Matriz”.

Thiago de Melo abandonou a vida mundana para viver entre os povos das florestas da sua infância, e nos lembra, nos seus mandamentos, que “um adulto deveria confiar em outro adulto, como uma criança confia em outra criança”.

Quantos dos que me lêem nunca ouviram dos seus avós, pais, dindas, que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”? Este é um dos ditados da sabedoria popular que toda criança aprende. O adulto, às vezes, lembra-se deste ditado, e faz tudo para que a corda arrebente do lado mais fraco.

Estamos na prática observando esta verdade. O famoso concurso público, o maior do mundo, fracassou. Pela ordem hierárquica, quatro autoridades construíram o mastro da frustração, com milhares de assessores internos e externos que, agrupados, constituem o que chamamos de Governo.

Assim são responsáveis: o Governador, que autorizou e confiou no seu Secretário de Administração, que contratou a UNEMAT, representada pelo seu Reitor, que mandou a professora elaborar as provas do concurso. O Governador em um ato que merece todo o nosso aplauso reconheceu e assumiu o erro, e pediu desculpas aos inscritos no mega concurso. Bonita atitude senhor Governador!

O Secretário de Administração não admitiu o erro. Foi proibido até de falar sobre o concurso, pois sempre que era indagado pelo Governador sobre o andamento do mesmo, afirmava que estava tudo sob controle (declaração do Governador).

O Reitor afirma que trabalha há sete anos com a professora - responsável pelo grupo que formulou as provas - e que ela é uma pessoa idônea, que não merece ser punida. Mas o Governo precisava mostrar aos seus súditos um responsável e escolheu um bode expiatório; mais uma vez, a corda arrebentou do lado mais fraco. A professora foi demitida sem ser ouvida e o delegado que investiga o caso informa que não encontrou sinais de fraude no concurso.

Triste realidade o enredo do maior concurso público do mundo! A professora foi a única responsável pelo fracasso da empreitada megalomânica. Demitida e execrada perante a opinião pública, simplesmente por ser a parte mais fraca da corda.

Gabriel Novis Neves
26 de Novembro de 2009

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