quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O SAPO

Conversando com uma amiga, não da minha idade, mas um degrau e meio abaixo, surgiu o assunto inocência. Como a geração antiga era inocente no seu todo e não no essencial!

Começamos lembrando a extinta figura do sapo. Fiz um teste e perguntei as minhas netas universitárias se conheciam o termo sapo. Todas se referiram ao anfíbio de pele rugosa e seca. Se esta pergunta me fosse feita com a idade delas diria que era um velho conhecido das nossas casas. Prestava serviços também em laboratórios para o teste que diagnosticava a gravidez. Você levava o sapo ao laboratório e saía aliviado ou não com o resultado do exame.

Mas não são desses sapos que recordávamos. Eram daquelas pessoas que ficavam na porta da igreja para assistirem a entrada da noiva, dos padrinhos e madrinhas, do noivo e todo aquele povão do casamento. Havia os que escolhiam as portas das casas marcadas com símbolos mortuários, para assuntar quem tinha falecido e como estava o ambiente. Outros preferiam as portas dos clubes no carnaval para sapearem como as coisas aconteciam. Marcavam os que cheiravam lança-perfume e os amassos embora discretos daquela época. O sapo estava tão presente na vida da cidade que foi criado o verbo sapear que significa observar sem participar. É mais ou menos o mesmo que bisbilhotar.

No outro dia surgiam comentários salgados e venenosos dos sapos. O sapo adorava dar palpite. Não ouço mais essa palavra com este sentido. Há muito tempo desconheço alguém que sai de casa para sapear algum evento. Vou confessar que certa ocasião fui vitima do sapo. O meu pai fechava o bar aos domingos logo após o término da retreta na Praça Alencastro, às vinte e uma horas. Meia hora depois estava em casa. Vinha sempre andando - nunca possuiu um veiculo. Morávamos quase colados ao Clube Feminino, então no apogeu. Na época das férias os pais solicitavam a direção do clube, noite dançante aos domingos até as vinte e três horas. O objetivo era impedir que a molecada de férias migrasse para o Beco do Candeeiro - na época zona do baixo meretrício. Meu pai antes de chegar em casa parava em frente ao Clube Feminino para sapear e me viu numa mesa onde estava uma linda menina. Acontece que meu pai não suportava o pai da menina. Vamos logo ao resultado, pois essa história é longa. Nunca mas fui ao Clube Feminino para salvar a honra do meu pai.

Que sapo hein?

Gabriel Novis Neves
06-07-2009

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