domingo, 30 de março de 2014

DOADOR

Alguém capaz de em vida doar um de seus órgãos, além de praticar um ato de amor, demonstra principalmente a solidariedade que deveria fazer parte da espécie humana.
Quando o doador cede um dos seus órgãos para salvar a vida da sua esposa, é a maior prova de amor que toda a mulher sonha em receber do seu marido.
Mas, o mundo é cruel!
Não perdoa gestos grandiosos e infelizmente algumas pessoas, cegas pelo desencanto e possuídas pelo ódio e pela  inveja, sentimentos dos covardes, analisam essa atitude de despojamento  como oportunismo, por ser o doador um jovem político de grande visibilidade e futuro.
A humanidade é má por inclinação e corrupta por oportunidade.
Impossível humanizá-la mesmo com atos como este, que amplamente difundidos pela mídia, emocionaram a cidade.
Afinal, todas as pessoas de bem, se identificam com atitudes dessa natureza, partam de onde partirem.
O homem público não tem o direito à privacidade mesmo nos seus dramas pessoais, oferecendo alimentação farta aos insatisfeitos com a vida.
Conheço verdadeiros heróis aqui em nossa cidade, que fizeram também esses atos de doação, especialmente rins para familiares ou pessoas compatíveis para não rejeição.
Entretanto, sendo oriundas do mundo não glamorizado, essa lição de humanismo ficou restrita aos amigos e médicos, os acompanhantes privilegiados nos momentos bons  e nos ruins da vida.
Temos que aplaudir o que é certo e, tentar corrigir o errado neste mundo onde leis são feitas para humanizar a selvageria  presente na maioria das pessoas.
Parabéns Mauro pelo seu silencioso gesto a ser imitado, contrariando o velho provérbio popular que diz que falar é fácil.
Difícil é fazer e, você fez.

Gabriel Novis Neves
29-03-2014

Tinha que acontecer

Após a assinatura do contrato do governo com a empresa premiada para a execução das obras do VLT (Veículos leves sobre trilhos) em Cuiabá, somente o “Profeta do Atraso do Porto” escreveu e publicou em seu “site que ninguém lê”, que essa obra não seria concluída para a Copa 2014.
Pois bem, o contrato de execução terminou, e só 25% das obras estão concluídas.
“De um total de doze obras de arte especiais para a sua implantação, apenas três conseguiram sair do papel”.
Será que o velho Oráculo detém poderes divinos para prever o futuro?
Não. Apenas estuda, orientado por uma assessoria especializada, o projeto da obra.
Lê com atenção o edital de licitação, o contrato e analisa com cuidado o histórico do consórcio vencedor.
Para agravar a situação, o Estado não costuma cumprir com seus compromissos financeiros e, finalizando, tem o “custo Brasil”.
Depois do campo de futebol, sem o qual não seriam realizados os jogos, o transporte modal é o projeto mais importante do pacote de obras lançadas e que não serão concluídas.
O fiasco foi tão grande com a incompetência da Secretaria criada apenas para cuidar da Copa que, sabiamente, o governador decidiu ficar até o último dia do seu mandato, para tentar salvar algo chamado de legado.
Aquilo que parecia, há três anos, como grande capital político a ser utilizado nas próximas eleições, tornou-se um pesado fardo ao governador, que gostaria de se afastar do governo e se candidatar a Senador do Clube mais cobiçado do Brasil, com sede em Brasília.
Os engenheiros de Cuiabá foram identificados pelo governo como os únicos responsáveis pelo fracasso do VLT, mas, os seus DNAs deram negativos para essa obra.
Ao pensar que Brasília abandonou esse projeto e Fortaleza tenta, há mais de nove anos a sua construção, conclui-se que algo muito sério aconteceu nesse imbróglio.
Como diz o pobre marquês, que não costuma falhar nas suas previsões, adoramos jogar dinheiro público no ralo.
Eis a questão.

Gabriel Novis Neves
15-03-2014

VISÃO DE UM POETA

Há mais de meio século trabalho com mulheres. Como ginecologista, é lógico, serem elas minhas clientes preferenciais.
Acompanho as suas gestações, faço os seus partos e assisto-as profissionalmente com a neo-natologista até o puerpério. Se a criança for uma menina, após esse período de resguardo, que tem a duração de quarenta dias, a recém-nata é entregue aos cuidados de uma pediatra-puericulturista.
Na adolescência recebo-a de volta definitivamente. É outro ciclo de experiências que tem início, pois, os seres humanos são todos muito diferenciados, de acordo com a sua geração.
Essa é outra coisa fascinante desse meu trabalho, lidar com as diferenças e conflitos familiares de diferentes épocas.
A mãe continua desfilando ao seu ginecologista as preocupações normais das várias fases deste ciclo biológico, que se inicia com o nascimento e, um dia, se exaure.
A morte não existe, mas sim, o encerramento da nossa existência. Essa denominação de morte faz parte da nossa cultura religiosa e devemos respeitar.
Não existe uma verdade, como não existe uma só religião, que é uma forma de atingirmos o bem.
Esta é a visão superficial de um médico no seu contato permanente com as mulheres, esses seres humanos tão diferenciados e iguais nos seus temores e fantasias.
E o poeta que sempre cantou o amor encantando as mulheres de todas as idades?
Vale a pena saber como Vinícius de Moraes se inspirava nos mais lindos poemas sobre as mulheres, emocionando gerações de pessoas.
“Há mulheres altas e mulheres baixas; mulheres bonitas e mulheres feias; mulheres gordas e mulheres magras; mulheres caseiras e mulheres rueiras; mulheres fecundas e mulheres estéreis; mulheres primíparas e mulheres multíparas; mulheres extrovertidas e mulheres inconsúteis; mulheres suaves e mulheres wagnerianas; mulheres simples e mulheres fatais – mulheres de toda sorte de mulheres no nosso mundo de homens”.
Será que depois de tantos detalhes visto pelo poeta o ginecologista será mais valorizado por trabalhar com tanta complexidade?
Não existem mulheres invejosas, apenas mulheres que gostariam de ser a outra.
Todas são encantadoras, simpáticas, atraentes, cativantes nas suas emoções de dar vida a uma simples célula humana.

Gabriel Novis Neves
24-01-2014

Agradar turista

Agora que a “vaca foi pro brejo”, há uma intensa mobilização entre as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande no sentido de mudar a cara dessa região metropolitana, há menos de cem dias da Copa.
Foram seis anos de promessas, e o resultado é esse. O México, em apenas três anos se preparou para a Copa, onde "Deus" fez um gol pelas mãos do Maradona.
Esse programa para salvar Cuiabá e Várzea Grande de uma humilhação recebeu o nome de “Agradar turista”.
“Greta Garbo acabou no Irajá”, foi a associação de ideia que fiz ao ler essa notícia.
O governo prometeu e falou o tempo todo na importância do legado da Copa do Mundo para a nossa esquecida Cuiabá.
Teríamos uma cidade modernizada, bonita, com o maior sistema de transporte modal (23k) da América Latina, pontes, viadutos, trincheiras, rotatórias e amplas avenidas com iluminação de ponta.
Nosso Centro Histórico revitalizado, atividades culturais, exposições, não contando a pista dupla para a Chapada dos Guimarães e as centenárias pontes de madeira, substituída pelas de concreto, rumo ao Pantanal.
Pousadas e hotéis facilmente acessíveis por excelentes estradas vicinais e uma eficiente rede de comunicação com telefone e internet.
Na área social a construção do novo Hospital Universitário Júlio Muller na estrada de Santo Antônio de Leverger com duzentos e cinquenta leitos, construção de mais duas unidades das UPAS e abertura do Hospital São Benedito.
A maquiagem da cidade “para agradar turista”, já que muitas dessas obras não saíram das intenções, terá início com a pintura do meio fio das calçadas esburacadas, cuja cor está sendo discutida para autorização da FIFA.
Um mutirão de árvores ornamentais está com o seu plantio programado, pois as existentes foram derrubadas dos canteiros centrais para o VLT passar, o que acontecerá em fins de 2015.
Está marcado um banho de “Leite de Rosas” nas ruas e córregos que recebem ”in natura” o esgoto, como da Arena Ecológica do Pantanal, para abafar o odor desses resíduos líquidos e sólidos, tendo como destino o nosso quase morto Rio Cuiabá.
As modestas pracinhas de Cuiabá, hoje dormitório de moradores da rua, mendigos e dependentes químicos, com certeza serão desumanamente retirados pela polícia e alojados em algum esconderijo, longe dos olhos dos turistas que “precisam de agrado”.
Do contrário, não voltam mais, e ainda farão propaganda negativa da nossa quase tricentenária cidade.
A igrejinha de São Benedito, nosso marco cultural com melhor visibilidade, já apresenta iluminação da Copa, fato este que não despertou o mínimo entusiasmo dos moradores de uma cidade que tanto esperava como legado, e nem foi notícia no Jornal Nacional.
Percebo na gente da minha cidade uma imensa frustração pelo prometido e que virou um traque, assim como a diva do cinema Greta Garbo que, no teatro, terminou no Irajá.

Gabriel Novis Neves
07-03-2014

quinta-feira, 27 de março de 2014

AUTOCRÍTICA

No dizer de Vinícius de Moraes, escrever crônica é “ter uma conversa íntima e livre que, partindo do seu interesse pessoal, vai, de fato, interessar a todos seus leitores”.
Longe de mim me julgar um cronista. Sou fazedor de anamneses que, pela singeleza da abordagem dos assuntos, me agradam.
Sorte é que, às vezes, essa sensação é compartilhada com alguns, pois escrevo sempre para mim.
Acho interessante quando um amigo me diz que escrevi determinada crônica para mim. Correto. Apenas, há a compreensão de poucos.
Quando publiquei “A barata voadora”, senti que fui acolhido pelos leitores.
Para quem se propôs a publicar um artigo por dia, e esse número já alcançou mil e seiscentos textos, há necessidade de termos um freio, que vem da crítica e da sensibilidade do escritor.
Escrever temas livres, e não apenas os especializados, tipo um assunto só, oferecem esse leque de oportunidades para se livrar da repetição e mesmice.
Assuntos como política cansam, pois não há fatos novos. Seus conteúdos estão todos em um mesmo saco.
De vez em quando me aventuro nessa área, mais por revolta, e vejo que o que existe é a troca de seis por meia dúzia - que me perdoem os “estadistas” autointitulados.
Derivo para escrever sobre o cotidiano. Depois de certo tempo percebo que ele é sempre o mesmo, e nós é que mudamos.
O que fica para sempre é o devaneio pela poesia, onde se criam personagens com os quais passaremos a conviver.
Nesses textos brotam a criatividade, cuja estrutura genética é semelhante à de humanos, pois são sempre diferentes.
A repetição de temas de narrativas é penosa para o escritor e o leitor.
A poesia é tão sofisticada na sua forma de comunicação, que aqueles que a apreciam são até considerados pessoas anormais, como se fosse possível definir quem é normal.
Existem os gênios desse gênero, como Fernando Pessoa, que, de uma autocrítica, conseguiu emocionar gerações, como no seu “Poema em linha reta”.
Temos necessidade de conviver com gente, e não a encontramos com facilidade.
Parece que estamos sozinhos neste mundo de vencedores e super-heróis.
Como é bom encontrar e conviver com gente com os nossos defeitos e sofrimentos. Fragilidades e sonhos. E a cumplicidade como pilar dessa vida de gente.

Gabriel Novis Neves
10-01-2014

terça-feira, 25 de março de 2014

Culpado

Estamos carecas de saber que quando erramos a culpa é sempre do outro.
Isso já é uma cláusula “pétrea” da nossa cultura. Precisamos de muita “escola” e, principalmente, humildade para reconhecermos e corrigirmos os nossos próprios erros.
Que gesto bonito é este! Deveria ser imitado.
Dia desses aconteceu, nesta bendita terra de São Benedito, um fato único e inusitado, pelo menos para mim.
Um engenheiro do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) concedia uma entrevista em uma rádio local, e o assunto era a bananosa em que o governo se meteu com a execução das obras da Copa.
Atrasos de cronogramas de todas as planilhas de intenções assinadas com a FIFA (dona do evento), inaugurações com festas, placas e discursos em obras inacabadas e, principalmente, a má qualidade das construções.
A três meses do início dos jogos o nosso campo de futebol, chamado de Arena - a única retangular, contrariando o secular entendimento que vem desde o Império Romano quanto a sua forma circular – ainda não tem as suas quarenta e quatro mil cadeiras fabricadas. Hoje, apenas cerca de doze mil estão aparafusadas na Arena retangular.
O gramado importado dos Estados Unidos da América do Norte, após vencer uma crise de pragas tropicais e as chuvas torrenciais, ainda não obteve autorização para ser testado.
O Ministério Público está preocupado com a ausência de uma resposta convincente sobre a estrutura da “joiazinha” de quase um bilhão de reais após um incêndio misterioso.
O estacionamento e as obras do entorno da Arena ecológica, que joga o seu esgoto “in natura” no córrego e daí ao Rio Cuiabá contaminando o nosso pantanal, não foram iniciadas.
Aeroporto fica por conta de São Tomé, no dizer do Ministro da Aviação Civil, um dos trinta e nove deste governo.
Os viadutos, recém-emplacados com o nome dos responsáveis pelas obras, estão a nos envergonhar com as novas reformas.
Em nenhuma delas consta o nome do CREA como órgão fiscalizador, e sim, das autoridades dando o selo de qualidade para a excelência da obra e do homenageado.
Algumas obras que obtiveram incentivos fiscais concedidos pelo governo federal, com efeito cascata nas arrecadações estaduais e municipais para serem entregues para a Copa, não têm nem data para a sua utilização.
É o caso do transporte modal VLT, cujo valor está em torno de um bilhão e seiscentos milhões de reais.
Os otimistas oficiais acham que daqui a três anos teremos essa conquista tecnológica implantada e funcionando.
Com relação às trincheiras nem gostaria de escrever sobre o descaso como foram feitos os projetos, mas vou exemplificar abaixo o caso de uma.
O projeto da trincheira da entrada do bairro Santa Rosa, uma das mais importantes e de maior visibilidade, foi feito de forma tão catastrófica, que durante as escavações encontraram um grande empecilho – a adutora de água tratada que servia àquela região. Resultado: obra paralisada até a elaboração de um projeto auxiliar de grande sofisticação tecnológica.
Não ficará pronta para a Copa, e seu custo final será exorbitante, segundo relato da própria SECOPA e Tribunal de Contas do Estado.
Pois bem, a essa altura entra no ar o responsável pelas placas das inaugurações e, contrariado com o relato técnico do engenheiro do CREA, diz que tudo de errado que está acontecendo deve-se única e exclusivamente aos engenheiros de Cuiabá.
Ora bolas! Os projetos não foram feitos por eles, tampouco o planejamento, a execução e o monitoramento das obras, realizadas por poderosos consórcios multinacionais.
O pior é que aquilo que há oito anos fora programado para ser uma grande festa com apoio popular, hoje é considerado como prova de incompetência de um governo, e outras coisas mais.
A nossa sorte é que, contrariando a opinião pública, fomos informados oficialmente que os culpados pelo fiasco das obras são os nossos engenheiros.
Ainda bem que saberemos a quem punir nas próximas eleições...

Gabriel Novis Neves
02-03-2014

POBRE AMÉRICA LATINA

Há quatrocentos anos já existia  dezesseis das vinte cidades mais populosas da América Latina.
Deixaram-se enfraquecer, progressivamente, graças à inércia em coibir a exploração internacional através dos séculos.
Afinal, até num sentido mais amplo, inclusive pessoal, ninguém faz nada desde que o outro não permita.
Desde o descobrimento, até os nossos dias, o Brasil vive dominado pelo capital europeu e, posteriormente, pelo norte americano. Isso é um fato.
Somos grandes produtores de petróleo, ferro, cobre, carne, frutas, café, matérias prima, todas eles fontes de altos lucros  para os países que as consomem e, muito menos, para nós, que os produzimos.
A pecha da derrota e da submissão nos acompanha desde que fomos descobertos, e parece arraigada no inconsciente coletivo  do brasileiro.
Com o mercado de consumo não existe preços justos, existe a livre comercialização. A opressão do mais forte em cima do mais fraco é consequência imediata.
Quando se ouve dizer, por exemplo, que os Estados Unidos fazem concessões ao capital de outros países?
Nós, intrinsecamente subdesenvolvidos, absorvemos isso como um destino histórico.
O presidente norte americano Woodrow Wilson, em 1913, já preconizava que “um país é possuído e dominado pelo capital que nele se tenha investido”.
A prática mostra isso como verdade absoluta.
Consequência disso é que os Estados Unidos são para o mundo, a América. Enquanto nós outros, somos a América Latina, uma América de segunda classe, nebulosa como identificação.
O pensador uruguaio Galeano, um dos mais expressivos da época atual, classifica a América Latina como a região “das veias abertas”.
Nossas riquezas geram a vitória alheia, e nessa, está sempre implícita a nossa derrota.
Dizem que somos ainda um país muito novo. Mas será realmente só isso?
Quantos séculos mais serão necessários para dialogar e comercializar com outros países em termos de igualdade?
Talvez no dia em que acreditarmos mais em nossas capacidades e tornarmo-nos menos submissos?

Gabriel Novis Neves
24-02-2014

segunda-feira, 24 de março de 2014

Dificuldades

Existem situações em que nos defrontamos com sérios problemas.
Isso faz parte da vida, ou alguém pensa que a vida é um eterno mar de rosas?
Muitos desses desconfortos temos até condições de resolvê-los.
Entretanto, existe um problema de quase impossível solução – somente a longuíssimo prazo.
São os problemas de origem cultural, admitidos como insolúveis por camadas respeitáveis da nossa população, já que a sua resolutividade demora, às vezes, séculos.
Se fizermos uma rápida pesquisa sobre esse assunto, constataremos problemas que há milênios ainda não foram esclarecidos e, hoje, estão na ordem do dia para uma definição inteligente da nossa sociedade.
Há poucos dias um amigo relatou em um artigo, que passou por momento de risco de morte, vítima da cultura predominante em camadas pouco privilegiadas pela educação. Sorte que ele não teve lesões neurológicas comprometendo seu olfato animal.
Diz que certa ocasião, já estava dormindo quando acordou com um forte odor trazido por uma nuvem de fumaça esbranquiçada penetrando no seu dormitório por uma pequena fenda existente em baixo da porta para evitar o atrito com o piso.
Com a intensidade do odor de algo queimando, ele resolveu se levantar para descobrir a causa.
Pensou em vazamento de gás do fogão produzindo um incêndio. Quase acertou.
A copa e cozinha criaram um cenário de alguém que está viajando de avião dentro das nuvens.
Na verdade houve um superaquecimento do forno do fogão, que estava ligado acolhendo uma assadeira de bolo. Essa, ao derramar  o seu produto, propiciou o susto, que desapareceu com o seu desligamento.
Motivo do quase desastre: cultura de séculos impregnada no DNA da sua ajudante, que a tudo assistia calmamente, cuja causa é a cultura herdada e nunca corrigida por uma boa educação.

Gabriel Novis Neves
17-02-2014

domingo, 23 de março de 2014

AMORES

Para se encontrar, ou se chegar ao amor, às vezes, precisamos percorrer estradas complicadas e difíceis.
Por falta de informações ou paciência queremos, inclusive, que os nossos sentimentos obtenham respostas on-line. Isso não existe neste emaranhado mundo afetivo em que vivemos, onde não sabemos o que é certo ou errado.
Como faremos para que não haja os desgastes naturais num convívio a dois sem as turbulências necessárias para testar a eficiência da relação?
Aos primeiros sinais de fadiga emocional sem motivos, a não ser o desgaste do tempo, os problemas são empurrados pra frente. E, nesse período de desencantos, ninguém desabafa com o outro sobre aquilo que acontece e são percebidos.
Mas, chega o dia limite.  O mais corajoso arruma as suas coisas sem brigas ou discussões e procura um ninho vazio.
Meses de silêncio são passados. Até que um dia, a danada da saudade envia um email cuidadoso, convidando a antiga companheira a conhecer a nova casa-esconderijo.
Pisando em ovos, recebe-a no horário combinado para um drinque e jantar. O antigo amante não havia tirado da parede da sala de jantar a foto das suas primeiras férias no exterior.
Aquelas fotos foram logo notadas por ela, e foram responsáveis pelo amenizar daquele primeiro momento constrangedor.
Tudo foi recuperado naquelas lembranças, que ela fez questão de não verbalizar. Após muita conversa, sem pauta definida, boa música e, ao final do frugal jantar, o, sempre casal de namorados, feitos mudos, dirigidos pela cumplicidade dos olhos, terminaram a noite do reencontro em um motel.
Desta vez tudo terminou sem cobranças ou promessas, próprias de início de namoro, pois agora era a continuação de um namoro interrompido, e não, outro.
Também nada ficou combinado, o que só fez aumentar o clima de liberdade, tão necessário ao cultivo do verdadeiro amor alérgico às cobranças.
Dá até para acreditar que o amor existe e, para encontrá-lo, ou reencontrá-lo, as voltas podem ser longas e duradouras.

Gabriel Novis Neves
07-01-2014

Homenagens

Tenho muito receio de ser homenageado após o encerramento do meu ciclo vital.
Não é invencionice minha, mas fatos reais que observo.
Vivemos em um país onde não se preza a memória. É comum, passado algum tempo da homenagem, muitas vezes erroneamente recebidas em vida, esse gesto ser anulado. Outros supostos merecedores entram no lugar daquele que, simplesmente, foi substituído.
Trocam-se nomes de logradouros públicos de acordo com as conveniências do momento.
A indignação daqueles que prezam a memória se manifesta em artigos publicados pela mídia.
O troca-troca de nomes de logradouros públicos é fato empregado em todos os Estados desta nação.
Apagado o nosso passado, ficamos sem presente e sem entender o futuro.
Se determinada pessoa, que julgamos não ser merecedora de honra oficial, em vez de substituir o seu nome, deveríamos estudar a história e entender o porquê de tamanha homenagem.
Nossa ex-Cidade Verde já utilizou, e muito, essa prática do apagão do homenageado original, negando assim aos jovens conhecer melhor as nossas circunstâncias passadas.
Ruas, avenidas, escolas, e até o nome do nosso Aeroporto Internacional e estádio de futebol, foram vítimas desse nosso costume.
Mesmo aqueles considerados merecedores das inoportunas homenagens teriam um castigo muito mais cruel, expondo ao público o seu passado, que só o tempo interpreta com sabedoria, em vez do irresponsável troca-troca.
Faltam neste país mais educação e professores comprometidos com a história da verdade da nossa vergonhosa escalada educacional.
Quando isso acontecer, os fabricantes de títulos terão mais parcimônia nas suas escolhas, pois saberão que, um dia, também serão julgados.

Gabriel Novis Neves
18-02-2014

VITÓRIA DOS GARIS

Políticas equivocadas das nossas autoridades conseguiram fazer o impossível - equiparar o salário dos garis da Prefeitura do Rio de Janeiro  ao salário dos médicos aposentados do mesmo Estado.
Francamente, chegamos ao auge do descalabro e do desrespeito com as pessoas  que estudaram e que entregaram suas vidas a mais nobre das profissões! Pelo menos assim ela era considerada em passado recente.
Com certeza, a vitória dos garis por um salário mais justo é mais do que válida. Aliás, toda classe de trabalhador deve sempre lutar por honorários que lhe permita uma sobrevivência com um mínimo de dignidade.
A categoria em questão, graças às águas de março, conseguiu, depois de forte pressão - inclusive com ameaça de uma epidemia, já que o lixo não era tirado das ruas há uma semana - um salário básico de R$1.100,00, acrescidos dos 40% de insalubridade e de vale alimentação de R$ 20,00.
Injusto e indigno é pagar R$ 1.607,00 a um médico com 54 anos de formado. Destes, 35 foram dedicados a trabalhos em condições precárias, em  lugares que ainda insistem em chamar de hospitais e postos de saúde (taxa de insalubridade, nem cogitar...).
Aliás, o nosso ex-presidente sempre se vangloriou de não ter estudado, fazendo disso um mérito. Não sabíamos, entretanto, até onde essa política de desvalorização da cultura se espalharia pelo país afora.
Honestamente, será que as autoridades  ainda têm algum tipo de sensibilidade para conviver tranquilamente com tamanho aviltamento?
Só nos esquecemos de mencionar que greves de trabalhadores no setor de limpeza pública atrapalham, e muito, os resultados eleitorais.
No caso dos médicos, juramentos morais feitos na juventude, impedem conquistas morais análogas e, portanto, não merecem respeito da classe que detém o poder.
Greves médicas, sempre parciais, são até bem-vindas, pois significa economia  para os cofres públicos, numa triste ironia.
A carreira de médico perde o seu valor na medida em que cuida da saúde de uma mão de obra que também não tem o menor valor.
Afinal, que importa trabalhadores saudáveis num país que tem mão de obra em excesso e, portanto, barata e fácil de ser substituída?
Além do mais, a terra está aí mesmo para cobrir tanto descaso.

Gabriel Novis Neves
09-03-2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

França e moralidade

Que razões levariam um dos países europeus menos conservadores a mudar a opinião pública de seus habitantes tão subitamente?
Afinal, a França é o baluarte das liberdades, inclusive das relacionadas com a moral e com a afetividade.
Jamais interessou aos franceses a vida íntima de seus governantes. Povo culto, de bom poder aquisitivo, tem sempre coisas muito mais importantes para se preocupar, tais como a alta taxa de desemprego, a crise econômica e o problema com os imigrantes.
Episódios que teriam se tornado escândalos em países moralmente mais hipócritas, lá, escoam em águas tranquilas do cotidiano.
No momento atual o seu mandatário, avesso às convenções estabelecidas, inclusive à do casamento, viu-se, de repente, manchete das páginas de jornal em função dos seus arroubos afetivo sexuais.
Sim, os franceses não são muito ligados na moral vigente, mas sim, nos desastres econômicos que a falta dela pode causar.
Dessa feita, uma das componentes do triângulo amoroso provocou um prejuízo de três milhões de euros ao erário público num de seus ataques histéricos de ciúme. O palácio do governo teve várias de suas peças danificadas. Tudo isso fartamente divulgado pelos tabloides locais e pela mídia televisiva.
Isso para os franceses, esses “experts” do amor, é absolutamente injustificável, tornando-os figuras desprezíveis de dramalhões latino-americanos.
Que o presidente tenha as aventuras temporárias de sua predileção, tudo bem, mas que escolha melhor as suas cúmplices para que os desastres amorosos não saiam dos limites das respectivas alcovas. Parece que o padrão de qualidade das eleitas não tem sido exatamente o que a sociedade espera de uma figura política de tamanha importância.
Aliás, o referido presidente tem tropeçado até nas alterações políticas que dele se esperavam, causando ao seu eleitorado uma profunda decepção.
Da expressão tão frequentemente usada pelo povo francês, comum em pequenos incidentes sem maiores importâncias, “tudo tem se tornado muito grave”, já que prejuízos de qualquer ordem, contam muito, não só  para eles, mas para todos os povos que vivenciaram os horrores de duas grandes guerras.
Nós, com o nosso perdularismo, estamos sempre muito mais interessados na vida íntima de nossos governantes do que nos imensos desastres econômicos que suas condutas políticas equivocadas podem nos causar.
Coisas do terceiro mundo.

Gabriel Novis Neves
03-03-2014

quarta-feira, 19 de março de 2014

EQUILÍBRIO

Se confirmado o que publicaram os jornais sobre o encontro do governador do Estado com a Presidente, candidata a qualquer custo da continuidade no poder, ele ficará gerenciando Mato Grosso até findar o seu mandato.
Seu ato político é uma demonstração de equilíbrio, ainda mais agora que emplacou no importante Ministério da Agricultura um neocompanheiro do seu esfacelado partido (PMDB) e um dos seus amigos do nortão.
Se deixar em abril o governo para se candidatar a um cargo majoritário, como manda a vaidade política, sofrerá, segundo pesquisas, uma das maiores derrotas da nossa história.
Sem a caneta do poder, e com o desgaste produzido pelas obras da Copa, que segundo o CREA ficaram pelo dobro do seu valor por falta de planejamento e, das prometidas, nem o campo de futebol ficou pronto. Talvez somente isso baste para derrotá-lo. Seus companheiros de governo tudo farão com as informações privilegiadas que possuem para destruírem em meses os quase seis anos de mandato.
Serão tantas cobranças e acusações que não há marqueteiro com todo horário de televisão gratuito do TRE que consiga neutralizar o volume de intrigas apimentadas por seus adversários políticos.
Meia dúzia de obras inacabadas que serão inauguradas, não terá nem o nome do ex-governador, e político não suporta viver sem nome em placas.
Aparecerá apenas a parte podre, que é característica de todo governo.
O atual governador herdou um enorme abacaxi do seu antecessor, até hoje não esclarecido e que, explorado à exaustão por um adversário político, o elegeu ao Senado da República com a história dos tratores.
Outros prometem aflorar, justamente nesse período, a Operação Ararath III.
Ameaças sobre essas irregularidades são feitas pela imprensa e o acusador recebe afagos.
Seguindo o exemplo do seu antecessor, que não aceita nem ser Imperador do Brasil e pratica revezamento com o seu suplente no melhor Clube de Brasília, que é o Senado Federal, passa metade do seu mandato no Clube, e outra metade cuidando dos seus negócios privados.
Nada, nadinha de aceitar administrar um Ministério ou voltar a ser candidato a disputar o governo de Mato Grosso.
Até “Deus” já lhe fez esse pedido em recente viagem a Cuba e não foi aceito. Sabe o que lhe espera...
O governador atual, e o anterior, estão corretíssimos em fazer prevenção.
Repouso e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Ficar exposto na mídia nacional, sim.
Prometem “ajudar dos bastidores”. Dar a cara para bater, jamais.
Os dois políticos estão consolidados financeiramente para uma longa vida sem dificuldades.
Chegou o momento de demonstrarem que são influentes no governo federal e muito importantes para o futuro do Brasil.
Agora, é cuidar dos seus inúmeros empreendimentos conseguido com muito sacrifício e dedicação.
Política é para os preocupados com o futuro (próprio).
Parabéns governador, pela sua sábia decisão, demonstrando maturidade política e muito equilíbrio emocional.
As coisas não acontecem por acaso e, “boa romaria faz quem em casa fica em paz”.
Sabemos que tudo continuará como “dantes no quartel do Abrantes” (igualzinho ao passado).

Gabriel Novis Neves
13-03-2014

terça-feira, 18 de março de 2014

Mato Grosso

Currículo de candidato para cargo majoritário em Mato Grosso só é viável eleitoralmente se tiver este perfil:
 “Empresário jovem, que chegou aqui com uma mão na frente e outra atrás, perambulou por pequenos empregos públicos, o suficiente para ter o básico para sobreviver”.
Geralmente tem alguma instrução, pouca educação e leitura. Porém, com um bom padrinho, em uma década de dedicação ao serviço público, de remuneração conhecida, “destacou-se como um grande e bem sucedido homem do agronegócio”, cujo produto é desconhecido pela maioria da população.
Soja, algodão, carne, milho, frango ou laranja?
Velhos tempos em que a formação educacional, cultural, familiar, ética, era o cartão de apresentação dos postulantes a comandar os destinos da sua gente.
Essa “apresentação” foi feita por um conhecido político de grande capilaridade partidária, e dá para perceber que seu “afilhado” tem muita grana acumulada.
Não tenho nenhuma esperança em ver o meu Estado como uma locomotiva da ciência e tecnologia com o humanismo na sua direção.
São ricos negociantes que dominam o poder político, e a continuar o trabalho de impedir, pela educação, oportunidade para todos.
Caminhamos para sermos um imenso depósito das “riquezas plantadas pela natureza”, como recentemente disse a Presidente da verticalização, e que pretende continuar por mais quatro anos neste sacrifício de gerenciar um país loteado pelos partidos políticos.
Dinheiro, negócios e “amizades pessoais” são os requisitos para um mato-grossense disputar o poder.
É o retorno do “Estado Curral” que um dia foi sonho de uma geração exterminá-lo, quando da implantação da nossa Universidade da Selva.
Como acredito em mula sem cabeça, creio na existência de pessoas de sorte para negócios, acumulando fortunas em poucos anos de “trabalho honesto”.
Que presente nós herdamos dos nossos antepassados com seus equívocos políticos! E os deixaremos para as futuras gerações, pois esta situação não sofrerá alterações nos próximos cem anos.

Gabriel Novis Neves
08-03-2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

QUARESMA

É época de recolhimento espiritual e de meditação. Após um início de ano moralmente devastador, meditar faz bem para a nossa saúde física e mental.
Presenciamos passeatas com baderneiros financiados com dinheiro público quebrando lojas e bancos particulares disseminando o terror na população.
Houve tentativas de invasão ao Palácio do Planalto e da Justiça, no Distrito Federal, com dezenas de soldados feridos, alguns gravemente, quando no exercício da sua profissão.
Finalmente esses marginais conseguiram o seu intento - um cadáver. Dois mercenários tiraram a vida de um trabalhador no Rio de Janeiro, jornalista fotográfico da Rede Bandeirantes de Televisão.
Desejavam com suas provocações, aplaudidas por alguns intelectuais e artistas decadentes, que a vítima fosse um mercenário atingido por uma bomba atirada por um representante do poder para incrementar o movimento de rua para aproveitamento político.
Para fazer essa trágica ultrapassagem dos acontecimentos do início do ano, que desabou no carnaval, somente a quaresma, que terminará com a morte e ascensão de Jesus Cristo.
Forças são necessárias para vencer esse período e acreditar que tudo irá melhorar.
Encontrei essas forças, por acaso, lendo frases da “presidenta” publicadas na revista Veja, no exterior e no Brasil.
Selecionei algumas que julguei as mais interessantes para compartilhar com os leitores.
 “Em Bruxelas Dilma demonstra o que os europeus podem esperar do Brasil em relação a um acordo comercial: frases sem nexo e um mundo fantasioso”.
“Sem argumento não tem acordo”.
“Queria destacar a importância da ligação entre o Brasil e a Europa por cabos submarinhos. A ligação com a Europa significa uma diversificação das conexões com o resto do mundo”.
“Nós consideramos como estratégia essa relação, até por isso fizemos essa parceria estratégica”.
Agora, algumas frases ditas em território nacional.
“A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia”.
“Ela (Zona Franca) evita o desmatamento, que é altamente lucrativo– derrubar árvores plantadas pela natureza é altamente lucrativo”.
“Os homens não são virtuosos, ou seja, nós não podemos exigir da humanidade a virtude, porque ela não é virtuosa, mas alguns homens e mulheres são, e por isso é que as instituições têm que ser virtuosas”.
Entenderam alguma coisa? Não? Nem eu. É ou não é caso para uma profunda reflexão? Talvez a nossa educação estivesse num patamar mais elevados e a nossa governante maior tivesse um maior carinho pelo nosso idioma. Mas, ela, como a grande maioria da nossa população, não sabe se expressar corretamente e, simplesmente, massacra a língua portuguesa,
Só nos resta saudades do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.
Quanta falta ele nos faz neste momento!

Gabriel Novis Neves
05-03-2014