quarta-feira, 30 de outubro de 2013

OBESIDADE

Estatísticas recentes indicam que cinquenta e um por cento da população mundial sofrem de obesidade.
No Brasil, em seis anos, tivemos os nossos índices aumentados em cinquenta e quatro por cento.
A obesidade é considerada um dos problemas mais graves de Saúde Pública mundial.
Escolhas de alimentos com alto valor calórico podem também estar ligadas às noites de sono mal dormidas ou insuficientes, que afetam os hormônios da fome.
Esse mecanismo é feito através dos níveis de leptina, responsável pelo consumo de alimentos, sinalizando quando já comemos o suficiente, enquanto há o aumento da grelina, responsável por estimular o apetite e a produção de gorduras.
Sabemos que nos últimos anos, dadas as grandes dificuldades econômicas, as pessoas veem dormindo cada vez um menor número de horas e, não por acaso, vem aumentando assustadoramente o número de obesos.
Portanto, não atribuir como única causa da obesidade ao excesso de ingestão alimentar associada à ausência de exercícios físicos.
Ela não existe entre os animais, uma vez que, respeitadas as leis do universo, tudo é devidamente dosado. O desgaste é promovido pela caça obrigatória e os ciclos noite-dia são absolutamente seguidos.
Recentemente, exames de ressonância magnética comprovaram que a falta de sono afeta zonas importantes do cérebro, responsáveis por tomada de decisões difíceis e a vontade de ser recompensado através de alimentos que contenham alto valor calórico.
Vivemos momentos de muita angústia existencial e muito estresse, e isso tem que ser levado em conta, caracterizando-se uma verdadeira obesidade mental.
Novas políticas de saúde e novas posturas sociais contribuirão, em muito, para horizontes promissores em relação a essa verdadeira praga do século. Muito menos importante por seus resultados estéticos do que pelos seus efeitos destruidores sobre a saúde como um todo.
Hipertensão arterial, diabetes, cardiopatias graves, são apenas alguns dos fantasmas que podem ceifar vidas de obesos ainda muito jovens.
Nós, médicos, esperamos que nos próximos anos a humanidade esteja menos preocupada com procedimentos estéticos, geralmente pouco eficazes, e mais com condutas que promovam uma velhice calcada no bem estar físico e mental.

Gabriel Novis Neves 


16-10-2013

Futuro

Apesar do meu apelo em recente artigo implorando que o governo conjugasse o verbo sempre no presente quando dos anúncios das suas iniciativas administrativas, o resultado foi o mesmo de uma conversa que entra por um ouvido e sai pelo outro. 

A recém-criada Empresa Cuiabana de Saúde (ECS) prometeu colocar em funcionamento, daqui a quatro meses, o “novo” Hospital das Clínicas, que funcionará no antigo prédio que já foi Hospital Neurológico Eggas Muniz, Hospital das Clínicas, da Criança, da Mulher e, no ano passado, Hospital de Transplantes.

Diz o município que a “nova” unidade hospitalar terá duzentos e cinquenta leitos e será o maior do Estado.

Até agora ninguém conhece o projeto arquitetônico que será executado, pois a velha estrutura do hospital deverá passar por uma verdadeira cirurgia plástica para se adequar aos padrões atuais de funcionalidade.

Os recursos financeiros da obra também não foram divulgados. Apenas a notícia de sempre: “O Ministério da Saúde está interessadíssimo na viabilização desse projeto”.

Promete ajudar, liberando, imediatamente, recursos para iniciação e conclusão do hospital no prazo previsto.

Todos sabem que o orçamento deste ano já era. Foi todo comprometido e, na melhor das hipóteses, os primeiros recursos, se aparecerem por aqui, serão no próximo ano, após a quarentena da contenção de despesas adotadas pelos governos nos três níveis.

Com esse rápido e lógico raciocínio já se passaram os cento e vinte dias prometidos para a sua inauguração, acrescentando mais uma frustração na nossa população e um tremendo desgaste político aos gestores.

Não nos esqueçamos do longo caminho burocrático enfrentado por uma obra pública.

Licitação, cujo edital é executado após trinta dias da sua publicação.

Aprovação do vencedor, mais uns dias para receber e julgar as inevitáveis impugnações.

Proclamado o vencedor, mais alguns dias para a assinatura do contrato, que deverá respeitar a lei da Responsabilidade Fiscal, que diz que uma obra pública só poderá ser lançada se os recursos totais para a construção estiverem assegurados, com indicação das respectivas fontes.

Então, é dada a ordem de serviço ao vencedor. Quem irá trazer esses misteriosos recursos ainda não identificados, será a ECS.

Recentemente tivemos uma grande decepção com o anúncio do início das obras do novo Hospital Universitário Júlio Muller, às margens da rodovia para Santo Antonio do Leverger, em lugar de grande visibilidade, com capacidade para duzentos e cinquenta leitos e inauguração programada para o mês de dezembro, cujo ano não foi dito.

Seria uma grande contribuição na área hospitalar para os jogos da Copa.

O custo do hospital ficaria em cento e vinte milhões de reais. O governo do Estado se comprometeu a dar metade, e o outro tanto viria de emendas parlamentares.

As emendas não foram liberadas, o governo do Estado não toca mais no assunto e ninguém viu o tal projeto, que até hoje não tem um tijolo no chão do cerrado.

O Ministério da Educação colocaria para captar recursos e administrar o abortado hospital, a sua recém-criada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).

Situação semelhante à nossa ECS.
De certo, o que existe desse novo empreendimento público municipal é o aluguel do antigo hospital, que será totalmente adequado por cento e trinta mil reais por mês e, oitenta por cento do Ministério da Saúde para ajudar nas despesas de custeio, orçadas aleatoriamente em seis milhões de reais por mês.

O Ministério da Saúde prometeu que repassaria apenas doze milhões de reais para o início das obras, sem data marcada.

Prometer para a população sofrida de Cuiabá a construção de um hospital sabendo que ele não será entregue no prazo previsto, só serve para dar desgaste ao esforçado e pobre governo municipal.

Tá bom. Vou acreditar e torcer para que eu esteja errado.

E a construção do nosso novo Pronto Socorro Municipal, hein?

Gabriel Novis Neves

19-10-2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

DERROTISTAS PROFISSIONAIS

Para quem já recebeu a "visita" de um atual ministro, que na década de setenta, clandestinamente veio à Cuiabá melar a implantação da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, soa como oportunismo político dos currais a sua declaração defendendo o indefensável, que são as superfaturadas obras da Copa, feitas com os recursos do trabalhador.
É uma hipocrisia chamar os integrantes de órgãos públicos, como o Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), Infraero e o Ministério Público, de derrotistas profissionais, por cumprirem com as suas missões de zelar pelo dinheiro público e denunciar as inúmeras ilegalidades para serem sanadas.
Tentar desqualificar essas instituições perante a opinião pública parece ser a grande missão do ministro.
A paixão é uma doença que ataca, não apenas os que procuram a sua cara metade, mas, principalmente, aqueles políticos profissionais que não abandonam as generosas tetas do poder.
Triste observar que muitos dos nossos “ídolos” da juventude, na maturidade se transformaram em conservadores, censores da livre opinião.
Hoje é difícil encontrar divergências ideológicas entre um ex-presidente da UNE (União Nacional de Estudantes) e o presidente de honra do partido do ex-governador de São Paulo, adversário no colégio eleitoral de Tancredo Neves.
Todos farinha do mesmo saco, legislando sempre em defesa dos seus interesses pessoais e de seu grupo político, numa verdadeira Arca de Noé.
A ideologia oficial é a do pão e circo, e que se dane o povão.
O tão falado legado da Copa será pior que o da África do Sul e, recentemente, dos jogos pan-americanos no Rio de Janeiro.
Justiça se faça: alguns grupos foram imensamente beneficiados, recebendo um superlegado. A maioria, porém, lamenta as perdas e conquistas sociais com a deterioração da educação, saúde, segurança e infraestrutura, principalmente.
Um país que importa médicos cubanos e bolivianos para resolver sua incompetência.
Em educação ocupa lugares de países subdesenvolvidos, sendo vergonha nacional. Não é um país que, com uma dúzia de elefantes brancos, deixará um legado de desenvolvimento social e econômico neste Brasil de escândalos e corrupção.
O fato mais importante que a Copa nos mostrou é que não temos tecnologia nem dinheiro para explorar a nossa principal riqueza, que é o petróleo.
A Petrobrás não é mais nossa, coisa normal para o otimista ministro, mais preocupado em frases de efeito.

Gabriel Novis Neves
21-10-2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O ano acabou

Quando saio de casa rumo ao consultório, sempre ligo o rádio do meu carro para ouvir notícias. São quinze minutos de percurso, durante os quais fico sabendo dos “fatos e versões” importantes que aconteceram, ou irão acontecer, no Brasil e no mundo. Só não me interessa o resultado do futebol...
Entra o comercial. Para minha surpresa ouço a linda canção de Natal cantada pela Simone: “Então é Natal, e o que você fez? O ano termina e começa outra vez...”.
É o sinal de largada para o maior período de estímulo ao consumo.
Geralmente esses sinais apareciam em meados do mês de novembro. Em dezembro tudo é Natal, e o novo ano só inicia-se após o carnaval.
Seria a inflação, que o governo insiste em negá-la, a causa dessa prematura campanha publicitária?
É difícil suportar mais de dois meses de meios de comunicação só falando em vendas e campanhas pedindo doações de todos os lados.
Neste período, comandar arrecadação em espécie ou em artigos para melhorar a vida dos mais necessitados, virou bom negócio para muitos.
Essa função cabe ao poder público, que cobra exorbitantes impostos. Ninguém é obrigado a doar o que não deseja.
Interessante é que o governo do combate à fome e do extermínio da miséria, não participa deste ato cristão. Prefere investir nos caríssimos presépios e outros eventos de grande visibilidade política.
A iniciativa privada e os interessados nos votos das eleições do ano que vem, são os grandes interessados nessa participação, pensando, é claro, nos subprodutos da sua “ação social”.
Os grandes e poderosos são os beneficiários dessa intimidação, que é comprar para festejar o nascimento de Cristo. Já o necessitado, fica com as migalhas.
Conversei certa ocasião com um morador de um dos bairros mais pobres da nossa cidade e perguntei-lhe se tinha recebido muitos presentes de Natal.
Ele me disse que até foi procurado, mas para receber o presente teria que entregar o seu título de eleitor, que só seria devolvido no dia da eleição, com o nome do doador. Ele desistiu do mimo.
Como há gente utilizando desses expedientes para explorar os mais fracos!
Lamentável que isso ocorra em data tão simbólica para o Cristianismo.
O ano acabou, “então é Natal, e o que você fez”?

Gabriel Novis Neves
18-10-2013

DOMINGO

Os domingos nos dão aquela falsa ilusão de um dia longo de prazeres. Mas, basta chover um pouquinho pela manhã para surgir a preguiça, que é uma forma de lazer diferenciada. É aquela onde encontramos o prazer exercitando o ócio criativo.
Tenho um amigo que confessa ser portador da preguiça, que considera como o pior dos pecados veniais.
Nesses domingos chuvosos, tristes para alguns, nem o telefone toca e, se chama, pode ter certeza que foi engano.
Os animais caseiros se enroscam pelos cantos da casa pedindo proteção contra a ameaça do dia escurecendo, sem aviso clareado com rápidos raios, por medo do barulho dos trovões.
A impressão que eu tinha quando criança era que alguma coisa muito pesada estava sendo arrastada no céu.
Empregada na cozinha e um corpo estendido na cama sem desejo nem de pensar, assim é o domingo chuvoso.
Poderia criar - se não o fizeram ainda - o dia do nada. Seria uma homenagem ao poeta Ataulfo Alves, que tão bem cantou os versos de um domingo de sol em seu pequeno município: “... missa aos domingos, jogos de botão pelas calçadas...”.
O domingo é dedicado a passar o dia fora ou em casa recebendo amigos, mas, naqueles de chuva, a rainha do “passar tempo” é a televisão, com os seus repetitivos e insuportáveis programas de auditório e os infindáveis jogos de futebol.
Os jornais são generosos nas suas mensagens comerciais e nas narrações de sempre.
Revistas procurando o melhor escândalo da semana, tarefa facílima em país de escândalos.
Leitura deitado na cama, dependendo do conteúdo, sono profundo na terceira página. 
O melhor é ouvir o barulho ritmado das gotas da chuva beliscando o vidro da janela.
Enfim, não estamos preparados para enfrentar a natureza com a força dos nossos desejos, pois estes existem mesmo nas adversidades de todos os gêneros.
Basta a força de um telefonema, e o domingo se transforma num mar de surpresas.
Criamos, com o domingo tradicional, um verdadeiro castelo no ar capaz de sucumbir a um pequeno capricho da natureza.

Gabriel Novis Neves
15-10-2013

Termômetros

Para as mães de antigamente os termômetros para aferir a temperatura das crianças eram aparelhos totalmente inúteis.
Lembro-me que minha mãe, todas às vezes que a gripe me pegava, ela controlava a minha temperatura corporal colocando as costas das suas mãos na minha testa. O resultado era batata. Dizia após esse exame: a febre foi embora, na maioria das vezes.
Doencinha chata esta tal da gripe do meu tempo! Mandava as crianças com 37.5 graus centígrados para a cama.
Aí começava o ritual do processo da cura. Na minha infância não existia a vacina contra o vírus da gripe, tampouco antibióticos para combater possíveis complicações como amigdalites, sinusites e pneumonias.
O tratamento era repouso absoluto na cama em quarto fechado. Rigorosa dieta com chá, torradinha e canja no jantar. Era permitido purê de batata com um pedacinho de frango e as frutas de doentes: maçã ou pera.
Pijama de manga longa e calça comprida, meia de lã, cobertor, banho morno na bacia e dormir cedo.
A visitação de parentes era o dia todo.
Se a criança não melhorasse nas primeiras vinte e quatro horas era chamado o médico da família.
Até hoje me lembro da terapêutica empregada. Injeção muscular de óleo – superdolorida -, uma pasta quente para acalmar a tosse e, para baixar a febre, salofeno pó. Usava-se muito também o Vick Vaporub para desobstrução das vias aéreas superiores.
Assim era curada a gripe, onde a presença da mãe era uma constante, especialmente à noite.
Quantas vezes eu acordava com o nariz entupido e, ao meu lado, estava ela, zelando por mim. Fechava os olhos e dormia, respirando normalmente.
Enfermeiras ou babás para cuidar das crianças gripadas, nem pensar. Felizes tempos em que as mães cuidavam dos seus filhos, na alegria e na dor.
E os termômetros? Não serviam para nada no controle da temperatura das crianças da minha geração.

Gabriel Novis Neves
10-10-2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

FALTA DE TEMPO

É comum receber reclamações de amigos da minha faixa etária queixando-se que, atualmente, falta-lhes tempo para tudo.
Uma colega espirituosa inventou que acorda com várias vassouras, simulando o excesso de trabalho que irá enfrentar no decorrer do dia.
Nessas ocasiões, lembro-me muito da minha mãe. Ela dizia, quando a visitava, que não tinha tempo para nada, do alto os seus noventa e dois anos de idade.
Acordava sem sono de madrugada e, no final do dia, não conseguia cumprir nem metade das suas tarefas programadas. Tentava acalmá-la dizendo ser essa atividade um excelente sinal de vitalidade e saúde.
São certas pessoas que, apesar da idade avançada, já na marca do pênalti, não perderam o sentido belo da vida.
Elas, quando saem para um restaurante, procuram os que já conhecem e tomam o cuidado de reservar a mesa predileta para não ficar na fila de espera, coisa insuportável para um idoso elegante.
Geralmente assistem a filmes quando a crítica é favorável, pois não têm mais tempo para experiências desastrosas.  Procuram sempre o certo para evitar o retorno a casa com o sabor do “não valeu à pena”. 
Gosto muito das pessoas ocupadas, pois estas não estão mais disponíveis a viver experiências novas e enriquecedoras.
Perder tempo é para os jovens.
O idoso sabe daquilo que gosta e até aprecia mais os prazeres juvenis. A única diferença existente entre o jovem e o idoso é que este não tem mais tempo para desperdiçar.
Nas viagens, preferem algumas cidades já bastante conhecidas. No meu caso, Rio de Janeiro e Buenos Aires.
Fico sempre nos mesmos hotéis, procuro os mesmos restaurantes, a mesma mesa, o mesmo prato e de preferência o garçom de sempre.
Estamos na fase em que não há mais tempo para perder com bobagens, e jogar a falta de tempo nas costas da solidão.
“Tempo disso, tempo daquilo, falta o tempo de nada”. Carlos Drummond de Andrade.

Gabriel Novis Neves
12-10-2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O leilão que não aconteceu

A rigor, o grande perdedor do leilão para extração de petróleo no Campo de Libra, foi quem leiloou a prenda, no caso, o governo brasileiro.
Leilão demanda vários competidores, o que não aconteceu.
Num total inicial de quarenta interessados, caiu nos últimos dias para onze, sendo que apenas nos últimos segundos, um único consórcio formado  por cinco empresas, conseguiu fechar o contrato.
A nosso favor, a entrada de duas empresas privadas internacionais, a anglo holandesa Shell e a francesa Total, ambas com farta experiência no campo tecnológico, com participação de vinte por cento cada.
A Petrobrás com dez por cento além dos trinta por cento acordados e as duas estatais chinesas, apenas com dez por cento cada, eminentemente entrando apenas com capital, já que são inexperientes em tecnologia nessa área.
Todas se beneficiaram com a taxa mínima de lucro para o nosso país de 41.65%, deduzidos todos os custos. O ágio esperado, não aconteceu.
Enfim, as companhias estrangeiras arriscaram um investimento mínimo em função da grandiosidade da operação.
Aqui, os tigres do nosso grande cassino, em poucas horas, realizaram lucro de 5% nas ações o que deve ter proporcionado uma boa leva de novas grandes fortunas.
Notícia nada promissora que a real extração desse petróleo, poderá levar de cinco a quinze anos, dependendo das condições geológicas encontradas.
Sim, porque estamos falando de uma provável extração de petróleo a sete mil metros de profundidade, após uma extensa camada de pré- sal. Segundo estudos, tubos coletores estarão a uma temperatura de 150 graus Celsius.
Enquanto isso nossos amigos do primeiro mundo investem em combustíveis de extração mais barata tais como o xisto, o gás natural, a energia eólica e a energia solar.
O gás natural, de fácil e barata extração, boom nos Estados Unidos, apresenta como única desvantagem, a contaminação ambiental, coisa que no mundo atual, continua de absoluta falta de relevância.
Triste mesmo foi a comemoração televisiva dos representantes brasileiros que mostravam uma mímica decepcionante, apesar do discurso otimista que tentavam passar.
Fim de uma era ufanista em que nos orgulhávamos de que “o petróleo era nosso”.

Gabriel Novis Neves
21-10-2013

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ABUSO INFANTIL

Mais do que crime, é talvez, o mais vil dos comportamentos humanos.
Sempre que se instala a dominação do mais forte sobre o mais fraco, caracteriza-se um verdadeiro massacre.
Isso é válido, inclusive, com relação aos animais ditos irracionais, frequentemente objetos de tortura de seres humanos inescrupulosos ou deturpados pela doença da maldade.
E não estamos falando ainda do abuso sexual infantil - característica do que há de mais de mais torpe na história da humanidade, ou seja, a anulação do mínimo de dignidade que todo ser vivo merece.
A consequência é uma criança destruída emocionalmente, com alto sentimento de culpa, pois, na sua ingenuidade, só o mau comportamento por parte dela teria como resposta a ignomínia do adulto, parente ou não. Ela passa a imaginar que a única maneira de conseguir amor é se subjugando totalmente à tortura, uma vez que se sente merecedora de tais castigos.
Lástima que esses abusos ocorram mais frequentemente no seio da tão falada família, conhecida e apregoada como esteio de toda uma sociedade.
Infelizmente, essa mesma família que deveria ser o símbolo do aconchego, da verdade e do amor, representa comumente o caldo propício a todo tipo de bulling e discriminação.
Nas grandes cidades isso é menos visível, em virtude, não só da grande agitação que permeia os circunstantes, mas, sobretudo, do maior acesso aos meios de divulgação através de palestras e debates esclarecedores.
Entretanto, no interior, com uma vida mais circunscrita às atividades locais, emergem com mais facilidade os comportamentos neuróticos do clã. Dessa maneira, tudo permanece, por toda uma vida, no silêncio sepulcral que pretende proteger aquela organização familiar.
Assim, inúmeras pessoas se perdem em neuroses graves futuras, já muito difíceis de resposta a um bom tratamento.
A culpa avassala aquela pessoa abusada na infância pelo resto da sua existência, tornando-a uma prisioneira de seus próprios instintos, sempre rechaçados como abjetos.
Vidas perdidas aos montes que, por sua razão nula de ser, já não apresentam sentido.
Uma das consequências mais graves disso é a absoluta incapacidade de amar.
O sucesso financeiro se transforma em obsessão, na ânsia de compensar essa incapacidade afetiva e, portanto, compra desvairada de objetos de consumo.
Entretanto, o barco do ano, o avião do ano, o último carro da moda, é muito pouco para cumprir a sua finalidade, e logo se transforma num imenso vazio.
Entram aí então as inúmeras muletas compensadoras, verdadeiras obsessões, tais como o álcool, as drogas, o hipererotismo, o jogo, sem falar das religiões hiperdimensionadas, verdadeiros bálsamos para consciências tumultuadas.
Enfim, a busca pelo resgate de uma vida que faça sentido, e não aquela que apenas esteja preocupada em obedecer às hipocrisias que o sistema exige.
Nós médicos, presenciamos esses quadros no dia-a-dia com muita tristeza.
Algumas vezes, felizmente, podemos ajudar através do diálogo aberto, o que nem sempre ocorre.
Pessoas mais velhas estavam habituadas a terem em seus médicos seus melhores confidentes.
A vida moderna, carregada de pressa, cortou esses privilégios.

Gabriel Novis Neves
01-10-201

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Convenção

Existe coisa mais convencional que o tempo? Ele acaba com tudo. O pior é que em certos casos termina até com os nossos sentimentos.
O tempo é inimigo do nosso vigor físico e, principalmente, do mental. Crueldade enorme, ficando imunes apenas uns poucos privilegiados.
Existe alguém que nunca foi feliz e que achava que um dia o seria quando tivesse mais dinheiro, por exemplo?
O tempo destrói tudo. Ele passa minuto a minuto realizando essa ação.
Engraçado é quando se está feliz, ele voa. Quando esperamos por dias melhores, é como se ele estivesse parado.
Sempre foi assim.
Mas ele é também terapêutico, sendo muito empregado na medicina e psicologia.
Quando, diante de um paciente, não conseguimos fechar um diagnóstico, mesmo com o auxílio de modernos laboratórios de análises clínicas e imagens, só nos resta como remédio o tempo.
Os médicos não falam claramente aos seus pacientes que eles serão internados, apenas esperando que condições menores alterem a sua patologia. 
Utilizam a palavra observação: você será internado na UTI para observação clínica e esclarecimento diagnóstico - é o nome que a medicina utiliza para a espera desses períodos de recuperação.
Certa ocasião, conversando com um antigo médico da família que tinha sofrido uma série de revezes na sua vida privada com sucessivas perdas de pessoas queridas, me deu o seguinte conselho.
“O melhor remédio que existe para os males do corpo e, especialmente, da alma, é o tempo”!
As crianças, como os animais, lidam de uma forma mais tranquila com o momento, exatamente por não terem a dimensão do tempo. 
Milagres visíveis acontecem, principalmente, para quem sabe esperar a vez e a hora dos grandes acontecimentos.
Os adolescentes, por não terem esta compreensão, são bastante ansiosos na maneira de verem a vida. 

Gabriel Novis Neves
11-10-2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O PIOR

Em recente pesquisa divulgada pela INFRAERO (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), dos doze aeroportos das Capitais brasileiras que irão sediar os jogos da Copa de 2014, o nosso é o que apresenta os maiores problemas.
A sala de espera do aeroporto de Cuiabá, que fica no município de Várzea Grande e deve à sua construção a uma intoxicação alimentar na então primeira-dama do país, Maria Tereza Goulart é um mundo fascinante.
Na promiscuidade de pessoas embarcando, enfrentando longas filas, com espaços reduzidos - onde corpos se tocam -, sem refrigeração adequada para o tórrido ambiente e, pela fisionomia das pessoas, sabemos os que estão “loucos” para ficar e outros para ir.
Neste período de chuvas com temporais, raios e trovões, geralmente o voo é suspenso e o infeliz passageiro é avisado pelo microfone, já que o painel eletrônico pifa nessas ocasiões.
Nenhuma orientação é prestada a essa gente que tinha compromissos agendados em outra cidade ou Estado. Isso demonstra que a tal da terceirização, que virou moda no serviço público, tem um atendimento de total despreparo do seu pessoal de terra.
Os passageiros frustrados são aconselhados a aguardarem a qualquer instante por novas orientações sobre os seus destinos.
Algumas companhias aéreas, sabedoras do prejuízo que significa o cancelamento de um voo, enfrentam todas as intempéries e decolam os seus aparelhos mais pesados que o ar.
Interessante é observar a fisionomia dos passageiros envolvidos nessa situação. Fingem que tudo aquilo que está acontecendo é a coisa mais natural deste mundo.
Alguns disfarçam o seu medo falando ao celular. Outros leem um livro ou rabiscam anotações em uma caderneta. Difícil alguém desistir da viagem ou deixar o embarque para o dia seguinte.
São os crentes no “assim estava escrito”, pois mesmo confiando na tecnologia, não é fácil entrar em um avião debaixo de tempestade.
Os supersticiosos acham que o que está acontecendo é um aviso, que a viagem não vai dar certo. Mas, quando pensam na mão de obra que é desmarcar uma viagem, preferem arriscar, no caso, a sua própria vida.
Não é muito sedutor no meio em que vivemos confessar fraquezas. A época é de grandes vencedores destemidos, mesmo que não o sejam. 
Enfim, algo de muito importante deve esperar, em terras longínquas, esses passageiros. Pior para o mau tempo, que logo desaparece com a decolagem.
Só temo viajar com comandantes com mais de vinte mil horas de voo, talvez pelo hábito frequente de vivenciar o perigo.
São esses que estão nas catástrofes da aviação.


Gabriel Novis Neves
12-10-2013

Saudosismo, não!

Quando somos jovens todos os programas de lazer são maravilhosos!
No final de semana o programa predileto era passar o dia em chácaras nas beiras do Rio Cuiabá, Coxipó ou Coxipó do Ouro.
Churrasco, carne assada, peixe frito, cervejinha, joguinho de futebol, conversa fiada, corpo jogado na rede, uma mergulhada nas águas não poluídas da nossa bacia hidrográfica para amenizar o calor.
A luta contra as moscas. O latido dos cães vadios. A criança peralta que foi queimada pela saçurana. O dia findando. A melancolia surgindo. É hora de voltar.
Tudo era bonito e deixava saudade. No caminho as moradoras da região vestidas com roupinhas de chita e enfeites florais na cabeça.
Restava saber se na próxima semana tudo iria se repetir. Como era longa essa espera! Desde sempre o tempo custa a passar para as crianças, enquanto que, para os adultos, ele voa.
Passados tantos anos, será que tenho paciência para suportar esse quadro que tantos prazeres me davam na juventude?
Sem nem mesmo pensar digo que prefiro o conforto do meu apartamento, onde converso com a solidão.
Aquelas conversas do passado não me lembram de prazer. Como diz o poeta da Portela, “foi um rio que passou em minha vida”.
Essa é a minha mais pura verdade, inimiga cruel dos saudosistas, mas, é o que sinto como idoso.
As pessoas não existem mais e tudo mudou. A beleza foi substituída pela tecnologia.
A idade me fez mais seletivo na escolha dos ambientes de lazer, pessoas e seus conteúdos imateriais.
Não acho mais graça nas antigas e repetitivas conversas. Sinto um enorme prazer em sair do pré-estabelecido. A frase que há anos me norteia é que “para ser o mesmo, tenho que mudar”.
Muitos interpretam a mudança de preferências como demonstração de insegurança ou debilidade de personalidade.
Nada mais equivocado. Os que mudam estão se renovando, como os nossos neurônios, onde milhões são substituídos, ou não, diariamente, segundo o método de vida escolhido pelo cidadão.
Essa é a realidade da vida. Ontem não somos hoje. A idade que substituiu a nossa juventude não exalta o saudosismo – sentimento inútil.

Gabriel Novis Neves
08-10-2013

sábado, 19 de outubro de 2013

TRANSIÇÃO

“Toda unanimidade é burra”, já dizia o imortal Nelson Rodrigues.
Na minha profissão – Medicina - não existe a mínima possibilidade da tão falada unanimidade. É uma ciência não exata, onde o certo, às vezes, é errado e o errado pode ser o certo.
E o que dizer da unanimidade da beleza? Impossível!
Acho de uma beleza incomparável certo momento de transição: quando o dia vai derretendo e mergulhando com as suas infindáveis misturas de cores na linha do horizonte arrastando consigo a claridade e instalando a escuridão, logomarca da noite.
São fenômenos naturais e repetitivos, que me transmitem emoções só conseguidas pela beleza por eles produzida.
Há pessoas movidas por outros instintos e parâmetros, que tem pavor a este momento. Preferem a definição pragmática do claro e escuro. Do dia e da noite, sem transições.
Talvez pela influência da biologia, cedo aprendi a apreciar as várias fases da evolução do ser humano.
Da criança ao adolescente a transição é um momento onde acontecem as descobertas. Há como um tsumani hormonal de rara beleza.
A transição da juventude para a maturidade é aquele momento em que se diz que temos a capacidade de compreender as coisas. Deveria ser o período das calmarias.
A expectativa para conseguir vaga no seleto grupo dos idosos é uma transição aspirada por muitos, apesar dos contratempos que esta fase acarreta. Para os ambiciosos é a expectativa para se alcançar o mais alto degrau da temporalidade da vida.
A vida do dia é composta de transições. Estas se iniciam com o rompimento do Rei Sol, espantando a escuridão dos poetas e boêmios numa explosão maravilhosa de cores. Surge a claridade dos trabalhadores da rotina.
O dia, como um todo, é uma linda transição, e que podemos apreciar com sensibilidade e paz.
Essa beleza da transição está nos detalhes. Ah! Se a vida fosse linear! Poderá até parecer, mas não é. Dessa maneira não haveria poesia, pois esta não sobrevive na ausência da surpresa que a transição nos oferece.
O que seria dos poetas e românticos sem a fantasia da transição?
Quero viver intensamente transições que ainda me restam enquanto espero o findar da última transição - que é o final da minha existência na Terra.

Gabriel Novis Neves
03-10-2013

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mais Lucas

Recebi de um colega trechos do livro “Médicos de homens e de almas”, de Taylor Caldwell.
No momento em que o governo federal tenta desmoralizar os excelentes médicos brasileiros pintando a imagem de profissionais mercantilistas, que só trabalham visando o lucro pessoal, nada melhor que uma reflexão sobre a incompetência crônica dos governos para com a área social.
A culpa sempre é do outro - é a norma empregada por esses governos incapazes de adotarem políticas públicas visando à criação da carreira do médico para a área básica do atendimento a saúde pública, oferecendo-lhe condições de trabalho para a sua distribuição e fixação no interior.
As medidas agora tomadas numa decisão autoritária visam única e exclusivamente impacto na mídia, sem resultados práticos, objetivando melhorar o IBOPE da candidata à reeleição.
Essa é a realidade de um país injusto.
A excelente medicina praticada por médicos brasileiros, formados em nossas escolas de medicina, atende aos ricos e aos ocupantes de cargos públicos em hospitais privados - com as despesas correndo por conta do trabalhador.
Os pobres terão de se contentar com esses lotes alugados de escravos de jaleco e de qualidade científica duvidosa.
O governo importador desses modernos escravos atropela as nossas leis ao exigir dos Conselhos de Medicina a indevida autorização para a prática da profissão e, pasmem, com a desculpa que será supervisionada por médicos brasileiros!
Ora bolas! Se não temos médicos nesse mundão de Deus, como teremos supervisores?
A não ser que os importados fiquem nas grandes metrópoles brasileiras, especialmente Rio de Janeiro e São Paulo.
Aqui no nosso Estado esse programa “Mais Médicos” para a reeleição está sendo um fracasso.
Lucas, o Padroeiro da Medicina, nasceu no século I, na atual Turquia. Estudou na Universidade de Alexandria (Egito).
Lucas curava pessoas e dizem que fazia milagres, igual a Cosme e Damião e Jesus Cristo, a quem não conheceu.
Inspirou-se nos ensinamentos de Hipócrates, um sábio grego nascido em 500 A.C, considerado o Pai da Medicina.
Chegou a Israel um ano depois da Crucificação de Cristo.
“Em tempos de ‘Mais Médicos’, por que não gritar alto, ou, pelo menos, pensar alto”?
Mais Lucas e menos importados!

Gabriel Novis Neves
17-10-2013

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

OUTRA CONVERSA

De há muito, durante as campanhas eleitorais, ouvimos vários candidatos dizer que o problema cruel da nossa saúde pública não é a falta de recursos financeiros, e sim, de gestão.
Eles se apresentam como modelo de gestores públicos, sendo que, muitos deles, vêm da área empresarial, onde o comportamento é outro.
Passadas as eleições o vencedor, antes mesmo da sua posse como executivo do SUS, começa a afinar a voz.
A falta de gestão é substituída pelo seguinte discurso: “vamos ver, temos que fazer parcerias, há escassez de dinheiro para cumprir as promessas de campanha, vamos acionar os nossos prestimosos deputados federais e senadores, quase na sua totalidade pertencentes à base de sustentação do governo federal, para ajudar na liberação de recursos federais não orçamentários, mas de emendas parlamentares ou empréstimos bancários.
Vamos, inclusive, procurar a iniciativa privada para, em parceria, construir o nosso tão sonhado e esperado Hospital de Clínicas, com alta complexidade, urgências e emergências”.
A partir daquele momento o nosso histórico problema de precário atendimento médico recebe novo tratamento.
Entra o discurso da falta de financiamento público e desaparece o da eficiência de gestão.
A única pessoa capaz de multiplicar os pães foi Jesus Cristo, que foi morto e crucificado ao lado de dois ladrões.
De lá para cá os “milagres” que acontecem estão sendo investigados pelos órgãos competentes.
O discurso agora é outro: não se faz uma gestão de qualidade sem recursos financeiros.
Os nossos executivos, de um modo geral, são empresários de sucesso que, em pouco tempo de trabalho conseguem, com uma boa gestão, construir verdadeiros impérios de prosperidade.
Sabem muito bem como funciona uma empresa no mundo capitalista, onde existe uma competição acirrada movida pela lei da oferta e procura.
No exercício de executivos públicos se transformam em verdadeiras princesas sonhadoras, que esperam pela chegada do príncipe encantado (dinheiro).
O bom gestor público é aquele que governa para a maioria da população.
Isso é possível enxugando a máquina pública hiperdimensionada, cortando os salários acima do teto constitucional, acabando com as aposentadorias imorais e com a corrupção.
Assim aparecerá o dinheiro para investimentos na saúde pública.
Por enquanto, temos apenas outro discurso que cairá no vazio.
Haja paciência!

Gabriel Novis Neves
11-10-2013