Transcrevo
abaixo palavras de um “ex-avecista” a um amigo que sofreu anos atrás o mesmo
tipo de acidente vascular cerebral (AVC).
É
uma verdadeira transfusão de amor à vida, mesmo quando esta se mostra bastante
desfavorável.
Antigamente,
essa patologia médica era conhecida como rotura de vasos sanguíneos cerebrais,
que inundavam a massa encefálica, produzindo a morte imediata do paciente ou
sequelas na maioria das vezes motoras, ou da fala.
Seu
diagnóstico era clínico, e as pessoas acometidas desse mal, eram vítimas de um
“derrame”.
Surgia
o temível “derrame cerebral”.
Com
a evolução do conhecimento e, especialmente com os sofisticados exames
laboratoriais e de imagens, verificou-se que nem sempre o “derrame” era
produzido por rotura de vasos.
Os
processos isquêmicos que acontecem quando por minutos o sangue não chega ao
cérebro, geralmente impedidos por grosseiras calcificações nas carótidas,
diminuindo o seu calibre, também produzem morte encefálica e sequelas.
Eis
trechos da correspondência.
”Contratei
aqui no Rio, onde moro atualmente, uma nova acompanhante que irá morar comigo
em Friburgo”.
Ela
tem 18 anos, é magra, ágil, rápida, viva, atenciosa e prestativa, tudo que um
“avecista” necessita.
Dei,
como sempre, muita sorte, e bati logo o martelo.
Contratei
e vou levá-la na volta para Friburgo para reorganizar minha casa para uma
temporada mínima de uns seis meses.
Conte
esta minha novidade aos amigos, desiludidos de uma revirada na vida.
Bom
é que o inverno está indo embora e poderei tomar café no jardim debaixo do
mangueiral, perto dos passarinhos que pousam num comedor que instalei e
abasteço com canjiquinha.
Conseguir
uma acompanhe jovem foi o conselho que dou aos avecistas. É melhor ter
acompanhante, além de ser mais em conta que uma nova esposa.
Meu
ideal seria o Alfredo, mordomo do Batman que agenda e instrumenta as loucuras
do patrão "morcego".
Ótimo!
Interessante
observar nesse relato de alto astral e fino humor recheado de otimismo e
poesia, o poder de regeneração das delicadas e sofisticadas estruturas nervosas
do nosso sistema nervoso central.
A
parte intelectual permaneceu intacta, após um ano de UTI e hospital.
Num
momento onde a vida é banalizada, centenas de anônimos em hospitais e
residências reagem de forma admirável para provar que nem tudo está perdido.
Para
uma pessoa com essa patologia, qualquer perspectiva é um mergulho no escuro e
acho que ele optou pelo menos perigoso.
Apenas
faz uma avaliação duvidosa quando coloca a sua acompanhante como uma esposa,
pior remunerada.
Talvez
os seus neurônios não estejam funcionando tão bem quanto imagina.
Mas,
também, como justificar a vida sem fantasia?
Muitos
creem que a vida é um prêmio divino e, como tal, deve ser vivida.
Gabriel Novis Neves
29-09-2013
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