“Toda
unanimidade é burra”, já dizia o imortal Nelson Rodrigues.
Na
minha profissão – Medicina - não existe a mínima possibilidade da tão falada
unanimidade. É uma ciência não exata, onde o certo, às vezes, é errado e o
errado pode ser o certo.
E
o que dizer da unanimidade da beleza? Impossível!
Acho
de uma beleza incomparável certo momento de transição: quando o dia vai
derretendo e mergulhando com as suas infindáveis misturas de cores na linha do
horizonte arrastando consigo a claridade e instalando a escuridão, logomarca da
noite.
São
fenômenos naturais e repetitivos, que me transmitem emoções só conseguidas pela
beleza por eles produzida.
Há
pessoas movidas por outros instintos e parâmetros, que tem pavor a este
momento. Preferem a definição pragmática do claro e escuro. Do dia e da noite,
sem transições.
Talvez
pela influência da biologia, cedo aprendi a apreciar as várias fases da
evolução do ser humano.
Da
criança ao adolescente a transição é um momento onde acontecem as descobertas.
Há como um tsumani hormonal de rara beleza.
A
transição da juventude para a maturidade é aquele momento em que se diz que
temos a capacidade de compreender as coisas. Deveria ser o período das
calmarias.
A
expectativa para conseguir vaga no seleto grupo dos idosos é uma transição
aspirada por muitos, apesar dos contratempos que esta fase acarreta. Para os
ambiciosos é a expectativa para se alcançar o mais alto degrau da temporalidade
da vida.
A
vida do dia é composta de transições. Estas se iniciam com o rompimento do
Rei Sol, espantando a escuridão dos poetas e boêmios numa explosão maravilhosa
de cores. Surge a claridade dos trabalhadores da rotina.
O
dia, como um todo, é uma linda transição, e que podemos apreciar com
sensibilidade e paz.
Essa
beleza da transição está nos detalhes. Ah! Se a vida fosse linear! Poderá até
parecer, mas não é. Dessa maneira não haveria poesia, pois esta não
sobrevive na ausência da surpresa que a transição nos oferece.
O
que seria dos poetas e românticos sem a fantasia da transição?
Quero
viver intensamente transições que ainda me restam enquanto espero o findar da
última transição - que é o final da minha existência na Terra.
Gabriel
Novis Neves
03-10-2013
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