sábado, 19 de outubro de 2013

TRANSIÇÃO

“Toda unanimidade é burra”, já dizia o imortal Nelson Rodrigues.
Na minha profissão – Medicina - não existe a mínima possibilidade da tão falada unanimidade. É uma ciência não exata, onde o certo, às vezes, é errado e o errado pode ser o certo.
E o que dizer da unanimidade da beleza? Impossível!
Acho de uma beleza incomparável certo momento de transição: quando o dia vai derretendo e mergulhando com as suas infindáveis misturas de cores na linha do horizonte arrastando consigo a claridade e instalando a escuridão, logomarca da noite.
São fenômenos naturais e repetitivos, que me transmitem emoções só conseguidas pela beleza por eles produzida.
Há pessoas movidas por outros instintos e parâmetros, que tem pavor a este momento. Preferem a definição pragmática do claro e escuro. Do dia e da noite, sem transições.
Talvez pela influência da biologia, cedo aprendi a apreciar as várias fases da evolução do ser humano.
Da criança ao adolescente a transição é um momento onde acontecem as descobertas. Há como um tsumani hormonal de rara beleza.
A transição da juventude para a maturidade é aquele momento em que se diz que temos a capacidade de compreender as coisas. Deveria ser o período das calmarias.
A expectativa para conseguir vaga no seleto grupo dos idosos é uma transição aspirada por muitos, apesar dos contratempos que esta fase acarreta. Para os ambiciosos é a expectativa para se alcançar o mais alto degrau da temporalidade da vida.
A vida do dia é composta de transições. Estas se iniciam com o rompimento do Rei Sol, espantando a escuridão dos poetas e boêmios numa explosão maravilhosa de cores. Surge a claridade dos trabalhadores da rotina.
O dia, como um todo, é uma linda transição, e que podemos apreciar com sensibilidade e paz.
Essa beleza da transição está nos detalhes. Ah! Se a vida fosse linear! Poderá até parecer, mas não é. Dessa maneira não haveria poesia, pois esta não sobrevive na ausência da surpresa que a transição nos oferece.
O que seria dos poetas e românticos sem a fantasia da transição?
Quero viver intensamente transições que ainda me restam enquanto espero o findar da última transição - que é o final da minha existência na Terra.

Gabriel Novis Neves
03-10-2013

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