Vira
e mexe uma decisão do poder público me faz lembrar a história do sofá do
português. É tão antiga que todos conhecem - menos as novas gerações.
Talvez,
por isso, a confusão em entender alguns dos últimos acontecimentos que
escandalizaram a todos, por exemplo: a história interminável do mensalão e a
compra das cadeiras de ouro para a Arena Pantanal, fora dos padrões de
obrigações da própria FIFA.
A
historieta é a seguinte:
“Dois
amigos de Lisboa migraram para o Brasil com as suas respectivas famílias e se
instalaram na cidade do Rio de Janeiro.
Um
abriu uma banca de jornal e o outro uma padaria. Eram vizinhos de negócio.
Moravam
próximos aos seus locais de trabalho e no mesmo edifício, para não perderem
tempo com deslocamentos em uma cidade grande e, também, para fazerem economia
no dinheiro das passagens.
O
jornaleiro trabalhava na rua e o seu colega dentro do seu estabelecimento
comercial.
Certa
ocasião, depois de muito pensar, o jornaleiro resolveu revelar ao seu velho
amigo que na sua ausência o garrafeiro - que era do grupo de migrantes -
costumava visitar a sua esposa durante a sua prolongada ausência, que o
trabalho na padaria exigia.
Este
ouviu a triste história que indicava um caso de adultério e se calou,
agradecendo civilizadamente.
Passado
alguns meses o padeiro procura seu amigo jornaleiro para agradecer a
informação, que tinha procedência, e dizer que havia resolvido o problema
doméstico: - Compadre: joguei o sofá no lixo!”
Mais
ou menos isso acaba de ser feito pela prefeitura de Cuiabá, com a aprovação da
Câmara dos Vereadores.
Até
as pedras cangas da igreja de São Benedito sabem que o maior problema que
enfrentamos para cumprir com a Constituição Federal de 1988 com relação à saúde
pública - que diz ser “Um Dever do Estado e Direito do Cidadão” - é a escassez
de recursos financeiros repassados aos municípios.
Como
estes são insuficientes, foi então aprovada a criação da Empresa Cuiabana de
Saúde (ECS).
Essa
estatal pública será “responsável pela execução dos serviços prestados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), que chegou próximo à perfeição, segundo um
ex-presidente da República, cliente do hospital privado Sírio-Libanês (São
Paulo)”.
A
justificativa oficial é hilariante! Sua função será agilizar processos
“geralmente lentos, como a compra de materiais, medicamentos, peças de
reposição dos aparelhos tecnológicos, construção de novas unidades de saúde e a
contratação de excelentes profissionais no regime CLT, não lhes oferecendo o
mínimo de segurança para execução de um trabalho de qualidade”.
Pôncio
Pilatos, ao lavar as mãos diante de um julgamento, demonstrou ser um iniciante
aluno perante a esperteza das nossas autoridades.
Em
nenhum momento a prefeitura demonstrou de onde virão os recursos financeiros
para o sucesso da nova empresa, que terá que ser eficiente - sem dinheiro.
Apenas promessas do governo federal, useiro e vezeiro em dar calotes e não
cumprir com o prometido.
O
cuiabano não tem motivos para ser mal humorado. As medidas adotadas pelo poder
público são muito engraçadas, para não dizer, trágicas, para o pobre que usa
seus serviços de saúde por falta de opção financeira.
Com
a empresa do milagre funcionando, qual será a função da Secretaria Municipal de
Saúde e o seu volumoso organograma preenchido, na maioria, por cabos
eleitorais?
A
grande vítima dessa atitude será a população pobre, como sempre. A nossa
capital extinguiu um programa de saúde pública (SUS) aplaudida e elogiada por
toda a comunidade médica científica internacional.
Seria
oportuno se prefeito, secretários, vereadores, fossem obrigados a usufruir das
maravilhas gerenciais dessa nova empresa.
Único
feliz com essa implantação de modernização dos negócios da nossa saúde pública
é o vereador Mário Nadaf, que não conseguiu recursos com o modelo atual para o
seu projeto beneficiando os homens idosos da capital, mas, com certeza, será
atendido pela ECS.
Enfim,
existem mais dúvidas que certezas na vida da população pobre.
Gabriel Novis Neves
11-10-2013
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