terça-feira, 1 de outubro de 2013

Jaleco

Pertenço a uma geração que já passou do meio-dia da vida. Nesta etapa é de se presumir que já tenhamos alcançado certo grau de paciência, perseverança e, principalmente, que já tenhamos adquirido maturidade suficiente para saber lidar com os contratempos da vida, por mais insignificantes que sejam, e enfrentá-los com tolerância para o nosso próprio benefício.
Muitas pessoas, apesar dos longos anos vividos, não reconhecem que a virtude da paciência só nos traz dividendos. Somos todos conscientes de que o nosso barco, pela ordem natural da vida, se aproxima cada vez mais do seu porto final.
As engrenagens da embarcação já se encontram um pouco enferrujadas. Talvez seja este o motivo principal que leva tanta gente a praticar exercícios físicos – às cinco e meia da manhã.
O professor da madrugada é um jovem explodindo de energia.
Certo dia ele se atrasou e alguns colegas desistiram da aula e voltaram para casa. Dentro do carro, observava toda aquela movimentação e, aguardava a sua chegada ouvindo o noticiário nacional pelo rádio.
O assunto que estava sendo discutido chamou minha atenção: o uso do jaleco branco por médicos e profissionais da saúde fora do local de trabalho.
Muitos têm esse hábito. Entendo as suas justificativas. O médico, de um modo geral, é muito mal remunerado. Passa boa parte do dia se deslocando de um emprego para outro. Nesses intervalos aproveita para ir a bancos, mercados, lojas ou fast-foods, e nem tira o jaleco.
Na ocasião ouvi o depoimento de dois professores de duas das instituições médicas mais respeitadas do país: a colega responsável pelo setor de infectologia do Hospital Albert Einstein de São Paulo e o Emérito Professor da USP - Doutor Vicente Amato.
 Segundo a médica do Hospital Einstein, o uso do jaleco fora do ambiente de trabalho não era motivo de maiores preocupações com relação à infecção hospitalar ou, mesmo, como responsável pela transmissão de doenças.
 Já o professor Vicente Amato condenou veementemente tal uso. Citou inclusive inúmeros casos de infecção hospitalar que estudou e, chegou à conclusão de que o agente causador fora o jaleco rueiro.
Na Medicina realmente não existe unanimidade.
O jornalista encerrou o assunto. O professor da academia de ginástica chegou e fui fazer a minha aula.
“O segredo da paciência é ocupar-se com algo enquanto se espera”.
A maturidade nos ensina que, na maioria das vezes, uma espera pode resultar em um grande benefício.

Gabriel Novis Neves
16-09-2013

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