Tristes
tempos que estamos vivendo. As pessoas são estimuladas pelo sistema a sempre
serem os protagonistas na vida.
Crianças
crescem absorvendo falsos valores, incapazes de se tornarem coadjuvantes nesse
palco de mentiras que montaram como sucesso.
Ainda
muito pequenas, entre os três e os seis anos, são impulsionadas a cumprir
horários integrais de tarefas, como aprendizado de idiomas, atividades
artísticas e esportivas as mais variadas, roubando-lhes, assim, a fase em que
valores deveriam ser formados e o descompromisso ser obrigatório.
O
aprendizado formal deveria acontecer bem mais tarde, quando estivesse completa
ou, pelo menos, bem mais estruturada a sua formação de caráter.
Ninguém
se preocupa em ensiná-las a cumprimentar pessoas, ver o coleguinha com carinho
e benevolência, a respeitar idosos e deficientes, enfim, a ter uma atitude
menos hostil no convívio social.
Ao
contrário, são impingidas para essas crianças regras competitivas, duras e
agressivas que, com certeza, as transformarão em adultos neuróticos, tão
comumente encontrados em todos os ambientes.
Para
isso contribuem também as mídias televisivas que, na sua grande maioria,
transformam os doces contos infantis em verdadeiras histórias de terror.
Com
a chegada da adolescência a vida começa a mostrar que nem todos podem ser
protagonistas, aí então, a infelicidade se torna evidente.
É
quando surgem, em maior número, os desajustes comportamentais decorrentes desse
modelo equivocado de educação.
Falta
a colocação de que o coadjuvante pode ser muito eficaz e feliz, desde que
desempenhe com afinco as tarefas a que se propõe.
Por
que não ser um excelente motorista de um chefe de Estado, uma camareira
exemplar de uma artista famosa, ou então, uma excelente instrumentadora de um
cirurgião renomado?
O
importante a ensinar é que cada um seja bom no que faz, e não, o mais
conhecido pelo sucesso social que representa.
Constatamos
que nessa busca, grande parte dos jovens não agraciados com a celebridade, se
torna desencantado, compondo o grande cordão dos entediados.
Isso
diferencia muito a minha geração da atual, uma vez que ela era preparada, desde
cedo, para se tornar uma boa coadjuvante, sem que isso minimizasse o mérito de
cada um.
A
cada passo de sucesso que a vida lhe proporcionava, e galgando lentamente
posições melhores, era como ganhar um prêmio lotérico.
Lembro-me
bem do impacto causado por minha viagem à Europa, (Romênia), isso já depois dos
trinta anos, evidenciando a carga de realização que isso representava.
Que
pena! O gostoso da viagem não é a chegada, mas a maneira como fazemos o seu
percurso.
A
atual geração se mostra totalmente anestesiada com relação a essas
experiências, pois lhe falta o sabor progressivo da conquista.
A
cultura de se transformar em protagonista é a única meta a ser atingida.
Será
que tudo que é pouco trabalhado é mal usufruído?
Estamos
numa época em que o importante mesmo é postar, sempre exibindo uma felicidade
que se restringe a um mero sorriso sardônico, desvinculado de uma real alegria.
O
mundo digital, grande conquista da humanidade, trouxe a tiracolo esse
verdadeiro strip-tease de valores, em que o importante não é ser, mas sim,
parecer.
Evolução
ou involução? Só o tempo dirá.
Tudo
caminha tão célere que, quem sabe, novos valores estejam a caminho,
trazendo de volta a pureza e a ingenuidade que marcaram toda uma geração?
Sem
saudosismos, pois o melhor momento é sempre o “agora”, apesar de tudo.
Gabriel Novis Neves
30-09-2013
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