quarta-feira, 9 de outubro de 2013

PROTAGONISTAS

Tristes tempos que estamos vivendo. As pessoas são estimuladas pelo sistema a sempre serem os protagonistas na vida.
Crianças crescem absorvendo falsos valores, incapazes de se tornarem coadjuvantes nesse palco de mentiras que montaram como sucesso.
Ainda muito pequenas, entre os três e os seis anos, são impulsionadas a cumprir horários integrais de tarefas, como aprendizado de idiomas, atividades artísticas e esportivas as mais variadas, roubando-lhes, assim, a fase em que valores deveriam ser formados e o descompromisso ser obrigatório.
O aprendizado formal deveria acontecer bem mais tarde, quando estivesse completa ou, pelo menos, bem mais  estruturada a sua formação de caráter.
Ninguém se preocupa em ensiná-las a cumprimentar pessoas, ver o coleguinha com carinho e benevolência, a respeitar idosos e deficientes, enfim, a ter uma atitude menos hostil no convívio social.
Ao contrário, são impingidas para essas crianças regras competitivas, duras e agressivas que, com certeza, as transformarão em adultos neuróticos, tão comumente encontrados em todos os ambientes.
Para isso contribuem também as mídias televisivas que, na sua grande maioria, transformam os doces contos infantis em verdadeiras histórias de terror.
Com a chegada da adolescência a vida começa a mostrar que nem todos podem ser protagonistas, aí então, a infelicidade se torna evidente.
É quando surgem, em maior número, os desajustes comportamentais decorrentes desse modelo equivocado de educação.
Falta a colocação de que o coadjuvante pode ser muito eficaz e feliz, desde que desempenhe com afinco as tarefas a que se propõe.
Por que não ser um excelente motorista de um chefe de Estado, uma camareira exemplar de uma artista famosa, ou então, uma excelente instrumentadora de um cirurgião renomado?
O importante a ensinar é que cada um seja bom no que faz, e não, o mais conhecido  pelo sucesso social que representa.
Constatamos que nessa busca, grande parte dos jovens não agraciados com a celebridade, se torna desencantado, compondo o grande  cordão dos entediados.
Isso diferencia muito a minha geração da atual, uma vez que ela era preparada, desde cedo, para se tornar uma boa coadjuvante, sem que isso minimizasse o mérito de cada um.
A cada passo de sucesso que a vida lhe proporcionava, e galgando lentamente posições melhores, era como ganhar um prêmio lotérico.
Lembro-me bem do impacto causado por minha viagem à Europa, (Romênia), isso já depois dos trinta anos, evidenciando a carga de realização que isso representava.
Que pena! O gostoso da viagem não é a chegada, mas a maneira como fazemos o seu percurso.
A atual geração se  mostra totalmente anestesiada com relação  a essas experiências, pois lhe falta  o sabor progressivo da conquista.
A cultura  de se transformar em protagonista é a única meta a ser atingida.
Será que tudo que é pouco trabalhado é mal usufruído?
Estamos numa época em que o importante mesmo é postar, sempre exibindo uma felicidade que se restringe a um mero sorriso sardônico, desvinculado de uma real alegria.
O mundo digital, grande conquista da humanidade, trouxe a tiracolo esse verdadeiro strip-tease de valores, em que o importante não é ser, mas sim, parecer.
Evolução ou involução? Só o tempo dirá.
Tudo caminha tão célere que, quem sabe,  novos valores estejam a caminho, trazendo de volta a pureza e a ingenuidade que marcaram  toda uma geração?
Sem saudosismos, pois o melhor momento é sempre o “agora”, apesar de tudo.

Gabriel Novis Neves
30-09-2013

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