segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Escabroso


O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) foi criado em 1952 para impulsionar a industrialização do Brasil e promover a expansão da sua infraestrutura.
Teve um papel importante em nossa história, mas, nestes últimos tempos, tem aparecido em crônicas de relações “não republicanas” com o Planalto, com o mundo dos negócios e com partidos políticos que apoiam o governo.
O Banco, segundo os noticiários, mantém relações promíscuas com empreiteiros e empresários.
O Ministério Público Federal de Brasília investiga o assunto.
É lamentável que um Banco que foi fundado para promover o desenvolvimento do nosso país, tenha se desviado da rota, favorecendo amigos do poder e países sem condições de ressarcir seus compromissos, como é o conhecido caso de Cuba e algumas nações africanas.
Firmas falidas de amigo do presidente de então, segundo o Jornal Folha de São Paulo, conseguiu sacar do BNDES (agora com o S do Social) mais de cem milhões de reais para tentar salvar uma empresa geradora de energia a partir do bagaço de cana de açúcar.
Menos de um ano depois dessa injeção do nosso dinheiro a firma entrou em concordata e, o mais grave, o próprio BNDES requereu a sua falência.
Se houvesse uma análise criteriosa por parte dos órgãos competentes esse caso escabroso seria evitado.
Já existe uma CPI do BNDES instalada  no Congresso Nacional, mas, “misteriosamente”, está parada.
Resta ao povo brasileiro confiar no Ministério Público, Justiça e Polícia Federal para mais uma faxina moralizadora.
Enquanto isso... falta merenda escolar para as nossas crianças e medicamentos para os carentes.
Tanta injustiça!

Gabriel Novis Neves
07-11-2015

RETORNO À MISÉRIA


Não sou economista, tampouco cientista social, mas apenas um brasileiro preocupado com os rumos desta nação.
Mantenho-me informado pelas mídias, cuja pauta principal é a economia. 
Constato que os serviços públicos nos últimos anos ficaram longe das prioridades nacionais, e que governos se interessaram mais por políticas públicas eleitoreiras, tais como o Bolsa Família.
“As mães da Bolsa Família” ganharam acesso ao supermercado, porém, os filhos da Bolsa Família continuam fora das escolas de qualidade.
“A nova classe média” da periferia das cidades comprou materiais de construção e até eletrodomésticos, mas, não ganhou nenhum benefício em saúde pública ou mobilidade urbana.
O tal do ajuste fiscal do Ministro da Fazenda não mexe nas raízes da crise como as reformas da Previdência Social e Tributária, assim como a isonomia salarial dos servidores públicos, além do profundo corte dos gastos e mordomias.
Os trabalhadores e as classes médias urbanas foram rebaixados para o nível de pobreza, isto é, em direção às classes D e E.
Estamos em recessão e a crise política financeira não é animadora.
As agências internacionais alertam que o Brasil está em declínio como bom pagador. Famoso empresário ligado ao governo diz em Nova York que nossa nação está em liquidação, com o PIB de 2015 em retração.
Na nossa história só uma vez tivemos dois anos consecutivos de recessão: na década de 30, quando houve a quebra da bolsa de Nova York e agora (2014-2015).
Cerca de três milhões de famílias ascenderam das classes D e E para a classe C entre 2006 e 2012, segundo estudo da Tendências Consultoria Integrada.
A previsão é que em 2017 haja reversão do ciclo, vitimada pelo desemprego e inflação, jogando mais de três milhões de famílias de volta ao ponto de partida.
Segundo Adriano Pitoli, coordenador de pesquisas, “a mobilidade que houve em sete anos deve ser praticamente anulada em três”. Nas palavras dele “estamos vivendo, infelizmente, o advento da ex-nova classe C”.
Na economia voltamos ao ponto de partida. Na política o ponto original não existe mais.
Maurício de Almeida Prado, de uma consultoria com foco na renda baixa, explica que a “ex-nova classe C” adquiriu nos anos gordos, junto com os celulares, uma experiência que não se pode fazer desaparecer.
“É um novo tipo de classe baixa: mais conectada, escolarizada e, de certa forma, até mais preparada”.
Há futuro.

Gabriel Novis Neves
07-11-2015

Terceira idade


Para o médico Emílio Moriguchi, uma das maiores referências em geriatria, envelhecer não é um castigo, mas uma conquista que pode ser alcançada com prazer e hábitos de vida simples e saudáveis.
No exercício da profissão de médico, o afeto na relação médico-paciente, tão distante nos dias de hoje, é fundamental no processo de ajuda aos que nos procuram.
No mundo moderno, da pressa e do descarte, já não há muito lugar, infelizmente, para o carinho e para a atenção.
A tecnologia substituiu o médico e, muitas vezes em uma consulta, o paciente sai do consultório direto para os laboratórios com os pedidos de exames gerados pelo computador, mal conservando com o médico que o atendeu.
Ao retornar com os exames o computador formula a receita médica.
O pior é que, com a mercantilização da medicina, existem colegas exercendo assim a sua profissão, e os clientes ficam muito satisfeitos com a rapidez do atendimento.
Sinal dos tempos! A necessidade de humanização numa profissão de tão diferentes variáveis não é mais levada em conta!
O pobre do paciente não foi ouvido pelo médico, não teve a oportunidade de falar dos seus medos, das suas angústias, de suas frustrações.
Sabemos que a maioria dos problemas que leva um paciente ao médico é de origem emocional. O médico tem de ouvir o seu paciente, pois, ao entendê-lo no seu todo, é possível tratá-lo melhor nas suas necessidades.
“A essência da vida é a emoção”. Entender as nossas emoções é curar muitas das nossas queixas orgânicas. Para isso o médico tem de estar preparado para se doar sempre e entender o mundo dos mais necessitados.
Simples perguntas têm ações terapêuticas: “como vão às coisas?”, “Tudo bem em casa”? “Satisfeito com o trabalho”?.
O computador está substituindo o médico, sendo que este passou a ser um recepcionista de luxo das máquinas sofisticadas, sem as quais não se faz medicina tecnológica.
Precisamos reconduzir o humanismo ao nosso arsenal de trabalho médico. Quantas vezes recebemos um paciente que já consultou o “doutor Google” e diz ter problemas no coração!
Com uma boa anamnese descobrimos que todos os sinais e sintomas são decorrentes de problemas familiares.
O idoso é lábil emocionalmente. Seu maior inimigo é a depressão. E a causa, na maioria das vezes, é a falta de carinho humano. Como peça prestes a ser descartada, sua visibilidade vai ficando cada vez menor pelos circunstantes e familiares.
Proliferaram as clínicas de geriatria em países desenvolvidos com o aumento de expectativa de vida superior aos oitenta anos.
Infelizmente, gente especializada para atender esse contingente de pacientes não existe entre nós em número suficiente.
A terceira idade, ou melhor idade, como é de hábito chamar o período de vida daquele que ultrapassou os sessenta anos, não é uma coisa nem outra, na verdade, é o período em que todos ficam mais sensíveis às emoções, anteriormente pouco valorizadas.

Gabriel Novis Neves
06-11-2015

FINANCIAMENTO


A Presidente da República vetou o financiamento empresarial de campanhas eleitorais e partidos políticos.
Essa decisão já tinha sido tomada pelo Senado Federal e Supremo Tribunal Federal (STF).
Pesquisas realizadas sobre o assunto revelam que três em quatro brasileiros são contra essas doações (?). A maioria quase absoluta dos entrevistados diz que elas estimulam a corrupção.
“Empresa não vota, investe”, diz o povo nas ruas.
Financiam certos candidatos de dois em dois anos e depois de eleitos recuperam o investimento feito em suas candidaturas, cobrando faturas com juros e correções monetárias.
Muitos acreditam que com o fim do financiamento empresarial fica extinta a corrupção neste país em liquidação.
Não acredito nessa mudança de conduta com apenas esse método.
Nosso sistema político está tão viciado e sofisticado tecnologicamente para roubar nosso dinheiro, via empresas e agentes públicos, que outros planos já foram testados e aprovados para manter o status quo do poder.
Sem dinheiro não há eleições livres neste país.
Sabemos que nas últimas eleições, para eleger um deputado federal, foram necessários pelo menos cinco milhões de reais, salvo raríssimas e honrosas exceções.
Infelizmente, sem “molhar a mão do eleitor”, será muito difícil conseguir o seu voto.
A imagem do político brasileiro é a pior possível em termos de ética com o nosso dinheiro.
Um Congresso que aprova a construção de um Shopping Câmara de quatrocentos milhões de reais, e ainda diz que o dinheiro é da Instituição de Leis, não possui credibilidade para propor o fim da imoralidade nas eleições.
No Brasil todo poder emana das empresas, e o poder exercido pelos privilegiados nesse sistema político não tem legitimidade.
Investir maciçamente na educação de qualidade para todos é a saída democrática em médio prazo para o combate à corrupção e às eleições livres, com o poder emanando do povo.
Mas isso é outra história.

Gabriel Novis Neves
05-11-2015

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Obras públicas


Desde sempre houve superfaturamento de obras públicas, numa verdadeira promiscuidade entre empreiteiras e poder público.
Assim nasceu a corrupção no Brasil para abastecer contas na Suíça e para a formação do caixa dois de partidos políticos.
Tudo começou com o primeiro Governador Geral do Brasil, Thomé de Souza, e consolidado nas obras de construção de Brasília, segundo os historiadores.
Nos dias atuais, há o exemplo do conluio das empresas construtoras com partidos políticos, sendo ainda investigadas pela Operação Lava Jato.
Bilhões de reais foram desviados da Petrobras por meio de contratos fajutos para obras fictícias.
Notícias fornecidas pelo balanço da própria estatal violentada, nos dão conta que R$6.2 bilhões foram perdidos com este simples assalto.
Dizem os componentes da equipe do juiz Moro que isso é apenas o começo.
E sabem o que o nosso Congresso Nacional preparou para blindar o roubo? Acreditem!  Executou uma manobra malandra com seus 300 picaretas (Lula da Silva) que poderá ampliar, em muito, as possibilidades dessa sacanagem de roubar o dinheiro dos impostos pagos pelos contribuintes.
Os tais picaretas, assim chamados pelo ex-presidente, aprovaram uma Medida Provisória, posteriormente homologada pelos “Pais da Pátria” - os íntegros Senadores da República. Essa imoralidade visa estender o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) a projetos das Olimpíadas no Rio de Janeiro para driblar a Lei das Licitações e se ganhar tempo na contratação das obras, como foi feito para a Copa do ano passado, de saudosa memória, especialmente para nós cuiabanos.
Agora, foi ampliada para todas as obras públicas em nome da fuga da burocracia!
Traduzindo: o poder público faz a “contratação integrada” da empreiteira, deixando de ser necessário projeto detalhado do empreendimento.
Essa responsabilidade fica para o contratado. Aí está o suborno ou jabaculê, porque, ao fazer o projeto das obras, o empreiteiro estará livre para definir custos.
Temos exemplos desse modelo “ágil de gestão” na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco e no Polo Petroquímico do Rio de Janeiro.
Sem projetos técnicos, os orçamentos iniciais desses dois empreendimentos tiveram o seu custo multiplicado por dez, como na Abreu Lima.
Para o Polo Petroquímico (Comperj) compraram-se equipamentos pesados inúteis. Todo este superfaturamento alimentou os poderosos, transferindo dinheiro da estatal para o projeto de permanência no governo.
Ainda há um jeito de salvar esse projeto da roubalheira. Basta a Presidente Dilma vetar mais esta imoralidade.
Se deixar passar este, estará liberada a roubalheira nesta nação.
Pobre país dos negocistas!

Gabriel Novis Neves
04-11-2015

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

DE CAÇADOR A CAÇA


Durante a minha prática médica nesses últimos sessenta anos, muitas foram as reclamações das mulheres com relação ao comportamento afetivo-sexual de seus companheiros.
O que realmente me espanta é que, apesar das grandes transformações vivenciadas pelas mulheres a partir da revolução sexual dos anos sessenta, as queixas têm sido reiteradas e, até mesmo, mais enfáticas e mais desinibidas, em todas as faixas etárias.
O homem, desde sempre um animal predador, tem como premissa genética o sexo fortuito, pelo simples prazer, descompromissado de qualquer vínculo, a não ser o da reprodução.
A mulher, pelos condicionamentos repressivos aos quais foi submetida durante séculos, e também por razões fisiológicas e hormonais, tem a sua sexualidade muito vinculada aos estímulos basicamente cerebrais e, portanto, bem mais diferenciados.
Mal comparando, é como se o homem dependesse apenas de um botão disparador, enquanto a mulher de todo um painel repleto de conexões.
Essa grande diferença entre os gêneros, aliada à falta de informação e de educação sexual, é a causa de tantos questionamentos e incompreensões  no quesito comportamento sexual.
Isso na natureza é muito bem resolvido, pois as fêmeas, de qualquer espécie, apenas aceitam o conluio sexual durante a fase do cio, o que é absolutamente respeitado pelos machos. No animal irracional não existe a possibilidade de estupro.
Nós humanos fazemos exatamente o contrário, desrespeitamos todos os nossos instintos naturais. Culturalmente fomos condicionados a tratar as mulheres apenas como objetos do nosso desejo, ignorando os seus ápices de atividade sexual.
A mulher moderna, ainda confusa e convencida da igualdade de seus direitos e deveres, passou a exigir de si mesma e de seus prováveis futuros companheiros um comportamento para o qual os machos tradicionais não estavam preparados, ou seja, a aceitação da mescla de liberdade com libertinagem.
Homens queixam-se que as mulheres modernas, com a falência do amor romântico, perderam a noção de que o instinto primordial do macho é o de caçador.
Mulheres queixam-se da menor procura para vínculos mais estreitos, e não apenas os de satisfação sexual imediata.
Enfim, as conquistas femininas arduamente conseguidas transformaram-se em novos questionamentos no plano afetivo.
Além disso, a mulher moderna, muito competitiva, passou a exercer o papel de caçadora, e não de caça, para a qual foi biologicamente programada.
Discute abertamente, até em redes sociais, suas avaliações outrora íntimas quanto ao tamanho e performances masculinas, tornando os pobres machos apequenados diante de situações nunca antes vividas e, portanto, inseguros na sua sexualidade.
A meu ver, essas percepções equivocadas têm sido a grande causa do aumento dos desencontros amorosos no momento atual.
Pela lei da oferta e procura, se a caça é abundante, o predador se torna menos interessado.
A juventude, diante dos exemplos das gerações mais velhas, começa a adotar o poliamor, em que duas, três ou mais pessoas, independente do gênero,  passam a se relacionar afetiva e sexualmente de maneira aberta, sempre caracterizada pela ausência de posse.
Alguns programas televisivos em horário nobre, já discutem esses relacionamentos.
Os adultos, para corresponderem aos padrões sexuais apregoados pelas mídias - inclusive as pornográficas - nas atividades atléticas e frequentes enchem-se de substâncias que, a rigor, só deveriam ser usadas em casos graves de disfunção erétil e, mesmo assim, com controle médico.
Não por acaso, essas substâncias são campeãs de vendas medicamentosas.
Os idosos, nessa onda competitiva, acabam enfrentando os graves efeitos colaterais dessas drogas e muitos deles são levados à morte prematuramente.
Todo esse quadro de desinformação sexual já deveria ter sido resolvido se, alijadas as hipocrisias, fosse obrigatória como matéria nos currículos escolares a desmistificação da sexualidade.
É preciso que tabus e mitos além da compreensão histórica de tantos desencontros nessa área sejam discutidos abertamente nas salas de aula de todo o país.
Não adianta rotular de laicas as escolas se elas continuam formando pessoas cobertas de amarras sociais, culturais e religiosas que impedem o seu crescimento na área mais importante da vida humana - a sexualidade.

Gabriel Novis Neves
02-11-2015

Exageros


Se formos nos guiar pelas informações diárias das mídias com relação a nossa situação econômica estamos no fundo do poço.
Não nego que a situação é grave, com forte recessão econômica, alta da inflação, juros em alta, famílias inadimplentes, diminuição dos postos de trabalho, empresas falindo, crise na construção civil, além do desânimo geral com os nossos políticos e a praga da incontrolável corrupção sistêmica.
Concordo que o nosso futuro é incerto, mas, há um exagero nessas previsões, apesar do atrapalhado segundo mandato da presidente Dilma.
Contribuiu para essa sensação de prenúncio de fim do mundo, a revelação dos escândalos investigados pela PF e pela Procuradoria Geral de República com autorização do juiz Sérgio Moro.
Entretanto, já vislumbramos alguns sinais de exageros nas previsões econômicas para o futuro que começa a ceder. 
Existem analistas que, mesmo com os indicadores econômicos e sociais bem desfavoráveis, creem em um futuro menos dramático.
A aposta da Shell, que acaba de destinar 70 bilhões de dólares para a compra da BG (ex-Britsh Gas), de olho no pré-sal brasileiro, considerado pela companhia estrangeira como “talvez a área do mundo mais exuberante para a indústria do petróleo atualmente”, nos enche de esperanças no início da nossa saída do fundo do poço.
Será o encontro da famosa mola que irá nos impulsionar para a superfície da retomada do desenvolvimento?
Uma dose de otimismo neste momento de apagão de credibilidade no nosso futuro fará bem ao povo brasileiro.
Com todos esses fatores negativos de uma visão caolha de poder, onde todos os meios justificam os fins para a permanência do poder, não podemos perder o otimismo em dias melhores.
Temos um dos maiores potenciais de riqueza da humanidade e isto é um fato real. Infelizmente o que tem nos faltado é gestão ética.
Na vida tudo passa, inclusive, os incompetentes no poder.

Gabriel Novis Neves
05-11-2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

ESCOLAS PRIVADAS DE MEDICINA


Os estudiosos do ensino médico estão preocupados com o aumento das escolas médicas privadas em nosso país.
Para melhor compreensão basta recordar que em 2003 tínhamos 64 escolas particulares e em 2015 esse número saltou para 154, segundo levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina e publicado no Jornal Medicina de agosto de 2015.
Enquanto isso, no mesmo período, as escolas públicas aumentaram seus estabelecimentos de 62 para 103.
Isso comprova um crescimento desordenado e sem qualidade que compromete a qualidade dos futuros profissionais da saúde.
Em números totais o volume de escolas médicas também mais que dobrou. Esses dados podem mudar nos próximos meses, pois 36 municípios já conseguiram autorização para receber novos cursos de Medicina.
Até fins de 2016 nossa nação contará com 293 escolas funcionando. Com um agravante: mais 22 novos municípios solicitaram permissão para funcionar suas escolas médicas, o que pode elevar esse número para 315.
Temos hoje em atividade no país 257 cursos. 69% estão localizados nas regiões Sudeste e Nordeste. 158 cidades brasileiras têm escolas médicas. 
Os Estados de São Paulo e Minas Gerais concentram um terço das instituições.  As escolas particulares cobram mensalidades que chegam até R$ 11.706,15, com média de R$ 5.406,91.
Liderando o ranking dos Estados com maior número de escolas pagas temos São Paulo com 44, Minas Gerais com 39 e o Rio de Janeiro com 19.
Nas últimas posições, com uma escola cada, temos o Amapá e Roraima, sendo as duas públicas.
Colocando didaticamente o quadro de distribuição de escolas médicas em nosso país, dificultando em parte a fixação do médico no interior, temos o seguinte quadro:
Região Sudeste - 107 escolas com 10.577 vagas.
Região Nordeste - 63 escolas com 5.553 vagas.
Região Sul - 41 escolas com 3.449 vagas.
Região Centro-Oeste - 24 escolas com 1.917 vagas.
Região Norte - 22 escolas com 1.787 vagas.
Apesar de possuirmos em funcionamento o dobro de escolas médicas que os Estados Unidos da América do Norte, continuamos importando médicos com baixa qualificação científica para atender inúmeros municípios sem médicos e sem estrutura física para um atendimento básico.
Algo terá que ser revisto para a saúde de 75% da nossa população dependente do atendimento público (SUS) - de 200 milhões de habitantes.
Aguardemos lucidez dos nossos governantes para corrigir essa injustiça, se é que o problema se resuma à falta dela.

Gabriel Novis Neves
04-11-2015


* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

Soluções para a crise


Em momentos de crise financeira crescem as mais diversas alternativas no sentido de fazer dinheiro.
Já não são poucas as pessoas que, apesar de suas habilidades técnicas reconhecidas por diplomas, perdem os seus empregos em grandes firmas e passam a ter no mercado informal uma nova perspectiva de ganhos.
As mulheres, sempre mais despojadas, apelam para os seus dons de cozinha, de costura, de cuidado com crianças e até de acompanhantes.
O importante é que surja uma nova renda que permita a manutenção do padrão de vida anterior a todo esse descalabro em que foi afundado o nosso país em função de políticas equivocadas.
Nas ruas são colocados slogans do tipo - “não vamos pagar o pato” - referente à possível volta da CPMF. 
Essas atitudes são incentivadas por aqueles poucos que têm tempo e fôlego para sobreviver às crises desse porte - os altos comerciantes e industriais.
Entretanto, esses poucos mais abastados não representam os outros duzentos milhões de assalariados e desvalidos que buscam a qualquer custo o pão de cada dia para sua família e filhos.
Numa dessas tardes me deparei com um antigo colega de trabalho feliz da vida, pois tinha comprado um táxi e colocado na praça.
Disse-me ele que estava ganhando mais do que quando atendia seus trinta pacientes por dia, oriundos de um plano de saúde em vias de falência.
Estava alegre e, principalmente, “desencanado”, segundo suas próprias palavras.
É isso aí! Se a crise apertar muito vou voltar às minhas origens e reabrir o Bar do Bugre.
Voltar ao meu sonho de menino de ser um excelente garçom, quando ouvia e me divertia com tantas histórias diferentes, que nem sequer me tocavam como tão verdadeiras!
O contato diário com um grande número de pessoas de diferentes tipos, com certeza, minimizaria essa sensação de caos coletivo em que todos nós nos encontramos.
Rir é sempre o melhor remédio!

Gabriel Novis Neves
02-11-2015

CONSELHO DE ÉTICA


Como toda instituição que preza a defesa dos bons costumes, a Câmara dos Deputados possui o seu Conselho de Ética.
Seus integrantes, em número de vinte e um, são indicados pelos respectivos partidos ou blocos parlamentares após minuciosa e criteriosa seleção, considerando os seus passados republicanos.
Acontece que sete desses representantes do povo respondem a algum tipo de processo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Três deles já são considerados réus na corte máxima, ou seja, tiveram denúncias contra si acatadas e transformadas em ação penal no Supremo Tribunal Federal.
É o que revelam dados do levantamento veiculado no site do jornal o Estado de São Paulo.
Como esse colegiado tem um terço de seus ocupantes sendo investigados, poderá apreciar o pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar  contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
Este mentiu nessa mesma Comissão quando, de livre e espontânea vontade, ali compareceu, para declarar que nunca possuiu contas na Suíça ou qualquer outro país. 
Passados meses, a Procuradoria Geral da República (PGR) está com amplo material que comprova que o deputado pelo Rio de Janeiro é detentor de várias contas em seu nome e em nome de sua família naquela nação.
Os deputados da Comissão de Ética que irão julgá-lo, acusados de crimes pelo STF, negam haver cometido qualquer deslize ético.
Apenas dez dos vinte e um deputados estão salvos de qualquer investigação no STF, informa o Estado de São Paulo.
A pergunta que fica: esse grupo de parlamentares tem condições morais e éticas para julgar alguém?

Gabriel Novis Neves
02-11-2015

Finitude


O Campus de São Carlos (USP) está desenvolvendo uma substância visando a cura do câncer.
Essa substância não obteve autorização da ANVISA para ser utilizada em humanos e a pesquisa está parada, dependendo de decisão judicial.
Entretanto, a sua fórmula, com o princípio ativo do fármaco transformado em pílulas, tem sido utilizada por pacientes da doença maldita, como o imaginário popular se refere ao câncer, com depoimento de doentes e familiares.
Há notícias e relatos positivos sobre seus efeitos milagrosos aliviando a dor e, em alguns casos, produzindo curas.
A finitude é o caminho de toda criatura, por isso sua existência é marcada entre o nascimento e a morte.
Homens e mulheres, sendo mortais e sabedores disso, são atingidos por um profundo temor da morte.
O humano é o único animal do planeta Terra que sabe que vai morrer, e a morte potencializa o seu sofrimento. Somos seres sofredores e finitos.
A finitude humana nunca pode ser subestimada como fonte de dores e sofrimentos do mundo.
Talvez, por isso, sentimos tanto orgulho da eficácia dos antigos e novos medicamentos que nos livram das dores, pois vivemos a era da apologia da total felicidade, muitas vezes, infelizmente, a custa de antidepressivos que nos asseguram a conquista do bem supremo.
A pior dor é a dor da frustração, que se tornou uma inimiga invisível a rondar como um fantasma todo o nosso inconsciente.
Na Grécia antiga “pharmacos” era o nome dado ao “bode expiatório” para combater os males do corpo. 
Até hoje tentamos a todo custo expulsar esse “bode” da nossa vida à procura da incurável ferida da finitude.
A decisão sobre a vida e a morte é hoje uma prerrogativa compartilhada com cientistas, juristas e médicos, numa simbiose digna de ser pensada, pois continuamos finitos.

Gabriel Novis Neves
02-11-2015

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

AMOR E DÚVIDAS


A gente precisa aprender a exercitar esse sentimento sem o qual não vivemos. Como ele se manifesta, não há um consenso entre os poetas. 
Caymmi disse que estava desprevenido quando ele apareceu. 
E, como se faz para mantê-lo? Com o tempo desaprendemos a amar? 
São indagações que nos perseguem, pois tudo em nossa vida gira em torno do amor.
Até se mata por amor, segundo afirmam alguns. É possível matar quem se ama? Claro que não!
O pior é quando percebemos que perdemos a capacidade de amar, ainda que a capacidade de doação se torne maior com o avanço da idade.
Aprendemos a exigir menos das pessoas, tendendo a diminuir as cobranças.
Pessoas idosas que não perceberem isso acabam isoladas. A troca pura e simples é para a fase adulta, não para a velhice.
Nessa mesma linha de raciocínio, fácil entender porque as crianças só pensam em tomar, despreocupadas com a possibilidade de trocar.
Existem amores que fazem parte da nossa educação, religião, ambiente em que vivemos, e que aceitamos como verdadeiros, sem discutir ou pensar. 
Sempre dizemos que amamos nossa família, pátria, filhos e até amigos. O mesmo acontece com relação ao nosso trabalho.
Aí, misturamos o conforto que a remuneração do trabalho propicia com o amor.
“O amor é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto”. Vinícius de Moraes
Muitas vezes gostamos da “plata” que atividades laborais nos propiciam, e não do trabalho propriamente dito. Fico em dúvidas quando ouço alguém, em boa situação financeira, declarar que ama o que faz. 
Sempre imagino que essas construções são arcaicas, visando nos culpar pelo lazer. Infelizmente carregamos esse tipo de culpa pelo resto de nossas vidas.
O problema do amor está sempre no outro, ao sublimar e compreender as pessoas como elas são com seus defeitos e diferenças.
Encontrar pessoas especiais é possível, embora isso dependa do fator sorte e das renúncias às quais teremos que nos submeter.
A verdade é que o amor sempre existiu dentro de nós.
Precisamos aprender a conviver com ele e, mais do que isso, não fugir dele através de um possível sentimento de prisão, tão peculiar aos que amam a liberdade, inclusive a afetiva.
Carlos Drummond de Andrade dizia nos seus versos apaixonados que “há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la”.
Felizes daqueles que conseguem descobrir esse motivo!

Gabriel Novis Neves
19-10-2015

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Geriatria


Não chega a ser a melhor idade como muitos querem, mas, a velhice é, com certeza, a fase da libertação do ser humano.
Esses verdadeiros heróis da longevidade conseguem se despir de um sem número das bobagens aprendidas e repetidas.
Em reuniões comemorativas - Bodas de Prata, Bodas de Ouro, colação de grau em faculdades, casamento ou de exercício pleno de uma profissão - ficamos alegres e surpresos com as alterações fisiológicas produzidas em nós pelo tempo.
Assim, são desculpáveis os esquecimentos dos nomes dos antigos colegas e amigos que há muito tempo não víamos, chegando ao ponto de não reconhecê-los fisicamente.
São embaraços da idade avançada plenamente compreensíveis e aceitáveis. É politicamente correto achar engraçadinho o velhinho esquecido. 
Por outro lado, existe outro embaraço - também acarretado pela velhice - em que o idoso não encontra tanta compreensão assim.
Por ignorância e preconceito, a vida moderna tem nos afastado cada vez mais dos nossos ruídos fisiológicos, e até das nossas emoções. Como por exemplo, conter a flatulência.
Isso é muito prejudicial, principalmente à nossa saúde e, não por acaso, tem aumentado, em muito, os cânceres de intestino. 
Temos a capacidade diária de eliminar, aproximadamente vinte vezes, os gases - conhecidos como flatos - que vão se acumulando no nosso aparelho gastrointestinal.
A hipocrisia da vida urbana faz com que essa eliminação, geralmente ruidosa, seja considerada desrespeitosa e, portanto, devendo ser contida.
Dessa maneira, por incrível que pareça, relacionamentos são destruídos em função desse peristaltismo intestinal presente em toda a espécie animal.
O mesmo acontece com a nossa necessidade diária de expulsão de material fecal que, em função do grande número de atividades no dia, passa a existir com hora marcada, totalmente fora dos padrões ditados pela natureza.
Infelizmente, apenas na velhice conseguimos nos libertar de tanta caretice e de tanta ignorância.
Por essa razão, os velhos são muito gozados, já que não mais se submetem tão facilmente aos ditames dos chamados, erradamente, bons costumes.
É comum para as pessoas que tiveram constipação intestinal durante toda a vida, passarem a ter um total equilíbrio de suas funções gastrointestinais apenas em função de obediência ao que a natureza tão sabiamente nos impõe.
Quando em um casal não há amor e compreensão, esse fenômeno da natureza, às vezes, produz ruptura definitiva de um, até duradouro, relacionamento.
A interpretação da chamada “trovoada matinal” é traduzida por seres que não se amam mais como grosseiro e imperdoável desrespeito, e não, como uma emergência fisiológica incontrolável.
Certa ocasião, um amigo me contou que logo na primeira noite de um novo casamento, espontaneamente, e com o maior respeito, sua nova esposa abordou com elegância esse tema de forma humana e racional liberando-o de eventuais constrangimentos.
Graças a essa anti-hipocrisia do certo e errado, está ele há anos em permanente lua de mel.
Como médico, sou muito questionado sobre esses pequenos detalhes nos relacionamentos cujas soluções são simples e surgem com apenas um pequeno entendimento sobre fisiologia que, a meu ver, deveria ser ministrado nas escolas logo no início do primeiro grau.
Muitas doenças e muitos desgastes emocionais seriam, com certeza, evitados.
O que termina uma união é a falta de amor, e não, os ruídos e odores naturais e eventuais que emanam de seus parceiros.
A hipocrisia não tem lugar em uma relação de amor verdadeiro.

Gabriel Novis Neves
21-10-2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

UTILIDADE


O velho, aquele ser humano que ultrapassou os 80 anos de vida, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) não tem mais utilidade laboral.
Muitos pensam que ele ocupa o que resta de seu tempo em atividades menores, quando não, administrando a solidão.
No entanto, ao ingressar nesse seleto grupo, continuo produzindo as minhas crônicas diárias, indo duas vezes por semana ao consultório e, o mais importante, cuidando da minha vida.
Descobri que o velho (não confundir com idoso) é muito solicitado para proferir palestras e conferências. Fui convidado a participar, por exemplo, das festividades relativas aos 73 anos de atividade social e educacional do Hospital Geral Universitário (HGU).
Os cursos de Agronomia e Geologia acabam de contemplar 40 anos de existência, produzindo recursos humanos para o desenvolvimento deste Estado.
Logo teremos as bodas de ouro do curso de Economia. A lista é grande e, em dezembro, a Matriz (UFMT) completa 45 anos.
Nesses eventos o velho é sempre lembrado e valorizado, pois não temos memórias escritas da epopeia vivida na segunda metade do século XX no Estado ainda não dividido.
A verdadeira história dessa conquista pertence aos velhos, que estão desaparecendo.
Sempre nesses encontros uma verdade - ou uma mentira repetida que acaba se tornando verdadeira - é rememorada e fica para os arqueólogos o papel de decifrar o que houve no Cerrado do Coxipó.
Como representante desse grupo em extinção tenho comparecido a essas reuniões e deixado, quando possível, detalhe da nossa história oral.
Pelo menos para isso os velhos saudáveis, não portadores da Doença do Alemão, servem, ou seja, para acrescentar algo da identificação das nossas origens.
A geração que ignora a história não tem nenhum passado e nenhum futuro, como já dizia Roberto Heinlein, escritor americano.

Gabriel Novis Neves
02-11-2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Forças policiais


Por mais absurdo que possa parecer estamos hoje sendo governados por forças que apenas buscam escapar dos camburões policiais.
Os reais problemas do país são delegados a segundo plano, já que grande parte da nossa classe governante está apenas empenhada em se desvencilhar de seus próprios imbróglios éticos, que se avolumam dia a dia.
Essa é a razão fundamental da nossa absoluta falta de perspectiva com relação a essa crise econômica, política e social, a mais longa de todas que já vivemos.
O resultado de toda essa irresponsabilidade é a inércia maldita que a todos angustia. Essa sensação de labirinto de areias movediças em que nos movemos atônitos sem encontrar uma saída.
As crises mundiais apregoadas como causadoras de muitos estragos, principalmente no tocante ao desemprego, nem de leve causaram os efeitos devastadores que essa nossa agrura vem causando, em especial nos menos abastados.
Com o desprestígio internacional nos tornamos reféns das atuais agências de avaliação de risco, ou seja, as que vão determinar a credibilidade do país para o qual deve migrar o capital.
Diante dessas condições ditadas pelas economias fortes de mercado, estamos cada vez mais tendo as nossas notas rebaixadas no quesito “bom pagador”, fator esse estimulante para uma economia já agonizante.
Enquanto isso, nossos governantes comportam-se como se estivessem num baile da Ilha Fiscal, com suas viagens megalômanas, seus privilégios escancarados, todos procurando salvar suas próprias peles chamuscadas, indiferentes ao circo que já mostra as suas lonas despencadas.
Ao que tudo indica somente a sociedade civil unida pela indignação será capaz de encontrar uma solução rápida e eficaz para resgatar os valores éticos perdidos e colocá-los novamente na direção desse país.

Gabriel Novis Neves
​02-11-2015