segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Finitude


O Campus de São Carlos (USP) está desenvolvendo uma substância visando a cura do câncer.
Essa substância não obteve autorização da ANVISA para ser utilizada em humanos e a pesquisa está parada, dependendo de decisão judicial.
Entretanto, a sua fórmula, com o princípio ativo do fármaco transformado em pílulas, tem sido utilizada por pacientes da doença maldita, como o imaginário popular se refere ao câncer, com depoimento de doentes e familiares.
Há notícias e relatos positivos sobre seus efeitos milagrosos aliviando a dor e, em alguns casos, produzindo curas.
A finitude é o caminho de toda criatura, por isso sua existência é marcada entre o nascimento e a morte.
Homens e mulheres, sendo mortais e sabedores disso, são atingidos por um profundo temor da morte.
O humano é o único animal do planeta Terra que sabe que vai morrer, e a morte potencializa o seu sofrimento. Somos seres sofredores e finitos.
A finitude humana nunca pode ser subestimada como fonte de dores e sofrimentos do mundo.
Talvez, por isso, sentimos tanto orgulho da eficácia dos antigos e novos medicamentos que nos livram das dores, pois vivemos a era da apologia da total felicidade, muitas vezes, infelizmente, a custa de antidepressivos que nos asseguram a conquista do bem supremo.
A pior dor é a dor da frustração, que se tornou uma inimiga invisível a rondar como um fantasma todo o nosso inconsciente.
Na Grécia antiga “pharmacos” era o nome dado ao “bode expiatório” para combater os males do corpo. 
Até hoje tentamos a todo custo expulsar esse “bode” da nossa vida à procura da incurável ferida da finitude.
A decisão sobre a vida e a morte é hoje uma prerrogativa compartilhada com cientistas, juristas e médicos, numa simbiose digna de ser pensada, pois continuamos finitos.

Gabriel Novis Neves
02-11-2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.