quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cheque caução


A emergência médica sempre foi atendida nos hospitais pelos médicos, independente de qualquer autorização ou lei.
Acontece que neste país a lei que prevalece é a do Gerson – princípio em que uma pessoa age sempre de forma a obter vantagem em tudo que faz.
Entende-se por atendimento de emergência o paciente em risco eminente de morte.Nestes casos, quando chegavam ao hospital eram imediatamente atendidos com os protocolos padrões necessários para manter a sua vida e encaminhados diretamente ao Centro Cirúrgico ou UTIs.
Depois de atendidos era feita então a parte burocrática da internação junto a familiares ou acompanhantes (histórico médico, registro e documentos necessários). Essa correria toda tinha como único objetivo tentar manter e salvar uma vida. Sempre foi assim.
Com a reconhecida ineficiência injustificável do governo na área da Saúde Pública e, diante do fracasso do Sistema Único de Saúde (SUS), os pacientes pobres, e outros com boas condições financeiras - porém sem planos de saúde - em situação de emergência tentam a sua salvação procurando um hospital particular.
Surge então, por iniciativa do governo federal, a tentativa de resolver o atendimento de emergência com a criação da lei que proíbe o Cheque Caução, que é o valor que se deposita como garantia de um contrato ou dívida.
Aí proliferam os oportunistas. Todos os casos viraram emergência nas recepções dos prontos atendimentos, transformados em grandes ambulatórios de consultas de rotina.
Ora bolas! Os aproveitadores, cientes deste benefício governamental, classificavam as suas patologias, e de seus entes queridos, como emergência, e passaram a não mais fazer o depósito do cheque caução.
Muitos fazem, propositalmente, simulações para, em seguida, abarrotarem o Judiciário ou o PROCON com interesses nitidamente oportunistas e comerciais.
Na maioria das vezes o cliente tem ciência que jamais terá condições de saldar a sua dívida com o hospital, mas, na ausência de atendimento da rede pública, o serviço particular é a sua tábua de salvação.
No entanto, é atribuição do médico a determinação de uma emergência.
Para os leigos, qualquer tipo de sintomatologia que o incomoda é uma emergência.
Com a lei do governo federal isto passou a ser parte da tragédia da vida dos hospitais privados.
Os cheques não são pagos e o governo não se responsabiliza pelas despesas dos procedimentos realizados.
Tampouco compensa qualquer despesa médica hospitalar, ou similar, com redução de impostos, pois muitas notas fiscais são emitidas em vão e os impostos pagos.
A consequência é o fechamento dos hospitais privados.
Como Pôncio Pilatos, o governo entregou a administração de seus poucos hospitais regionais, que trabalham em regime de porta fechada, à administração das ilegais Organizações Sociais de Saúde (OSSs).
Estes não atendem o paciente de alto custo (emergências) e nem qualquer um. Os procedimentos são 100% eletivos, com hora marcada, além de fazerem seleção dos pacientes a serem acolhidos.
As filas de atendimento clínico e cirúrgico continuam imensas e ninguém desses modernos administradores é preso por exigir cheque caução, pois o próprio paciente sabe que estes hospitais jamais serão procurados para um caso de risco de morte.
E os infelizes proprietários dos hospitais privados ficam com a falência de seus empreendimentos e a humilhação de uma injusta e vergonhosa possível prisão, atendendo pacientes amparados pela Constituição Federal, não respeitada pelo governo que a promulgou.

Será que não há possibilidade do Poder Público ser honesto com os pobres e trabalhadores investindo em saúde pública, ao invés de proibir o hipócrita cheque caução, que só é válido em emergências, símbolo da falência do sistema público de saúde?


Gabriel Novis Neves
21-11-2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CRISE SEM FIM


Há pelo menos dez anos os jornais de Cuiabá diariamente denunciam a crise na saúde pública.
São macas espalhadas pelos corredores do Pronto Socorro; pacientes graves aguardando cirurgia; apenas vinte vagas na UTI para atender pacientes graves de todo o Estado. E o Poder Público totalmente incompetente para, pelo menos, minorar o sofrimento dos mais pobres.
Em Várzea Grande, onde existe outro Pronto Socorro, os médicos estão em greve há quatro meses. O governo do Estado, alinhado ao Federal, se nega a repassar R$ 1.3 milhões do Hospital Municipal e do Pronto Socorro de Cuiabá. O fluxo dos pacientes do interior, totalmente abandonado pelo Estado, agrava ainda mais a situação de Cuiabá.
Em compensação, após quase quatro anos de mandato convivendo com essa vergonha, o governo espera reverter o quadro da saúde até 2014.
A principal ação para reverter essa desumanidade que nos agride, pois não afeta os fazedores de leis e os poderosos, foi entregar, de porteira fechada, os poucos hospitais estaduais às ilegais Organizações Sociais de Saúde (OSSs).
Foi um verdadeiro tiro no pé, que só funciona bem nas estatísticas feitas pelos técnicos do governo.
Agora, como presente de Natal, é intenção do Estado tomar conta do antigo Hospital Geral de Cuiabá, que tem um contrato de comodato de trinta anos com a Universidade de Cuiabá (UNIC).
Os irresponsáveis gestores pretendem entregar a gestão do Hospital Universitário de uma universidade privada às Organizações Sociais.
Com uma cajadada só matam dois coelhos. Acabam com a boa escola de medicina da UNIC - juntamente com seus cursos da área de saúde - e fecham rapidamente mais um hospital que atende ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A informação do governo é que a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá aumentou o número de leitos para o SUS. A realidade não é bem essa, muito pelo contrário.
Surge novamente a história do falecido Hospital Egas Muniz, que já teve muitos nomes e cujo único mérito foi o de manter sempre suas portas fechadas com apenas um funcionário – o vigia.
Como conversinha de final de ano, o governo garante que esse hospital funcionará normalmente no próximo ano, mas sem correr o risco de especificar o tipo de paciente que irá receber, e que será administrado pelas eficientíssimas Organizações Sociais.
Dá para acreditar?
O novo Hospital Universitário Júlio Muller, da estrada de Santo Antônio, tem tudo para ser o “Hospital do Esqueleto”.
Os recursos para a sua construção serão divididos meio a meio entre o Governo Federal e o Estadual. Dinheiro do Governo Federal... sabemos como é.
Exemplos recentes não nos deixam esquecer as fantásticas obras do PAC I, PAC II, Transposição do Rio Francisco e as obras do nosso novo aeroporto.
O Governo Estadual está capando recursos dos fundos de algumas secretarias para honrar os repasses para a Assembleia Legislativa, Poder Judiciário, Tribunal de Contas e pagamento dos funcionários.
Investimentos “indispensáveis e inadiáveis” só vemos para a construção da Arena Pantanal. As obras do VLT, até agora sem recursos, obrigou o consórcio vencedor a abrir buracos pela cidade para fingir que está trabalhando, e só.
Em todo o Brasil os médicos sabem que os Hospitais Regionais de Mato Grosso que são administrados pelas OSS não pagam salários, e estão retornando às suas cidades de origem.
A produtividade desses hospitais é baixa para poder dar lucro às OSSs.
O recurso anual que o Ministério da Saúde acrescentou este ano para Cuiabá não cobre nem uma medição do Verdão.
Outro presente de Papai Noel: a iniciativa privada (deve ser o pessoal da mineração e agronegócio) irá terminar as obras paralisadas há trinta anos do Hospital Central do Estado, no CPA.  
No momento em que a Presidente Dilma moraliza as emendas parlamentares, a nossa situação piora, pois toda a melhoria da rede pública de Mato Grosso depende, exatamente, dessas tais emendas, consideradas indecentes pela Presidente.
Para conversa de final de ano não é nada animador o que nos espera no próximo ano.

Gabriel Novis Neves
21-11-2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Economia


A economia e sua administração pessoal e coletiva, sempre foram um grande desafio para a humanidade.
Vivemos décadas atormentados pelo desgaste da inflação que deixava todos e particularmente os menos abastados, em situação desesperadora.
Felizmente nos últimos anos, os índices têm se mantido razoavelmente controlados, permitindo que as pessoas consigam se programar  no tocante às suas  previsões financeiras, por um médio e curto prazos. Afinal, somos um país jovem, que ainda não está pronto.
Entretanto, países ditos prontos, com a crise mundial, estão vivenciando momentos dramáticos na sua economia, o que até há alguns anos, era difícil de ser imaginado.
Toda essa volatilidade do sistema econômico e a insegurança por isso gerada vêm modificando as pessoas no referente aos seus gastos.
Nossos pais e avós não se permitiam viver sem uma poupança, sempre com perspectivas futuras enquanto nossos filhos de um modo geral, vivem no imediatismo da cultura do ter.
Numa observação mais acurada, identificamos quatro tipos de pessoas no nosso convívio diário, a saber:
As ricas pobres que causam um grande pesar dado a sua personalidade anal retentiva, tão bem descrita por Freud.
Fazem do acúmulo financeiro, a sua meta de vida e transformam suas existências num grande monumento a serviço do dinheiro, não conseguindo assim usufruir o que eles passaram a vida construindo.
Os pobres pobres, que como os acima mencionados, vivem na mais absoluta miséria só que por razões reais e palpáveis que os diversos sistemas econômicos mundiais não conseguem resolver.
Os ricos ricos, ínfima minoria, esses sim, conseguem montar os seus opulentos castelos não para serem invejados, mas para viverem com intensidade, tudo que o dinheiro pode trazer e que infelizmente, não é pouco em grande parte das sociedades atuais que vivem em função do ter.
Finalmente os pobres ricos, parcela enorme da população, principalmente brasileira que não vislumbrando nenhuma possibilidade de crescimento econômico, trucida seus minguados salários, sem culpa, abastecendo-se de bens e mimos que serão pagos com juros altíssimos, pela vida afora.
É um tipo de filosofia a ser considerada pelos mais pragmáticos, já que para eles, o futuro é sempre hoje.
Enfim, uma boa relação com dinheiro demanda reflexões constantes e principalmente despojamento com relação a bens materiais trazidos como falsa bagagem ao longo da existência.

Gabriel Novis Neves
14-11-2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

CAOS


“Estamos no fundo do poço”, “não há luz no final do túnel” “o caos está implantado”.
Expressam preocupação, insatisfação e desespero diante de situações graves, seja de cunho pessoal, político, econômico, administrativo ou social.
A torcida de quem ouve esses lamentos, sempre em silêncio, é esperar por dias melhores, pois “não há mal que dure para sempre”, diz a sabedoria popular.
Com o avanço da ciência, especialmente da cibernética, que é o estudo dos "sistemas de comunicação e de controle nos organismos vivos e nas máquinas",  surgiu a esperança de reversão daquilo que praticamente não tinha solução.
A teoria é válida se confirmada na prática, e é aí que mora o perigo – de ela ser desmoralizada, terminando no nada.
Recentemente vivenciei uma experiência em que consegui construir algo melhor quando o caos estava instalado e parecia-me que a situação era insolúvel.
Tudo se organiza depois do caos. Nessas ocasiões é que enxergamos soluções, tão presentes na nossa intimidade.
Um simples detalhe sempre ao nosso alcance funciona como o remédio procurado e jamais encontrado.
Lendo os jornais de Cuiabá avalio o caos em que vivemos.
Nunca imaginei que o meu Estado e a cidade onde nasci, fossem ser transformados em uma verdadeira enciclopédia de crimes sem soluções.
É o caos! Grande parte da nossa população acha que entramos em um beco sem saída.
A cada manhã em que leio os nossos jornais, penso que estamos à beira de uma solução com a reorganização da nossa sociedade.
O mercúrio do nosso termômetro da desordem chegou ao seu grau máximo.
O caos em que vivemos, para mim, é forte sinal de que estamos prestes a ver restabelecido o equilíbrio – segundo as leis da cibernética.
Pior que está a vida humana se tornará insuportável.

Gabriel Novis Neves
18-11-2012

domingo, 25 de novembro de 2012

Felicidade


Vivemos neurotizados por uma tal de felicidade, proclamada por muitos e vivenciada por poucos. Como ela é relativamente utópica e diferente para cada pessoa, são sempre difíceis as verdades absolutas sobre esse tema.
Como num movimento de marés, ela se aproxima e se afasta sem o nosso controle sempre que de alguma forma, tentamos aprisioná-la.
É como se parente muito próximo da liberdade, não pudesse ser alcançável, sem a presença desta.
Os vários sistemas econômicos e também a mídia, por razões obviamente comerciais, tentam relacioná-la à aquisição de bens de consumo, cada vez mais sofisticados.
Entretanto, a prática desmistifica essa possibilidade, dado o grande número de depressivos nas classes mais abastadas em que o dinheiro é o grande senhor de tudo.
Até pílulas, na busca da tal felicidade, são produzidas e consumidas em larga escala, numa tentativa em vão.
A humanidade, desde sempre, teve dificuldade em se conectar diretamente com a natureza, sua única possibilidade de bem estar.
As inúmeras drogas tentadas, mostram apenas efeitos colaterais sistêmicos desastrosos que em alguns casos chegam até a promover a autodestruição.
Logicamente não estamos falando de casos patológicos de depressão, em que as  mesmas têm indicação obrigatória.
 Desvairados nessa tarefa inglória, nos entregamos aos mais diversos rituais sejam eles estéticos, físicos ou espirituais, sempre buscando práticas  que possam nos levar  ao tão sonhado nirvana.
Isso se torna mais evidente no plano afetivo, quando delegamos ao outro, a imposição de nos tornarem felizes.
Nesses casos, a desilusão é obrigatória, pois ninguém no mundo tem essa dimensão, a não ser nos nossos poucos momentos orgásticos, nem sempre tão bem vividos.
 A felicidade quando acontece, se observarmos com isenção, vem sempre de dentro para fora, contentes que estamos em função de descobertas que fizemos com relação a nós mesmos  e ao que nos cerca.
Determinadas pessoas, comportamentos, situações e práticas neurotizantes repetitivas, nos tornam infelizes e o simples fato de constatar isso e afastar imediatamente as causas, já seriam suficientes para reverter esse quadro negativo.
Entretanto, por uma atrofia dessa atitude introspectiva, falsamente tida como confortável, nos deixamos levar pelos acontecimentos e pagamos um alto preço num futuro próximo, o chamado estado de infelicidade e o que é pior, apatia.
Acho que a grande sacada sobre a felicidade é continuar procurando-a incessantemente ao longo da vida.
Essa busca diária é a verdadeira felicidade!

Gabriel Novis Neves
14-11-2012

DESMATAMENTO


Entra ano sai ano e a tragédia da destruição da nossa Floresta Amazônica continua e atinge de forma impiedosa o nosso Estado.
Segundo a jornalista Amanda Alves, “o trabalho das motosserras, que antes era restrito a Sorriso (420 km ao norte da Capital), hoje alcança Feliz Natal (536 km ao norte da Capital) e ameaça os limites das terras indígenas, como o Parque Indígena do Xingu.”
Perdemos nos últimos anos cinquenta por cento da nossa floresta do Nortão.
Recebemos o maior prêmio nacional de desrespeito pela natureza, a ‘Motosserra de Ouro’, e continuamos à procura de novos recordes.
Os governos estadual e federal não fazem outra coisa a não ser desmentir essa primitiva realidade de destruição da nossa floresta - quando cobrado pelos órgãos internacionais de preservação da natureza.
Existe uma insuportável tolerância para os matadores das nossas árvores e florestas, que são transformadas em madeira e negócios com produção de alimentos.
Isso não acontece por acaso. Existe, no mínimo, negligência dos governos na fiscalização desse crime ambiental.
Quando a crise foge do controle do governo, cria-se uma dessas famosas operações com nomes apelativos em termos de marqueting.
A mais recente que tive conhecimento, foi a operação “Soberania Nacional”, onde os empregados do governo constataram o óbvio: “A destruição programada da nossa maior riqueza - a natureza.”
O poder político e econômico em Mato Grosso está nas mãos do pessoal do agronegócio e dos donos de serrarias.
A nossa floresta amazônica ainda não conhecida está se transformando em uma enorme fazenda de soja e comércio de exportação de madeiras nobres.
A queima daquilo que sobrou da floresta é responsável pela morte de várias espécies de vegetais, insetos e mamíferos que vivem na área.
É muito triste constatar que um Estado com um potencial incalculável doado pela natureza, seja dizimado com as bênçãos do poder público.
Triste garimpo será Mato Grosso do futuro!

Gabriel Novis Neves
04-11-2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Hipocrisia


Considero a hipocrisia uma doença gravíssima, de causa desconhecida e sem possibilidade de tratamento.
Talvez seja a doença do século, cuja disseminação atinge, principalmente, pessoas adultas.
Não há relato na literatura de crianças com essa patologia.
Atinge com virulência todas as classes sociais, e os seus sinais e sintomas são os mais abundantes possíveis, embora de fácil diagnóstico.
A sua transmissão também é pouco conhecida, chegando, às vezes, a surpreender os organicistas. Muitos falam em falha genética, não necessariamente presentes em seus ancestrais.
Infelizmente o portador da hipocrisia não percebe o seu mal e continua por aí num bem bom.
Incomoda a muitos, mesmo à distância.
Esses pacientes criam um mundo à parte para sobreviverem e passam os seus dias por lá, confortavelmente - e até se reproduzem com facilidade.
O cérebro é o órgão lesionado, onde todos os valores da vida são destruídos. Não produz alterações funcionais e morfológicas em outros órgãos do corpo humano.
É uma doença não transmissível aos animais.
A hipocrisia tem um amplo quadro clínico, podendo ser notado em um simples olhar e até em um beijo.
Em nosso país essa doença, que não possui fronteiras, encontrou o seu habitat predileto, pois fomos descobertos por acaso.
É o chamado ‘acaso’ e ‘coincidência’ os alimentos principais daquilo que bem antigamente chamávamos de mentira. Por mutação chegamos à hipocrisia, presente em todos os setores da nossa vida.
Já tentaram aferir a hipocrisia por modernos instrumentos, como o desconfiômetro, embora sem sucesso.
Em minha opinião, quem melhor definiu a hipocrisia foi Abraham Lincoln (1835-1865).
“Hipócrita é o homem que matou os pais e pede clemência alegando ser órfão.”
A hipocrisia é uma doença tão cruel, que todo cuidado com ela é pouco.
“De tanto fingir, a pessoa hipócrita se torna o que finge ser.”

Gabriel Novis Neves
01-11-2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

CLONE DE SI MESMO


Lá se vão séculos em que nascer e crescer belo era privilégio de poucos. Esses tinham todas as benesses que a força da beleza costuma trazer, como por exemplo: portas abertas em todas as atividades e o grande poder de sedução - almejado por muitos nos dias de hoje.
Ao contrário, os menos favorecidos, ao sabor da genética de cada um, deveriam permanecer seres comuns por toda a vida, já que a indústria da beleza ainda não tinha alcançado os degraus da fama.
Tudo isso era vivenciado de uma maneira absolutamente normal, sem falsas angústias. Sem a proliferação maciça das academias de ginástica, sem as inúmeras cirurgias estéticas, sem os tratamentos dermatológicos. Corpos e rostos circulavam sem retoques, ao bel prazer da natureza.
É obvio que, ao contrário dos dias atuais, em que é mais fácil ser ou se tornar bonito, os seres genuinamente belos faziam uma grande diferença no cotidiano e eram objeto constante de muita admiração e assédio.
Com a massificação da beleza, a humanidade conseguiu se tornar moldada pelos padrões estéticos vigentes. Isso é notório quando, em reuniões sociais, encontramos homens e mulheres enquadrados num mesmo modismo estético.
Todos se tornaram muito parecidos no que tange, não só ao vestuário, mas à uniformização de cabelos, seios, nádegas, maneira de falar e de se comportar. É como se o coletivo tivesse anulado o individual.
O estereótipo do feio, porém charmoso e inteligente, foi abolido dos nossos dias, tendo se tornado um acinte a uma feliz convivência.
Entretanto, como a alta autoestima se forma não somente através de fatores externos, aumentou, e muito, os casos de depressão e insatisfação com a autoimagem.
Daí o grande número de pessoas, principalmente jovens, anoréxicas e compulsivas na prática de exercícios físicos, na ânsia de alcançar os parâmetros ditados pela moda.
A dermatologia era uma especialidade médica pouco procurada, não só pelos profissionais da área como também pelos poucos pacientes portadores de dermatites alérgicas, psoríase e fogo selvagem, para falar das patologias mais frequentes.
Cirurgias reparadoras como as feitas pelo nosso querido e famoso doutor Pitanguy, eram reservadas para os grandes queimados ou deformações congênitas de grande porte.
Jamais se poderia imaginar que veríamos jovens de menos de dezoito anos, sem a vivência da maternidade, colocando implantes mamários de silicone, numa fase em que a natureza esculpe com tanto cuidado e beleza a silhueta feminina.
Diante de todo esse quadro, concluímos que o mundo mudou mais nesses últimos setenta anos do que ao longo da existência do homem na terra.
O ser humano vem se transformando num clone de si mesmo e só o tempo dirá que consequências físicas e mentais ocorrerão em função desses comportamentos.
Enfim, a humanidade caminha desgovernada, incentivada pelas mídias e pela sociedade de consumo, na busca de valores que, isolados, apesar de importantes, não conseguirão certamente suprir as outras inúmeras necessidades espirituais, afetivas e sociais que nos credenciam como verdadeiros seres humanos pensantes.
Que todos reflitam antes de se submeterem a modismos estéticos que, num grande número de vezes, além de não trazerem os efeitos desejados, ainda conseguem exacerbar as marcas que o tempo deixou estampadas.

Gabriel Novis Neves
31-10-2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Eita nós!


O atraso mental de alguns dos nossos governantes chega a ser irritante. Pensam que com a sua visão primária iludem a todos.
Quando o Lúdio ganhou a convenção do seu partido para ser candidato à prefeitura de Cuiabá e, sabendo do acidente que sofri no meu joelho - obrigando-me ao repouso e uso da bengala - veio me fazer uma visita de médico (rápida).
Expliquei que não estava doente, apenas pagando juros pela minha longevidade.
Claro que logo o assunto política aflorou. Perguntou-me o meu bom Lúdio: “E agora”?
Respondi que o candidato vitorioso seria aquele que demonstrasse maior emoção e vontade política para resolver o problema mais caótico da cidade: a saúde pública.
Alertei-o ainda para o fenômeno da “cristianização” - criado nas eleições presidenciais de mil novecentos e cinquenta.
Foi o seguinte: o partido do governo da República, e da maioria dos Estados, fingia que apoiava o seu candidato oficial Cristiano Machado, um honrado deputado federal mineiro.
A oposição (UDN) disputava a presidência da República com o mesmo candidato (Brigadeiro Eduardo Gomes), que havia perdido a eleição anterior para o cuiabaníssimo Eurico Gaspar Dutra.
Vargas era o candidato dos pobres e dos trabalhadores (PTB).
O PSD discursava em defesa do que hoje chamamos de alinhamento, e mandava os seus eleitores a votarem no ex-ditador.
Com a apuração dos votos, e vitória do Vargas, foi criada a expressão “cristianização”, que vem a ser o mesmo que traição.
Lúdio entendeu o recado com um balanço positivo da cabeça.
Tiraram o discurso do Lúdio na falta de interesse para elegê-lo, e ressuscitaram a tese autoritária do alinhamento político.
Amordaçado o candidato nada pode fazer.
O atuante vereador teve que ficar mudo frente a situações que não concordava, principalmente na área de saúde pública.
Ele sempre foi contrário à privatização da saúde pública. O seu principal cabo eleitoral por aqui, privatizou toda a saúde do Estado.
O ministro da Saúde, um dos principais responsáveis pelo sucateamento da saúde no Brasil, para ‘fortalecer’ o seu candidato afirmou, em comício, que o seu ministério e o governo federal tinham como meta passar todos os serviços de saúde à iniciativa privada.
Cuiabá é uma cidade de funcionários públicos. O governo do Estado deu uma mãozinha na cristianização, acabando com o plano de saúde dos servidores estaduais, o famigerado MTSaúde criado no governo anterior, deixando mais de cinquenta mil usuários sem atendimento em pleno período eleitoral, onde a maioria dos beneficiários era de Cuiabá.
Para completar o calvário de traições, foram também suspensos os repasses de recursos aos hospitais prestadores de serviços ao governo, assim como aos serviços auxiliares, médicos e outras categorias de trabalhadores de saúde.
E o Lúdio nada podia falar. O seu silêncio foi o preço que pagou pela tese do alinhamento e o apoio recebido do seu principal aliado aqui.
Teve ainda que suportar calado, a invasão de ‘voluntários’ na direção da sua campanha, com a promessa de ajudá-lo a vencer as eleições logo no primeiro turno.
Agora, abandonado pelos apoiadores e voluntários, o seu partido (PT), herdou as dívidas de campanha.
Não sendo caloteiro, venderá até a última gota do seu sangue para saldar essas dívidas, já que é um médico-vereador sem fortunas inexplicáveis.
Menos de trinta dias são passados do desastre do comício da Praça das Bandeiras, onde o caixão da derrota do candidato do alinhamento foi fechado e, no Palácio Paiaguás, foi acertado o planejamento para as próximas eleições majoritárias estaduais.
O governador atual, que era vice do anterior, vai ser candidato ao Senado. O ex, agora senador, retorna ao seu posto antigo para continuar com o programa estradeiro, tão do agrado do pessoal do agronegócio.
Com esses arranjos, que inclui até troca de partidos, nunca ficou tão fácil ganhar a eleição para o governo do Estado como em 2014.
Essa é sua, Pedro Taques.

Gabriel Novis Neves
18-11-2012

terça-feira, 20 de novembro de 2012

SER OU NÃO


Não creio que exista um setor de maior intolerância em aceitar as pessoas como elas são, que no ambiente familiar. O patrono de um determinado grupo é moldado com uma estrutura que não lhe pertence.
E este repete o gesto nos seus descendentes.
Por maior que seja o esforço de se apresentar como gostaria que fosse aceito, é impossível, num determinado momento, não acontecer um escorregão na procura da sua identidade psicológica.
Este é o ápice da tragédia social, em que fica nítido a não aceitação do eu, ser o que se é, e não o que gostariam que fôssemos.
Os humanos têm dificuldades em tratar dos humanos.
Para atrapalhar ainda mais esta conflituosa relação, existem os mecanismos de defesa da nossa personalidade que, quando não compreendida, gera sérias dificuldades emocionais para ambas as partes.
É um risco enfrentar uma situação de transferência afetiva e projeção quando uma das partes desconhece esse mecanismo.
As consequências nessas situações costumam terminar em crises irreversíveis. Fui tratado e treinado a trabalhar com esses mecanismos em ambiente profissional. No entanto, quando diante da esfera familiar, o insucesso é a regra.
O mais frequente são as explosões dos egos, com a frustração instalada no sonho da defesa emocional. 
Daí a dificuldade da convivência entre humanos.
Não podemos continuar reféns de nós mesmos.
Coragem para ser o que é, ou anulação total da personalidade. Não há uma terceira via para escolher.
O resto é decisão, sempre dolorosa e adiada.

Gabriel Novis Neves
11-11-2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Desprestígio?


Eleito senador ele logo demonstrou total inaptidão para exercer o cargo que pediu ao povo de Mato Grosso.
Licenciou-se para cuidar dos seus negócios particulares e, com isso, frustrou um montão de gente que lhe concedeu o voto nas urnas.
Em seu lugar deixou o seu suplente, e desligou-se dos graves problemas econômicos e sociais por que passava - e passa - o Estado que o elegeu.
Muitas dessas dificuldades foram heranças recebidas pelo seu vice, hoje governador.
Agora, o famoso pulador de partidos, sente-se desprestigiado por saber, pela imprensa, que houve eleição dos novos dirigentes nacionais do partido do Tiririca.
Não gostou nem um pouquinho da recondução para a presidência do seu partido do colega senador, vitimado junto ao seu indicado, pela faxina da Presidente no Ministério dos Transportes.
Pior ainda que o deputado mensaleiro Waldemar, já condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), também foi reconduzido para o comando do partido não tanto republicano, pelo qual o nosso senador é Presidente de Honra em MT.
Cento e quarenta e um municípios deste Estado realizaram desgastantes campanhas eleitorais.
O senador-presidente foi o grande ausente, abandonando a companheirada para evitar o respingo do fiasco do seu partido.
Não conseguiu liderar nem o diretório municipal de Cuiabá, cujo apoio ostensivo de dois dos seus prestigiados ex-secretários foi para o adversário do seu candidato.
Em Cuiabá, fez uma declaração no Programa Eleitoral Obrigatório e Gratuito do TRE sobre saúde pública que quase afundou a candidatura do candidato socialista por ele apoiado.
Cutucou o principal apoiador do adversário, que detonou um verdadeiro foguete atômico sobre a administração passada, inclusive liberando informações maldosas de cunho pessoal sobre o falido MT - Saúde.
A salvação do Mauro foi o comício da Praça das Bandeiras.
Anunciar mudança de partido jogando a culpa na cúpula  é acreditar que alcançou o Nirvana nas suas constantes viagens à China.
“Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que te avisam quando você erra” (Barack Obama).

Gabriel Novis Neves
14-11-2012

domingo, 18 de novembro de 2012

GENTE FINA


A apresentação de gente fina é diferente da nossa, pobres mortais.
Em vez do nome, filiação e coisas assim,  gente fina é retratada em sua biografia com detalhes dos seus milhões de dólares e hábitos extravagantes.
Toda gente fina tem, no mínimo, um hábito extravagante.
Os outros seres humanos têm como hábito acordar, trabalhar e dormir, para continuar tudo de novo no dia seguinte.
Estou lendo a biografia de um famoso cantor inglês e fiquei sabendo que:
- Foi o primeiro pop-star a assumir publicamente uma união civil homossexual.
- É cavaleiro da rainha da Inglaterra.
- Já vestiu, em quarenta e dois anos de carreira, roupas que deixaria Lady Gaga como iniciante.
- Quando completou cinquenta anos foi à festa, que ele mesmo preparou, usando peruca de um metro de altura e vinte quilos, decorada com um navio soltando fumaça pelos canhões.
- É casado com um cineasta, e se recusa a ter um filho por causa da idade avançada, e por se negar a amamentar.
Só não contou que, na maioria das vezes, estava completamente drogado, dependência química que o dominou por duas décadas.
Gente fina é outra coisa!
Além de diferente da maioria da população, exercem forte influência em certas pessoas com muito dinheiro.
Estas, querem imitar a pseudofelicidade da própria infelicidade de certa gente fina.

Gabriel Novis Neves

16-11-2011

sábado, 17 de novembro de 2012

Futebol


Nunca, jamais, em tempo algum, tivemos em um Campeonato Brasileiro tantos erros de arbitragem como no desse ano.
Erros tão graves que, na maioria das vezes, interferiram no resultado dos jogos.
Nada, porém, que pudesse tirar o brilho - por longa antecipação - da conquista pelo Fluminense do título de Campeão Brasileiro de Futebol.
Ganhou o melhor time, o mais competente e competitivo e claro, com o melhor jogador do Brasil.
Que me desculpe o marqueting do menino do Santos, mas o Fred sobrou nessa competição.
Artilheiro de gols decisivos, ainda teve oportunidade de salvar vários gols contra o seu time.
Como no Brasil acontecem coisas que no Paraguai causam surpresas, no dizer do pobre marquês do Porto, o jornalista Marcos Antonio Moreira, esse extraordinário artilheiro não pertence ao seleto grupo de craques do ‘sábio’ técnico da seleção canarinho.
A FIFA tem de, urgentemente, salvar o futebol mundial, exigindo das arbitragens a mesma qualidade que impõe para sediar uma Copa do Mundo com a construção de verdadeiros monumentos artísticos, que são as Arenas.
Tem de modernizar as arbitragens, aceitando o auxílio de novas tecnologias, facilmente disponíveis à preço chinês.
Aquela inovação de acrescentar mais um árbitro falível atrás dos gols provou que não é a solução desejável.
Foi um verdadeiro tiro no pé essa ideia, que fez aumentar ainda mais os equívocos, muitas vezes alterando o resultado das partidas de futebol.
Como ex-torcedor do Botafogo, agora em plena recuperação com a chegada do holandês, homenageio o Fluminense pela brilhante conquista - que é a quarta.
Faço um apelo ao país sede da Copa 2014 de futebol, que tanto sacrifício financeiro tem feito para atender à poderosa fábrica de negócios que comanda o futebol mundial: sensibilize os homens de negócios da Suíça para que modernizem as arbitragens.
Será que esperam uma boa propina do Bill Gates?
Valeu pó de arroz! O Brasil precisa de perfume.
Ano que vem já tem ganhador.
Será o Botafogo.

Gabriel Novis Neves
12-11-2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O ERRO


É comum encontrarmos pessoas que não assumem seus erros. Na maioria das vezes, elas os terceirizam.
Li certa vez que "ninguém pode garantir que os atos feitos numa determinada tarefa, possam ser suficientemente livres de algum incidente ou acidente. Errar é humano".
Errar, portanto, parece fazer parte do modo de pensar dos seres humanos e, cotidianamente, cometemos erros ou equívocos em vários graus de gravidade.
Entretanto, é pensamento corrente que um erro jamais deve justificar outro. Ele tem que ser corrigido no momento mesmo em que é detectado.
Quem é vitimado por um erro ou equívoco sente-se desconfortável e injustiçado, é natural.
Essa situação não pode e não deve persistir. A pessoa que cometeu o erro deverá reconhecê-lo e, na medida do possível, se retratar.  O erro que cometemos nos é alertado por terceiros, pela própria vítima do erro ou quando, ao monitorar nosso comportamento, detectamos, por nós mesmos, o próprio erro.
Escrevo e publico diariamente meus artigos. Redijo não motivado por interesses de qualquer ordem. Tenho sempre o máximo cuidado em jamais usar de inverdades ou arranhar a honra daqueles que a tem.
Nos mais de mil artigos que já publiquei a preocupação sempre foi a mesma. Procuro mostrar as mazelas da vida, através de metáforas e do humor.
Pois bem, embora cercado por todos os cuidados, no meu artigo “Na moita”, involuntariamente, cometi um erro por omissão.
Ao comentar o desempenho dos institutos de pesquisas nas últimas eleições para as prefeituras das cidades brasileiras, e também de Cuiabá, as falhas e os erros apresentados por inúmeros daqueles institutos, ultrapassaram os níveis da tolerância de qualquer ser pensante.
O erro que cometi está justamente nesta generalização que fiz dos institutos de pesquisas. Errei ao globalizar um caso em Cuiabá.
No segundo turno das nossas eleições municipais houve uma empresa de pesquisa, a KGM, que acertou o resultado das urnas na mosca.
Como essa generalização atingiu a credibilidade da empresa em questão, me apresso em corrigir o erro que cometi e, claro, apresentar as minhas desculpas ao seu proprietário pelo equívoco cometido.
Erro retificado e desculpas pedidas, eu continuarei na luta por uma cidade mais justa e menos hipócrita - com saúde e educação para todos.

Gabriel Novis Neves
09-11-2012