quinta-feira, 22 de novembro de 2012

CLONE DE SI MESMO


Lá se vão séculos em que nascer e crescer belo era privilégio de poucos. Esses tinham todas as benesses que a força da beleza costuma trazer, como por exemplo: portas abertas em todas as atividades e o grande poder de sedução - almejado por muitos nos dias de hoje.
Ao contrário, os menos favorecidos, ao sabor da genética de cada um, deveriam permanecer seres comuns por toda a vida, já que a indústria da beleza ainda não tinha alcançado os degraus da fama.
Tudo isso era vivenciado de uma maneira absolutamente normal, sem falsas angústias. Sem a proliferação maciça das academias de ginástica, sem as inúmeras cirurgias estéticas, sem os tratamentos dermatológicos. Corpos e rostos circulavam sem retoques, ao bel prazer da natureza.
É obvio que, ao contrário dos dias atuais, em que é mais fácil ser ou se tornar bonito, os seres genuinamente belos faziam uma grande diferença no cotidiano e eram objeto constante de muita admiração e assédio.
Com a massificação da beleza, a humanidade conseguiu se tornar moldada pelos padrões estéticos vigentes. Isso é notório quando, em reuniões sociais, encontramos homens e mulheres enquadrados num mesmo modismo estético.
Todos se tornaram muito parecidos no que tange, não só ao vestuário, mas à uniformização de cabelos, seios, nádegas, maneira de falar e de se comportar. É como se o coletivo tivesse anulado o individual.
O estereótipo do feio, porém charmoso e inteligente, foi abolido dos nossos dias, tendo se tornado um acinte a uma feliz convivência.
Entretanto, como a alta autoestima se forma não somente através de fatores externos, aumentou, e muito, os casos de depressão e insatisfação com a autoimagem.
Daí o grande número de pessoas, principalmente jovens, anoréxicas e compulsivas na prática de exercícios físicos, na ânsia de alcançar os parâmetros ditados pela moda.
A dermatologia era uma especialidade médica pouco procurada, não só pelos profissionais da área como também pelos poucos pacientes portadores de dermatites alérgicas, psoríase e fogo selvagem, para falar das patologias mais frequentes.
Cirurgias reparadoras como as feitas pelo nosso querido e famoso doutor Pitanguy, eram reservadas para os grandes queimados ou deformações congênitas de grande porte.
Jamais se poderia imaginar que veríamos jovens de menos de dezoito anos, sem a vivência da maternidade, colocando implantes mamários de silicone, numa fase em que a natureza esculpe com tanto cuidado e beleza a silhueta feminina.
Diante de todo esse quadro, concluímos que o mundo mudou mais nesses últimos setenta anos do que ao longo da existência do homem na terra.
O ser humano vem se transformando num clone de si mesmo e só o tempo dirá que consequências físicas e mentais ocorrerão em função desses comportamentos.
Enfim, a humanidade caminha desgovernada, incentivada pelas mídias e pela sociedade de consumo, na busca de valores que, isolados, apesar de importantes, não conseguirão certamente suprir as outras inúmeras necessidades espirituais, afetivas e sociais que nos credenciam como verdadeiros seres humanos pensantes.
Que todos reflitam antes de se submeterem a modismos estéticos que, num grande número de vezes, além de não trazerem os efeitos desejados, ainda conseguem exacerbar as marcas que o tempo deixou estampadas.

Gabriel Novis Neves
31-10-2012

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