Lá
se vão séculos em que nascer e crescer belo era privilégio de poucos. Esses
tinham todas as benesses que a força da beleza costuma trazer, como por
exemplo: portas abertas em todas as atividades e o grande poder de sedução -
almejado por muitos nos dias de hoje.
Ao
contrário, os menos favorecidos, ao sabor da genética de cada um, deveriam
permanecer seres comuns por toda a vida, já que a indústria da beleza ainda não
tinha alcançado os degraus da fama.
Tudo
isso era vivenciado de uma maneira absolutamente normal, sem falsas angústias.
Sem a proliferação maciça das academias de ginástica, sem as inúmeras cirurgias
estéticas, sem os tratamentos dermatológicos. Corpos e rostos circulavam sem
retoques, ao bel prazer da natureza.
É
obvio que, ao contrário dos dias atuais, em que é mais fácil ser ou se tornar
bonito, os seres genuinamente belos faziam uma grande diferença no cotidiano e
eram objeto constante de muita admiração e assédio.
Com
a massificação da beleza, a humanidade conseguiu se tornar moldada pelos
padrões estéticos vigentes. Isso é notório quando, em reuniões sociais,
encontramos homens e mulheres enquadrados num mesmo modismo estético.
Todos
se tornaram muito parecidos no que tange, não só ao vestuário, mas à
uniformização de cabelos, seios, nádegas, maneira de falar e de se comportar. É
como se o coletivo tivesse anulado o individual.
O
estereótipo do feio, porém charmoso e inteligente, foi abolido dos nossos dias,
tendo se tornado um acinte a uma feliz convivência.
Entretanto,
como a alta autoestima se forma não somente através de fatores externos,
aumentou, e muito, os casos de depressão e insatisfação com a autoimagem.
Daí
o grande número de pessoas, principalmente jovens, anoréxicas e compulsivas na
prática de exercícios físicos, na ânsia de alcançar os parâmetros ditados pela
moda.
A
dermatologia era uma especialidade médica pouco procurada, não só pelos
profissionais da área como também pelos poucos pacientes portadores de
dermatites alérgicas, psoríase e fogo selvagem, para falar das patologias mais
frequentes.
Cirurgias
reparadoras como as feitas pelo nosso querido e famoso doutor Pitanguy, eram
reservadas para os grandes queimados ou deformações congênitas de grande porte.
Jamais
se poderia imaginar que veríamos jovens de menos de dezoito anos, sem a
vivência da maternidade, colocando implantes mamários de silicone, numa fase em
que a natureza esculpe com tanto cuidado e beleza a silhueta feminina.
Diante
de todo esse quadro, concluímos que o mundo mudou mais nesses últimos setenta
anos do que ao longo da existência do homem na terra.
O
ser humano vem se transformando num clone de si mesmo e só o tempo dirá que
consequências físicas e mentais ocorrerão em função desses comportamentos.
Enfim,
a humanidade caminha desgovernada, incentivada pelas mídias e pela sociedade de
consumo, na busca de valores que, isolados, apesar de importantes, não
conseguirão certamente suprir as outras inúmeras necessidades espirituais,
afetivas e sociais que nos credenciam como verdadeiros seres humanos pensantes.
Que
todos reflitam antes de se submeterem a modismos estéticos que, num grande
número de vezes, além de não trazerem os efeitos desejados, ainda conseguem
exacerbar as marcas que o tempo deixou estampadas.
Gabriel Novis Neves
31-10-2012
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