Há
um quarto de século moro ao lado do antigo 16º Batalhão de Caçadores.
Sempre
contemplo, pela janela do meu escritório, a beleza da imensa área verde que
cobre grande parte daquele quartel - sempre muito bem tratada. As árvores de
grande porte fornecem sombras refrescantes, tão apreciadas no clima desértico
da ex-Cidade Verde.
O
contraste do conjunto das mangueiras, arqueadas de frutos, nessa fase do ano,
com as fatias de hortaliças, dá uma ideia do respeito à terra urbana, onde o
metro quadrado é o mais valorizado de Cuiabá.
As
visitas que se arriscam até o meu esconderijo ficam fascinadas com a beleza do
local.
Há
uma unanimidade com relação à possível permuta do local do histórico e querido
16º BC para outro local, e o seu lugar aproveitado para a criação do Parque da
Cidade.
Eu
tenho o privilégio de contemplar, com saudade, esse pedacinho da minha Cuiabá
nos três turnos do dia.
Uma
manhã, ao abrir a janela do meu escritório, tarefa que faço todos os dias, fico
surpreso, ao contemplar, naquele espaço, um enorme ipê roxo todo florido.
Não
sei explicar como não tinha reparado nessa árvore majestosa nos dias
anteriores, pois o seu florescer, com certeza, não aconteceu de um dia para o
outro.
Parei
por instantes para admirá-lo, enquanto procurava uma resposta para a minha
cegueira sensorial.
A
teoria sempre foi mais fácil que a prática, diz um velho ditado.
Encontrei
uma resposta pela minha angústia em não perceber mais o belo. Sempre olhei o
terreno do quartel pelos olhos que não estão no coração.
Quantas
vezes perdemos oportunidades de sermos felizes por não enxergamos com o
coração. A visão do coração é mais elaborada e despojada das amarras
emocionais, tão traiçoeiras.
Quantas
vezes não enxergamos o belo pela cegueira inexplicável, produzida pelas nossas
emoções?
Infelizes
os seres humanos que só valorizam o que vêem com os olhos da razão. Logo se
cansarão das mesmices e entrarão no perigoso mundo das frustrações.
Os
olhos se cansam prematuramente e, se tivermos somente condições de identificar
o belo por eles, o nosso ciclo de felicidade é curto.
A
visão do coração só nos leva à cegueira, quando não há mais razão de viver.
Gabriel Novis Neves
28-10-2012
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