terça-feira, 31 de maio de 2011

PRIMEIRA DERROTA

Dizem que a primeira vez de um acontecimento a gente nunca esquece. Ele pode vir num momento propício e nos marcar para o resto da vida, como uma lembrança que gostaríamos de ser revivida. Mas, existe também aquele primeiro acontecimento que vem para atrapalhar, e que também nos marca – mas como algo para não ser lembrado.

A nossa presidente, justiça se faça, vem trabalhando, e muito, na plantação, para depois colher os frutos desse período. Está com a sua saúde fragilizada, saindo de uma pneumonia, segundo relatório dos seus médicos.

O momento não era adequado para ela ser derrotada na sua proposta com relação à aprovação do novo Código Florestal, como foi votado.

Acho que a inabilidade do seu líder foi fundamental para o fiasco, quando, no desespero, fez ameaças aos seus colegas usando o nome da presidente.

O desgaste ficou evidenciado, e, mesmo com o trabalho do pessoal da limpeza dos grossos tapetes dos salões do Congresso Nacional, muito caco de vidro ficou por ali, podendo causar acidentes...

A bancada do nosso Estado, na definição do jornalista Marcos Antonio Moreira - o Villa - se comportou como: “Bancada de MT não pode ver pau em pé.”

Essa manchete do Villa é um artigo em charge, e mostra a vocação dos nossos representantes na Câmara dos Deputados em relação ao nosso meio-ambiente.

Nesses últimos dez anos o nosso Estado sofreu um processo de lipoaspiração das suas florestas. Tudo em nome do desenvolvimento do nosso Estado, que continua mais pobre, e o pior, perdeu grande parte do seu patrimônio, que é o seu meio-ambiente.

O mundo voltou a cobrar o Brasil, e o Brasil está cobrando a nossa inércia com relação as nossas riquezas naturais.

A mediocridade, a ganância, a falta de cidadania, entre outros fatores, tomou conta deste país. Está tudo dominado. Todos os segmentos sociais estão contaminados pelo egoísmo de mentes devastadoras do nosso meio-ambiente.

Temos que debater o futuro dos nossos filhos, netos e bisnetos. Formar uma geração cidadã, que saberá dos seus deveres e direitos.

Que bom se pudéssemos realizar um simpósio em Cuiabá sobre direitos e deveres dos cidadãos!

Como palestrantes, o caseiro do Piauí, cuja maior fortuna nesses últimos quatro anos foi aumentar a sua família.

Importante também a presença da camareira da Guiné, para nos orientar sobre os nossos direitos.

A diferença é que o caseiro foi julgado no Brasil e a camareira nos Estados Unidos da América do Norte.

Uma lição ficou para a presidente nesta sua primeira derrota oficial: o andor do poder é pesado, não é?

Gabriel Novis Neves

26-05-2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Lengalenga

No esporte costuma-se dizer que o importante é competir. Vitória ou derrota são contingências que devem ser aceitas com espírito olímpico Não existem vencedores e perdedores, e sim, pessoas preparadas para o grande jogo da vida.

Já na economia, só vale ganhar e ganhar, e muito. Perder? Jamais! Estes ficam fora do jogo.

O Brasil possui a 8ª economia do mundo, mas acaba de perder preciosos pontos no quesito competitividade. Imediatamente foi punido com o rebaixamento. O importante é competir, no esporte, mas esta máxima não se aplica à economia.

O comércio, se sofistica cada vez para enfrentar a competição.

O esporte também, com novos exercícios, fisiologistas, fisioterapeutas e nutricionistas, como armas da competição.

No comércio, esse processo é irrigado com muita criatividade e marketing.

A rede Sofitel de hotéis, em número aproximado de cento e vinte espalhados pelo mundo, anunciou que vai criar aromas exclusivos em seus ambientes.

Antes do lançamento dessa novidade, que, com certeza, aumentará a sua competitividade, o hotel recebeu gratuitamente uma publicidade mundial: o agarra-agarra do poderoso diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), com a recém chegada camareira da Guiné. Imagino que, com o aroma exclusivo.

Não sei se o aroma produz efeitos afrodisíacos e de enchimento de sangue dos corpos cavernosos.

O Sofitel daqui para frente, será conhecido, não apenas como um excelente hotel francês, mas também como o hotel destruidor de sonhos políticos.

A camareira da Guiné, trabalhando nos Estados Unidos, colocou o famoso ex-candidato ao governo francês na cadeia, e produziu a demissão do detentor de um dos cargos mais cobiçados do planeta.

Logo fiz associação com o caseiro do Piauí, que trabalhava em uma residência na região do Lago, em Brasília.

Lá, cadeia. Aqui, caminho aberto para o enriquecimento, com o direito de não dar explicações sobre como ganhar tanto dinheiro em consultorias, especialmente em ano eleitoral.

No século da competição e tecnologia, o homem é o perdedor. O vitorioso é a máquina, comedora dos postos de trabalho, e da ética.

A lengalenga continua, com explicações e exemplos de erros antigos, como se um erro pudesse justificar o outro.

Li o anúncio de um livro feito às pressas, para ser lançado nos Estados Unidos, sobre os dez maiores escândalos sexuais envolvendo políticos importantes no século XX.

Sobre o diretor do FMI, está nas bancas: “Eu e a Camareira”- é o título em português.

Apesar de tudo, acho que o ganhador, no Brasil, do prêmio lengalenga, será o termo flexibilidade. É a bola da vez, como dizem. Todo brasileiro e brasileira estão, ou vão, flexibilizar. Que o diga a nossa presidente, a pioneira em flexibilização. A moda pegou, e para flexibilizar o tempo de quem está lendo esta lengalenga, vou flexibilizar, e ficar por aqui.

Gabriel Novis Neves

24-05-2011

domingo, 29 de maio de 2011

GAMBIARRA

É o xodó do povo brasileiro. É incontável o número de pessoas que já se utilizaram deste artifício em sua casa. Gambiarra seria uma improvisação, ou o famoso jeitinho brasileiro. É uma solução falha e provisória para um problema.

Acho até que é invenção brasileira. Não sei se foi patenteada.

Estou acompanhando o sofrimento de um amigo para localizar o local da gambiarra na sua moradia. Talvez tenha que demolir uma parede do seu apartamento e acabar com um armário.

Tudo começou quando o seu filho mais velho, estudante de engenharia, resolveu fazer uma gambiarra do telefone fixo que ficava no quarto do “velho”. Utilizou sem o conhecimento e consentimento do pai, uma extensão até o seu quarto para instalar um computador.

Não deu certo o improviso. O técnico da operadora está batendo a cabeça há três dias. Já chamou o seu supervisor e nada. O apartamento não possui mais a planta de instalação telefônica, e o espaço foi muito remexido nos últimos anos.

Há pouco tempo mudei de operadora telefônica. A primeira exigência feita pela nova empresa foi a de trocar toda a fiação. A alegação é que eles trabalham com fios de fibra ótica.

O material instalado na minha casa, mas funcionando muito bem, estava obsoleto, segundo o técnico. Na troca foram descobertas inúmeras gambiarras que, segundo os técnicos, prejudicavam a qualidade do serviço.

Houve um momento em que cheguei a desistir da modernização do meu sistema de comunicação: internet e telefone. Passei por aborrecimentos, estresses e os serviços saíram caro. Por enquanto tudo está funcionando. A gambiarra doméstica é realizada para “quebrar um galho” do proprietário.

Temos também outros tipos de gambiarras, essas extremamente prejudiciais ao povo brasileiro. O palácio do Planalto passou por uma grande reforma. E não é que descobriram uma gambiarra no 4º andar, segundo notícias da imprensa?

Coisinha feia!

Se na cabeça do “número um” colocam gambiarras, imagino o que acontece, nos outros conjuntos arquitetônicos projetados pelo Niemayer.

Oh, Brasil das gambiarras.

Gabriel Novis Neves

27-09-2010

Sem novidades

Houaiss nos diz que novidade é inovação, notícia recente.

Não que eu me considere um novidadeiro, mas sim, uma pessoa que aprecia estar antenado com o que acontece, em especial, na minha querida ex- Cidade Verde.

Por isso, muitas vezes, passo por indiscreto. Sou atraído por rodinhas de conversas, mesmo de pessoas desconhecidas. Tento captar fragmentos da conversa para saber se estão contando alguma novidade.

Pode até não ser uma atitude politicamente correta. Não quero, entretanto, deixar transparecer que eu seja um fofoqueiro. Não. É tão somente vontade de escutar algo que fuja do rotineiro.

Isto tudo porque a repetição irritante dos assuntos veiculados pelos noticiários da televisão, me levou a um total desinteresse por este tipo de programa.

Tenho impressão que, por absoluta falta de novidade, esses jornais, que todas as noites invadem as nossas casas, só foram editados no seu primeiro ano de existência.

O problema me parece ser nacional, pois, baseado nas últimas pesquisas, houve uma queda acentuada na audiência.

Aqui, no Estado onde nasci, para um adultão como eu, há muito não há novidades, e sim, replay do nosso cotidiano. As manchetes dos veículos de comunicação de massa são sempre as mesmas, mudando somente os atores.

A nossa educação vai de mal a pior. A saúde pública sucateada. As estradas intransitáveis, produzem desastres e doenças nos caminhoneiros.

A segurança pública virou Conceição, ninguém sabe e ninguém viu. O descaso com o dinheiro público não é novidade nem para o meu neto de dez anos. Obras públicas iniciadas sem projetos, para depois acertar, é arroz de festa.

Ladrões – de galinha - nas cadeias superlotadas. Enriquecimentos instantâneos aplaudidos e louvados como nos tempos dos Sinhozinhos e Comendadores honoríficos.

O desmatamento do Estado, desde a sua descoberta só aumenta, e não é mais nenhuma novidade, assim como a saída de caminhões e caminhões com toras de madeiras.

O governo continua dando calote nos seus fornecedores e pagando muito bem as assessorias contratadas, e patrocinando cada evento...

Será que a falta de novidade é novidade?

Só pode ser, para justificar esse entusiasmo com as velhas e malfadadas notícias do nosso passado - com aplicações de botox para os ingênuos descobridores do descoberto.

Repetindo: o velho Houaiss fala que novidade é notícia recente. A última que chegou por aqui, foi a nova cartilha que o MEC está distribuindo nas escolas públicas, para ensinar o errado às nossas crianças.

No entanto, isso nunca foi novidade no nosso ensino público.

Continuamos, portanto, sem novidades. Só nos resta mesmo assistir ao filme dos erros do passado.

Gabriel Novis Neves

10-05-2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

KHDA

Ao sair da academia de ginástica, ouço pela Joven-Pan um comentário de José Nêumanne sobre a khda do presidente da Câmara dos Deputados.

Para proteger a não convocação do ex-ministro da Fazenda - aquele que quebrou criminosamente o sigilo bancário de seu caseiro, por ter visto e denunciado as suas visitas, e por isso perdeu o cobiçado ministério - mobilizou toda a guarda armada da Câmara.

O objetivo era impedir a entrada de deputados nas salas de reuniões das comissões que discutiam a última do ex-médico do PSF do interior de São Paulo, sobre o seu enriquecimento lotérico.

Quando saiu do Ministério da Fazenda, moralmente abatido, ele montou uma empresa de consultoria financeira, do tipo que vende facilidades junto ao governo. O negócio é tão escabroso que a sua fortuna, nos últimos quatro anos, chegou a assustar meio mundo, menos ao seu antigo caseiro.

Nessa consultoria, segundo seus defensores, é proibido revelar o nome dos clientes.

A situação foi tão constrangedora, que nunca, jamais, nem antes, neste país e no mundo, se viu algo semelhante.

A cena foi tão ridícula que virou chacota nacional. Os deputados, impedidos de entrarem em suas casas, que é o Congresso nacional, se viram como aquele patrão que paga um segurança para protegê-lo, e este não o deixa entrar na sua casa.

Foi uma khda do presidente da Câmara para ninguém botar defeito. É a chamada khda histórica.

Por aqui as khdas são tantas, que as mais recentes merecem citação.

O nosso governador anunciou que assumiria o comando da Saúde Pública de Cuiabá e Várzea Grande.

Depois foi a Brasília comunicar ao Ministro da Saúde sobre a sua decisão. Por acaso, o atual Ministro é médico, professor da Universidade de Campinas, ex-deputado federal e ministro político.

Quando falou ao ministro médico em saúde pública, que havia assumido o comando das duas maiores cidades de Mato Grosso, e que por isso precisava de recursos, pois iria pagar pelos serviços três tabelas do SUS, este lhe respondeu: “Fizestes a maior khda do seu governo. Não dá para limpar com papel higiênico, já que não há nada ainda oficial?”

A nossa professora da UFMT, primeira senadora da nossa história, que não aceitou a aposentadoria de deputada estadual, salvou o presidente aviador do mensalão e o poeta da Academia Brasileira de Letras da cassação - foi expulsa do seu partido.

Todo mundo comenta que khda como essa, em política, é difícil de acontecer. Que khda! É o que mais se ouve nos meios políticos daqui.

Fazer inovações tecnológicas em Cuiabá, sem uma permanente fiscalização, é khda na certa. Colocaram na rua onde moro uma faixa amarela, à esquerda do fluxo do trânsito. Parabéns pela medida preventiva, que salvará vidas, mas no trecho onde moro, por falta de fiscalização, já deu khda.

Uma montoeira de carros já ocupa esses lugares proibidos. Mas a grande khda foi a colocação de lombadas.

É incrível que a nossa população, diante de tantas khdas dos nossos governantes, ainda consegue engoli-los.

Essa é a pior khda.



Gabriel Novis Neves

20-05-2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

FAIXAS

“Seu nome é sinônimo de caráter”. “Você é um exemplo para todos nós”. “Seu lugar é com os companheiros. A luta continua”. “Fizeram uma injustiça muito grande com você. O erro acabou reparado. O seu retorno engrandece o Brasil.”

Essas foram algumas frases transcritas de faixas colocadas nas ruas de uma cidade de 10 mil habitantes, a 150 quilômetros de Goiânia.

Mais de 200 pessoas compareceram ao Centro de Catequese da Paróquia de Nossa Senhora Abadia para homenagear o seu mais ilustre filho. Um professor da disciplina Ética em Política.

Dois amigos importantes do homenageado na última hora não puderam comparecer ao ato cívico.

Estou falando de um dos maiores estrategistas do Brasil, na difícil profissão de caixa de campanhas eleitorais.

No seu imenso currículo, duas vitórias que elegeram o mesmo Presidente da República.

A política no Brasil é um jogo feio e o coração de uma eleição é o dinheiro. O caixa da campanha fica responsável pela captação dos recursos e a sua exemplar aplicação.

É sempre escolhida para essa função, uma pessoa de extrema confiança do candidato. É um cargo inegociável, e sempre foi assim.

Desperta ciúmes e invejas nos outros companheiros de campanha, pois reconhecem a intimidade antiga e fraterna, demonstrada pelo candidato.

Nas eleições para cargos majoritários então, logo o escolhido recebe o preconceituoso apelido de homem da mala.

A nossa história está cheia de casos de homens da mala, cujo futuro geralmente é trágico.

Foi o que aconteceu com o nosso professor de Ética em Política, que foi acusado e condenado pela Justiça de ser protagonista do maior escândalo de corrupção desse país - o chamado Mensalão.

Para se avaliar o tamanho do escândalo, o deputado - “capitão do time do Presidente”, foi cassado.

Nada como o tempo. A substituta do capitão do time, hoje é a nossa presidente.

O capitão cassado pelo Congresso Nacional e pela Justiça montou uma grande firma de consultoria internacional e para desenvolver mega projetos no Brasil.

Claro que o fiel homem da mala foi perdoado pelo partido da presidente, e nada mais justo que receber essas homenagens na sua cidade natal.

Afinal, que país é esse?

“O fenômeno do nosso crescimento,” o PIB (Produto Interno Bruto), é que determina se o crescimento de uma nação é saudável.

Nesse quesito – PIB -, em 2010 o Brasil perdeu para o Catar, que obteve um crescimento de 16,3%, Paraguai 15,3%, Cingapura 14,5%, Taiwan 10,8%, Índia 10,4%.

O Brasil cresceu 7.5%.

As economias da América Latina e do Caribe cresceram em 2010, 6,1%. Os países emergentes da Ásia cresceram 9.5%.

O Brasil é o campeão do desperdício! De todo o insumo extraído nos poços de petróleo da plataforma continental, 7% é jogado fora, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Segundo essa mesma agência (ANP), o volume do desperdício é suficiente para gerar um gigawatt de energia que daria para abastecer, diariamente, uma cidade de quatro milhões de habitantes.

Um país que, pelo último censo do IBGE, possui 16 milhões de miseráveis - que vivem com uma renda mensal de até 70 reais.

Em Brasília, a capital da fantasia, a renda mensal por pessoa, caminha para 30.000 dólares anuais.

Como estimular uma criança criada nesse ambiente para os estudos, quando as escolas discutem a “Lei da Palmada”, e a tecnologia avança a uma velocidade superior a do governo de inovar?

As crianças sabem que para obterem sucesso não existe esse curso na escola, que é ensinar como adquirir conhecimentos para exercer a profissão de tráfico de influência junto aos órgãos públicos.

Não confundir com corrupção ou promiscuidade, com as coisas públicas...

Diante dessa realidade, nada melhor que uma festinha no interior para homenagear o professor injustiçado...

Gabriel Novis Neves

08-05-2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Fugir

Gostaria de escrever sobre assuntos agradáveis, como enfocar as nossas belezas naturais, os fatos reais da nossa história, e, principalmente, sobre essa gente especial que é a mato-grossense.

Infelizmente, o momento em que vivemos não me permite fazer somente o que quero. Seria no mínimo um irresponsável - ou um alienado -, se, como médico, me omitisse frente a maior crise na saúde pública por que passa minha cidade.

A total indiferença do governo federal, a insensibilidade do governo estadual – que lava as mãos, privatizando os serviços de saúde, me obriga a voltar ao tema saúde.

Resta-nos a total impotência e a ineficiente gerência do município para resolver problemas herdados de uma cidade de 292 anos e de todo o rico economicamente interior, tantas vezes campeão de produção de alimentos e outras riquezas.

Diante desta verdadeira catástrofe, é impossível se calar quando ouvimos das nossas autoridades o anúncio das medidas paliativas tomadas para diminuir o caos que tomou conta da nossa saúde.

Puxadinhos, leitos, macas e cadeiras novas são apresentados à população como solução para um hospital sem funcionários, médicos, equipamentos e medicamentos, onde, no chão, em cadeiras, macas e colchonetes, existem cerca de duzentos pacientes, a maioria do interior do Estado.

A situação é tão dramática e desumana, que uma comissão de defensores públicos, após visitar o Pronto Socorro, solicitou providências às Organizações de Direitos Humanos da OEA -- Organização dos Estados Americanos!

Sugiro que, enquanto não se resolver, pelo menos a retirada dos pacientes do chão do hospital, e daqueles que estão na fila para cirurgias inadiáveis, façamos silêncio em protesto aos milhões gastos na construção do grande circo para 2014, e migalhas na saúde.

Seria o nosso simbólico minuto de pesar, pelos que morreram por falta de assistência médica - dever do Estado -, e pelos que sofrem.

Por tempo indeterminado não usar a palavra humanização, em um Estado desumanizado.

A nossa gente está exausta, esperando pelo prometido na recente campanha eleitoral. Foi o maior engodo que tive conhecimento, onde a saúde seria a principal preocupação dos premiados nas urnas. Estes receberam a herança maldita, e ficaram quietos. Justificam esse silêncio como uma posição, para eles, politicamente correta.

A população, como sempre, abandonada e sofrendo.

As nossas conquistas só avançaram no tabuleiro dos ilusionistas dos números.

A nossa população está tão descrente das políticas públicas do governo, que este ano não se interessaram nem pela vacinação da gripe, precedida de forte campanha publicitária.

O nosso Ministério da Saúde, que vive de números maquiados, prolongou o período de vacinação, não por preocupação com a saúde do brasileiro, mas com as repercussões negativas e cobranças internacionais.

O Brasil adquiriu a mania de se apresentar ao mundo como o país que não é.

Todo o universo civilizado sabe que não temos saúde, educação, segurança, infra-estrutura, ciência e tecnologia.

Que temos as maiores taxas de juros do mercado, uma inflação controlada com sinais de fadiga, e uma taxa de crescimento inferior ao dos países emergentes e menores, como o Paraguai.

Sabe também que o principal projeto da presidente, é o combate à miséria, e não, a erradicação da miséria no Brasil - impossível.

Senhor governador, o comandante maior dos destinos deste Estado: o senhor não é responsável por essa herança de uma saúde pública sucateada, nem por vaidades passadas.

Os tempos são outros, e bem piores. A história lhe colocou nas mãos a grande oportunidade de marcar a sua trajetória política, e de vida, como aquele que soube aceitar o desafio de lutar a favor de uma saúde pública de qualidade.

O desafio é enorme, bem sabemos. Mas, a história lhe fará justiça e a população lhe será reconhecida.

Resolva, senhor governador, o nosso problema de saúde!

Hospital das Clínicas, já!



Gabriel Novis Neves

14-05-2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

PRIVATIZAÇÃO

Há alguns anos, as empresas do Estado estavam dando tanto prejuízo, que o governo resolveu vender parte delas. Esse período ficou conhecido como o período das privatizações. Inúmeras empresas estatais, que operavam no vermelho e não tinham mais condições de competição no mercado, foram privatizadas.

Algumas resistiram e provaram ser possível administrar uma estatal competitiva no mercado internacional e gerar lucros. Um dos exemplos é a nossa Embraer.

Os compradores das nossas estatais falidas conseguiram, em curto espaço de tempo, torná-las rentáveis. As que não foram vendidas faliram. Um dos exemplos mais recentes é o caso do BEMAT. Está na memória de todos nós a sua morte.

A sua irmã CEMAT continua viva, mas o Estado vendeu.

Na época era chique falar em privatização e os governos subsequentes aprovaram a medida, que, conforme alguns dizem, foi a salvadora da nossa economia. Outros, entretanto, guardam profunda mágoa desse negócio. Chamam essas vendas de maracutaias.

Os serviços sociais, por enquanto, estão com o governo - educação, saúde, segurança.

Os resultados são os piores possíveis. No ranking mundial estamos pessimamente avaliados em todos aqueles quesitos.

Os serviços prestados pelo Estado têm uma logomarca terrível: DAS (Direção de Assessoramento Superior). Esses DAS são conhecidos como cargos para barganha política. Os seus milhares de ocupantes não fazem concurso e o que menos interessa para o preenchimento da vaga é o mérito. Vale o QI (Quem Indica).

Os salários são também superiores aos dos concursados.

Quando o próprio Estado reconhece a sua incompetência para administrar o que a Constituição Federal diz ser da sua competência, então se dá um jeitinho. E o jeitinho encontrado para tentar solucionar o caótico problema da Saúde Pública – já que este serviço não pode ser vendido à iniciativa privada – foi fazer uma gambiarra com as Organizações Sociais de Saúde (OSS).

Estou torcendo para que esse arranjo com as OSS dê certo. Só assim teremos condições de reivindicar outras privatizações.

Que tal uma OS para tomar conta do governo do Estado?

Podemos até nos apropriar da mesma justificativa utilizada pelo Estado para entregar os nossos hospitais às OSS: “Pior do que está não fica.”

Teremos menos despesas e mais eficiência nos serviços. Se a experiência resultar em ganhos para a população, poderemos até pensar em entregar às Organizações Sociais os nossos outros poderes.

O povo ficaria feliz, o Estado com mais recursos, menos escândalos e livre dos nossos políticos.

Mato Grosso para as Organizações Sociais, já!

Gabriel Novis Neves

19-05-2011

domingo, 22 de maio de 2011

A marcha

Prefeitos de várias cidades do Brasil, a grande maioria da base de sustentação do governo Federal, realizaram a tradicional Marcha dos Prefeitos em Brasília.

O nosso Estado compareceu com uma boa delegação, para as fotos necessárias - uma espécie de Habeas-Corpus -, e assim justificarem as suas gestões.

Lutei e pedi. O governo federal não atendeu, e o povo então identifica quem é o culpado pelo caos nos municípios brasileiros - assim dizem os prefeitos nos seus retornos.

Para quem está distante, a Marcha parece um ato de protesto contra a política econômica do governo Federal, mas, na verdade, é um ato orquestrado de submissão, exatamente para fortalecer as decisões de Brasília.

Os prefeitos foram pedir à Presidente uma ajuda de R$ 28 bilhões. Retornaram disciplinadamente e satisfeitos, com uma possibilidade prometida pela Presidente na reunião festiva de conclusão dos trabalhos: a liberação, parcelada, quando possível, de apenas R$ 750 milhões.

No dia seguinte, o Diário Oficial da União trazia um cronograma de desembolso desses recursos, que os prefeitos tomaram conhecimento quando do retorno aos seus municípios. Não fora o combinado.

O grande público ficou sabendo que a tão falada Marcha foi um exercício de capitulação dos prefeitos.

Os municípios brasileiros, responsáveis pelo crescimento econômico do Brasil, continuarão de pires nas mãos.

Faltando o essencial onde moram as pessoas, que é o município, a Marcha ficou na boca do povo como a festa do outono, e o povo que se dane, como dizia aquele personagem do Chico Anísio, hoje mais interessado na Salomé de Passo Fundo, com os seus incansáveis telefonemas de conselhos à Presidente.

Para encerrar este testículo (pequeno texto), lembrar que todos os municípios brasileiros são ricos em belezas naturais exóticas, um filé mignon para o turismo ecológico, fonte de grandes recursos.

Para não perderem a viagem eles (os prefeitos) foram ao Ministro do Turismo, aquele velhinho da conta do motel, e que chegou nesse posto por mérito do grupo que o indicou.

Mais uma decepção. O velhinho está saindo. Só aguardando uma barganha do grupo político que o indicou.

Enquanto isso, o atual Chefe da Casa Civil está atento a toda e qualquer tentativa de prevaricação no governo.

Fechou no início do ano, segundo informação de conceituado jornal de São Paulo, a sua jovem Firma de Consultoria, que ninguém descobriu para qual tipo de público atendia muito menos o nome de um único cliente. O máximo que se conseguiu descobrir, é que essa firma era um exemplo de faturamento e eficiência.

Os prefeitos frustrados decidiram que, para manter a tradição, no próximo ano irão novamente fazer a Marcha.

Gabriel Novis Neves

06-05-2011

CONVERSINHA

Divirto-me muito na minha academia de ginástica. Divirto-me e sofro. Não é fácil tentar recuperar os músculos perdidos. Em compensação, lá na academia, presencio cada situação engraçada, pra não dizer estranha, que às vezes até me esqueço dos meus doloridos e sofridos músculos – ou o que restam deles.

Outro dia, enquanto eu reclamava com meu professor do aumento da carga nos meus exercícios de braço, escuto uns cochichos seguidos por gargalhadas estrepitosas. Dirijo minha atenção na direção do burburinho. A conversinha baixinha vinha de um casal de colegas se exercitando nas esteiras, meus velhos conhecidos. Tento escutar o motivo de tantas gargalhadas – não por curiosidade, mas para tentar rir também e assim, quem sabe esquecer o meu braço. Mas, o barulho das esteiras não me deixou escutar nada! E eles continuavam a cochichar e a gargalhar.

Fico a imaginar o que leva alguém a conversar tão baixinho, fazendo o possível para não ser ouvido pelos outros colegas da sala. Não que eu me importe com isso – ou me importo? Não, não sou tão curioso assim, apenas acho uma falta de delicadeza.

Findo o tempo da esteira, a conversinha findou também. Escuto então um dizer para outro: “Tudo é sigiloso, tá? Não conte a ninguém.” Estranho! Nunca pensei que academia fosse o ambiente propício para altas confidências. Enfim. Enquanto trabalho para reforçar o que restou da minha musculatura, fico tentando desvendar o mistério da conversinha que exige sigilo. Comecei pelo mais simples: banalidades? Não. As banalidades, como são banais, não exigem sigilo. Discussão acadêmica? Não é o perfil da dupla. Já sei! Vou arriscar com segurança praticamente total - o casal de colegas da academia de ginástica deve ter contado “causos e causos” do nosso cotidiano. Com um pouquinho de pimenta, o assunto tornou-se proibitivo para os conversadores.

O perfil deles é de fuxiqueiros, fazendo a agenda do dia. Depois do fuxico feito, é difícil segurá-lo, e a gargalhada terá ressonância na cidade - e o assunto não será mais sigiloso. Apenas motivo de "perguntação".

Oh, gente inocente! Conversinha ao pé da orelha, de madrugada, é fuxico!


Gabriel Novis Neves

18-07-2010

sábado, 21 de maio de 2011

Código Florestal

Maio ficará conhecido como o mês da discussão na Câmara Federal do novo Código Florestal. Durante dois anos o ex-presidente da UNE, agora deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, estudou e corrigiu a nova proposta, no país que tem a legislação ambiental mais rigorosa do mundo.

O nosso Congresso está dividido entre ruralistas - título corretamente político dado aos mega fazendeiros ou seus representantes -, e os chamados ambientalistas.

O governo tem maioria folgada para aprovar qualquer projeto, mas está em dificuldades em aprovar este.

Na iminência de uma derrota, o governo retirou de pauta a votação, preferindo o bate boca dos corredores, quando o antigo líder estudantil partiu violentamente contra a ex-senadora do Acre, e que representa 20 milhões de brasileiros.

Só não disse que ela é comunista.

A nossa presidente, com tantos problemas herdados, sendo os maiores deles a inflação embutida e a Copa do Mundo, com receio de ser taxada de inimiga da natureza, resolveu não entrar nessa briga com os seus aliados, e a opinião internacional.

Nós sabemos o ônus que representou para o nosso Estado o prêmio recebido - Troféu Motosserra de Ouro.

Culminou com a demissão da então ministra do Meio Ambiente.

Enquanto isso, os alemães estão preocupados em oferecer condições dignas às galinhas poedeiras.

Nós discutimos no Congresso Nacional, sem consenso, o futuro dos nossos rios, florestas, mata nativa e a nossa riquíssima fauna.

No momento, vemos caminhões transportando toras de madeiras; florestas transformadas em pastos; rios sendo desviados para instalações de usinas hidrelétricas; cidades incendiadas pelas queimadas; a expulsão da população rural pela plantação da soja, algodão, milho e feijão.

Quando teremos educação para entender a importância que representa para uma nação cuidar do seu meio ambiente como investimento para o futuro das novas gerações, e não como títulos nobres tão transitórios?

O novo Código Florestal não pode ter ideologia, a não ser, a herança desse patrimônio às nossas futuras gerações.

Gabriel Novis Neves

17-05-2011

FATIADO

Quando soube que o nosso vizinho Estado do Pará seria fatiado para dar origem a dois novos Estados, fiquei mais tranquilo. Por enquanto, esta história sobre a nova divisão do nosso Estado, deve cair no esquecimento.

Acho bom acontecer este fatiamento, e a minha preferência seria pelo surgimento de dois novos Estados, e não, Territórios. Sendo Estados, os políticos de todo o Brasil, sem votos e muito dinheiro, iriam se aventurar a uma cadeira no Senado ou na Câmara dos Deputados.

Existe até escritório especializado em fornecer atestado de residência para estes casos. A sede da empresa fica no Estado que expulsou os holandeses, obrigando-os a fundar Nova Iorque. Mas alegria dura pouco. Não é que lendo os jornais, fiquei sabendo que estão negociando a venda da dívida do nosso Estado para o Banco Safra?

Segundo meu consultor econômico e político, o Brasil não irá acabar, muito menos o nosso Estado, nesses próximos cem anos.

Claro que o Banco Safra, que tem dois mil anos de tradição em trabalhar com sucesso concedendo empréstimos aos necessitados, também não irá desaparecer.

Essa gente é danada mesmo! Tentou primeiro criar em Mato Grosso o Estado do Araguaia, que só não se concretizou pela briga que houve com relação à escolha da cidade que seria a capital do novo Estado.

Agora reinventaram esta história de renegociação. Renegociar aquilo que devemos. Já aconteceu muito por aqui, e, de todas as vezes que isto aconteceu, ficamos mais pobres e devendo mais.

Há dez anos, se não me engano, houve uma renegociação dessas com bancos brasileiros. O governo passado trabalhou e reclamou muito sobre as parcelas altíssimas que todos os meses éramos obrigados a pagar. Procurou bancos estrangeiros, mas a negociação não deu certo, apesar de amplamente divulgada como assunto liquidado.

O governo atual, que completou um ano, acha que é impossível falar em investimentos neste Estado pagando mensalmente essas prestações que comprometem, e muito, o nosso desenvolvimento.

Agora veio a notícia oficial: “Os Safras comprarão nossas dívidas, recebendo como garantia o nosso Estado”. Mais uma vez revemos o velho filme de empurrar os nossos crônicos problemas com a barriga.

Uma curiosidade: se o negócio for fechado, com esticamento das prestações, o que acho difícil, a capital do Estado de Mato Grosso ficaria em que país?

Gabriel Novis Neves

13-05-2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Procura-se um estadista

Outro dia, aproveitando minha caminhada matinal, fui visitar as obras da Arena Pantanal. Na área próxima à construção já percebi certa agitação. Ao me aproximar mais um pouquinho, não muito, pois os incontáveis seguranças ali presentes impediam os curiosos de ficar bisbilhotando, pude verificar que as obras estavam a todo vapor.

De um lado o frenesi dos operários trabalhando, caminhões indo e vindo, máquinas e equipamentos espalhados pelo canteiro. Do outro, uma longa fila de jovens, na maioria do sexo feminino, frente à administração do Elefantinho para teste de seleção a cargo burocrático.

Além disso, inúmeras placas anunciando vagas pra pedreiros, carpinteiros e armadores.

Eu diria mesmo, desculpem o chavão, que a vida ali pulsava. Tirei muitas fotos: 33 imagens, que um dia, quem sabe, terão o seu valor.

Volto para casa. Ligo a TV para assistir ao noticiário local enquanto tomo meu café. Na tela, cenas de horror gravadas no Pronto Socorro Municipal.

Pacientes espalhados pelo chão, misturados com a sujeira e água de esgotos. Macas improvisadas como leitos ocupando os corredores do hospital. Pacientes sentados em cadeiras por todos os lugares do prédio, sem ao menos terem sido avaliados sobre a sua gravidade. Acompanhantes com expressões de sofrimento e desesperança; servidores de abatimento e impotência. E os pacientes? Fisionomias transfiguradas pelo cansaço e dor, aliada ao sofrimento, e incerteza da espera.

O relato amargurado de uma médica nos informou que, drenagem de tórax no Pronto Socorro é realizada com gilete, pois não existe lâmina de bisturi no hospital.

Um médico que tentava manobras de ressuscitação em um paciente com parada cardíaca, foi surpreendido pelo desabamento do teto da sala onde fazia o procedimento.

Por todo lado o que se via era sofrimento. Não há como não se sentir revoltado. Cenas fortes que me remeteram à cenas típicas de um país em guerra.

Não podemos mais postergar essa situação, que não é de hoje, apenas a bolha estourou agora.

Nas opiniões do Conselho Federal e Regional de Medicina, do Sindicato dos Médicos, dos pacientes e seus parentes, dos trabalhadores da saúde e da população em geral, chegamos ao fundo do poço.

A reportagem deixou-me taciturno. Não somente pelo que vi na tela – imagens que estão se tornando rotineiras por aqui -, mas, sobretudo, porque tinha acabado de presenciar a vida borbulhante no canteiro de obras da Arena Pantanal.

Que triste contraste! Em ambas as situações, o Governo é o protagonista. Ah, se o Governo transferisse a mesma coragem e disposição demonstrada naquele canteiro de obras em busca do cumprimento de um prazo estabelecido, para a resolução da situação caótica da saúde, com certeza seria uma extraordinária demonstração de que estaríamos sendo governados por um estadista – e não por um mero continuista.

O que não podemos, e não devemos mais suportar é a ferocidade dessa dualidade: a morte rondando dentro dos hospitais e a vida pulsando nos canteiros de obras.

Senhor governador, uma frase proferida por um grande estadista francês, é um convite à reflexão: "A coragem é a primeira virtude do estadista. Sem ela, a coragem, todas as outras virtudes desaparecem na hora do perigo."

Assuma a função de estadista. Comande e vença essa guerra. Passará à história, não como o governador da continuidade da nossa maior tragédia social, mas como o governador estadista.

Inicie já, a construção do Hospital das Clínicas de Cuiabá, com o mesmo empenho das obras da Arena Pantanal!

Gabriel Novis Neves

12-05-2011