quarta-feira, 25 de maio de 2011

Fugir

Gostaria de escrever sobre assuntos agradáveis, como enfocar as nossas belezas naturais, os fatos reais da nossa história, e, principalmente, sobre essa gente especial que é a mato-grossense.

Infelizmente, o momento em que vivemos não me permite fazer somente o que quero. Seria no mínimo um irresponsável - ou um alienado -, se, como médico, me omitisse frente a maior crise na saúde pública por que passa minha cidade.

A total indiferença do governo federal, a insensibilidade do governo estadual – que lava as mãos, privatizando os serviços de saúde, me obriga a voltar ao tema saúde.

Resta-nos a total impotência e a ineficiente gerência do município para resolver problemas herdados de uma cidade de 292 anos e de todo o rico economicamente interior, tantas vezes campeão de produção de alimentos e outras riquezas.

Diante desta verdadeira catástrofe, é impossível se calar quando ouvimos das nossas autoridades o anúncio das medidas paliativas tomadas para diminuir o caos que tomou conta da nossa saúde.

Puxadinhos, leitos, macas e cadeiras novas são apresentados à população como solução para um hospital sem funcionários, médicos, equipamentos e medicamentos, onde, no chão, em cadeiras, macas e colchonetes, existem cerca de duzentos pacientes, a maioria do interior do Estado.

A situação é tão dramática e desumana, que uma comissão de defensores públicos, após visitar o Pronto Socorro, solicitou providências às Organizações de Direitos Humanos da OEA -- Organização dos Estados Americanos!

Sugiro que, enquanto não se resolver, pelo menos a retirada dos pacientes do chão do hospital, e daqueles que estão na fila para cirurgias inadiáveis, façamos silêncio em protesto aos milhões gastos na construção do grande circo para 2014, e migalhas na saúde.

Seria o nosso simbólico minuto de pesar, pelos que morreram por falta de assistência médica - dever do Estado -, e pelos que sofrem.

Por tempo indeterminado não usar a palavra humanização, em um Estado desumanizado.

A nossa gente está exausta, esperando pelo prometido na recente campanha eleitoral. Foi o maior engodo que tive conhecimento, onde a saúde seria a principal preocupação dos premiados nas urnas. Estes receberam a herança maldita, e ficaram quietos. Justificam esse silêncio como uma posição, para eles, politicamente correta.

A população, como sempre, abandonada e sofrendo.

As nossas conquistas só avançaram no tabuleiro dos ilusionistas dos números.

A nossa população está tão descrente das políticas públicas do governo, que este ano não se interessaram nem pela vacinação da gripe, precedida de forte campanha publicitária.

O nosso Ministério da Saúde, que vive de números maquiados, prolongou o período de vacinação, não por preocupação com a saúde do brasileiro, mas com as repercussões negativas e cobranças internacionais.

O Brasil adquiriu a mania de se apresentar ao mundo como o país que não é.

Todo o universo civilizado sabe que não temos saúde, educação, segurança, infra-estrutura, ciência e tecnologia.

Que temos as maiores taxas de juros do mercado, uma inflação controlada com sinais de fadiga, e uma taxa de crescimento inferior ao dos países emergentes e menores, como o Paraguai.

Sabe também que o principal projeto da presidente, é o combate à miséria, e não, a erradicação da miséria no Brasil - impossível.

Senhor governador, o comandante maior dos destinos deste Estado: o senhor não é responsável por essa herança de uma saúde pública sucateada, nem por vaidades passadas.

Os tempos são outros, e bem piores. A história lhe colocou nas mãos a grande oportunidade de marcar a sua trajetória política, e de vida, como aquele que soube aceitar o desafio de lutar a favor de uma saúde pública de qualidade.

O desafio é enorme, bem sabemos. Mas, a história lhe fará justiça e a população lhe será reconhecida.

Resolva, senhor governador, o nosso problema de saúde!

Hospital das Clínicas, já!



Gabriel Novis Neves

14-05-2011

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