domingo, 31 de março de 2013

Memórias


O cérebro é o grande armazenador de todos os tipos de memória, seja a visual, a olfativa, a auditiva, a gustativa, a tátil.
Todos nós temos, por assim dizer, um órgão de choque preferencial, responsável por reações psicossomáticas decorrentes de estímulos externos negativos, uma memória mais marcante e que se sobrepõe a todas as outras.
No meu caso, por exemplo, é a auditiva. O simples timbre de voz do portador funciona de uma maneira definitiva, ainda que os traços fisionômicos tenham sido apagados pelo tempo.
Graças a alguns acordes, frequentemente revivemos momentos importantes de nossas vidas, algumas vezes até com uma intensidade acima da desejada.
Cientes desse fato, alguns representantes bem conhecidos da música popular brasileira fizeram disso a sua grande alavanca promocional.
Quem nunca teve na vida uma experiência afetiva ligada a uma dessas músicas premeditadamente feitas com essa finalidade específica? Sem falar que esses mesmos sons poderão sempre desencadear reflexos condicionados prazerosos em outras experiências.
As várias mídias usam em suas propagandas estímulos visuais geralmente ligados ao erotismo, com a pura finalidade de aumentar suas vendas.
As drogas ditas legais, por exemplo, usam e abusam dessa fórmula quando vinculam cervejas às mulheres devassas ou os cigarros às experiências turísticas de grande impacto.
Ao final, somos bombardeados de todas as maneiras por propagandas subliminares que, de alguma maneira, falam à nossa libido.
Há que reconhecer a grande habilidade do setor de propagandas. Por isso, os grandes marqueteiros e publicitários são muito bem remunerados.
A memória olfativa - há muito explorada pela indústria dos perfumes - é considerada uma das mais fortes.
Substâncias por nós fabricadas, os chamados feromônios, responsáveis pela atração sexual, conseguem impregnar de tal maneira o nosso cérebro que, segundo estudos, poderíamos passar anos sem ver uma pessoa outrora importante na nossa vida afetivo sexual, que a reconheceríamos na multidão, em qualquer época.
Está superprovado que existe uma especificidade química entre as pessoas e isto seria um dos componentes do chamado AMOR.
Essa seria uma das explicações para as paixões duradoras que atravessam a vida de algumas pessoas.
Cada vez mais a neurociência vem contribuindo para a compreensão de nossas emoções e nossos sentimentos e, principalmente, de que maneira eles podem alterar os nossos comportamentos.
Com o passar dos anos fatos de menor importância em nossas vidas vão sendo deletados e substituídos por outros mais recentes e mais prazerosos. Essa substituição é saudável e denota capacidade de renovação. Passamos a memorizar sempre o que mais nos agrada e interessa, em detrimento do que nos causaria apatia e desencanto.
A chamada memória retrógrada, ou seja, para os fatos mais antigos da vida, é um franco sinal de esgotamento do capital vital.
Preocupação com o novo é sempre uma grande dica, seja através de uma viagem, de um novo interesse científico ou artístico, do aprendizado de uma nova língua ou, quem sabe, até de um novo amor.
Por que não?

Gabriel Novis Neves
21-03-2013

sábado, 30 de março de 2013

CALÇADAS


Há mais de meio século as calçadas de Cuiabá estão em péssimo estado de conservação. Em alguns trechos da via pública simplesmente elas não existem.
Parece que, finalmente, nossas autoridades competentes descobriram que elas foram feitas para pedestres, e não para hospedar buracos, veículos e outros corpos estranhos. Resolveram, então, colocar em prática o Código de Postura do Município.
Grande parte das calçadas da nossa capital é impraticável ao trânsito de pessoas. Muitas, num total desrespeito aos padrões estabelecidos pelo Código de Postura, simplesmente invadem o espaço do passeio destinado aos pedestres. Outras chegam ao cúmulo de possuírem degraus e rampas. Um verdadeiro desafio perambular por elas, principalmente, para idosos e cadeirantes.
Não conheço nenhum andarilho que já não tenha sido vítima de uma queda nas nossas irregulares e descuidadas calçadas.
Há dois anos fui premiado com um tombo. Tropecei num buraco que me deixou de herança duas costelas fraturadas e uma contusão no punho da mão esquerda, com direito a seis meses de fisioterapia.
Existe uma calçada em um bairro nobre de Cuiabá que para o pedestre não ser atropelado por um veículo, é necessário andar de lado.
Outras calçadas apresentam enormes floreiras bem no seu centro, limitando, e muito, a área dos transeuntes e tornam-se, não em um enfeite, mas em um grande empecilho para se caminhar com segurança. Não contando com todo tipo de comércio calçadeiro.
Sem falar, claro, que muitos condutores de veículos acham que calçada é estacionamento.
Essas infrações ao famoso Código de Postura acontecem pela falta de educação e desrespeito com a coisa pública.
Nada atinge os infratores, pois essa gente tem sempre um santo protetor no oratório das casas do poder.
As piores calçadas da cidade estão localizadas na Prainha, que é oficialmente a Avenida Tenente Coronel Duarte, centro comercial de Cuiabá.
Lá, o governo não precisará intimar ninguém a arrumar a sua calçada. Muitos estabelecimentos comerciais serão desapropriados para a passagem dos trilhos do VLT. Interessante saber que a avaliação de vinte imóveis a serem desapropriados foi de apenas cinco milhões de reais.
 Se o proprietário não concordar com o preço do governo, o prédio será demolido, o comerciante expulso do seu ponto de trabalho sem dinheiro, e o valor discutido na justiça.
Justiça social é assim.
E a prefeitura? Resolverá um problema tão simples como este das calçadas, ou vai continuar tudo como está?
Calçada arrumada também é saúde.

Gabriel Novis Neves
14-03-2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

De última


Aproveito o titulo da seção daquele “site que ninguém lê” para escrever sobre um injustificável caso de desleixo da administração pública para com o contribuinte desta capital.
A dengue toma conta da nossa cidade. Enquanto isso, cinco caminhonetes recém-adquiridas pela prefeitura para combater a picada do mosquitinho que mata, estão estacionadas, ainda sem uso, no pátio do Centro de Zoonoses.
Motivo alegado pelas nossas autoridades com direito à verba indenizatória: falta de emplacamento e de adesivagem.
Será esse o nosso jeito de fazer prevenção da doença transmitida pelo mosquitinho que pica e mata?
Como ficamos perante a opinião pública diante de tamanho desdém administrativo? Pagamos impostos caríssimos.
Os nossos vereadores, que foram eleitos para serem nossos fiscais, não têm do que reclamar de seus gordos salários, agora enxertados com a ilegal e vergonhosa verba indenizatória, e não fazem o dever de casa para ajudar o Executivo a sanar essas pequenas falhas que colocam em risco a saúde da nossa gente.
A população doente continua morrendo em casa por falta de prevenção e de leitos hospitalares.
Tudo isso acontece na capital de um Estado prestes a sediar o maior evento futebolístico do planeta Terra.
É humilhante para uma cidade de tantos marajás que ocorram acontecimentos como esse.
Ou mudamos com urgência nosso jeito de administrar a cidade, ou a vaca vai para o brejo definitivamente - para o desespero, principalmente, dos pobres.
Cuiabá tem solução!
A comunidade deve exercer seu papel fiscalizador e denunciar como é mal investido nosso dinheiro.
Neste momento, há uma preocupação ao combate à corrupção e um descaso total com a ineficiência administrativa.
Parece uma sina sair de um Estado curral e cair num poço de incompetência de gestão pública, mesmo em casos de Saúde Pública.
Até quando essas caminhonetes ficarão no pátio da “enérgica” Vigilância Sanitária?
Abra os olhos Mauro Mendes!
Tsunami da falta de aptidão para o serviço público não perdoa ninguém.
Vá com a televisão e, pessoalmente emplaque e adevise esses veículos.
Não há tempo a perder!

Gabriel Novis Neves
23-03-2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

OPÇÃO


Passados três meses que o engenheiro responsável pelas gigantescas obras da Copa do Mundo abandonou o cargo para ocupar a pasta de Secretário de Obras da prefeitura de Cuiabá, e começamos a entender o verdadeiro motivo da permuta.
Acho que o discreto e eficiente engenheiro, já naquela ocasião, tinha certeza daquilo que hoje está acontecendo com os majestosos projetos para levar Cuiabá rumo à modernidade.
Pau que nasce torto nunca mais se endireita, diz o velho e conhecido ditado popular.
O projeto Copa, desde a sua escolha em Cuiabá como uma das subsedes do evento, vem enxertado de vícios pouco explícitos, como por várias vezes denunciou o deputado federal pelo Rio de Janeiro, o tetracampeão mundial Romário.
Nossos dirigentes daquela época foram com muita sede ao poço. Interesses políticos misturados a uma boa dose de vaidade e expectativas demasiadas em ajudas do governo federal, e até em parcerias com os ricos homens deste Estado, era o cenário apresentado.
Os empresários foram os primeiros a pularem fora do barco, evitando o tal chamamento para as parcerias público-privadas (PPP) que ficariam responsáveis pela construção do novo Verdão.
Depois não se interessaram pela história de sociedade com o governo para mudar o transporte modal BRT pelo VLT, mais moderno e cujo custo seria quatro vezes superior, sem nenhum estudo de operacionabilidade e viabilidade econômica.
A saída para o Estado seria vestir a ideologia da humildade de São Francisco de Assis e abdicar, nessas condições, dessa honraria.
Países escolhidos como sede da Copa do Mundo já haviam dado esse exemplo.
Continuamos cometendo novos erros, conseguindo autorizações especiais da Assembleia Legislativa para empréstimos bancários.
Perdemos totalmente a noção do endividamento, hoje superior a três bilhões de reais, em um Estado que se encontrava impossibilitado de contraí-los.
Tudo foi feito em nome da Copa para melhorar a cidade e, principalmente, a vida dos seus moradores.
Naquela ocasião o engenheiro responsável por essas obras já sabia que sem uma mudança de atitude administrativa e, acima de tudo, seriedade com a coisa pública, as obras se transformariam num caos.
Se permanecesse no cargo teria que mentir. Preferiu então o ostracismo de pequenos reparos em prédios municipais, distante dos holofotes da mídia.
Reservadamente, o pessoal do governo não nutre mais esperanças sobre o final desse enredo megalomaníaco cheio de mistérios.
O próprio pai da Copa para Cuiabá declarou preocupação com o atraso das mesmas. Inclusive sugeriu ao governador mudança de comando na direção da empreitada, rechaçada prontamente pelo ocupante do Paiaguás.
Sabe que as dificuldades atuais e o insucesso têm pai reconhecido pela população.
Os otimistas chegam até a acreditar que o campo de futebol ficará concluído.
Temem pelo legado jurídico e financeiro desse grandioso sonho.
Não há estudos jurídicos nem para saber qual o subsídio que caberá à prefeitura para a operação do VLT, e como fazer com os contratos em vigor com as empresas que exploram o transporte coletivo em nossa cidade.
A cobrança dos empréstimos bancários está prestes a iniciar. Como pagá-los?
Seria abusar da paciência dos leitores desfilar com o rosário de erros cometidos no projeto Copa em Cuiabá.
Ficou demonstrado que não temos políticos influentes em Brasília, e que Mato Grosso é um Estado tratado com desdém pelo governo federal.
A esta altura só nos resta lamentar a falta de conhecimento dos ensinamentos de Machado de Assis:
“Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de os corrigir.”

Gabriel Novis Neves
24-03-2013

quarta-feira, 27 de março de 2013

Desgaste


Não havia necessidade do prefeito Mauro Mendes sofrer tamanho desgaste político logo no início do seu mandato.
No sentido de “acertar” o trâmite de projetos do Executivo na Câmara Municipal, meteu-se num imbróglio que o deixou muito mal perante os seus eleitores.
Com a credibilidade da qual se fez merecedor, sucesso nos seus negócios privados e vontade para trabalhar, envolveu-se no acintoso aumento de salários dos vereadores, acrescido da ilegal verba indenizatória exigida por eles. Se os vereadores deixassem de lado a ganância, o prefeito Mauro Mendes poderia construir algo em benefício da coletividade.
O pior é que essa ilegal verba indenizatória, que é um artifício primário para aumentar o salário de alguns marajás da pobre administração municipal, será estendido aos secretários municipais e outros funcionários considerados do primeiro escalão do governo municipal.
Diante do desgaste sofrido perante a opinião pública, que cobra apenas austeridade no gasto com o seu dinheiro, o nosso prefeito anunciou que doará a sua verba indenizatória para entidades filantrópicas, pois é rico e não precisa de salário da prefeitura para viver, e bem.
O problema é que mesmo doando o que recebe ilegalmente, oferece cobertura jurídica e política para o desmoralizante efeito cascata dessa medida feita para alguns.
Justiça se faça. Esse método de aumentar ilegalmente salários já de há muito tempo é feito pela Justiça, Executivo e Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
Os seus favorecidos recebem dinheiro extra dos cofres públicos e entendem que não tem que prestar contas a ninguém, caracterizando assim aumento salarial.
Verba indenizatória pela Constituição Brasileira obriga o servidor a explicar como gastou aquele dinheiro do povo.
Salário, não. Você é livre e não deve satisfação a ninguém sobre os seus hábitos de consumo.
Esse remendo regimental, cujo único objetivo foi aumentar salários de alguns servidores, deveria ser explicado pelo prefeito, que tem o apoio da maioria da população dessa cidade, e não, doando a sua parte.
Sr. Prefeito! Fale ao povo sobre as negociações de bastidores. Fale que o Executivo Municipal recriou esse benefício atendendo a um pedido feito pelos vereadores, que querem por fim a um impasse com o Ministério Público Estadual (MPE).
O pagador de impostos quer saber como funciona a relação entre o Executivo e o Legislativo Municipal.
Não deixa que aconteça aqui o que aconteceu com o Tiririca. Montado em mais de um milhão de votos para a Câmara Federal, o mais votado do Brasil, só se elegeu para saber o que fazia um deputado federal.
Quando descobriu, declarou que jamais teria se candidatado. Preferiria ter continuado a trabalhar no circo.
Belo exemplo de cidadania do nosso palhaço!
Também não nos deixa impressionados a confissão da Presidente da República.  Disse ela que para fazer política há necessidade de se negociar até com o diabo.
Estamos assistindo a gestação de uma administração com hidrocefalia. A massa trabalhadora, composta por pequenos servidores, não suportará o peso dessa anomalia e sucumbirá abraçada aos seus raquíticos e nanicos holerites.
Ainda há tempo para uma virada nesse antiquado modelo de gestão do toma- lá- dá- cá.
O povo espera isso de você, prefeito! Ou extinguimos da administração pública esses velhos hábitos políticos maléficos, com um jovem empreendedor e eficiente empresário, ou estaremos condenados a conviver eternamente com as desigualdades sociais em governos para poucos e sacrifícios para muitos.
Transforme Cuiabá, Mauro Mendes!
Todos acreditam e esperam isso de você.
Exorcize o desgaste que está assumindo em nome de uma “tradição”, que tem que ser interrompida, em respeito à ética e modernidade.
Repudie o “sempre foi assim” em nome do futuro desta cidade.

Gabriel Novis Neves
22-03-2013 

terça-feira, 26 de março de 2013

TAREFA DIFÍCIL


Atualmente, a função pública mais difícil de ser exercida em Mato Grosso é a de convencer a nossa população que a execução das “Obras da Copa” está dentro do cronograma proposto pela FIFA.
O povo está vendo. Não há segredos a esconder. Com exceção de duas delas, todas estão atrasadas, e algumas nem projetos possuem, como são o caso da “Revitalização do nosso Centro Histórico” e os relacionados com o turismo.
Faltam projetos, planejamento e, principalmente, dinheiro federal, já que o Estado e município estão com anemia aguda desse precioso elemento.
Os funcionários escalados pelo governo para defender o indefensável, apesar dos esforços, logo pedem as contas da nobre missão de mentir para o contribuinte, responsável pelo pagamento dos gastos do evento.
O governo do Estado, por vaidade, ambição política e interesses pessoais, meteu-se nesse imbróglio e agora, faltando pouco mais de um ano para a Copa, está em um beco sem saída.
Enquanto a mídia oficial anuncia aceleramento das obras, os jornais mostram trabalhadores abandonando os canteiros por falta de pagamento.
Guindastes foram fotografados sendo retirados das obras da casca de ovo da chamada Arena Pantanal por falta de pagamento.
Como os homens do poder não suportam ouvir verdades, os marqueteiros do Palácio procuram desqualificar os verdadeiros interessados pelo sucesso do evento mundial em nossa cidade e, principalmente do seu legado, que são as chamadas obras estruturantes, chamando-os jocosamente de “Profetas do atraso”, quando atrasos existem nas obras comandadas pelos “Profetas do desenvolvimento”.
O tempo, senhor da verdade, um dia contará a verdadeira história dessa Copa do Cerrado, que nasceu com a identidade de “Copa do Pantanal”, segundo o membro da Comissão da Copa na Câmara Federal, o deputado Romário do PSB do Rio de Janeiro.
É um verdadeiro horror acompanhar a execução do cronograma das obras em Cuiabá e constatar os atrasos e falta de dinheiro.
Só nos resta confiar nas palavras do senhor governador. Diz ele que daqui a um ano tudo estará funcionando de acordo com o caderno de obrigações assinado com a FIFA.
A fé cura e produz milagres.
Aguardemos por eles.

Gabriel Novis Neves
09-03-2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

Exumação


Em 1953 foi criada a Loteria Esportiva do Estado de Mato Grosso (LEMAT). Tinha por finalidade explorar os jogos de azar permitidos pela lei para captar recursos com fins sociais.
A nossa LEMAT morreu prematuramente de causas bem conhecidas. Por longos anos ficou esquecida da nossa população. No entanto, seus responsáveis não tomaram as providências que um óbito necessita, principalmente com relação ao inventário e a baixa em cartório da sua vitalidade.
Para efeitos legais a LEMAT nunca morreu, apenas ficou na clandestinidade.
Quando assumiu o governo do Estado, o atual dirigente, provavelmente para acomodações políticas, fez a exumação da LEMAT e, de imediato, nomeou o seu presidente.
Funciona como uma autarquia, com quatro funcionários. É subordinada à Secretaria de Fazenda do Estado (SEFAZ).
Durante mais da metade do governo que está se exaurindo, este secretário não fez nada além de pagar o holerite dos seus quatro funcionários.
Estava tudo acertado que ela funcionaria no regime em moda neste governo, que é o terceirizado. Um empreiteiro, de muita credibilidade no Estado e com inúmeros serviços prestados na área da construção civil, tocaria o projeto social.
Credenciava-o para a missão a sua larga amizade com os nossos políticos, além da sua vitoriosa experiência em exploração de casas lotéricas, especialmente em Goiás.
Devido a um pequeno problema desse empresário com a Polícia Federal, esse projeto social não pode ser implantado em nosso Estado.
O assunto saiu da pauta das prioridades. Os quatro funcionários da autarquia social ficaram esperando novas orientações.
Para espanto geral da população foi anunciado que no segundo semestre deste ano será realizada uma licitação pública para escolher a empresa que irá implantar a jogatina oficial em nosso Estado.
Dizem que até empresas internacionais estão interessadas no negócio.
Enquanto isso, os quatro funcionários continuam aguardando o desfecho desse projeto, cujo lucro, repito, será destinado às obras assistenciais.
O diabo é que o governador, ao que tudo indica, deixará o cargo antes do término do seu mandato para se candidatar ao Senado da República. Não temos, portanto, a garantia de que essa loteria, que veio para competir com os jogos da Caixa Econômica Federal, continuará ou retornará à clandestinidade.
Receio pelo futuro dos quatro funcionários da autarquia da Secretaria de Fazenda, já que o Estado está tocando os seus projetos sociais sem os recursos dessa estranha LEMAT.
Mais um episódio para a enciclopédia de coisas que acontecem por aqui e que no Paraguai daria cadeia.
O que fazer com os quatro funcionários? - eis a questão.

Gabriel Novis Neves
13-03-2013

domingo, 24 de março de 2013

ACABRUNHADO


O termo acabrunhado, aliás, muito pouco usado, mostra bem o estado de espírito em que se encontram os brasileiros mais sensíveis.
Uma mistura de timidez com apatia justifica bem o desencanto que as novas práticas políticas vigentes nos trouxeram.
Cinismo generalizado - moda no mundo pós-moderno - nos mostram criaturas desinteressadas pelo momento presente e, o mais grave, incrédulas num futuro promissor.
A participação plena na cidadania, e também nas demais atividades na vida, precisa, prioritariamente, de entrega total ao que se faz.
Quando condições adversas de desencanto tomam conta dos nossos sentimentos, imediatamente o nosso sistema nervoso reage através de apatia ou de violência.
Estamos observando no momento a hipertrofia de ambas, igualmente maléficas.
No âmbito pessoal, dado os grandes desencontros afetivos que a sociedade moderna nos propõe, o acabrunhado é uma figura muito comum, fruto de uma sequência de ansiedades e decepções.
O nível fantasioso, de um modo geral é muito alto. Manifesta-se desde a infância e vai sendo estimulado pela vida afora. Somos constantemente tentados a comprar estados de felicidade perenes que nos oferecem, seja através de aquisições de objetos de consumo, seja através da propaganda do erotismo, seja através da hipertrofia das relações afetivo-sexuais.
Como sempre, as expectativas são sempre muito maiores que a realidade.
Daí resulta porque vemos com tanta frequência os chamados acabrunhados ambulantes, um bando de seres vagando do pouco para o nada e nos quais está ausente o lindo brilho do olhar.
Nesse contexto, é fácil entender esse estado de acabrunhamento, já que as forças necessárias para o desenvolvimento da plena cidadania vão se perdendo na avalanche aterradora dos fatos.
Enfrentamento demanda sempre muita saúde física e mental.

Gabriel Novis Neves
15-03-2013 

sábado, 23 de março de 2013

Avanços na saúde


Após mais de três horas de reunião, em que participaram o governador do Estado, o presidente da Assembleia Legislativa e outros auxiliares do governo, com os prefeitos dos quinze consórcios que congregam os cento e quarenta e um municípios de Mato Grosso, foi feito um acordo para o governo quitar dívidas do Tesouro Estadual com os municípios referentes ao ano de 2012.
O Estado deixou de repassar aos municípios cerca de cinquenta e três milhões de reais, segundo cálculos realizados pelos funcionários do governo.
Os municípios alegam que o valor é superior ao apresentado.
Entre o acerto firmado pelo governo com os municípios e a liberação dos recursos existe um longo caminho, pois o Estado está sem dinheiro para atender a essa necessidade prioritária, que não pode ter os seus serviços paralisados.
Uma obra pública, como a construção de um campo de futebol ou as trincheiras para a Copa do Mundo pode parar. Apenas causarão transtornos e aborrecimentos à população, assim como terão os seus preços acrescidos, bem como alterados os prazos de entrega.
No entanto, tratando-se de hospitais, o não cumprimento do cronograma de repasses de recursos poderá ocasionar a morte de pacientes e fechamento dos mesmos.
Acreditar que o combinado na reunião dos agentes do governo com os representantes dos municípios será cumprido é uma questão de fé, e fé não se discute. Crê-se ou não.
O governo do Estado terá que enxugar a sua imensa folha de pagamento com o pessoal comissionado (os chamados cabos eleitorais), e colocar um freio nas despesas desnecessárias.
Além disso, temos que acreditar na força política do partido do governador, que mantém a presidente do Brasil refém dos seus desejos, ainda mais agora em que o processo sucessório está a todo vapor.
Um país que possui trinta e nove ministros de Estado demonstra o quanto de concessão se faz para ser o número um desta nação.
Liberar recursos federais para um Estado que só tem oito deputados federais é prenúncio de uma negociação muito difícil, no dizer de um dos mais experientes dos nossos políticos e que sabe como poucos da mecânica do poder.
Só muita fé poderá salvar este Estado da situação de grande dificuldade financeira por que passa.
Sem ajuda substancial de repasses federais para a saúde, não vejo condições desse acordo ser cumprido.
Precisamos poupar vidas, e a decisão é política e de fora.
Habilidade, lideranças! É o que espera a nossa gente.

Gabriel Novis Neves
16-03-2013

sexta-feira, 22 de março de 2013

INHANHA


Quando alguma expectativa de transformação era frustrada, às vezes prematuramente, os antigos de Cuiabá comentavam que iríamos continuar na mesma inhanha.
Os erros do passado não seriam corrigidos e tudo seguiria à revelia dos nossos sonhos.
O período de resguardo de uma puérpera é de quarenta dias, chamado também de quarentena, quando todas as atenções são dirigidas ao novo rebento e à saúde da mãe.
Passado esse período a vida continuava normalmente como ela é.
Cuiabá está com uma nova administração há mais de dois meses. Já deu para mostrar os seus traços genéticos. Pelo jeito, em termos de transformações sociais, continuaremos na mesma inhanha.
O círculo vicioso, governo federal, estadual e municipal não será alterado num ponto crucial, e que é a grande bandeira do nosso prefeito: os recursos financeiros para a saúde pública.
O governo central arrecada as nossas riquezas. Depois, por critérios políticos, repassa migalhas desse dinheiro ao governo do Estado e município.
Resultado observado após a quarentena: os repasses financeiros que o município recebe do governo federal e estadual continuam como dantes, isto é, insuficientes e sempre em atraso.
Governo caloteiro perde a credibilidade e desmonta a estrutura técnica de sustentação aos seus programas.
A situação mais gritante são os atrasos aos prestadores de serviços à saúde. Os hospitais estão sem receber os benditos repasses, e alguns serviços essenciais, como os centros de hemodiálise e UTIs, quase fechando.
A bomba arrebenta no colo dos municípios, onde moram os cidadãos.
Muitos dos atuais prefeitos são empresários, e sabem o que significa para uma empresa realizar um serviço e não receber aquilo que foi contratado.
O pior é não obter informações sobre o que está acontecendo. Onde fica a tal parceria e transparência tão repetida pelos nossos governantes?
O governo do Estado de tanto abusar dessa estratégia com os seus parceiros empreiteiros, está amargando a paralisação das principais obras da Copa.
A imagem de governo caloteiro está tão impregnada na memória da nossa gente, que só aventureiros, ou bem protegidos, se arriscam a prestar serviços ao governo.
Não entendo como o empresário não se enquadra na administração pública.
A verdade é que a inhanha, como tantas outras surgidas nos últimos anos, já tomou conta dos nossos municípios.

Gabriel Novis Neves
15-03-2013

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sobrevivência


Não por acaso a Igreja Católica Apostólica Romana vem sobrevivendo através dos séculos a um mundo tumultuado pelas inúmeras transformações. 
Mesmo apregoando valores éticos e morais estáticos, despidos de renovações, seus representantes têm a capacidade de intuir, em momentos de crise, que caminhos tomar para que a sobrevivência da Igreja seja mantida. Exercício de inteligência genuína. 
Desconheço qualquer outro tipo de reunião da qual participem cento e quinze pessoas e que seja mantido sigilo absoluto sobre os temas tratados. Esse é um ponto de grande importância e que não costuma ser muito valorizado pelos observadores externos, habituados que são ao vazamento de informações, por menores que sejam. 
A virada necessária foi no sentido de contemplar os povos menos favorecidos, no caso os da América Latina, com um grande índice de analfabetismo e graves problemas socioeconômicos.
Estatísticas mostram que a Europa é um terreno bem menos fecundo. Países como França e Inglaterra apresentam índices de população 50% agnóstica, e os outros 50% distribuídos entre as outras várias seitas. 
Belíssima observação do Papa Francisco, se referindo à sua eleição: ressalta que os cardeais foram buscá-lo lá no fim do mundo. O lado do subdesenvolvimento. 
Mais uma vez predominou o bom senso no conclave, tentando conter a hemorragia de fieis, termo usado pela própria igreja se referindo à evasão de suas ovelhas para outros rebanhos mais dinamizados aos tempos modernos. 
Apesar de temas básicos como aborto, uso de preservativos, abolição do celibato entre os sacerdotes, relações homoafetivas, não fazerem parte de propósitos da Igreja de Roma, quem sabe os nossos clérigos, num futuro próximo, possam dar um passo além, até mesmo por questões de sobrevivência? 
A velocidade em que anda o mundo tecnológico não permite retrocessos, sejam eles de que ordem for.
Atentas aos avanços da ciência urge que as seitas, todas baseadas em dogmas, façam modificações urgentes, diferenciadas das antigas baseadas em culpa e pecado. 
O mundo caminha em busca da paz e do perdão e tudo que a isso contrariar, estará fadado ao desaparecimento. 
Parabéns ao mundo eclesiástico que percebeu esse momento! 
O Papa Francisco, com seu espírito alegre e levemente irônico, é uma boa opção de transição que, forçosamente, virá num futuro não muito distante. 
Sua religiosidade, mais que a religião, é uma prova disso. 
Compaixão e humildade já é um ótimo início. 

Gabriel Novis Neves
09-03-2013 

quarta-feira, 20 de março de 2013

FRANCISCO


Com a surpreendente escolha do Cardeal de Buenos Aires para o comando da Igreja Católica Apostólica Romana e a ampla cobertura que a imprensa mundial dedicou a esse fato inédito, evidente que muitos debates surgiram com relação, principalmente, aos nossos valores espirituais, morais e religiosos.
O Papa Jesuíta, com opção franciscana de vida e descoberto no fim do mundo, como ele mesmo disse ao se apresentar aos fiéis, de imediato conquistou a todos.
A sua espontânea simplicidade e bom humor foram fatores decisivos por esta conquista.
Sua Santidade não disse o que pretendia fazer para o futuro da sua igreja. Demonstrou, no entanto, com suas atitudes e ações, nunca pensadas na história do Vaticano, que será um pastor despojado dos valores nobiliárquicos do cargo.
Assumiu o pontificado um homem comum, como a maioria da população deste pequeno Planeta.
Despojado de ostentações, suas vestes são simples, sem adornos de faixas ou joias de ouro. Seus deslocamentos são comunitários, sejam em elevadores ou automóveis.
Essas demonstrações de humildade foram notadas e aplaudidas pelo mundo que reclama das desigualdades sociais.
Seus atos espontâneos emocionaram o mundo cristão, principalmente, que esperava por transformações comportamentais radicais na Igreja Católica.
Culto e carismático, Francisco deverá enfrentar uma oposição silenciosa dos defensores das tradições do cargo, que mesmo com a perda do seu rebanho não perceberam que o mundo mudou e não suporta mais essa barreira da aristocracia com a população em geral.
Francisco, como bispo de Roma é uma vitória dos Cardeais periféricos sobre a Cúria dominada por europeus, e que por séculos dominam os destinos da igreja de São Pedro.
É a primeira vez que um jesuíta, chamado de soldado do papa, é escolhido para renovar a sua igreja e estancar a sangria da perda dos seus fiéis.
Os jesuítas sempre foram perseguidos, e, aqui no Brasil, expulsos pelo Marquês de Pombal.
Esses sacerdotes, além do compromisso com a evangelização, procurando chegar até o mais longínquo núcleo de nações indígenas ainda não contatadas pelo “homem branco”, têm outra missão, talvez amais difícil e importante.
Acreditam os jesuítas que, sem a preparação educacional das elites, as transformações tão exigidas pelo mundo moderno, jamais acontecerão.
Esse é o principal desafio do Papa Francisco: educar as elites para que elas façam opção pelos mais necessitados, maioria da humanidade.
Dirigentes preparados serão soldados exterminadores do grande mal que atinge os povos, que é a corrupção.
O combate ao consumismo desenfreado, ao conservadorismo pela vaidade, ao desamor ao próximo, às guerras sempre inúteis, e por motivações econômicas e manutenção do poder, são alguns pontos que esperamos que Francisco lecione às elites.
Tornar o mundo ecumênico, não. Mas, ensinar a tolerância e o respeito entre os povos e que cada um continue com os seus valores e crenças.
Essa é a expectativa que o mundo deposita neste humilde pastor da América Latina que faz e não fala.
O seu exemplo é o currículo que ele nos doa para ser seguido.
Esperamos um mundo melhor com o Francisco, pastor simples, como simples são suas ovelhas.

Gabriel Novis Neves
17-03-2013

terça-feira, 19 de março de 2013

Nada boa


A situação dos estados brasileiros não está assim tão boa como diz o Planalto.
Tanto é que os governadores de todas as unidades da federação estiveram reunidos em Brasília para reivindicar do governo federal alterações urgentes em, pelo menos, quatro medidas econômicas para não decretarem falência. 
Nestes últimos dez anos a situação econômica dos nossos Estados piorou, e muito. Foram abandonados e ignorados pelo governo federal, e com gestores com visibilidade eleitoral. 
 “Mato Grosso devia ao governo federal R$ 5 bilhões. Passados 10 anos, pagou R$ 6 bilhões e ainda deve R$ 5 bilhões.”
Esses números demonstram o peso na cobrança de juros e correções monetárias nas dívidas públicas do Estado para com o Governo. 
Para piorar a nossa situação, fizemos empréstimos de cerca de RS 3 bilhões para algumas obras da Copa do Mundo.
Só para o novo campo de futebol e as obras do VLT, nossas dívidas são superiores a RS 2 bilhões. 
Como e quando iremos pagar essa conta que nos será cobrada com juros e correção monetária? 
O nosso próprio governador, que não é nenhum “Profeta do atraso”, reconheceu que “não está sendo cumprido o Pacto Federativo, deixando estados e municípios em situação delicada”. 
Então, estamos entendidos. A nossa situação não é nada boa, como apregoa a campanha publicitária do próprio governo. 
Recentemente assistimos pela televisão maravilhas de depoimentos e imagens sobre o perfeito funcionamento dos nossos Hospitais Regionais, tão bem administrados pelas eficientes Organizações Sociais de Saúde.
Até pacientes particulares, que possuem plano de saúde, estão dando prioridade e se internando nos hospitais do SUS, tirando a vaga de um necessitado do quase extinto plano de saúde do governo. 
Não contando as imagens maravilhosas das nossas rodovias, responsáveis pelo escoamento das riquezas do Estado, principalmente pelos produtos do agronegócio. 
Precisamos de mais austeridade com relação aos gastos públicos e exemplos de humildade e opção pelos mais necessitados, fatores que fizeram do cardeal de Buenos Aires o novo Papa Francisco.
Só assim teremos um Estado mais justo e para todos. 
Temos que fazer o dever de casa, e não esperar pelas históricas reformas prometidas por Brasília. 
Sempre é desconfortável depender de terceiros, especialmente quando responsáveis pelo desenvolvimento de um Estado à beira da falência. 
O tempo será o julgador das nossas verdades.

Gabriel Novis Neves
14-03-2013