quarta-feira, 13 de março de 2013

Casa do estudante


Quando Oscar Niemayer fez o estudo preliminar para a ocupação dos sessenta hectares do cerrado do Coxipó da Ponte para a instalação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sua primeira preocupação foi demarcar o espaço onde seriam construídos três blocos, sobre pilotis, destinados à casa das meninas, meninos e professores.
Ficava localizado em frente à Avenida Fernando Correa da Costa. Esse sonho não foi transformado em realidade, pois o governo do regime militar era contrário a esse tipo de investimento.
Quando a poeira baixou, a reitoria começou a adquirir residências que faziam limite com a parte da universidade ao lado do Bairro Boa Esperança.
Essas casas foram reformadas, adaptadas, mobiliadas e entregues aos estudantes carentes, geralmente do interior do Estado e de outras partes do Brasil. Assim surgiu a Casa do Estudante da UFMT.
A universidade cresceu em número de alunos, professores e cursos, e o espaço tornou-se insuficiente, embora a universidade alugasse casas para atender essa população sempre crescente.
A ditadura foi substituída pela democracia plena, e o que vimos recentemente pela televisão foi um ato de protesto dos estudantes em via pública. Foram despejados das suas casas. Protestaram para chamar a atenção da sociedade para o que estava acontecendo com eles.
Erraram os jovens na forma como protestaram, pois prejudicaram a liberdade de terceiros. Entretanto, este equívoco não justifica a truculência da polícia na repressão à manifestação.
Tiros de borracha foram disparados a curta distância contra os estudantes, produzindo impressionantes lesões. Outros meninos e meninas foram violentamente arrastados pelo asfalto, e até fraturas aconteceram nessa repressão de uma polícia totalmente despreparada e desqualificada para atuar em conflitos sociais.
O descrédito da nossa segurança pública, que era pessimamente avaliada pela sociedade, desabou nesse episódio com os universitários.
Ficou clara a intolerância da polícia do governo para com os estudantes. Manifestações maiores são comuns nas rodovias de escoamento da produção agrícola em nosso Estado, com sérios prejuízos a terceiros, e a polícia nunca usou tanta força como no triste episódio do Coxipó.
Quantas rodovias de grande trafegabilidade ficaram interrompidas por semanas? Enquanto as autoridades negociavam um final feliz, os trabalhadores iam acumulando prejuízos de alguns milhões por estarem impedidos de transportar seus produtos – alguns perecíveis.
E a situação desumana e humilhante a que foram submetidos os pobres caminhoneiros?
É uma realidade triste para a nossa capital e Estado, prestes a sediar um evento internacional, oferecer aos pagadores de impostos esse tipo de segurança. Não à toa que Cuiabá é uma das cidades mais violentas do Brasil. Não temos comando, reina a impunidade aos graúdos e os nossos governantes não têm nenhuma autoridade.
Espero que o governo tome providências imediatas e severas, não apenas contra os despreparados atiradores, mas que puna severamente os seus chefes, habitantes de gabinetes palacianos refrigerados e com altos salários e mordomias.
Os bandidos conhecidos da polícia continuam soltos produzindo vítimas. Os estudantes desarmados recebem uma saraivada de balas de borracha pelo corpo.
Triste episódio que expôs as vísceras de um Estado cheio de “Profetas do Atraso”.

Gabriel Novis Neves
09-03-2013

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