quinta-feira, 31 de maio de 2012

HOSPITAL INFANTIL


No início do ano houve uma festa de arromba promovida pela Secretaria de Saúde do Estado. O evento foi para comemorar o fim de todos os nossos crônicos problemas de saúde - em apenas um ano da prorrogação do antigo governo.
As OSS iriam administrar todos os hospitais públicos, a Farmácia de Alto-Custo, a distribuição e compra dos medicamentos e ainda prestar consultoria técnica ao secretário.
As conquistas não paravam por aí.
Foi feito um acerto com o Hospital das Clínicas de Cuiabá, e, segundo anúncio oficial, seria inaugurado em julho – e funcionando - o tão falado, prometido e esperado Hospital Infantil de Cuiabá, referência para todo o Estado.
Na ocasião da festança foi ainda declarada a retomada das obras do Hospital Central, iniciadas em 1984. Para este empreendimento o governo anunciou parceria com a iniciativa privada e, até agora, não apareceu ninguém, embora o governo seja de empresários. 
Simplesmente fantástico o que ouvimos.
A incompetência das administrações passadas, especialmente nos últimos 10 anos, ficou clara, causando revolta na população.
As promessas feitas pelo governo durante o mandato tampão com a renúncia do titular, que também anunciou até hora da inauguração do Hospital Infantil, não foram cumpridas.
Vamos lembrar algumas promessas:
O secretário de saúde tampão pediu as contas antes de completar trinta dias no cargo. Alegou incompetência total para administrar loteamentos.
No seu discurso de posse disse que tinha total apoio do governador-tampão candidato à reeleição.
Disse também que estava decretado o fim da desumana fila de espera para cirurgias eletivas, consultas e exames laboratoriais. E, disse mais: que iria inaugurar o Hospital Infantil. Esses seriam seus compromissos prioritários.
Nada foi feito.
Este ano, novamente falou-se em inaugurar o Hospital Infantil, em julho.
Diante da gravidade da situação, uma comissão composta por autoridades do judiciário e da classe médica, procurou o governador em seu gabinete e lhe entregou quase que uma intimação para que não deixasse mais as nossas crianças morrerem por falta de assistência hospitalar infantil. Ele prometeu estudar o assunto com muito carinho.
Conversando com amigos, um deles fez um retrospecto  desses vinte e três meses de governo pós-botina e suas repercussões  na saúde pública.

As OSS estão dando trambiques no governo e deixando municípios com a população totalmente desassistida. Outras sumiram com o dinheiro.
Remédio na Farmácia de Alto Custo continua em falta e o Hospital Infantil, simplesmente gorou.
As filas de pacientes aumentaram.
Não há sinais de obras no Hospital das Clínicas, que precisa de uma grande reforma. O único operário que se vê por lá é um vigia 24h por dia.
Totalmente fora de questão inaugurá-lo este ano.
Falta dinheiro no Tesouro, ainda mais agora que o preço do VLT extrapolou e o Estado está com a burra vazia e sem poder de endividamento.
O Hospital Infantil não vingou mais uma vez e, para ganhar tempo, a desculpa do Estado é que estão fazendo estudos técnicos  para transformar o Hospital das Clínicas em Hospital de Transplantes de Órgãos.
Isso é brincar com o pagador de impostos, pois, recentemente, o governo desmontou os serviços de transplantes existentes em hospital filantrópico e privado.
Aliás, a população não acredita em governos e políticos, especialmente após o trauma de conduta do senador de Goiás.
Resumindo: desse mato não sai cachorro.
A população?
Que se dane.

Gabriel Novis Neves
23-05-2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Reencontro


Quando menos esperava fui surpreendido por um acontecimento mágico. Após mais de meio século, reencontro alguns colegas de turma da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha.
Ao terminar o meu curso, em 1960, fiquei quase cinco anos no Rio preparando-me para retornar ao interior.
A minha efetivação, por concurso, como médico do Estado da Guanabara em 1961 foi, a princípio, um fator determinante para que eu pudesse ser médico, e não, especialista prematuro. 
Espichei então a minha permanência no Rio.
Trabalhava também em uma maternidade em Jacarepaguá e era residente do hospital Pro Matre. Na verdade eu era chefe do plantão da maternidade fundada por Fernando Magalhães e dona Stella Guerra Duval.
A turma era enorme e eu sabia que meus colegas, alguns mais próximos que outros, tomariam rumos diversos. A grande maioria retornaria à sua cidade natal.
Existiam grupos com mais vínculos de amizade: o grupo do CPOR, onde vivíamos como irmãos de verdade; o grupo das várias equipes de plantão; o grupo dos interioranos, com pouco dinheiro - habitantes das inúmeras pensões, cuja capital era o Largo do Machado.
Havia também a turma dos comensais do restaurante do SAPS da Universidade e, nos domingos e feriados, do Calabouço.
A nossa turma era basicamente formada de meninos. As meninas eram de número reduzido, mas o suficiente para despertar paixões impossíveis.
Como o mais tranquilo e sensato do grupo da pensão, após reunião prolongada, resolvemos aceitar a realidade: a colega cobiçada pela classe não era menina para o nosso bico. Também pudera! Andávamos sempre pendurado em estribo de bonde, comíamos no SAPS e, não tínhamos um tostão extra para convidá-la a tomar, pelo menos, um sorvete.
A bossa nova estourava no Rio, assim como os grandes espetáculos do Walter Pinto e do Carlos Machado.
Sapeávamos muitos ensaios da boate Casablanca, que ficava próximo à nossa escola, e no início da estação do bondinho para o Morro da Urca.
Daquela enorme turma, quase todos se comportavam como as abóboras na carroça. Diz a lenda que as abóboras estavam todas desarrumadas dentro da carroça. O cocheiro nem olhava para trás, mas, à medida que a viagem prosseguia, os próprios solavancos da carroça fazia com que as abóboras se acomodassem em seus devidos lugares.
Assim fomos nós. Apesar dos solavancos da vida, chegamos com relativo conforto ao final da nossa viagem.
Muitos colegas nos abandonaram prematuramente, por desígnios que a vida nos apronta. Muitos, se “perderam” por esse imenso Brasil.
Sou um dos perdidos - morando há 47 anos no antigo Portal da Amazônia.
Os colegas do Rio nunca se esqueceram de nós. Sempre marcam uma reunião para comemorar a convivência de seis anos. Só pude comparecer à festa dos 20 anos de colação de grau.
Não éramos mais os mesmos. Muitos que compareceram trabalhavam com os mesmos valores. Aprendi que “é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo”.
Deixei o ambiente do reencontro com sentimento de tristeza. Aquela foi a única e a última festa em que compareci.
Agora, após outros longos anos de distanciamento, a comunicação com alguns antigos colegas foram restabelecidas. Era o início de uma série de surpresas agradáveis de um reencontro. Os momentos felizes não voltam mais, porém jamais serão esquecidos.
Através da Internet consegui resgatar a companhia – ainda que virtual – de colegas da faculdade.
Em pouco mais de uma semana desse reencontro, que não foi planejado nem programado, tenho certeza que a distância não mata emoções e que ela – a distância - não é inimiga do verdadeiro sentimento da amizade.
Melhor que o Jacó que serviu Labão, pai de Rachel na poesia de Camões.  Acho que esperaria mais outro meio século para viver a felicidade que sinto neste momento.

Gabriel Novis Neves
 09-04-2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

RIO SÃO FRANCISCO


Era estudante no Rio de Janeiro quando li nos jornais do Centro Acadêmico, as primeiras notícias sobre o desvio do Rio São Francisco, carinhosamente chamado pela população nordestina de o “Velho Chico.”
No governo anterior de um nordestino, o assunto foi revitalizado, discutido, debatido. Uns querendo, outros não, culminando com a greve de fome de um religioso da região, inimigo mortal do desvio do Velho Chico.
O poder do governo, sustentado por indicadores de pesquisas que deixavam o presidente à beira da unanimidade, empurrou o início das obras.
A palavra desvio foi substituída por transposição. Então a obra ficou conhecida como transposição das águas do Rio São Francisco. Era um dos temas da campanha presidencial.
Confesso que, no momento, ou as obras estão muito aceleradas e em vias de serem inauguradas, ou foi mais uma obra bilionária cancelada neste maravilhoso país das fantasias.
Há tempos não tenho notícias sobre o andamento desse projeto. Pelo silêncio, acho que não vingou – acometido, talvez, do mesmo mal que atingiu o PAC I e PAC II em Cuiabá: “inanição financeira.”
O secretário de Fazenda do Estado, em entrevista coletiva, anuncia o desvio de dinheiro dos cofres do bem protegido Tesouro do Estado.
Levei um susto danado, pois, desvio, para mim, era de trajeto de águas. Desvio de dinheiro público é um eufemismo para roubo.
Qualquer alteração no desvio do Velho Chico, a imprensa noticiava e ecologistas debatiam. O desvio das águas era visto a olho nu.
Desvio de dinheiro público de um cofre fechado, onde poucas pessoas sabem onde fica e somente alguns têm a senha para abri-lo, mereceu uma educada informação do secretário aos donos do dinheiro, que são os pagadores de impostos.
Houve desvio. Foi de lascar essa correta e transparente comunicação! Se o desvio de um rio produzir seca em pequeno trecho, ou inundação, todo mundo vê e denuncia em tempo real. Providências são tomadas e cobradas para sanar o problema.
Dinheiro público desviado de um cofre forte, ninguém vê, ninguém sabe quando começou e, o pior, ninguém sabe o valor do dinheiro vazado.
O governo explica, ou tenta explicar, que este desvio vem acontecendo há muito tempo, e, por isso, é quase impossível determinar, com exatidão, quando tudo começou.
As ruas, entretanto, comentam, com exatidão, quando tudo iniciou - com dia e hora marcada.
Providências do governo acerca do roubo: “serão feitos cuidadosos levantamentos para se avaliar a extensão do tal desvio de dinheiro do cofre forte do Tesouro do Estado.”
Quando todos se esquecerem dessa denúncia do secretário de Fazenda, os membros da comissão de levantamento, que a esta altura já incorporaram esse trabalho no seu holerite, darão o seu parecer.
Provavelmente sem um diagnóstico conclusivo por falta de provas, e um suspeito: O velhinho que vendia picolé de groselha.

Gabriel Novis Neves
25-01-2012

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mais um


O Congresso Nacional aprovou mais um projeto de proteção ao meio ambiente. Como não temos na Casa da Lei representantes do Brasil, e sim de classes, a bancada, chamada de ruralista e integrada pelos grandes fazendeiros e latifundiários, poderá sofrer uma derrota.
O novo Código Florestal aprovado é a favor do Brasil, se a presidente com "sangue frio e tranquilidade vetar a anistia aos desmatadores".
A nova lei será então sancionada com vetos pela presidente, que se verá livre, em parte, das cobranças dos ecologistas no próximo Congresso Internacional que será realizado no Rio de Janeiro.
Depois, os juristas do Planalto irão regulamentar a lei que deverá ser cumprida, o que é raro neste país.
Tenho certeza que daqui a dois anos, com a efervescência das próximas eleições presidenciais, os responsáveis pela fiscalização do cumprimento do novo Código, estarão sem tempo para realizar esse trabalho.
Parte da imprensa irá denunciar a falta de fiscalização, como fazem com a educação, saúde e tantas outras leis.
Além do mais, os ruralistas são grandes financiadores das caríssimas campanhas políticas.
Manda o bom senso que o momento não é oportuno para cobranças e aplicações de multas.
Os devotos de São Francisco logo entoarão o coro religioso, que é dando que se recebe.
Torço para que vingue esse novo Código Florestal com vetos da presidente. É ver para crer.

Gabriel Novis Neves
26-04-2012

domingo, 27 de maio de 2012

PSF


O Programa Saúde da Família (PSF) se funcionasse como foi planejado, seria o ponto de partida para a cruzada da guerra contra as drogas.
Infelizmente, na maioria das suas equipes, não se considera o perfil profissional dos seus integrantes, e, sim, as indicações políticas.
Essa constatação não precisa ser feita por nenhuma empresa de pesquisa – basta somente uma visita a essas unidades de saúde.
É triste, mas é isso que acontece com o silêncio da sociedade despreparada para causas sociais.
“Ninguém sabe como se aproximar de um usuário de crack, ou de outras drogas, e nem com suas famílias.”
Políticas nacionais sobre drogas existem há anos no Brasil, mas, como sempre não são cumpridas, fica por isso mesmo.
O processo de recuperação do dependente químico inicia-se exatamente nas Unidades do Programa Saúde da Família.
A Universidade Federal de Mato Grosso acaba de preparar profissionais para as equipes multidisciplinares, que realizarão seus trabalhos nas comunidades, se o governo não lotear as equipes com os seus cabos eleitorais.
O grande problema não é “apenas o de curar a doença, mas sim, preveni-la e promover a saúde. Ou seja, compreende-se a saúde de uma maneira ampla.”
Essas equipes da Saúde da Família são compostas por um médico, uma enfermeira, um técnico em enfermagem e seis agentes comunitários de saúde, que são, impreterivelmente, moradores da comunidade em que trabalham.
Cada agente comunitário de saúde acompanha em torno de cento e sessenta famílias.
“Isto possibilita que os profissionais possam acompanhar rotineiramente suas famílias cadastradas. Cada equipe atende de 3.500 a 4.000 habitantes.”
Para que isso acontecesse em Cuiabá, precisaríamos de 150 equipes com esse perfil.
Na situação atual é bobagem dizer que Mato Grosso está engajado no programa prioritário nacional de combate às drogas, e a população tem que saber da nossa realidade de extrema vulnerabilidade à doença do século.
Em compensação, todos os esforços financeiros do falido Tesouro do Estado, estão sendo utilizados para construir um campo de futebol.
Questão de opção. Ficamos com o circo. Continuamos a perder a nossa maior riqueza, que são as nossas crianças, para as drogas ilícitas.

Gabriel Novis Neves
16-05-2012

sábado, 26 de maio de 2012

PRECONCEITO


A Fundação Perseu Abramo publicou uma pesquisa que mostra o grau de preconceito que o brasileiro tem diante do usuário de drogas.
“Entre as pessoas que menos gostaríamos de encontrar nas ruas, 35% responderam que seriam os usuários de drogas.”
Muitas pessoas associam o viciado em droga com o integrante do crime organizado, e a toda a sorte de violências.
No Brasil, a dependência química já é considerada uma epidemia, segundo especialistas no assunto.
Para eles, o preconceito e a marginalização do usuário atrapalham o tratamento, onde há equipes multidisciplinares para o atendimento.
A maioria dos municípios brasileiros e capitais de Estado, não conta com esse recurso da ciência, mas, 35% da sua população não gostaria de encontrar um dependente químico nas ruas.
O usuário de droga também não deseja buscar apoio terapêutico, e enfrenta a dura realidade existencial.
Outro problema sério no tratamento do usuário de droga é a sua família que, por vergonha, escondem o problema caseiro.
Hoje, o mal das drogas tomou conta de inúmeras famílias brasileiras.
A sociedade tem que agir, e rápido, nas providências, denunciando e pressionando os homens do poder mais interessados em obras físicas que sociais.
Chegou a hora dos jovens ainda não contaminados pela peste das drogas, pintarem os rostos e mobilizarem a opinião pública.
Não podemos mais perder nossas crianças diante da total omissão dos poderes públicos.
Ou passeata só vale pela conquista do poder para manter tudo como está?
Espero que a nossa sociedade acorde dessa obnubilação causada pelo consumismo desenfreado, com cheiro de corrupção e a ideologia do sempre foi assim.

Gabriel Novis Neves     
16-05-2012

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Usuários de drogas e tratamento


Como tratar em Cuiabá, pacientes dependentes químicos? A Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD) recomenda que o tratamento desses pacientes deva ser individualizado, segundo a droga consumida.
"Jamais tratá-los igualmente, pois os seus efeitos são diversos.
O caso da maconha merece atenção especial. É a substância ilícita mais consumida, e a de menores efeitos perniciosos.
No outro extremo temos o crack, motivo de mais preocupação.
Nas ruas e nas comunidades, crianças e adolescentes são consumidas pelo vício, formando grupos de pequenas figuras humanas que vivem em condições deploráveis."
Este é o grande problema que a ciência, a sociedade e o poder público têm que enfrentar enquanto há tempo - alertam os especialistas.
"Drogas como o cigarro, o álcool e as psicotrópicas, já fazem parte do dia a dia da nossa população".
"Entregar essa tarefa à polícia, para que dela se ocupe em nosso lugar, já não é admissível. Uma política de drogas mais inovadora e eficaz facilitará o combate ao crime organizado".
A sociedade tem que fazer uma séria discussão sobre esse tema que não pode mais esperar.
É uma discussão que não dá votos, tira robustos apoios financeiros para campanhas políticas, mas é a única saída que ainda temos para salvar as nossas crianças.
Acabar com o crime organizado. Recuperar a segurança pública perdida. O caminho é esse. E foi mostrado pela Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia que, após dezoito meses de trabalho com especialistas em Saúde, Direito, Economia, Jornalismo, Segurança Pública, Ciência, Religiões, Artes, Esportes e Movimentos Sociais, elaborou o relatório que serviu de motivação e orientação para essa série de artigos sobre as drogas.
A pergunta que todos gostariam de fazer: Mato Grosso ficará ausente dessa guerra, ou entregará essa missão a alguma Organização Social?
A Universidade Federal preparou os combatentes, mas o general que comandará essa grande empreitada social é o Governador do Estado.
O programa é considerado prioritário pelo Governo Federal.
Aguardaremos ações concretas dos governos.

Gabriel Novis Neves
15-05-2012

quinta-feira, 24 de maio de 2012

PÃO DURO


Tenho amizade fraternal há mais de uma década com o Chiquinho Galindo, hoje prefeito de Cuiabá.
Homem forjado para desafios e decisões. Humilde, educado e muito trabalhador. Desde que chegou a Cuiabá, nunca escolheu serviço e sempre era escolhido para administrar abacaxis.
No maior deles estivemos juntos. Chiquinho Galindo evitou que o nosso querido e tradicional Hospital Geral virasse mais um lixão na Rua 13 de Junho.
Quis o destino que, pela política, chegasse a superar a sua marca de desafios, assumindo, por renúncia do titular, a tarefa quase suicida de administrar uma cidade há muitos anos na UTI.
Com dedicação e uso de tecnologias de ponta, mantém a nossa ex-Cidade Verde respirando por aparelhos.
Enquanto há vida existe esperança, então, o Chiquinho continua trabalhando. Acaba de vender a Estação de Tratamento de Água e Saneamento de Cuiabá.
Reconheceu que o governo não tem condições de manter esses serviços essenciais.
Encheu a burra da prefeitura de dinheiro e terceirizou esse crônico problema - que tem graves repercussões na saúde pública.
O nosso amigo Chiquinho é um incurável otimista. Acredita que, com os recursos dos PACs, que estão encravados e, principalmente, com mais de cem obras anunciadas pelo governo do Estado com recursos federais (sic) e com empréstimos bancários para a Copa do Mundo, Cuiabá será uma cidade moderna.
Com todos os problemas resolvidos, Chiquinho Galindo resolveu investir na divulgação da sua Cidade Azul.
Chamou a diretoria da Escola de Samba de Mangueira do Rio de Janeiro para a assinatura do contrato de publicidade.
Cuiabá será o enredo da Escola, e o desfile mostrará a nossa cidade para milhões de telespectadores em mais de cento e cinquenta países.
Mas o carnavalesco é competente, e irá, com certeza, transformar em arte todas nossas misérias sociais.
Joãozinho Trinta não tornou inesquecível aquele enredo dos ratos, em que o Cristo Redentor foi obrigado pela censura a desfilar coberto com um pano preto?
Acho que essa receita deve ser seguida pela Mangueira, mostrando Cuiabá sob uma imensa cobertura com os dizeres: “Nossa homenagem à Cidade da Copa”.
Milhares de turistas virão para cá a fim de descobrir o que ficou encoberto. Com certeza as nossas riquezas minerais e terras férteis, pensarão.
Voltando ao espetáculo no velho e obsoleto Cine Teatro Cuiabá, onde a euforia era contagiante.
A fina flor do samba presente na Cuiabá da dengue!
Os diretores da Escola no palco. A minibateria toca e, como uma luz, entra no auditório do cinema a rainha da bateria - verdadeira catedral de beleza e sensualidade.
Na plateia o nosso prefeito a tudo observa. A lindíssima morena convida o Chiquinho Galindo para treinar uns passos para o desfile do próximo carnaval.
Ele não se faz de rogado e se apresenta para enfrentar a fera. Delírio total no público presente!
Terminadas as demonstrações de como Cuiabá será lembrada, o Chiquinho anuncia que arrumará parceiros para a empreitada. Manda uma mensagem à Câmara Municipal solicitando, em regime de urgência, a abertura de um crédito de R$ 1.600 mil para despesas não programadas – que foi aprovada na mesma hora. E entrega o cheque à Escola da Mangueira como cheque caução.
O restante irá depois.
O Chiquinho continua um grande pão duro. Sambar com aquela escultura e depois declarar um auxílio de oito milhões de reais, é inaceitável no mercado de desfiles na Sapucaí.
Também deixou claro que é candidato à reeleição e acredita no seu sucesso.
Não colocaria azeitona na empada de ninguém para sambar com a morena na Sapucaí.

Gabriel Novis Neves
11-05-2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Brasil


Quando o julgamento de meia dúzia de ladrões qualificados dos cofres públicos é considerado pelo ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) como o “julgamento do século”, o que esperar desta nação?
Para um país que arrancou do Palácio do Planalto um presidente da República legitimamente eleito pelo voto soberano do povo brasileiro por desvio de conduta e, posteriormente, inocentado pelo mesmo STF, fica difícil para os leigos em direito entenderem o momento atual. Afinal, sabemos que afanaram o nosso dinheiro.
Por isonomia, se o presidente da República cassado pelo Congresso Nacional e pelos Caras Pintadas, diante de tantas provas de erros com o dinheiro público, foi absolvido com a sua imensa caixa 2, acho uma bobagem essa designação superlativa.
Ainda mais quando o ex-ministro da Justiça do governo passado, e que atua no processo do julgamento do século, tem informações privilegiadas com relação ao funcionamento do caixa 2 dos partidos políticos e dos políticos de expressão internacional.
Tudo começou há quase dez anos, quando o empresário Carlinhos Cachoeira viu detonado o seu sistema de trabalho junto aos órgãos públicos e hoje, seu advogado, era o Ministro da Justiça.
Naquela época as provas apareciam, e nenhuma autoridade do primeiro escalão viu, nem tampouco, sabia das coisas. Todos saíram bem da roubalheira, com pequenas punições amigáveis que serão julgadas agora.
O empresário autor da façanha, o senhor Carlinhos, que de bobo não tem nada, foi preso em uma dessas operações da Polícia Federal e contratou para defendê-lo no julgamento do século, exatamente o Ministro da Justiça da época.
Os jornais anunciaram que o sábio e respeitado professor de Direito, no exercício legítimo da sua profissão, solicitou ao STF a liberação do seu famoso cliente - morador de presídio de segurança máxima.
Julgamento do século existiria se todos os envolvidos nos escândalos fossem arrolados. Alguns bois de piranhas foram para o vantajoso sacrifício para salvar a pele dos verdadeiros beneficiários da roubalheira.
Julgamento do século se estivesse no banco dos réus todos aqueles que, no exercício da função pública, ou pelas beiradas, ficaram bilionários do dia para a noite.
Os responsáveis pelo extermínio da educação de qualidade, matando por falta de oportunidades milhares de jovens e condenando o desenvolvimento deste país.
Se no banco dos réus aparecesse, pelo menos, o grande mentor do sucateamento da nossa saúde pública, hoje privilégio de poucos.
Esses ausentes do julgamento continuarão cuidando dos seus interesses pessoais e aumentando o seu patrimônio, sem nenhum constrangimento ou pudor.
Está certo que o legislador brasileiro é o mais caro do mundo, no país que tem como prioridade o combate à miséria.
Mesmo com salários de príncipes asiáticos, poucos políticos poderão explicar a origem das suas fortunas. O pior que essa praga é transmissível, contaminando todas as Casas de Leis dos Estados e Municípios e afetando poderes equivalentes.
Os pobres, quando surpreendidos com um pedaço de pão retirado de uma padaria para matar a sua fome, são presos, algemados e conduzidos a esses presídios superlotados, fichados como formadores de quadrilhas e outras coisas mais.
Os grandes que fazem a mágica de desaparecer milhões de reais do Tesouro, são designados como companheiros de “fatos isolados,” que não comprometem a ética do governo e, muitas vezes, tudo é resolvido na base de sustentação do governo.
Leis contra a corrupção existem às “cachoeiras.” Falta decisão política de fiscalizar o seu cumprimento.
Assim é o Brasil, eternamente país emergente.

Gabriel Novis Neves
10-04-2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

MUNDO SEM DROGAS


A UFMT, na entrega da luta contra as drogas, pela sua estratégica localização geográfica, (ao lado de um país exportador de todas as drogas ilícitas para abastecer grande parte do mercado nacional e internacional) está consciente da impossibilidade de alcançar o que a ONU (Organização dês Nações Unidas) propôs em 1998 para um mundo sem drogas.
A produção e o consumo clandestinos mantêm-se, apesar da “repressão”.
O governo de Mato Grosso, diante do descaso do governo federal com a fiscalização das nossas fronteiras, ensaiou uma compra de jipes na Rússia para esse fim.
Surgiram no mercado drogas sintéticas que se espalharam pelo mundo.
Enquanto isso, a prevenção e tratamento do usuário criam verdadeiros estigmas, dificultando mais ainda o seu combate.
O negócio ilícito das drogas gera ganhos altíssimos, criando um ambiente de promiscuidade entre traficantes e autoridades públicas.
É o crime organizado de braços dados com a corrupção, colocando mal o Brasil diante do mundo.
Quando as instituições públicas são corrompidas pelas altas propinas do crime organizado, aparecem drogas e armas gerando um clima de grande violência e insegurança à população.
Esse mal atingiu a nossa Cuiabá, que vive em um clima de corrupção, impunidade, drogas e violência.
No combate as drogas é importantíssimo reforçar a saúde pública, que nos leva à melhores resultados que essas espalhafatosas operações de repressão de efeitos midiáticos.
Temos bons exemplos que poderíamos copiar. Em Portugal, desde 2001, a posse e o porte de todas as drogas para consumo pessoal foram descriminalizados.
É importante frisar que descriminalizar não significa legalizar. Significa dizer que os infratores não são encaminhados à Justiça Criminal e, sim, acolhidos por comissões especiais, cujo objetivo é auxiliar o usuário e preservar a sua saúde.
Após dez anos dessa política, Portugal reduziu a criminalidade, produziu baixa expressiva na população prisional e, sobretudo, diminuiu o consumo de drogas entre os adolescentes.
Enquanto, as atenções gerais do Brasil estão voltadas para o Supremo Tribunal Federal esperando o julgamento do mensalão; para o Congresso Nacional, imobilizado com a CPI do Cachoeira, envolvendo agentes públicos como no mensalão; para a discussão sobre os recursos para as obras atrasadas da Copa do Mundo.
Enquanto tudo isso acontece, o projeto de combate às drogas – que, dizem, ser um projeto prioritário do governo federal -, fica relegado a segundo plano, pois não vejo nenhuma medida concreta para a sua implantação.
Profissionais para essa guerra, a UFMT preparou. Falta agora, vontade política para colocar a tropa na rua.

Gabriel Novis Neves
15-05-2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Simpósio


A Universidade Federal de Mato Grosso realizará do dia 23 a 25 de maio um Simpósio sobre o Enfrentamento do Crack e Outras Drogas: Desastres e Desafios.
A importância desse evento extravasa as nossas fronteiras, já que o assunto é mundial.
A chamada “guerra às drogas”, exclusivamente repressiva, falhou.
Tanto os profissionais da saúde quanto a sociedade têm que estar preparados para a difícil missão de diferenciar usuários de traficantes de drogas, e como abordá-los.
O usuário deve ser tratado como uma questão de saúde e assistência pública. É o que recomenda a Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD).
Deve ficar bem claro que a postura da Comissão de forma alguma se confunde com tolerância em relação à violência ligada ao traficante ou ao tráfico internacional de drogas, que deve ser punido com severidade, esclarece Paulo Gadelha presidente da CBDD e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A Fiocruz apresenta bons exemplos nos quesitos da AIDS e do tabagismo: “Isso porque não tratamos esses temas como tabu. Falamos abertamente, lidando com sexo, moral e religião e conseguimos informar e conscientizar a população dos riscos e prejuízos”.
Em relação ao crack, que assusta os brasileiros por sua rápida disseminação e capacidade de gerar danos, Gadelha lembrou que o enfrentamento dessa droga é uma prioridade do governo federal.
Rubem César Fernandes, diretor-executivo do Viva Rio insiste que “o problema da polícia é o bandido. Já o consumo de drogas como o álcool, o cigarro, a maconha ou o terrível crack, é um problema que tem que ser resolvido pela assistência em saúde, com acolhimento e tratamento”.
A nossa universidade, com a coordenação da Profª. Dra. Delma P.O. de Souza, do Prof. Dr. Naldson Ramos da Costa, da Profª. Dra. Samira R. Marcon e da jornalista Santíssima de Lima, realizou um trabalho belíssimo de formação de recursos humanos para enfrentar essa verdadeira guerra que é a droga.
Cabe agora aos governos decisão política de colocar em prática o que é prioridade nacional.
Aproveitar as equipes multidisciplinares que foram treinadas e oferecer condições de trabalho a esses especialistas.
No momento não temos nada que nos assegure que esse treinamento não foi mais um que ficou perdido por falta de visão dos nossos administradores.
A proposta do Simpósio é a de levar esta discussão para as escolas, igrejas, mídias, unidades de saúde e, principalmente, para dentro de casa com os nossos filhos.
As informações científicas facilitam a encontrar alternativas corretas.
As redes sociais, o Executivo, Legislativo, Judiciário e os órgãos da imprensa devem estimular este debate.
Estamos perdendo a guerra para as drogas. Estamos perdendo a nossa juventude.

Gabriel Novis Neves          
14-05-2012

domingo, 20 de maio de 2012

COMEMORAÇÃO EM EDUCAÇÃO


No futebol, jamais comemoramos a conquista de um segundo lugar, especialmente nos jogos da Copa do Mundo, onde o segundo é sinônimo de vergonha nacional.
De todos os segundos lugares do mundo em futebol, o mais traumático aconteceu no Maracanã no Rio de Janeiro de 1950.
Inventamos até títulos fictícios para fugirmos da desonra de ser o segundo. Em 1978 na Argentina, voltamos com o honroso título de campeões morais!
Em 1982 e 1986, não ganhamos o primeiro lugar, mas roubamos o título de melhor seleção do mundo.
Quando o Brasil ganha o campeonato de melhor do mundo, o governo decreta feriado nacional, com direito a audiência especial em Brasília e cenas de circo, como a rolada histórica do Vampeta na rampa do Palácio do Planalto - sob os aplausos do presidente da República.
Com relação à classificação da educação no ranking mundial, qual o comportamento do brasileiro e, especialmente, do governo com relação a nossa colocação? 
O Jornal a Gazeta de Cuiabá, publicou uma matéria do Times Higher Educattion (THE) que saiu em Londres, sobre a avaliação das mais importantes universidades do mundo , fornecendo apenas a lista das setenta instituições de ensino superior com melhor reputação.
Pela primeira vez o Brasil aparece na lista. O líder continua sendo os Estados Unidos, com quarenta e quatro universidades entre as cem melhores, incluindo o primeiro lugar - Harvard. A Inglaterra vem em segundo lugar com dez entre as cem, e duas entre as setenta. O Japão ocupa a oitava posição. A China aparece com seis.
A nossa universidade de São Paulo (USP) ocupa a faixa entre a 61ª e 70ª colocação, e é a única representante da América Latina.
O jornal A Gazeta comenta que a notícia é, sem dúvida, motivo de orgulho para nós, mas também suscita reflexões. Concordo com o editorial do jornal. Imagine a tragédia nacional: o Brasil fora de uma Copa do Mundo. Orgulhamo-nos de ser o único país do planeta a participar de todas as competições dos torneios de futebol que aponta o melhor do mundo.
Com o anúncio do governo federal em cortar recursos, certamente para investir em futebol, já que não podemos fazer feio em nossa pátria e é uma obrigação ganhar esse título - inclusive para alavancar candidaturas do pessoal do governo -, a tesoura, ou navalha, cortou sem piedade orçamentos da educação (5.5%) e 22% em ciência, tecnologia e inovação.
Não é por acaso que ocupamos a 84% colocação no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), enquanto a Coréia do Sul está em 15% lugar.
Os recursos do governo destinados à pesquisa são ínfimos, só comparados a países africanos.
Não dá para entender, ou dá até demais, a insistência do Brasil em não investir em educação, ciência e tecnologia.
Nossa vocação é de continuarmos países periféricos, dependentes daqueles que investem em educação, porém, campeões do mundo em futebol.

Gabriel Novis Neves
17-03-2012

sábado, 19 de maio de 2012

Confusão


É comum as pessoas confundirem João Germano com gênero humano, alhos com bugalhos ou bife ali na mesa com bife à milanesa.
Agora, confundir quinta feira com dia cinco é demais! Isso aconteceu comigo e me causou grande intranquilidade. Depois me certifiquei que cinco de maio cairia em um sábado.
Houve tempo de escrever um pequeno texto lembrando o aniversário de nascimento do único herói mato-grossense reconhecido internacionalmente.
Não sou de escrever sobre efemérides, mas a de Rondon é exercício de cidadania.
Este mimoseano, tão desconhecido na sua terra, não foi só o construtor de linhas telegráficas em fins do século IXX, mas também um dos maiores pacifista desenvolvimentista do mundo.
Em 1890, Rondon colocou uma placa na linha que levava até o Araguaia, dizendo que, aquele que perseguisse um índio bororo, seria perseguido pelo exército brasileiro. Na mesma ocasião o exército americano massacrava os seus índios.
Rondon inspecionou cerca de 17.000 km de fronteiras após construir a linha telegráfica de Mato Grosso ao Amazonas.
O esquecimento de Rondon em seu Estado natal tem efeito negativo maior do que o roubo do dinheiro público, feito através das mais diferentes trapaças.
Infelizmente, confundimos, e fazemos questão de não entender, a diferença entre progresso e desenvolvimento, razão de todo o nosso atraso social, em um Estado rico economicamente.
Cuiabá está virando cidade dormitório, e em todo o nosso território presenciamos lutas de minorias contra os poderosos que se apossaram da terra de Rondon.
Neste cinco de maio a grande homenagem prestada ao nosso Rondon foi a ausência daqueles que tem como obrigação zelar pela nossa história.
Mato Grosso é hoje um Estado para poucos.
Os nossos estadistas estão no Cemitério da Piedade.
O resto é muita confusão.

Gabriel Novis Neves
07-05-2012

sexta-feira, 18 de maio de 2012

INACREDITÁVEL


A Defensoria Pública do Estado é uma instituição jurídica que cuida dos interesses dos pobres necessitados de uma justiça gratuita.
Sofre do governo do Estado um tratamento orçamentário diferenciado, para baixo, perante os outros órgãos do poder Judiciário.
A Assembléia Legislativa, que é a Casa das Leis, corrigiu o equívoco do orçamento da Defensoria.
O governo vetou as intenções do legislativo em favor de um poder que tem autonomia financeira. Estava criada a crise institucional entre os poderes. É marcada uma reunião no palácio com o Governador para tentar serenar os ânimos.
O Defensor Chefe levou os dois deputados responsáveis pelo realinhamento do orçamento do seu órgão para ajudá-lo nas negociações. Como testemunhas os presidentes da Associação e do Sindicato dos Defensores Públicos do Estado de Mato Grosso.
Após horas de reunião foi anunciado o resultado do esperado encontro: o governo manteve o veto.
O Defensor, que não conseguiu nada do que pretendia, estava satisfeito, pois iria ajudar o Estado a vencer esse período difícil de crise econômica mundial.
Os deputados concordaram com o corte do governo, não aprovando as suas emendas constitucionais. Os presidentes do sindicato e associações da entidade deixaram a reunião, com a esperança em dias melhores no futuro.
Enquanto isso, muitas comarcas do interior ficarão sem defensores, e a crise na saúde agravou-se.
“A democracia é um sistema que faz com que nunca tenhamos um governo melhor que merecemos.”-George Bernard Shaw (Prêmio Nobel de Literatura).

Gabriel Novis Neves
25-01-2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Caixinhas


Do ensino primário até a universidade, aprendi que temos várias caixinhas em nosso cérebro. Nelas estão guardados os nossos sentimentos, emoções e conhecimentos – muitas vezes censurados e aprisionados pelo nosso superego.
Funcionava como didática de ensino e problema cultural a abertura dessas simbólicas caixinhas.
Na universidade as caixinhas apareceram de forma abundante durante as aulas de psicopatologia.
Naquela época eu não conhecia o computador e, mal comparando, vejo que aqueles lugares reservados no meu cérebro se assemelham à área de trabalho do meu notebook – cheio de caixinhas.
No meu computador, cada caixinha guarda um assunto, às vezes confidencial, em que só eu tenho acesso.
São informações traduzidas em verdadeiros segredos.
Mas, será que esses segredos estão bem guardados, diante das conquistas tecnológicas cada vez mais sofisticadas?
Está provado, pela cultura popular, que segredo não é coisa para se guardar.
Recentemente tivemos aqui no Brasil, um empresário bem sucedido e um senador defensor da ética e dos bons princípios, surpreendidos em seus segredos pela sofisticada tecnologia da Polícia Federal, que interceptou conversas em aparelhos que só podiam ser captados nos Estados Unidos.
Os antigos diziam que barriga de mulher grávida, sentença de juiz e resultado de eleições só seria possível conhecer o resultado, após o parto, a sentença proferida e a abertura das urnas.
Bons tempos aqueles em que tudo era surpresa e emoção!
Hoje o sexo da criança é conhecido com doze semanas de gestação. Sentença de juiz é divulgada dias antes do julgamento pela mídia. Resultados de eleições, com raríssimas exceções, sabemos antes das suas realizações.
Tenho a impressão que diariamente somos colocados diante de uma caixinha fechada. É difícil para o ser humano abri-la e conhecer segredos da sua própria vida, e muitas vezes buscar apoio de médicos especialistas.
É um processo doloroso jogar ao nível do nosso consciente aquilo guardado e fiscalizado pelo superego.
A abertura dessa caixinha poderá nos ajudar, e muito, nas nossas dificuldades de entender comportamentos humanos, principalmente.
Não tenho receio em abrir nenhuma caixinha que ainda teima em permanecer fechada no meu inconsciente.
Encontrei a ajuda que necessitava e que me forneceu a chave mágica para abrir, sem temores, as que ainda permaneciam fechadas. Lógico que devem ter algumas escondidas por lá. Nosso cérebro, muitas vezes, nos protege de nós mesmos. Mas, sempre quando descubro alguma, me apresso em abri-la sem o menor pudor.
Retornando às caixinhas abertas das escutas telefônicas. Seu conteúdo foi divulgado em horário nobre pela TV de maior audiência no Brasil. Estarrecidos escutamos. E aprendemos como é fazer política neste país.
Como tem sido útil à nação a abertura e a divulgação diária dos conteúdos desse imenso caixão blindado que é o Brasil!
O país da mentirinha está com os seus dias contados, e verificamos que faxina não resolve o nosso problema.
A revelação dessas escutas colocou as instituições brasileiras no mesmo patamar de descrédito popular, dirigidos por inescrupulosos e malfeitores.
Precisamos implodir essa podridão oligárquica e criminosa encastelada no poder há muito tempo - fazendo apenas troca-troca de camisas suadas e fedorentas de quatro em quatro anos.
Com as provas da promiscuidade entre governo e contraventores, chegamos ao fundo do poço, com chance, agora, para renascer com um novo país.
As caixinhas do poder foram todas escancaradas.
Agora está em nossas mãos a reconstrução de uma nação arrasada, para uma livre e verdadeiramente republicana.

Gabriel Novis Neves
07-05-2012