quinta-feira, 24 de maio de 2012

PÃO DURO


Tenho amizade fraternal há mais de uma década com o Chiquinho Galindo, hoje prefeito de Cuiabá.
Homem forjado para desafios e decisões. Humilde, educado e muito trabalhador. Desde que chegou a Cuiabá, nunca escolheu serviço e sempre era escolhido para administrar abacaxis.
No maior deles estivemos juntos. Chiquinho Galindo evitou que o nosso querido e tradicional Hospital Geral virasse mais um lixão na Rua 13 de Junho.
Quis o destino que, pela política, chegasse a superar a sua marca de desafios, assumindo, por renúncia do titular, a tarefa quase suicida de administrar uma cidade há muitos anos na UTI.
Com dedicação e uso de tecnologias de ponta, mantém a nossa ex-Cidade Verde respirando por aparelhos.
Enquanto há vida existe esperança, então, o Chiquinho continua trabalhando. Acaba de vender a Estação de Tratamento de Água e Saneamento de Cuiabá.
Reconheceu que o governo não tem condições de manter esses serviços essenciais.
Encheu a burra da prefeitura de dinheiro e terceirizou esse crônico problema - que tem graves repercussões na saúde pública.
O nosso amigo Chiquinho é um incurável otimista. Acredita que, com os recursos dos PACs, que estão encravados e, principalmente, com mais de cem obras anunciadas pelo governo do Estado com recursos federais (sic) e com empréstimos bancários para a Copa do Mundo, Cuiabá será uma cidade moderna.
Com todos os problemas resolvidos, Chiquinho Galindo resolveu investir na divulgação da sua Cidade Azul.
Chamou a diretoria da Escola de Samba de Mangueira do Rio de Janeiro para a assinatura do contrato de publicidade.
Cuiabá será o enredo da Escola, e o desfile mostrará a nossa cidade para milhões de telespectadores em mais de cento e cinquenta países.
Mas o carnavalesco é competente, e irá, com certeza, transformar em arte todas nossas misérias sociais.
Joãozinho Trinta não tornou inesquecível aquele enredo dos ratos, em que o Cristo Redentor foi obrigado pela censura a desfilar coberto com um pano preto?
Acho que essa receita deve ser seguida pela Mangueira, mostrando Cuiabá sob uma imensa cobertura com os dizeres: “Nossa homenagem à Cidade da Copa”.
Milhares de turistas virão para cá a fim de descobrir o que ficou encoberto. Com certeza as nossas riquezas minerais e terras férteis, pensarão.
Voltando ao espetáculo no velho e obsoleto Cine Teatro Cuiabá, onde a euforia era contagiante.
A fina flor do samba presente na Cuiabá da dengue!
Os diretores da Escola no palco. A minibateria toca e, como uma luz, entra no auditório do cinema a rainha da bateria - verdadeira catedral de beleza e sensualidade.
Na plateia o nosso prefeito a tudo observa. A lindíssima morena convida o Chiquinho Galindo para treinar uns passos para o desfile do próximo carnaval.
Ele não se faz de rogado e se apresenta para enfrentar a fera. Delírio total no público presente!
Terminadas as demonstrações de como Cuiabá será lembrada, o Chiquinho anuncia que arrumará parceiros para a empreitada. Manda uma mensagem à Câmara Municipal solicitando, em regime de urgência, a abertura de um crédito de R$ 1.600 mil para despesas não programadas – que foi aprovada na mesma hora. E entrega o cheque à Escola da Mangueira como cheque caução.
O restante irá depois.
O Chiquinho continua um grande pão duro. Sambar com aquela escultura e depois declarar um auxílio de oito milhões de reais, é inaceitável no mercado de desfiles na Sapucaí.
Também deixou claro que é candidato à reeleição e acredita no seu sucesso.
Não colocaria azeitona na empada de ninguém para sambar com a morena na Sapucaí.

Gabriel Novis Neves
11-05-2012

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